História Revisada pelas Revisoras da Romances Sobrenaturais



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— Tenha cuidado, milode. Você sabe onde isso sempre acaba levando...

— Sim. — Ele ergueu os ardentes olhos azuis para fitá-la. — Está se queixando, milady? Uma noite de amor foi demais para você?

— Ao contrário. Estou ansiosa por mais de suas habilidosas carícias.

— Quer dizer isto? — Merrick cobriu-lhe o ombro de beijos úmidos, tornando a percorrer-lhe, depois, o colo alvo com seus lábios, apreciando os suspiros de prazer que a ouvia soltando. — Ou isto? — Com a ponta da língua, descreveu círculos em torno de um mamilo e, então, dedicou igual atenção ao outro seio dela, até que a ouviu gemendo quando começou a sugar-lhe o bico rosado.

O calor entre ambos cresceu, um fogo brando que não demorou a se alastrar explodindo em chamas.

E, então, não houve mais palavras, enquanto levaram um ao outro em mais uma longa e lenta jornada de amor.

— Mordred acredita que eu deveria aceitar o fato de que talvez Hamish nunca consiga se libertar dos medos que aprisionaram sua mente, acha que é como se fosse algo inevitável. — Merrick brincava com uma mecha ruiva dos cabelos de Allegra. Adorava a maneira como brilhavam sob a luz do fogo brando que se projetava da lareira.

A noite estava chegando rapidamente ao fim. Os primeiros matizes róseos do amanhecer já começavam a despontar no céu.

— Por que Mordred diria uma crueldade dessas?

— Ele não pretendeu ser cruel, pois ama o menino.— Merrick deu de ombros. — Na verdade, apenas repetiu mais sutilmente o que os outros têm dito. Que o sangue da mãe do menino corre pelas veias dele, afetando-lhe a mente.

— E o que isso quer dizer exatamente?

Merrick comprimiu os lábios.

— É de conhecimento de todos que Catherine era louca. Ouvi dizer que uma coisa dessas pode ser passada de uma geração a outra.

Diante daquela admissão, Allegra sentou-se na cama, os cabelos ruivos cascateando-lhe por sobre os seios.

A voz de Merrick baixou, adquirindo um tom de amargura.

—Por que outra razão uma mulher faria as coisa que ela fazia? Quase desde o dia em que nos casamos, Catherine se transformou, passando da doce jovem do vilarejo que eu amava a alguém que eu mal reconhecia. Não posso contar o número de vezes em que ela parecia perdida em algum lugar dentro de sua mente, incapaz de encontrar o caminho de volta. — Lembrou-se novamente do sofrimento que enfrentara, observando impotente a deterioração da saúde de sua esposa, tanto física e mental—. E, apesar de todas as mudanças em Catherine, eu não estava preparado para o fim. Nenhuma pessoa em seu juízo perfeito subiria até o balcão alto do castelo no meio da noite e saltaria para a morte.

— Ela havia parecido amedrontada demais sem razão aparente mais cedo naquela noite?

Merrick desviou os olhos por um instante um ar pensativo no semblante.

— Como posso julgar? Ela sempre parecia com medo de algo. Um barulho no meio da noite podia deixá-la tremendo durante horas. Via coisas que ninguém mais via. Ouvia coisas que nenhum de nós ouvia. Todos os sinais de loucura estavam lá, mas eu me recusei a ver, até que foi tarde demais.

Allegra cobriu-lhe a mão com a sua

— E agora você se culpa pelo que aconteceu?

— Sim. Fui avisado para trancá-la numa das torres antes que ela acabasse se machucando, ou aos outros, mas achei que fosse cruel demais. Agora, meu filho está sem o conforto de sua mãe.

— Ele se lembra dela como uma mãe boa e afetuosa.

Merrick meneou a cabeça, relutante.

— Embora ela estivesse quase sempre cansada demais para deixar sua cama e cuidar dele, era devotada ao filho.

— E quanto a devoção pelo marido?

Ele passou a mão pelos olhos.

— Um pouco depois que nos casamos, Catherine passou a me rejeitar. Considerava-me um bárbaro por deixá-la sozinha e ir para a guerra. Na verdade, eu era. E ainda sou. Mas não me desculparei por expulsar os invasores de nossas terras.

