História Revisada pelas Revisoras da Romances Sobrenaturais



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— Merrick? Primo, os criados me disseram que você havia retornado. — O homem estreitou os olhos claros com ar desconfiado. — Não me diga que você realmente conseguiu chegar até o Reino Místico e sobreviveu para contar a história.

— Eu lhe contarei tudo mais tarde, Mordred. Neste exato momento, preciso manter-me ao lado da curandeira.

Outro homem aproximou-se da entrada do quarto e ficou olhando boquiaberto para Allegra, os olhos escuros aregalados. Mais alto até do que Merrick, os ombros largos como um tronco de árvore, parecia ter vestido sua túnica às pressas, pois ainda estava aberta em cima, os cordões das botas por atar. Para Allegra, o corpulento homem pareceu realmente assustador.Seus olhos escuros pareciam apáticos, desprovidos de emoção. E, numa bizarra contradição, quando ele finalmente encontrou a voz, soou semelhante a de uma criança.

— Está de volta, primo?

— Sim, Desmond. Trouxe a curandeira.

Allegra estremeceu enquanto os três homens a estudavam. Sim, havia trevas ali. Mal. Parecia estar a toda sua volta. Era algo novo para ela. E apavorante. Ouvia falar sobre as forças do mal que podiam envenenar o coração e a alma de um homem. Mas, até aquele dia, tinha sido apenas algo de que ouvira falar através de sua mãe e de sua avó.

O tom de Merirck tornou-se ainda mais implacável.

— Você me ouviu, mulher. Cuide do meu filho.

Esforçando-se para ignorar os homens, Allegra deu-lhes as costas e sentou-se na beirada da cama do menino, colocando as mãos em ambos os lados de sua cabeça. De imediato, sentiu o calor da febre percorrendo-a, quase queimando sua pele.

Fechou os olhos, tentando decifrar o emaranhado de imagens que passavam pela mente dele, indo até a sua. Tantas pessoas e acontecimentos movendo-se por aquela mente tão jovem. Aquilo a deixou fraca e um pouco atordoada.

— Quem é a bonita dama de cabelos loiros que se mantém por perto? — perguntou.

Desmond soltou uma exclamação pasma e virou-se para o irmão, que o alertou com um olhar a manter-se em silêncio.

O rosto de Merrick contorceu-se numa máscara de dor.

— Você vê a mãe de Hamish?

— Se ela tem olhos da cor do céu e uma pequena cicatriz em forma de meia-lua acima de uma sobrancelha, então eu vi a mãe do menino por um momento antes de ela ter desaparecido. — Allegra ficou em silêncio, então, tentando se concentrar, apesar das distrações. Havia calor demais ali. Era muito mais do que simples febre. Mas o que alimentara aquele fogo? Medo? Terror? Uma poção maligna?

— Eu precisarei de casca de salgueiro. Folhas de melissa. Alguns punhados de anêmone e água fresca de um riacho das Terras Altas.

Merrick esforçou-se para conter sua impaciência.

— Eu vi você curando a si mesma, como também ao meu cavalo, com nada mais do que um toque. Que necessidade tem de todas essas coisas?

— Há aqui mais do que apenas febre. Mais do que uma simples queda de uma árvore. Seu filho está gavemente doente, milorde. Deseja vê-lo curado, ou meramente trazido de volta dos portais da morte?

Sem aviso, ele segurou-lhes os braços com força, fazendo-a levantar da beirada da cama. Seu rosto, bem próximo ao dela, estava alterado pela fúria, os olhos azuis glaciais.

— Eu não arrisquei minha vida para perder tempo com a sua língua afiada, mulher. Você terá tudo o que precisa. Mas jamais se esqueça, se eu descobrir que está tentando me fazer de tolo, farei com que pague muito caro.

Soltando-a bruscamente, ele girou nos calcanhares, esbravejando para chamar a governanta, que apareceu correndo.

— A nossa curandeira precisa de casca de salgueiro, folhas de melissa, punhados de anêmone e água fesca do riacho. Providencie para que tudo isso lhe seja trazido imediatamente.

— Sim, milorde.

Ele tornou a se virar para Allegra, que não se movera.

— Vai precisar de algo mais? — perguntou em seu tom duro.

