História Revisada pelas Revisoras da Romances Sobrenaturais



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Não foi uma imagem que incentivou, mas agora que estava ali em sua mente, pareceu não conseguir ignorá-la.

Ele pousou o cálice na mesa e a fitou com uma intensidade que a deixou com o coração disparado. Então, piscou, e a peculiar expressão em seus olhos se dissipou. Ou ela apenas a imaginara?

Allegra baixou os olhos para sua comida. Depois de saborear um pedaço de carne de carneiro, levantou os olhos e sorriu.

— Isto está ótimo. Acho que talvez esteja quase tão bom quanto o da minha avó.

— Imagino que isso tenha sido um elogio, não?

— Sim. Minha avó faz pratos deliciosos e prepara peixe do lago que deixa qualquer um com água na boca.

— Ela lhe ensinou seus segredos?

Allegra sacudiu a cabeça.

— Vovó tenta. Mas ela sempre se queixa que, embora eu e minhas irmãs tenhamos muitos dons,cozinhar não é um deles. E também há Jeremy, que adora os pratos dela.É um pequeno troll que vive conosco, pois não tinha nenhum outro lar.

— Ouvi dizer que um troll é uma criatura má.

Allegra tornou a sacudir a cabeça.

— Jeremy não é assim, embora talvez tivesse sido num passado distante, quando fora tão incompreendido. Agora, ele simplesmente desfruta a beleza do Reino Místico.

— E quanto às suas irmãs? — perguntou Merrick com curiosidade. — São curandeiras também?

Allegra baixou o olhar.

— Todas temos os nossos dons, apesar de se manifestarem de maneiras diferentes. Sou a melhor curandeira, embora as demais possam curar ferimentos simples. Kylia também pode ver o passado e, ocasionalmente, o futuro. O que é ainda mais impressionante é que pode enxergar o coração de um homem e ver o bem, ou o mal. E também há Gwenellen... — O simples pensamento em torno da irmã caçula fez Allegra sorrir. — Ela ainda não descobriu seus dons, embora eu tenha a certeza de que o fará a seu devido tempo.

Merrick parecia mais interessado no dom de Kylia.

— Você disse que sua irmã pode olhar dento do coração de um homem. E se vir tanto o bem quanto o mal?

— Pode ver a ambos, mas ela não julgaria ninguém. Kylia tem uma natureza bondosa demais para julgar os outros.

— E quanto a você, Allegra? — O nome tocou os lábios dele feito mel e supreendeu-o por um momento, pois foi a primeira vez que o disse em voz alta. Seu tom se suavizou, seu olhar intenso enquanto a observava. — É bondosa como sua irmã, ou uma bruxa a ser temida?

Ela levantou os olhos, fazendo-o sentir o calor de sua raiva enquanto lhe sustentou o olhar.

— Você é como todos os outros, milorde? Fica ansioso para usar meu dom quando convém a seus propósitos e, então, recorre a nomes cruéis para me denominar um ser diferente?

Merrick estendeu a mão para apanhar seu cálice, evitando-lhe o olhar. As palavras dela chegaram perto demais da verdade e o envergonharam. Mas amaldiçoado fosse se pedisse o perdão daquela...daquela mulher de língua afiada.

— Nós perdemos tempo conversando, mulher. Comeremos e, depois,você poderá tonar a concentrar sua atenção no meu filho.

Allegra estremeceu, enquanto o frio tornava a tomar conta de seus ossos. Qualquer que tenha sido a tênue trégua a que ambos tinham conseguido chegar, tinha se dissipado feito a névoa que costumava pairar sobre o Lago Encantado antes de ser banida pelo sol.

O homem o outro lado da mesa era mais uma vez o exigente senhor do castelo. E ela, gostasse ou não, sua reutante prisioneira.

CAPÍTULO 4

Merrick permaneceu sentado com ar soturno, enquanto Allegra terminava sua refeição em pesado silêncio. Por que deveria se sentir culpado por tê-la chamado de bruxa? Não era aquilo que ela era? Ainda assim, parecera tão magoada...Tomada por uma dor que agora transformara-se em raiva. Ele não podia deixar de comparar aquele comportamento frio com o outro lado de sua natureza que ela mostrara quando estivera falando sobre a família. Houvera tanta doçura em Allegra. Seus olhos tinham ficado luminosos, o tom de verde intenso como o de um aprazível lago das Terras Altas. E, por um momento, as faces tinham ficado coradas, fazendo-a parecer tão viçosa quanto as flores de um jardim.

