História Revisada pelas Revisoras da Romances Sobrenaturais



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Merrick meneou a cabeça de leve.

— Isso me tranquiliza consideralvelmente. — Seu semblante se iluminou quando olhou para o filho. — Vejo que você já comeu, Hamish.

— Sim, pai.

Merrick tornou a falar com Allegra.

— Ele parece totalmente recuperado da queda.

Ela ignorou a pequena onda de inquietação.

— Tivemos uma ótima conversa enquanto ele comeu. O menino é muito inteligente.

— Já me disseram. — O cumprimento fez Merrick abrir um sorriso cheio de orgulho paterno, enquanto entregava a Allegra um manto de veludo com capuz. — Isto era de minha esposa. Pedi a sra. MacDonald que fosse buscá-lo para você, a fim de que o use na sua jornada de volta para casa.

— Obrigada. É muita gentileza de sua parte, milorde. — Enquanto Allegra aceitava o manto, as mãos de ambos se roçaram

O calor gerado com o contato foi impactante feito um raio e fez cada um afastar sua mão depressa. Merrick se perguntou se houvera faíscas, ou se fora apenas imaginação sua. O que quer que tenha acabado de acontecer, foi algo que o deixou mais inquieto do que gostaria de admitir. Seus dedos ainda formigavam por causa daquele toque.

Allegra virou-se para o outro lado, as mãos trêmulas, enquanto colocava o manto e ajeitava os cabelos sob o capuz.

Quando tornou a se virar, tinha conseguido se recompor, a expressão de seu rosto serena. Não iria se deixar intrigar mais por aquela estranha magia que Merrick possuía. Em vez daquilo, faria bem em se concentrar apenas na jornada de volta para casa.

Oh mamãe, pensou com grande alívio, o perigo já passou agora. Diga a vovó, Kylia e Gwenelen que amanhã, a esta hora, estarei com vocês.

Merrick curvou-se respeitosamente diante dela, tomando o cuidado de não tornar a tocá-a.

— Eu lhe agradeço,Allegra Drummond, por ter curado meu filho. E agora lhe desejo uma jornada segura.

— E eu he agradeço, Merrick MacAndrew, por ter mantido sua palavra. Que milorde e Hamish fiquem bem.

Diante da menção a seu nome, Hamish dirigiu-se a ela.

— Curandeira, eu tenho permissão para andar pelos jardins?

Allegra abriu um sorriso.

— Não vejo por que não. Embora eu realmente ache que você deva ficar sempre perto do castelo até que esteja um pouco mais forte. E talvez você deva se apoiar no braço de uma criada, ao menos por hoje.

— Farei isso. — Hamish levantou-se da mesa e riu quando a sra. MacDonald lhe ofereceu o braço. — Vai caminhar pelos jardins comigo?

A mulher mais velha estava radiante.

— Estive à espera desse dia, jovenzinho. Não há tarefa que seria mais importante do que passar uma hora com meu pequeno Hamish nos jardins.

Antes de saírem, ela parou para pousar uma mão sobre a de Allegra. Embora ainda tivesse medo daquela feiticeira, o que tornou suas palavras hesitantes e desajeitadas, precisava lhe falar.

— Que você seja abençoada, cara dama. Você trouxe a luz do sol de volta para nossas vidas. — Enquanto se afastava com o menino, ainda acrescentou: — Tenha uma boa jornada.

— Obrigada, sra. MacDonald. — Allegra observou enquanto a governanta e o garotinho se afastavam pelo corredor.

Enquanto ela própria deixava o quarto, ladeada por Mordred e Desmond, um caláfrio percorreu-a e teve de fazer um esforço para afastá-lo. Estava ciente de Merrick seguindo-os, mas manteve a cabeça erguida, o olhar fixo na porta que conduzia ao pátio.

Uma vez do lado de fora, caminhou até o cavalo, cuja as rédeas um cavalariço segurava. Antes que tivesse tido chance de subir na sela, Mordred estava a seu lado, pronto para auxiliá-la.

No momento em que ele lhe segurou a cintura, Allegra sentiu um frio intenso que a fez tremer violentamente. Enquanto aceitava as rédeas do cavalariço, teve de fazer um esforço para se recobrar

Merrick aproximou-se, cauteloso para não tocá-la. Notando-lhe a palidez, perguntou-lhe:

— O que houve? Não está se sentindo bem?