— É o bastante. Por enquanto. —Tremendo depois daquele toque brusco, ela deu-lhe as costas e tornou a sentar-se perto do menino profundamente adormecido. Sabia que, se verificasse, encontraria marcas em seus antebraços. As mãos de lorde Merrick MacAndrew eram tão fortes que poderiam ter-lhe quebrado os ossos facilmente caso tivesse desejado.

Havia tamanha violência no homem. Embora ele a mantivesse sob controle, estava ali, latente, ebulindo logo abaixo da superfície, ameaçando transbordar a qualquer momento, atingindo quem quer que se aproximasse demais.

A ira de Merrick MacAndrew seria a causa das trevas que rondava aquele lugar? Ou tinham sido as trevas que haviam causado a ira?

Ela precisava deixar de lado o seu medo do dominador lorde para conseguir se abrir para as necessidades do filho dele. Ainda assim, era desconcertante ter o homem por perto, pairando como uma sombra, atento ao menor gesto seu. Era uma distração. Uma que ela não podia ter, sobretudo por estar encontrando tanta dificuldade em se concentrar.

A mãe do menino não estava mais na terra dos vivos, mas achava-se agora do outro lado. Daquilo Alegra tinha ceteza. Mas, pela expressão torturada dos olhos dela, não havia sido uma passagem serena, natural. Talvez, pensou Allegra de repente, o lorde houvesse tido alguma participação na morte da esposa. Aquilo explicaria por que a mulher permanecia tão perto, desejando proteger o filho do mesmo destino cruel.

Ela pousou as mãos sobre a cabeça do menino e fechou os olhos, esforçando-se para bloquear da mente o homem e seus problemas, enquanto absorvia a dor do filho. Imediatamente, foi lançada de volta num campo das Terras Altas. Teve uma percepção da voz do menino, alta em seu entusiasmo. Hamish subindo. Rindo enquanto, confiante como um felino da montanha, movia-se de galho em galho. Ela sentiu a momentânea distração. Era um lâmpejo de memória? Algo ou alguém logo acima dele, escondido entre os galhos frondosos? Quer fosse homem ou fera, parecia escuro e amedrontador. Algo assustara o menino? Ele fora empurrado?

Ela investigou mais a fundo. O brilho de um líquido escuro num cálice de prata.Uma exclamação abafada. A imagem, então, desvaneceu-se e houve uma rápida onda de medo enquanto o pé do menino escorregou e ele se deu conta de que perdera o equilíbrio. No instante seguinte, estava caindo da árvore, atingindo o chão.

Allegra absorveu o impacto enquanto o menino caiu na relva e permaneceu olhando o céu acima dele rodopiar. Ela sentiu o quarto girando e quis desesperadamente pousar a mão sobre o estômago. Mas não ousou afastar as mãos do menino naquele momento, quando estavam ligados tão plenamente.

Novamente algo. Um lampejo de memória. Um rosto espiando-o. Uma voz que provocou calafrios na espinha do menino. Então, antes que ele pudesse se concentrar naquilo, a lembrança se dissipou.

Lentamente, as nuvens acima, que haviam parecido embaralhadas, foram ficando nítidas e, então, ele fazia um esforço para se sentar

A própria mente de Allegra firmou-se, a sensação de vertigem passando.

— Hamish? — Era uma voz feminina. — Você está ferido?

— Não. — Ele se levantou.

— Que subir na árvore outa vez?

Hamish sacudiu a cabeça.

— Tenho que ir para casa.

— Ainda não. Venha. Nós subiremos até os galhos mais altos.

— Não. — Ele recusou, embora não soubesse por quê. Sabia apenas que tinha de ir para casa. Agora, Naquele instante, enquanto o medo o assolava. Esforçou-se para encontrar um pretexto para ir.

— A sra. MacDonald disse que a cozinheira estava fazendo biscoitos da maneira como eu gosto. Cobertos com mel. Não devo me atrasar.

Hamish começou a caminhar depressa na direção do forte de seu pai.

Allegra estranhou a súbita onda de calor, enquanto o menino tinha outro lampejo de memória. Apenas um lampejo, mas foi o bastante para causar uma faísca de absoluto terror. A faísca explodiu em chamas, ardendo tão intensamente que ofuscou todos os demais pensamentos exceto um.

Perigo! Ele tinha de chegar em casa imediatamente.