Era natural que sentisse falta da família. Ele próprio não sentia falta de casa a cada vez que partia para lutar numa batalha? Evidentemente, a escolha de ir ou ficar era apenas sua, e ela não tivera como fazer uma. Mas aquelas eram circunstâncias diferentes, desesperadoras. O destino o colocara contra a parede e ele tivera de lutar para encontrar uma saída. Se sentiu uma ponta de culpa por tê-la tirado do seio da família, tratou de afastá-la depressa. Não podia correr o risco de se importar com ninguém exceto Hamish. Se a feiticeira curasse o menino, estaria de volta com as irmãs em breve no Reino Místico.

Que lugar estranho fora aquele. Verde e exuberante, com flores multicoloridas mais altas do que um homem e o ar perfumado feito a alcova de um amante. Não fora apenas o ar que havia sido diferente. A lumiosidade de lá havia todo um toque de uma coloração tão surpreendente, dando um aspecto levemete dourado e cintilante a tudo, como o brilho das mais preciosas jóias. Até mesmo as gotas da água do Lago Encantado haviam reluzido feito pérolas.

Ele avistara ligeiramete criaturas que nunca tinha visto em nenhum outro lugar nas Terras Altas. Cavalos alados, pequenos e delicados, mas de porte bom o suficiente para carregarem uma mulher, ou uma criaça. Ao menos, achara que tenham sido cavalos. Num minuto, tinha-os visto e, no minuto seguite, haviam desaparecido de seu raio de visão. Também avistara pequenas fadas voando por entre os galhos mais altos da árvores. Vira um halo de luz em torno delas e ouvira suas vozes, sussurrando e soltando risinhos. Mas a exemplo dos cavalos alados, num minuto haviam desaparecidos, e Merrick se perguntara se realmente as vira e ouvira, ou se apenas as imaginara.

Depois, avistara Allegra cuidado de sua horta e ficara alheio a tudo mais a sua volta. Em princípio, recusara-se a acreditar no que vira. Por que uma feiticeira cuidaria de uma horta numa terra encatada? perguntara-se. Não podia simplesmente ordenar que os vegetais crecessem e ver seu desejo obedecido? Mas lá estivera a jovem, absorta em seu trabalho, dando tempo a ele para contemplar-lhe a rara beleza.

O vestido que usara, de um verde vibrante, entremeado de fios dourados, parecera ter sido tecido por anjos. Moldara o corpo mais perfeito, todo delicado e esguio, realçado por curvas suavemente arredondadas. Os cabelos ruivos tinham-lhe caído pelas costas na forma de uma trança grossa e brilhantes, efeitada com fitas verdes. Nos delicados pés, usara pequenas botas de couro macio. Mas a enxada em suas mãos era simples e prática. E trabalhava com todo o esforço de uma camponesa. Aquele detalhe só servira para deixá-lo ainda mais fascinado.

Parecera-lhe contraditório que uma jovem tão adorável, dona de um notável ar aristocrático, pudesse trabalhar arduamente até que as mãos ficassem cheias de bolhas e, então, calejadas.

Por um momento, Merrick ficara tão embevecido com a extraordinária beleza dela que quase caíra sob o encato da jovem. Quando, porém, pensara em Hamish e no que tinha de fazer para salvar a vida do seu filho, seu coração endurecera.

Aquilo quase acontecera novamente agora, quando a carregara até a mesa. O contato daquele corpo feminino junto ao seu tinha-o feito pensar em coisas que era melhor esquecer. A idéia de se deitar com ela, de encontrar prazer naqueles doces braços fora quase avassaladora demais para conseguir manter sob controle. E quando a jovem tinha roçado seu pescoço acidentalmente, ele fora tomado por incríveis sensações.

Mesmo agora, ela parecia uma contradição. Toda recatada naquela camisola severa, enquanto os cabelos lhe emolduravam o rosto e lhe cascateavam pelos ombros e as costas feito um véu de fogo.

Ele teria de se lembrar de proteger deu coração daquela mulher. Afinal, apesar de fingir inocência, aquela não era uma donzela comum. Devia ser conhecedora de todos os truques para confundir a mente de um homem, para roubar seu coração e, finalmente, sua alma. Pelo bem de Hamish, ele sabia que teria de ser forte para não sucumbir.