— Nem deveria. — Allegra segurou-lhe a mão e levou-a até seus lábios. — O que você faz é corajoso e nobre.

Ele não pôde deixar de sorrir diante da expressão veemente naqueles olhos verdes.

— O que é isso? Está ousando defender A Espada das Terras Altas?

— Alguém deve defendê-lo. Como você suporta ser tão mal compreendido?

— Oh, minha pequena feiticeira. — Com um riso, Merrick estreitou-a em seus braços e beijou-a languidamente. — Talvez eu devesse deixá-la cavalgar pelo campo, cantando os lovoures do lorde para sua gente.

— Eu teria satisfação em fazer isso, se você me pedisse.

Ele recostou-se e estreitou os olhos para estudá-la.

— E eu acredito que o faria.

Com um suspiro, tornou a puxá-la para si e beijou-a novamente. Daquela vez, com uma volúpia que deixou a ambos suspirando de prazer. Enfim, sussurrou-lhe de encontro aos lábios rosados.

— Como vivi tanto tempo sem você no meu mundo?

— E eu sem você?

Merrick sacudiu a cabeça, admirado.

— Acredito que você esteja falando a sério.

— Estou.


— Não mereço você, doçura. — Ele tornou a beijá-la, com quase reverência daquela vez. — Mas não tenho a força de vontade para recusar o que você oferece tão espontaneamente.

Com beijos suaves e suspiros deliciados, ambos conduziram um ao outro a um lugar onde não existia dor. Um lugar que sempre oferecera, desde o início dos tempos, abrigo aos amantes.

— Bom dia, milorde. — Sem aviso a sra. MacDonald entrou nos aposentos do amo, seguida de várias criadas que levavam braçadas de lenha para a lareira.

Enquanto o fogo era reavivado e mais lenha acrescentada, Merrick permaneceu deitado na cama, um braço sobre a cabeça. A seu lado, as mantas de pele pareciam ter criado vida própria, depois que, com uma exclamação alarmada, Allegra afundara debaixo delas e cobrira a cabeça.

— Fui ver como está Hamish. — A governanta começou a andar pelo quarto, apanhando a túnica do lorde e as botas, que tinham caído junto à parede oposta, — Seu filho ainda está dormindo tranquilamente, milorde.

— São boas notícias.

Merrick observou enquanto a governanta se inclinava para apanhar uma segunda pilha de roupa. Quando endireitou as costas, segurava uma delicada combinação, um saiote e um vestido.

Enquanto uma criada colocava água fresca numa bacia, a sra. MacDonald virou-se para o amo com aparente ar impertubável.

— Fará seu desjejum no salão principal esta manhã, milorde? Ou prefere que seja servido aqui nos seus aposentos?

— Eu me reunirei a Hamish e aos meus primos no salão.

— Sim,milorde. — A eficiente sra.MacDonald olhou para o amontoado de peles ao lado dele. — E a curandeira?

— Creio que ela se reunirá a nós no salão.

— Como desejar, milorde. Mandarei Mara deixar preparadas as roupas da dama... nos aposentos dela. — A governanta dobrou as roupas femininas com cuidado e colocou-as sobre um baú antes de se retirar do quarto atrás das criadas.

Quando a porta se fechou, Merrick esforçou-se para manter uma expressão séria no rosto antes de afastar as cobertas.

— Estamos a sós, enfim, milady.

Allegra sentou-se, afastando os cabelos dos olhos.

— Você acha que a sra. MacDonald suspeitou?

— Suspeitou? — Ele quase tremia com a vontade de rir. — Do que está falando?

Ela lançou-lhe um olhar atravessado.

— Você sabe exatamente do que estou falando. Você acha que a sra. MacDonald suspeita que eu dormi na sua cama?

— Duvido que “suspeitar” seja o termo correto. — Merrick fez um gesto na direção da pilha de roupas cuidadosamente dobradas. — A pobrezinha paticamente tropeçou no seu vestido e roupas de baixo, que estavam caídos no chão, diretamente no seu caminho.

— Oh, não. — Mortificada, Allegra levou as mãos às faces afogueadas—. E quanto às demais criadas? Viram-nas também?