Então, Hamish estava correndo. Correndo tão depressa que seu coração batia alucinadamente no peito, a respiração ofegante, os pulmões chegando a arder. Houve apenas um pensamento que Allegra pôde distinguir. Ele tinha de chegar ao castelo do pai. Havia algo importante que tinha de lhe dizer tão logo regressasse da batalha. Sua própria vida e a de todos ali no castelo dependiam daquilo.

Allegra percebeu uma movimentação junto à entrada do quarto, enquanto a governanta instruía as criadas para colocarem uma pequena mesa ao lado da cama do menino. De imediato, a ligação foi rompida e os pensamentos de Hamish dispersaram-se, fugindo do alcance. Ela respirou fundo algumas vezes para aquietar o descompasso no coração.

— Nós trouxemos o que você pediu. — A diminuta mulher soou ofegante depois de sua subida apressada pela escadaria.

— Obrigada. — Allegra suspirou. Agora, teria de recomeçar tudo.

Enquanto afastava as mãos do menino e endireitava as costas, lançou um olhar à governanta e teve de desviar o rosto para esconder o repentino sorriso que ameaçou brotar de seus lábios.

A pobre mulher estava apavorada demais para entrar no quarto. Não passou da soleira da porta, dando suas instruções às criadas, enquanto se segurava no batente. Parecia prestes a fugir em disparada dali ao menor sinal de algo sobrenatural acontecendo.

As criadas pareciam igualmente temerosas, trabalhando tão depressa que colidiam umas com as outras em sua ansiedade para escapar.

Ao menos, ponderou Allegra, haveria poucas interrupções. Com a exceção, era evidente, de lorde Merrick MacAndrew. Ele agora andava de lá para cá em frente à lareira, um cálice de vinho nas mãos.

Fez uma pausa para encará-la, e ela sentiu como se estivesse olhando para o própio demônio. Havia tanta fúria nele. Tanta obscuridade.

Merrick esvaziou a taça e continuou andando de um lado para o outro.

Foi naquele momento que ela notou que os primos do lorde, Mordred e Desmond, também haviam ficado. Ambos os homens estavam sentados nas sombras, estreitando os olhos em ferrenha concentração enquanto a observavam. Talvez estivessem empenhados em proteger o lorde da malvada bruxa.

Aquela acabaria sendo, receou Allegra, uma noite das mais longas. E a cada minuto que passava, podia sentir sua forças diminuindo


CAPÍTULO 3

Allegra estava grata com o fato de os outros terem finalmente deixado o quarto do menino. Agora, sua única distração era Merrick, que permanecia por perto feito um anjo vingador.

Ela triturou a casca de salgueiro até obter um pó fino e colocou um pouco num cálice de água antes de levá-lo aos lábios do menino.

De imediato, Merrick estava ao seu lado, segurando-lhe o pulso.

— Espere, mulher. O que é isso que está dando ao meu filho?

— Uma poção para a febre.

— Antes que passe pelos lábios dele, você a provará.

Allegra já sacudia a cabeça.

— Eu não preciso...

Ele apertou-lhe o pulso.

— Eu disse que você beberá a poção primeiro.

— Muito bem. — Ela provou um pouco do preparado. — E agora, você desperdiçará horas preciosas esperando para ver se eu morrerei antes de permitir que eu a dê ao menino?

Merrick deu um profundo suspiro que deixou transparecer toda a sua frustração.

— Basta da sua insolência, mulher. Cuide do meu filho.

Gentilmente, Allegra ergueu a cabeça do menino o suficiente para administrar-lhe o preparado e levou-lhe o cálice até os lábios, satisfeita em vê-lo, enfim, vazio. Em seguida, desviou sua atenção para a melissa e a anêmone, triturando as plantas numa tigela de madeira.

Com cada gesto de suas mãos enquanto trabalhava, podia sentir suas forças se esvaindo.

Merrick observou o preparado com um olhar duvidoso.

— O que espera obter com esse mato?

— São ervas. A anêmone alivia o inchaço. E quanto a melissa, eu a usarei para ajudar o menino a ordenar seus pensamentos. Parece confuso.

Merrick esteitou os olhos, o semblante sério.

— Você leu os pensamentos dele?

— Esse não é o meu dom. Mas há alguns pensamentos misturados à dor, os quais posso distinguir. Talvez tenha sido uma pancada na cabeça quando caiu, ou talvez haja algo ainda que está lhe causando tanto medo que bloqueie tudo mais, até mesmo a cura.