Não temia a jovem. Afinal, era um guerreiro experiente. Sabia como lutar contra o inimigo.

Ele levantou os olhos com certo sobressalto quando percebeu que ela lhe falara.

 Desculpe-me. Eu estava com absorto em pensamentos.

Allegra inclinou a cabeça.

 Eu disse que, agora que a ótima comida da cozinheira repôs minhas forças, farei o que você me trouxe até aqui para fazer. É tempo de cuidar do seu ir seu filho.

Ele levantou-se e apanhou seu cálice de vinho da mesa antes de segui-la até o outro lado do quarto. Ali, sentou-se numa cadeira, as pernas compridas e fortes cruzadas na altura dos tornozelos, observando com interesse, enquanto ela se sentava na beirada da cama do menino.

Allegra passou um preparado de melissa com gentileza pela nuca de Hamish e, depois, ergueu-lhe a cabea com cuidado, espalhando um pouco mais em sua nuca.

Merrick sentiu sua pele formigando de repente e perguntou-se como seria ter aquela muher tocando-o de modo semelhante. Quase pôde sentir os dedos longos e delicados movendo-se sobre sua pele, acariciando, estimulando.

Aborrecido, afastou tais pensamentos para observar e aprender as maneiras daquela feiticeira.

Ela tocou as têmporas de Hamish com a ponta dos dedos e fechou os olhos. Permaneceu naquela posição por tanto tempo que Merrick começou a se perguntar o que aquela mulher estaria sentindo. Seu rosto expressivo deixou transparecer uma gama tão variada de emoções. Num minuto sorria, no minuto seguinte franzia o cenho com um ar de profunda concentração. Ficou relaxada por um segundo e, de repente, seu rosto contorçeu-se de dor. Tanta dor...

Merrick começou a compreender. Era possível que ela estivesse sentindo tudo o que o menino sentia?

Subitamente, Allegra abriu os olhos, observando Hamish fixamente, enquanto começava a cantar numa língua antiga.

Merrick não entendia o significado das palavras, mas achou-as de um peculiar efeito calmante. A voz dela, de um timbre naturalmente baixo, era melodiosa, cativante. Ele teve de lutar contra a vontade de fechar os olhos e deixar que aquela voz maviosa o embalasse. Em vez daquilo, forçou-se a estudar-lhe cada gesto com todo o cuidado. Se ela parecesse ameaçar o menino de alguma maneira ele a deteria prontamente.

Os olhos verdes dela estavam fixos no rosto de Hamish com tamanha intensidade que pareciam duas esmeraldas reluzindo sob a luz das velas e do fogo na lareira. As palavras antigas iam sendo entoadas de seus lábios ritmadamente, como se fossem ditas por alguém em transe.

Abruptamente, começou a falar com o menino no próprio idioma deles.

— Sei que você está dividido, Hamish, entre seu desejo de permanecer onde está, na companhia daqueles que lhe oferecem conforto, e o de retornar para a vida que antes desfrutou. Não precisa ter medo. Qualque perigo que o tenha ameaçado foi banido. Aqui neste lugar, você está cercado de pessoas que o amam, que cuidarão do seu bem-estar e da sua segurança. Seu pai está aqui mesmo, ansioso para falar com você.

Ao ouvir aquilo, Merrick levantou-se e caminhou até o outro lado da cama, olhando para o filho. Notou-lhe o movimento rápido nas pálpebras fechadas, como se o menino estivesse lutando contra a luz ofuscante.

A voz de Allegra permaneceu baixa e calmante.

— Está tudo bem, Hamish. Você pode voltar agora. Venha. Veja seu pai, que tem ficado tanto tempo à espera para falar com você. Deixe-o tranquilo agora Hamish. Volte para ele.

De repente, as pálpebras se ergueram, e os olhos do menino se abriram.

O cálice escapou da mão de Merrick, o vinho vertendo no chão, enquanto ele caía de joelhos ao lado da cama com uma exclamação maravilhada.

— Oh,Hamish, meu filho! Você voltou para mim!

Com lágrimas escorrendo pelo rosto, segurou o filho em seus braços e estreitou-o de encontro ao peito, beijando-lhe a frontte.