— Não é nada. — Allegra obrigou-se a afastar o medo, lembrando a si mesma de que, em breve, estaria de volta ao seio de sua família. — Senti apenas um pouco de frio por um momento. Acho que foi uma corrente de ar.

Ele deu um passo atrás.

— Eu lhe desejo uma jornada segura, então. — Virou-se, protegendo os olhos do sol com a mão. — E a vocês, meus primos.

Mordred lançou-lhe um sorriso confiante antes de fazer uma continência e começar a se afastar a um trote rápido sobre sua montaria. Desmond, seu rosto grave, esperou que Allegra se movesse.

Ela instigou o cavalo a seguir o primeiro. Naquele momento, ouviu uma mulher gritando.

— Milorde! — A sra. MacDonald parecia desesperada. — Deve vir aqui imediatamente.

— Espere. — Merrick estendeu o braço e segurou a cabeça do cavalo de Allegra, detendo-o. — Você não partirá enquanto não virmos o que aconteceu.

Antes que ela pudesse emitir um protesto, ele a havia tirado bruscamente da sela e segurado-lhe o pulso, levando-a consigo, enquanto seguia vários membros da criadagem na direção dos jardins.

Adiantando-se depressa pelo antigo caminho de pedra, ambos viram o menino deitado no gramado, o corpo contorcendo-se, tomado por violentas convulsões.

A velha governanta estava parada ao lado dele, torcendo as mãos com evidente nervosismo. Levantou a cabeça, os olhos arregalados de terror.

— Oh, pelos céus, milorde. É Hamish. Venha depressa. O menino está possuído.

Os criados recuaram rapidamente com medo. Enquanto Merrick continuava se aproximando do gramado, com Allegra a seu lado, muitos dos criados começaram a resmungar entre si.

— Isso é obra da feiticeira.

— Ou obra do demônio.

— Ambos são apenas um só. E agora ela transformou o pobre menino num deles também.

— Ele teria ficado melhor se tivesse morrido. Agora, acabará ficando exatamente como a pobre mãe.

Aquilo levou muitos a concordarem com meneios de cabeça.

Allegra ignorou os comentários nascidos de crendice equivocada, enquanto observava Merrick, que se ajoelhou ao lado do filho e o pegou em seus braços.

Acalme-se agora, Hamish, meu filho. Estou aqui. Diga-me o que há de errado.

O menino continuou se retorcendo e gemendo, como se estivesse tomado por grande dor.

Merick lançou um olhar frenético a Allegra, a voz brusca com um misto de medo e acusação.

— Você disse que ele estava curado.

— Eu fiz o que você me pediu e o tirei de seu sono profundo.

— Isso não é o bastante. — Ele segurou-lhe o pulso com força e a puxou bruscamente, fazendo-a ajoelhar-se a seu lado, deixando a multidão de observadores boquiaberta.

Por entre dentes ordenou:

— Você descobrirá o que há de errado com meu filho mulher, e o fará ficar bem.

Allegra sentiu uma onda de humilhação, enquanto a multidão se aproximava, subitamente ansiosa para vê-la fazendo sua magia. Teve uma lembrança que a levou de volta à infância, ouvindo os resmungos de uma multidão furiosa quando salvara inocentemente um menino de ter morrido afogado.

Ergueu a cabeça com olhar determinado.

— Primeiro, você ordenará que todos se afastem daqui.

— Você ousa me dar ordens? — Embora os olhos azuis de Merrick faiscassem, furiosos, não estava em condições de argumentar. Virou-se para a governanta. — Sra. MacDonald, providencie para que os criados tornem a entrar. — Alternou um olhar entre Mordred e Desmond que aguardavam por perto, parecendo zangados e confusos. — Não precisarei de vocês hoje, primos. Mandarei avisá-los quando a mulher estiver pronta para partir.

Allegra ignorou-lhe a brutalidade do tom. Por ora, seus pensamentos deviam se concentrar exclusivamente no menino.

Mordred cruzou os braços sobre o peito.

— Acho melhor ficarmos.