A voz de Merrick baixou, carregada de sentimento.

— Hamish consegue ouvir minha voz?

Pela primeira vez desde que encontrara aquele homem tão hostil e furioso, Allegra pôde ver uma pequena amostra da dimensão de sua dor, algo que ele conseguira esconder tão eficazmente até aquele momento.

— Eu não sei. Quem pode dizer o que aqueles que estão do outro lado podem ouvir?

— Do outro lado? — Merrick empalideceu visivelmente. — ele está morto, então?

— Não, milorde. — Observando-lhe a extrema palidez, Allegra apressou-se a explicar. — Ele não está morto, mas se encontra num lugar muito distante desta vida.

— Por quê? — A palava soou quase na forma de um grunido angustiado.

— Alguns vão pra lá porque é um lugar de cura. Outros vão para se preparar para uma vida bem diferente daquela que conhecem aqui.

— Você não o deixará ir, entendeu bem? — Mais uma vez dedos fortes apertaram o pulso dela, deixando-a bem ciente do misto de raiva e desespero que consumiam aquele homem. — Faça um encantamento, ou o que quer que for preciso para mantê-lo junto a mim. Se falhar, mulher, você sabe o que acontecerá.

— Sim. — Ela libertou o pulso bruscamente. — Deixou isso bem claro, milorde. Agora, sugiro que cuide de seu filho.

— Cuidar dele? Como?

— Fale com ele, como um pai fala com seu filho. Chame-o. Deixe-o saber que você está aqui, esperando para recebê-lo quando voltar de sua jornada até aquele outro lugar. Peça-lhe que volte para você.

Por um momento, Merrick limitou-se a encará-la com seu olhar repleto de hostilidade. Então, reprimindo sua raiva da insolente mulher, ajoelhou-se ao lado da cama do filho com gentileza.

Sua voz, quando finalmente falou, vibrou com emoção.

— Hamish, garoto. Estou aqui agora. Nada pode lhe fazer mal, filho. Nada. Liberte-se de seus medos e volte para mim. Por favor, Hamish. Preciso de você aqui comigo. Você é tudo o que eu tenho no mundo agora.

Allegra manteve-se ao lado, observando e ouvindo com grande surpresa. Quando Merrick se dirigia ao filho, transformava-se num outro homem. O bruto que obrigava os outros a seguirem sua vontade desaparecia, dando lugar a um pai dedicado, afetuoso. E era fácil de perceber que aquilo não era encenação. O amor que aquele homem sentia pelo filho era sincero, imenso.

Por outro lado, ela faria bem em se lembrar que aquele não era um lorde gentil, mas um bruto insensível. E tinha as marcas arroxeadas em seus baços e pulsos para provar.

Estremecendo, adiantou-se até a larreira e manteve as mãos estendidas na direção do fogo crepitante. Mas, mesmo tão próxima, o calor não a alcançava. A sensação de vertigem que a tomara quando tocara no menino não se dissipara por completo. Sentia-se leve como o ar. Era como se, caso não se segurasse com firmeza a algum lugar, acabasse flutuando diretamente até as vigas de madeira do teto.

Segurou-se ao encosto da cadeira e ficou imóvel, lutando para manter o controle sobre seu corpo e mente.Agora, porém, havia um estranho zumbido em sua cabeça e pequenos pontos de luz começaram a flutuar diante de seus olhos. Eram brilhantes , faiscando com uma intensidade que a ofuscou. Não era como nada que já tivesse vivenciado antes.

Como se estivesse a uma grande distância, ouviu a voz do lorde chamando-a.

—O que está tramando agora, mulher? Não tolerarei nenhum de seus truques. Venha até aqui e cuide do meu filho.

Allegra queria responder. Mas, embora entreabrisse os lábios, nenhuma palavra saiu. Em vez daquilo, o quarto ficou subitamente escuro. No instante seguinte, ela se viu desabando num abismo profundo.

Braços fortes seguraram-na antes que pudesse cair no chão. Ela teve ciência de ser erguida e aninhada de encontro a um peito largo e forte. Não teve forças nem sequer para erguer uma mão em sua defesa enquanto era colocada numa cama.
Vozes soaram em torno de Allegra, a da sra. MacDonald destacando-se num tom um tanto indignado de repente:

— Bem, milorde, não é de admirar que a pobre jovem tenha desmaiado. Quando foi a última vez que lhe deu comida?