Allegra afastou-se da cama, não apenas para dar a pai e filho a privacidade que mereciam, mas também porque a fraqueza a estava dominando. E, daquela vez, não era por falta de comida, ou devido ao cansaço da árdua jornada. Reconhecia aquela sensação de experiências passadas. Era simplesmente o preço que tinha a pagar por ter usado seu dom. Fazer a travessia até o outro lado exigia um grande sacrifício daquele que servia de ponte.

Junto à mesa do jantar, afundou numa cadeira. Dobrando os braços sobre a mesa,repousou a cabeça ali, tirando conforto do som das primeiras palavras hesitantes do menino.

— Você está... em casa... pai.

— Sim, Hamish.

— Por quanto tempo? Apenas até a próxima batalha?

— Não sei dizer, filho. Não falaremos dessas coisas. Por enquanto, estou em casa com você. E você voltou para mim. — Merrick segurou o rosto do menino entre as mãos e observou-o com evidente sentimento. — Tive medo de perder você, filho. A sra. MacDonald me disse que você caiu de uma árvore.

— Caí? — O menino pensou a respeito por um momento e, então, negou com um gesto de cabeça. — Eu não me lembro.

— Não importa. — O pai tornou a abraçá-lo afetuosamente e soltou um longo suspiro. — Nada importa agora que você voltou para mim, Hamish.

Os dois permaneceram abraçados daquela maneira por um longo tempo, com Merrick acalentando o filho e sussurrando-lhe palavras de carinho, e o menino retribuindo o abraço, sentindo-se reconfortado pela força do pai.

Ambos levantaram os olhos quando a governanta entrou no quarto, seguida de várias criadas. Quando viu pai e filho se abraçando, soltou um grito de pura alegria.

— Oh, graças aos céus, milorde! Esse é mesmo o nosso pequeno Hamish, acordado e sorrindo?

— Sim, sem dúvida, sra. MacDonald.

Merrick sorriu, radiante, enquanto a mulher mais velha tocava o rosto do menino, como se quisesse ter certeza do que viam seus olhos. Prontamente, então, desmanchou-se em lágrimas, emocionada, e teve de erguer o avental para enxugar os olhos.

As criadas se reuniram em volta, rindo e dando tapinhas gentis nas costas do menino. Logo, enquanto a notícia foi se espalhando, todos os ocupantes do castelo começaram a entrar nos aposentos do menino, ansiosos por tomarem parte no feliz acontecimento.

Mordred e Desmond pararam junto à soleira da porta.

— É verdade, então. — A voz possante de Mordred atraiu o olhar de todos, enquanto ele se adiantou pelo quarto para se aproximar da cama e apertar a mão do primo. — O menino está de volta à terra dos vivos. Vê-lo assim não é uma bênção, Desmond?

— Sim. — Desmond apertou de leve o ombro do menino.

Hamish esquivou-se e lançou um olhar inquiridor ao pai, que apenas o estreitou mais junto a si, acalentando-o em seus braços fortes.

Enquanto mais da criadagem se reunia em torno de ambos, Merrick ficou intrigado com a reação do filho. Hamish sempre fora destemido demais para o seu próprio bem, escalando sem medo, saltando como se pudesse voar, inorando o perigo. Sempre se recusara a seguir os avisos dos pais, preferindo, em vez daquilo, abraçar a vida com todo seu entusiasmo.

Agora, parecia retraído demais. Tão tímido quanto um animalzinho acuado.

Embora parecesse contente em ver a todos, também se mostrava um tanto assustado, segurando a mão do pai com força constantemente. A um dado momento ou outro, quando muitas pessoas paravam ao lado de sua cama de uma só vez, encolhia-se de medo.

Devia ser, concluiu Merrick, meramente o resultado da enfermidade que o acometera. Em breve, aquilo passaria e o garoto voltaria a ser como antes.

Ele pôde ver toda a movimentação e euforia começando a exercer seus efeitos. Quando Hamish conteve um bocejo e as pálpebras começaram a ficar pesadas, Merrick instruiu a governanta a dizer a todos que se retirassem, a fim de que o menino repousasse. De imediato, a sra. MacDonald fez com que todos saíssem, embora não conseguisse ela própria se retirar tão depressa. Deteve-se ali, afastando afetuosamente os cabelos da fronte de Hamish, dando-lhe tapinhas gentis na mão, repetindo-lhe todas as coisas que lhe sussurrara em seu sono prolongado

— Você voltou para nós agora, querido. Voltou realmente para aqueles que o amam. — Mais lágrimas escorreram-lhe pelo rosto. Mas eram lágrimas de felicidade, e sua alegria era tão grande que nem sequer se preocupou mais em enxugá-las.