— Teria sido impossível não verem as peças íntimas e o vestido de uma dama caídos perto da minha cama. Mas não tenha medo. Sou o senhor deste castelo. Embora possa haver mexericos entre a criadagem, ninguém dirá uma palavra sequer na sua presença.

— Oh, você não percebe? — Ela se levantou e começou a andar de um lado ao outro, consternada demais para se preocupar com o fato de estar nua. — Isso só torna as coisas piores. Todos no castelo estarão comentando a nosso respeito e rindo pelas nossas costas.

— Comentando, talvez—. Merrick não pôde conter um largo sorriso ao observá-la, os braços cruzados sobre os seios andando em círculos, despida da maneira como chegara ao mundo. — Haverá aqueles que ficarão com inveja, provavelmente, mas ninguém, eu suspeito, rirá.

— Como pode fazer troça diante de uma situação dessas?

— Como, milady? — Ele se levantou e estendeu-lhe a mão. — Venha até aqui.

Allegra parou de andar e deu-lhe a mão. Gentilmente, Merrick levou-a pelo quarto até a porta, onde colocou a tranca no lugar.

Quando tornou a virar-se para fitá-la, ainda sorria, mas havia uma expressão ardente em seus olhos que fez o coração dela disparar.

— Não haverá interrupções enquanto eu lhe demonstro minha gratidão pela dádiva com que você me presenteou a noite inteira.

— Merrick... — As palavras morreram nos lábios dela, enquanto ele a estreitava em seus braços e a beijava com volúpia.

O calor se alastrou entre ambos enquanto, com um gemido de prazer, entregavam-se um ao outro com todo o frenesi de uma tempestade das Terras Altas.

CAPÍTULO 16

Ofegante, Allegra correu até seus aposentos, usando um manto de Merrick para cobrir sua nudez. Enquanto adentrava no quarto, viu Mara erguer a cabeça abruptamente. Um punhado de ervas secas caiu no chão antes que a criada se virasse para fitá-la.

Allegra parou no meio do quarto.

— O que está fazendo, Mara?

— Estou apenas limpando seus aposentos, removendo sobras de ervas, como me disseram para fazer. — A criada fez um gesto com a cabeça na direção da banheira de madeira posicionada em frente ao fogo crepitante da lareira. — É melhor se apressar e se banhar antes que a água esfrie.

Enquanto Allegra tirou o manto e entrou na água, a criada se aproximou com sua costumeira expressão fechada e começou a lhe lavar os cabelos.

— Há uma fragrância deliciosa aqui. O que é?

— A sra. MacDonald disse que eu deveria usar os melhores óleos perfumados.

Allegra soltou um profundo suspiro.

— Foi muita bondade dela.

— Não que a sra. MacDonald tenha tido muita escolha. Ela disse que, agora que você está dividindo a cama de milorde, é melhor que todos nós a tratemos como uma dama refinada, ou, do contrário, nos veríamos pedindo esmolas nas ruas do vilarejo.

Allegra não sabia o que magoava mais. As palavras ditas com tanta despreocupação, ou o fato de que a governanta fosse capaz de comentários tão maldosos. Ainda assim, não parecia algo típico da digna sra. MacDonald. Ela segurou a mão da criada detendo-lhe os movimentos.

Mara estreitou os olhos com ar desafiador.

— Você nega que dormiu na cama de lorde MacAndrew?

A voz de Allegra foi puro gelo.

— Não necessito mais de seus serviços, Mara. Retire-se de meus aposentos imediatamente.

— Tem que saber que, se me fizer sair desse jeito, milorde ma mandará embora e eu não terei para onde ir.

Allegra quase relevou. A súplica da jovem tocou-lhe o coração sensível. Mas quando levantou os olhos, não viu arrependimento, mas desafio e arrogância na expressão de Mara. Aquilo só a deixou mais determinada.

— Vá agora e não direi nada a lorde MacAndrew sobre isto.

— Sim. Com prazer. — A jovem jogou a cabeça para trás e deixou o quarto abruptamente, deixando uma atônita Allegra olhando para porta que acabara de se fechar.

O que causara tamanho fel? Lembrou-se das poucas vezes em que estivera a sós com a criada. Nenhuma vez sequer a sisuda garota se mostrava receptiva a suas tentativas de se mostrar amável, como era de sua natureza.