A voz impaciente do captor dela retrucou abruptamente:

— Não há tempo para comida, sra. MacDonald.

— Não há tempo para comida? — disse a governanta, incrédula. — E quanto a roupas secas? — Allegra sentiu suas botas sendo removidas e mãos quentes removendo-lhe as meias molhadas. — Olhe para ela. Deve ter ficado encharcada até os ossos se essas meias servem de indicação. O vestido ainda está bastante úmido, como se estivesse secando no corpo, o que não é nada bom, por certo. Agora, deve se retirar, milorde. Não seria apropriado se ficasse aqui enquanto tiro as roupas dela e a embrulho com linho seco.

— Não tenho intenção de sair do lado dessa mulher enquanto Hamish não estiver curado.

Houve um suspiro longo, profundo, e, então, a voz resignada da governanta.

— Muito bem. Mas para preservar o recato dela, milorde sairá para o balcão até que eu a tenha vestido com uma camisola seca.

Allegra ouviu o som de botas ecoando enquanto ele saia abruptamente do quarto e, depois, sentiu as mãos gentis da governanta enquanto ela começava a lhe retirar o vestido e as roupas de baixo úmidas.

Quando abriu os olhos, viu a mulher mais velha dando um passo atrás, a expressão do seu rosto de choque, depois de medo e, enfim, de resignação. Apertando os lábios, voltou para o lado da cama, determinada a cumprir sua tarefa.

Allegra levou a mão a cabeça.

— Eu nunca... desmaiei antes.

— Voce certamente nunca ficou tanto tempo sem comer antes, posso apostar. Pedi a uma criada que fosse até a cozinha buscar uma boa canja e pão para você.

Obrigada, sra. MacDonald.

Os lábios da governanta curvaram-se num sorriso caloroso.

— Assim de perto, você não parece uma feiticeira. Ora, na verdade, você ainda mal passa de uma menina.

— Tenho dezenove anos. Quando minha mãe tinha minha idade, ela já havia tido três filhas.

— Asim como eu. Eu me casei quando estava com treze anos. — A mulher mais velha ajudou-a a vestir uma camisola quente e macia antes de enrolá-la num xale para preservar-lhe o pudor. — Isto aquecerá você.

— Obrigada. — Allegra olhou ao redor. — Onde estou?

— Você ainda está no quarto do menino. Eu havia mandado colocar uma cama para você perto da dele e já a tinha deixado arrumada. — A governanta baixou a voz. — Milorde não queria que você saísse do lado de Hamish de maneira alguma.

— É muito bondosa, sra. MacDonald.

A mulher mais velha sacudiu a cabeça.

— Você está aqui para curar o nosso querido Hamish. Por isso, eu farei tudo que estiver ao meu alcance para que você fique confortável.

— Apesar de ter medo de mim?

A governanta lançou-lhe um olhar de soslaio.

— Você está lendo minha mente?

Allegra riu, um som cristalino, melodioso.

— Não haveria necessidade de eu fazer isso. Você não é muito boa em esconder os seus sentimentos.

— Você é uma feiticeira, minha jovem?

O sorriso de Allegra dissipou-se.

— Talvez. Eu não sei.

— Não é por esse motivo que você vive no Reino Místico? Para esconder seus segredos do restante de nós mortais.

Allegra sacudiu a cabeça.

— O Reino Místico tem sido lar do nosso clã por centenas de anos. Tenho vivido lá desde pequena. Minha mãe e avó disseram que fomos buscar refúgio lá porque o mundo externo teme e se revolta contra aquilo que não consegue entender. Há muitos que nos puniram por sermos diferentes.

— Qual é seu nome, menina?

— Allegra. Allegra do clã Drummond.

— Ah. Esse é um clã antigo e honrado, Allegra Drummond.

Quando uma sombra avançou para cima da cama, ambas as mulheres levantaram os olhos. Pela maneira como Merrick franziu o cenho, Allegra não teve dúvida de que ele ouvira toda a conversa.

— Vejo que você já está bem o bastante para ficar de mexericos com minha governanta. Isso significa que está bem o bastante agora também para cuidar do menino?