Merrick permaneceu sentado ao lado do filho, tomado por um imenso alívio. Virou-se para Mordred e Desmond, que haviam permanecido no quarto.

— É como se o peso do mundo tivesse sido tirado dos meus ombros.

— Sim. — Mordred meneou a cabeça. — Você arriscou tudo e foi recompensado com o maior prémio de todos. Nem a ameaça de monstros, nem o medo do desconhecido puderam impedi-lo de encontrar a feiticeira e trazê-la até aqui para fazer sua magia.

A feiticeira.

Merrick olhou ao redor e notou que ela estava sentada à mesa, o rosto apoiado nas mãos. Estava chorando?

Aproximando-se, ficou surpreso em descobrir que estava profundamente adormecida. Quando lhe tocou o ombro, a jovem não se moveu.

Intrigado, pousou a mão sobre a dela e afastou-a com surpresa. Ela estava tão fria e imóvel que poderia ter estado literalmente petrificada.

Alarmado, inclinou-se e ergueu-a em seus braços. Imediatamente, pôde sentir o frio penetrando pelo próprio corpo.

— Sra. MacDonald!

Ao ouvi-lo gritando, a governata virou-se em sua direção. Vendo-o com a jovem nos braços, aproximou-se rapidamente.

Àquela altura, ele tremia de frio. Não era nada como já tivesse sentido antes. Era algo que parecia passar em ondas através de seu corpo, originando-se da mulher em seus braços, deixando-o gelado até os ossos. Como era possível uma pessoa estar fria daquela maneira e ainda continuar viva?

Ela estaria morrendo?

O pensamento deixou-o subitamente aterrorizado. Que preço ele exigira em troca da vida de seu filho?

Sua voz soou brusca com impaciência:

— Peça a um dos criados que reavive esse fogo, sra. MacDonald. Depois, busque a aguardente mais forte que tivermos.

— O que há com a jovem, milorde?

— Eu não sei. — Merrick deitou-a na cama dela, cobrindo-a cuidadosamente com as mantas de pele. — Está tão pálida, tão imóvel. Mas está vendo? Quando lhe toco o pescoço sinto a pulsação aqui. Embora esteja muito fraca, isso me dá esperança de que ela possa ser salva.

O tom de Mordred era de incredulidade.

— Não pode estar falando sério, Merrick. Ela não é como o restante de nós. Você seria sensato em manter distância, do contrário pode acabar se vendo enfeitiçado por essa criatura. É isso que quer?

— Você sabe que não. Mas de uma coisa eu sei. Graças a esta mulher, eu tenho meu filho de volta. Agora, devo fazer o que puder para retribuir. Se necessário, moverei céus e terras para vê-la a salvo.

— Isso é loucura. — enquanto Mordred e o irmão saíam logo atrás da governanta dos aposentos, o primeiro pôde ser ouvido resmungando sobre o fato de que talvez o primo já estivesse sido enfeitiçado.

Aquilo fez a governanta olhar por sobre o ombro na direção de seu amo e levou os criados a murmurarem entre si sobre a criatura perigosa que fora solta no meio deles.

Merrick parecia alheio aos comentários, enquanto esfregava as mãos de Allegra entre as suas e sussurrava:

— Se ao menos eu conhecesse a magia para salvá-la, curandeira, como você salvou meu Hamish.

Ao longo de toda a noite, enquanto o pequeno Hamish dormia serenamente, Merrick manteve-se sentado ao lado da cama de Allegra. A cada vez que um criado entrava no quarto para reavivar o fogo, Merrick se levantava para fazer passar várias gotas de aguardente de cereais pelos lábios dela.

A bebida estava ajudando a abrandar o frio? Achava que sim. Fechando a grande mão sobre a dela, perguntou-se se realmente notava alguma pequena mudança nela, ou se apenas achava que sim porque queria que fosse daquela maneira.

Aquela muher era sua responsabilidade. Se não tivesse sido por ele, ela ainda estaria vivendo tranquilamente em seu reino escondido. Não iria, de maneira alguma, abandoná-la no momento em que mais precisava de ajuda.