Allegra soltou um suspiro, enquanto enxugava os cabelos e, então, começou a se vestir. Já devia ter esperado tratamento semelhante. Afinal, era a forasteira ali. Pior, era temida como uma feiticeira. Aquelas pessoas tinham todo o direito de se sentirem protetoras em relação a seu amo.

Ainda assim... Ela fez uma pausa enquanto passava um pente pelos cabelos molhados para desembaraçá-los. A criada fizera questão de ser cruel. As palavras que dissera tinham sido intencionalmente ferinas. E calculadas. Fora como se não apenas tivesse se regozijado em dizê-las, mas como se as tivesse ensaiado uma vez ou duas antes em busca do efeito apropriado.

Quantos mais queriam vê-la banida do Castelo de Berkshire? Ela tornou a suspirar. A melhor pergunta seria: havia alguém ali que poderia ser considerado amigo?

Antes de poder se desesperar, ouviu a voz de sua mãe, dizendo muitos anos antes para suas filhas:

Há agumas pessoas naquele mundo que têm prazer em criar desavenças. Colocam umas contra as outras plantando as sementes da discórdia. Então, ficam de lado, apreciando a batalha, o caos, a uma distância segura. Tenham cuidado com essas pessoas, pois são verdadeiramente maléficas.

Allegra decidiu aguardar para fazer o jugamento dos demais naquele lugar. Por ora, iria observar e aprender.

— Milorde. Milady. — Enquanto Merrick e Allegra entravam no salão principal, a governanta e demais criados mantinham-se à disposição junto a uma mesa repleta de comida.

Merrick cumprimentou-os com um meneio de cabeça e, então, puxou uma cadeira para Allegra.

— O menino não se reunirá a vocês, milorde? — perguntou a sra. MacDonald.

— Não. ele pareceu cansado esta manhã e pediu que a cozinheira lhe prepare mingau de aveia.

Ela meneou a cabeça.

— Providenciarei isso imediatamente. — Servindo vinho quente, ofereceu os cálices e, então, supervisionou enquanto a criadagem começava a servir o desjejum.

Allegra podia sentir os olhares especulativos enquanto era servida. Como gostaria que Hamish estivesse ali, para animá-la com sua doce tagarelice de menino. Tivera de se apressar tanto naquela manhã para se arrumar a tempo que não pudera fazer mais do que passar uns poucos minutos no quarto dele. Mas quando sugerira não descer para o desjejum a fim de ficar com Hamish, Merrick insistira para que o acompanhasse. Até a provocara, dizendo-lhe que estava com medo de enfrentar os mexericos dos criados.

E, daquele modo, ela manteve-se sentada à mesa do desjejum, a cabeça erguida, comendo em silêncio, ansiosa para que a refeição terminasse.

Enquanto Merrick erguia seu cálice, Mordred entrou apressadamente no salão principal, seguido do corpulento e desajeitado Desmond.

— Perdoe minha intromissão, primo. — Mordred levou um momento para recobrar o fôlego.

O irmão parecia quase eufórico em sua ansiedade.

— É melhor você ir depressa até o vilarejo — disse em sua voz infanti, tão destoante de seu porte imenso.

— Com que finalidade? — Merrick alternou um olhar entre os rostos de expressão graves dos primos. — Invasores?

— Sim. — Mordred mal conseguia conter sua agitação. — Ao que parece, atacaram durante a noite, incendiando várias cabanas situadas um pouco antes da entrada do vilarejo.

— Tão perto? — Merrick virou-se para Allegra de imediato. — Você ficará com Hamish?

— É claro. Fique tanquilo quanto a isto.

Ele cobriu-lhe a pequena mão com a sua.

— Não se afaste de perto do castelo enquanto eu não tiver retornado.

Allegra meneou a cabeça.

— Sim. Eu entendo. — Podia ver a governanta olhando para as mãos unidas de ambos de cenho franzido, e as maldosas palavras de Mara voltaram-lhe à mente para atormentá-la. — Subirei agora e farei companhia a Hamish.

Merrick levantou-se prontamente, afastando-lhe a cadeira para trás enquanto ela se levantava.

— Acompanharei você até a escada. — Virou-se para a sra. MacDonald. — Peça a um cavalariço que sele meu cavalo e o deixe à espera.

— Sim, milorde.

Ele, então, dirigiu-se aos primos:

— Vocês irão comigo?