A diminuta sra. MacDonald cruzou os braços sobre o peito.

— Eu mandei trazerem canja e pães para a jovem. E a cozinheira preparou-lhe uma refeição para que lhe seja servida no salão principal, milorde, onde Mordred e Desmond o aguardam.

— Diga a cozinheira que farei minha refeição aqui, sra. MacDonald.

— Aqui? — A governanta olhou ao redor. — Mas a jovem...

— Está aqui ao meu dispor. Ela jantará comigo. E, depois, quando tiver recobrado as forças, ela fará o que foi trazida até aqui para fazer.

— Sim, milorde. — A mulher mais velha lançou um olhar de preocupação a Allegra antes de deixar o quarto apressadamente para seguir as ordens do lorde.

Quando ela voltou, estava acompanhada de meia dúzia de criadas. Enquanto duas colocavam uma mesa diante da lareira, arrumando-a com linho refinado, cristais e talheres de prata, as outras ocupavam-se dispondo uma variedade de comida num aparador.

Quando tudo estava pronto, a sra. MacDonald dispensou rapidamente as criadas antes de anunciar:

— O seu jantar está servido, milorde. Desejará vinho?

— Sim. E sirva-o à mulher também. A bebida ajudará a aquecê-la.

— Sim, milorde. — Depois de preencher dois cálices com vinho, a governanta manteve-se ao lado da mesa. — Eu aguardarei e servirei a comida.

— Não é necessário, sra. MacDonald. Sua presença é necessária no salão principal. Preencha nossos pratos com uma variedade da boa comida da cozinheira. Se quisermos mais, nós mesmos podemos nos servir.

— Como preferir, milorde. — Depois de fazer o que ele mandou, a mulher lançou um último olhar preocupado a Allegra e deixou rapidamente o quarto.

Tão logo ela se foi, Merrick surpeendeu Allegra, erguendo-a da cama.

Ela se encolheu.

— O que está fazendo?

— Não quero que acabe desmaiando novamente. — O hálito quente tocou os fios de cabelo junto à têmpora de Allegra, fazendo com que a mais surpreendente onda de um delicioso calor a percorresse. Pela primeira vez em horas, sentia-se aquecida, da cabeça aos pés.

Não sabia o que fazer com os braços. Para não abraçar o homem pelo pescoço uniu suas mãos firmemente, entrelaçando os dedos. Pelo fato de a estar segurando tão de perto, rosto dela repousou naturalmente de encontro ao pescoço dele. Allegra sentiu-lhe o odor másculo que emanava e que não lhe era nem um pouco familiar, e achou-o tão poderoso que lhe inebriou a mente.

Aquele era um outro tipo de vertigem. Embora sua mente parecesse rodopiar devagar, sentia-se estanhamente concentrada. E embora uma parte de seu ser quisesse afastar-se, uma outra, mais forte, queria permanecer exatamene daquela maneira.

Nunca um homem a havia segurado antes nos braços, com a exceção do pai. Mas ele não vivera o bastante para que ela se lembrasse de muita coisa a seu respeito, a não ser através dos sonhos. Anteriormente, quando Merrick a segurara sentada de lado em seu cavalo, estivera amedrontada demais para se permitir assimilar as sensações. Agora, não era medo que estava sentindo mas algo muito diferente. Algo que lhe era tão estranho e inédito que precisaria de tempo e distância para examinar e tentar entender.

— Você se sentará aqui. — Merrick sentou-se numa cadeira revestida de pele diante do fogo na lareira.

Uma vez que a soltou, pegou um cálice de vinho e colocou-o em suas mãos.

— Isto e o fogo a ajudarão a aquecê-la num minuto.

Contornando, então, a mesa, ocupou a cadeira diante dela e apanhou o próprio cálice, levando aos lábios para um longo gole. Allegra sorveu um pouco de bebida também, sentindo o calor logo percorrer suas veias.

Embora sua camisola de lã branca fosse recatada o bastante, com um decote alto e arredondado e mangas longas, não conseguia esconder o corpo bem-feito e jovem por baixo. Mesmo o xale, jogado em torno dos ombros, não conseguia lhe ocultar os contornos dos seios. Os pés descalços, entrevendo-se junto à barra da saia, fizeram Merrick dar-se conta de que, exceto pela camisola, não usava mais nada.


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