E, ainda assim, parecia haver tão pouco que pudesse fazer. O fogo ardendo constantemente na lareira, a aguardente, as mantas de pele, tudo parecia inútil contra os gélidos tentáculos da morte que a aprisionavam.

Finalmente, em seu desespero para tirá-la daquele abismo de gelo, ele fez a única coisa em que pôde pensar. Entrou debaixo das cobertas e deitou-se ao lado dela, estreitando-a em seus braços, desejando-lhe passar o calor de seu corpo.

CAPÍTULO 5

Allegra estava perdida no Vale das Sombras, tremendo incontrolávelmente na escuridão. A névoa pairava acima do lago, encobrindo a tudo feito uma imensa mortalha. Ela tentou avistar o sol por entre as brumas, mas sua visão estava anuviada. Queria chamar seu cavalo alado para levá-la para casa, porém sua voz estava estranhamente silenciosa.

Seu poder tinha-se esvaído, deixando-a fraca e vulnerável. Estava com frio. Com tanto frio. Sem sua família compreensiva para cuidar dela, estava condenada. Logo, o frio penetraria até seus ossos, fazendo-os se partir feito gravetos. Seu sangue engrossaria e correria mais devagar e, então, o coração, desprovido de sua preciosa fonte de vida, simplesmente pararia.

E ainda assim, mesmo sabendo o preço que seria obrigada a pagar, como poderia ter negado ao guerreiro seu único filho? Vira a intensidade da dor dele. Seu coração tinha se compadecido, tocado a fundo pelo apelo desesperado de um pai. Ele não arriscara a própria vida pela do menino, desafiando o Lago Encantado e o Reino Místico para ir buscá-la, a fim de salvar Hamish? Havia decidido enfrentar o destino e dar-lhe o que coração dele desejava.

E, agora, devia pagar o preço. Ela permaneceu paralisada pelo frio e, naquele estado de debilitação, foi incapaz de deter sua implacável destruição. Levantando o rosto para o céu, lutou para ver os rostos dos familiares, tão distantes.

Naquele momento, algo trilhou um caminho de fogo por sua garganta. A avó lhe dissera uma vez que a bondade de um estranho era uma poderosa magia. Allegra engoliu o calor gratificada e sentiu o primeiro tênue fio de esperança.

Enquanto as horas passaram e o frio tornou a envolvê-la, foi obrigada a engolir mais do líquido ardente. Enfim, quando o gelo ameaçava derrotá-la, as nuvens se abriram e viu um lampejo de sol.

O calor envolveu-a. Foi pouco mais do que uma faísca de luz em princípio, mas o suficiente para começar a reanimá-la. Talvez, se pudesse ater-se àquele calor, conseguisse escapar do Vale das Sombras.

Algo quente e forte envoveu-a por inteiro de repente, dando-lhe forças para ir até bem dentro de si mesma, buscando a luz. E embora fosse fraca e oscilante, foi o bastante para sustentá-la. Ateve-se a ela com todas as suas forças.

E adormeceu.

Allegra despertou e manteve-se imóvel, desfrutando o maravilhoso calor que a envolvia feito um casulo. De algum modo, mesmo sem a família para cuidar dela, conseguira escapar do Vale das Sombras. Graças à bondade de alguém, havia sobrevivido.

Ficou atenta às batidas regulares de seu coração e regozijou-se com aquele ritmo. Estava viva. Verdadeiramente viva. De repente, ficou ciente de um segundo coração batendo, em sincronia com o seu.

Abriu os olhos de imediato. Enquanto os ajustava à escuridão que precedia o amanhecer, amenizada apenas ligeiramente pelo brilho das brasas na lareira, deu-se conta de que não estava sozinha em sua cama. Braços fortes a envolviam. O hálito quente de alguém acariciava-lhe a têmpora, fazendo com que o calor lhe subisse pela espinha.

— Então... — A voz de Merrick não passou de um sussurro que arrepiou a pele dela. — Você finalmente acordou.

Allegra sentiu uma estranha timidez ao saber que ele estivera observando-a enquanto dormia.

— Por que você está... — Ela tentou se soltar, mas Merrick segurava-a com firmeza de encontro a seu corpo sólido. — Por que você está aqui na minha cama?


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