— Não. — Mordred sacudiu a cabeça. — Desmond e eu achamos mais sensato levar o aviso até os vilarejos vizinhos, enquanto você inspeciona os danos.

Merrick meneou a cabeça com ar de aprovação antes de se retirar do salão com Allegra.

Enquanto se adiantavam até as amplas escadas, ela soltou um suspiro de consternação.

— Que ousadia dos invasores atacarem tão perto da Espada das Terras Altas.

— Talvez tenham ouvido os rumores de que ele foi enfeitiçado por uma linda dama. — Merrick observou-a com um sorriso gentil. — Avisei você, meu amor. Não existem segredos no Castelo de Berkshire.

Diante das palavas, ela ficou imóvel, a expressão se anuviando.

Ele se deteve por um momento para estudá-la.

— O que foi?

— Nada. — Allegra se recompôs e continuou caminhando. Mas enquanto ela subia as escadas, o pensamento intrigante persistiu. Se não haviam segredos ali, então com certeza alguém no Castelo de Berkshire sabia o que acontecera com a esposa de Merrick.

Agora, enquanto seria deixada a sós por algum tempo, deveria encontrar um meio de persuadir aquelas pessoas a revelarem seus segredos.

— Bom dia, Hamish. — Allegra entrou depressa nos aposentos do menino e encontrou-o sentado perto do fogo na lareira,levando vagarosamente uma colher de mingau adoçado com mel até os lábios. — Seu pai precisou ir até o vilarejo. — Sentou-se ao lado dele no canapé. — Está se sentindo forte o bastante para uma caminhada pelo jardim depois que tiver comido?

O menino meneou a cabeça sem muito entusiasmo.

Apreensiva, Allegra tocou-lhe a fronte. Hamish parecia muito mais frágil e apático do que tivera apenas uma hora antes, quando ela estivera ali a caminho de descer para o desjejum.

Embora não houvesse febre, a pele dele parecia tomada por uma incomum palidez, os olhos um tanto vidrados.

— O que há de errado, querido?

Hamish deu de ombros.

— Eu não sei. Tomei a poção que você me enviou mas isso não ajudou.

— A poção? — Embora seus olhos se arregalassem, Allegra esforçou-se para não deixar transparecer o temor em sua voz, a fim de não assustar o menino.

— Sim. Mara a trouxe logo depois que eu acordei e disse que era para eu tomá-la antes de comer qualquer coisa. — Ele fez uma careta. — Tinha um gosto horrível que mal consegui tomá-la. Mas Mara disse que você ia ficar zangada comigo se eu não bebesse tudo.

— Oh, Hamish. — Allegra puxou-o para si com gentileza e abraçou-o. — Foi Mara quem lhe touxe o mingau também?

— Sim

Ela tirou-lhe a tigela da mão.



— Você não pode terminar de comer isto.

— Por que não?

— Porque isto só o deixará mais fraco. — Ela atravessou o quarto e, então, parou junto à porta, virando-se para explicar. — Voltarei dentro de poucos minutos com algo que ajudará.

Uma vez em seu quarto, trabalhou depressa para triturar as folhas de algumas ervas numa tigela de madeira e, então, colocou-as num cálice com água quente e seiva de cardo. Quando voltou aos aposentos do menino, o chá já esfriara o bastante para ser tomado.

Entregou-lhe o cálice de imediato.

— Você deve tomar tudo, até que o cálice esteja vazio.

Depois que Hamish obedeceu, ela tornou a envolvê-lo num abraço afetuoso e protetor. Mantendo a voz inalterada, disse-lhe:

— Levará um pouco de tempo para o chá fazer efeito. Quando isso acontecer, você sentirá suas forças retornando lentamente.

Respirou fundo para se acalmar e, então, ergueu o queixo do menino com gentileza para que a fitasse nos olhos.

— Quero que você me prometa uma coisa, querido.

Hamish observou-a com tamanha confiança que foi algo quase assustador. Allegra ficou ainda mais determinada a fazer tudo que estivesse a seu alcance para mantê-lo a salvo.

— De agora em diante, você não comerá, nem beberá nada que não lhe seja dado diretamente por mim. Pode fazer isso?

— Mas por que?

Allegra forçou um sorriso.

— Isso faz parte da magia. Tenho que tocar tudo o que você for ingerir antes de você. Se qualquer outra pessoa tocar essas coisas, a corrente mágica se quebrará.

Hamish animou-se e bateu palmas com entusiasmo.

— Quer dizer que, para a magia fazer efeito, tudo que eu for comer ou beber deverá passar diretamente das suas mãos para as minhas?

— Exato. E mais uma coisa. Ninguém mais deverá saber disso exceto nós dois. É algo muito importante. Você entende?

— Sim.

Enquanto Hamish endireitava as costas, Allegra pôde lhe ver as forças retornando, junto com a cor em suas faces. Felizmente a poção administrada por Mara não tivera tempo de fazer seu efeito antes de ter sido anulado por completo pelo chá.



Ela detestava omitir a verdade, mas o menino era novo demais para entender que havia alguém querendo lhe fazer mal. Sem mencionar que teria ficado ainda mais amedrontado. Além do mais, ela não tinha meios de saber se Mara estava sozinha naquela trama covarde, ou se havia outros envolvidos. Sabia ao menos de uma coisa. Teria de agir rapidamente para desvendar a verdade. A própria vida do menino dependia daquilo. Pois, de algum modo, ele era a chave daquele mistério.

Hamish pegou-lhe a mão, interrompendo-lhe os pensamentos.

— Podemos caminhar no jardim, agora?

Allegra meneou a cabeça e abriu-lhe um sorriso de encorajamento.

— Sim. Acho que um pouco de sol e de ar fresco fariam bem a nós dois. — E ajudaria a manter sua mente bem clara para o que quer que houvesse pela frente.

Enquanto ambos passavam por Mara e vários outros criados, ela viu a jovem erguendo a cabeça depressa o olhar com mal oculta surpresa. Limitando-se a abrir um sorriso, continuou caminhando, o braço firmemente em torno dos ombros de Hamish.

Quando ambos saíram para o sol, respirou fundo e conduziu Hamish por um caminho de relva, até que chegaram a um banco de pedra perto de uma fonte.

— Nós nos sentaremos aqui para descansar um pouco antes de prosseguirmos.

Depois que se acomodaram, Allegra fechou os olhos e concentrou-se em sua família. Sua mãe sentada junto ao tear. A avó cuidando da horta na sua ausência. Kylia brincando num riacho, uma vez que adorava a água. E Gwenellen percorrendo a floresta, indo atrás de pequeninas fadas em seu cavalo alado.

Uma sensação de paz a dominou.

Hamish puxou-lhe o braço de leve.

— Por que você está sorrindo?

Ela abriu os olhos.

— Eu estava pensando na minha família e isso sempre me faz sorrir. — Algo lhe ocorreu de repente. — Fale-me sobre sua mãe.

O semblante do menino se iluminou

— Ela era linda. Seus cabelos pareciam fios de tecidos de ouro. Os olhos eram azuis como o céu. E quando sorria, eu me sentia seguro.

— Sei qual é a sensação. — Allegra afastou-lhe os cabelos loiros da fronte com gentileza e fitou-lhe os olhos azuis por um instante, ponderando que eram tão azuis como os do pai. Sentiu um inevitável e delicioso arrepio percorrendo-a ao pensar em tudo que ela e Merrick haviam partilhado.

O sorriso de Hamish dissipou-se de repente.

— Minha mãe quase nunca conseguia se levantar da cama. E, quando conseguia, fazia coisas estranhas.

— Como o que?

Ele pensou por um momento.

— Uma vez, ela acusou uma criada de ter roubado o colar de ouro que meu pai lhe deu quando se casaram. Mas, quando meu pai o procurou, encontrou o colar no meio das cobertas e ordenou que minha mãe pedisse desculpas à criada.

— E essa criada era Mara?

O menino arregalou os olhos.

— Sim. Como você sabia?

— Foi apenas um palpite. — Allegra procurou dar de ombros com ar casual. — Que outras coisas estranhas sua mãe fazia?

— Ela adormecia à mesa quando estávamos jantando. Certa vez, caiu das escadas e disse que tinha sido empurrada, embora não tivesse ninguém por perto quando isso aconteceu. Numa noite, correu até o jardim, rasgando as roupas e dizendo que estavam lhe queimando a pele.


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