Seguindo o exemplo do irmão, o corpulento Desmond fez um gesto de asentimento

— Não. — Merrick sacudiu a cabeça veemente. — Vocês irão. Agora. Estou ordenando.

Mordred pareceu prestes a protestar quando notou um briho glacial nos olhos azuis do primo. Com um último olhar na direção da mulher, virou-se e conduziu Desmond de volta ao castelo.

Quando ficaram a sós, Allegra atirou de lado o manto de veludo e tocou as têmporas de Hamish com a ponta dos dedos. Imediatamente, as violentas convulsões foram cessando,até que o menino ficou de todo imóvel.

Ela fechou os olhos e se concentrou.

Franziu o cenho, esforçando-se para encontrar um caminho através do turbilhão que anuviava a mente do menino.

— Há escuridão demais aqui.

— O que causa essa escuridão? — Merrick tornou a se ajoelhar ao lado dela. — É medo? Raiva?

— Medo, acredito eu, embora esteja mesclado com muita outras emoções. Raiva. — Allegra se concentrou por um momento antes de acrescentar: — Vergonha.

— Vergonha? Que razão o meu filho teria para se envergonhar?

Ela sacudiu a cabeça e esforçou-se para manter a necessária concentração.

— Não tenho certeza, mas creio que Hamish tenha sentido vergonha de fugir desse medo. Há culpa porque ele não ficou e o enfrentou como um guerreiro teria feito.

— Ele é apenas um menino. — Merrick pegou a mão do filho e observou-lhe o rosto pálido. Era tão pequeno. Tão indefeso. — O que ele saberia sobre o que é ser um guerreiro?

Allegra abriu os olhos e virou-se para fitar o homem a seu lado.

— Quando você olha para Hamish, vê o rosto da mãe do menino. Mas ele é filho de seu pai também. É a você que admira acima de qualquer coisa. É a você que quer imitar.

Merrick enrijeceu o maxilar, suas palavras soando forçadas, com raiva.

— Sei que dei minha palavra de eu a devolveria a seu lar se você trouxesse meu filho de volta para mim. Se insistir em partir, não terei escolha a não ser a de cumprir minha palavra. Mas eu lhe peço um favor. — Sua voz baixou com sentimento, pois o aviltava ter que implorar. — Eu ficaria imensamente grato se você permanecesse aqui por mais algum tempo e ajudasse meu filho a se lembrar de seu medo, a fim de poder enfrentá-lo e prosseguir com sua vida.

Allegra sabia o que custara àquele homem orgulhoso pedir tal coisa. Como senhor absoluto daquele lugar, poderia ordenar aquilo, e ela não teria escolha a não ser obedecer. Afinal, não importando como decidisse chamá-la, era, na verdade, sua prisioneira. Não havia ninguém ali no Castelo de Berkshire, ou no vilarejo situado além, que a ajudaria sem a aprovaão de lordre MacAndrew.

— E se, ao ajudar Hamish a lembrar de seu medo, isso acabar colocando-o em perigo?

— Ele e eu enfrentaremos qualquer perigo que isso possa acarretar juntos. Quero meu filho de volta. Completamente curado e bem outra vez.

Allegra notou um ligeiro movimento para além dele e observou enquanto uma luz brihante pareceu se transformar na bela mulher de cabelos loiros que vira pela primeira vez na mente de Hamish. A mulher estendia as mãos como se lhe imporasse que ficasse.

Quando Allegra piscou, a imagem se fora.

Que coisas haviam acontecido para fazer com que a mulher ficasse ali muito além de seu tempo? Que estranho assunto não estava terminado ali e implorava uma resoluçaõ?

Ela fez uma pausa longa antes de assentir com um gesto de cabeça.

— Por mais que eu anseie por retornar a meu lar no Reino Místico, não posso deixar o menino sozinho e indefeso diante desses medos desconhecidos, sem fazer tudo o que estiver ao meu alcance para ajudá-lo. — Respirou fundo antes de prosseguir. — Não sei ao certo se posso encontrar um caminho através do emaranhado que toma a mente dele, pois, como já lhe disse, não é esse o meu dom. Meu único dom é da cura. Mas eu lhe dou minha palavra de que tentarei.

Merrick estudou-lhe os belos olhos verdes. Continham uma sabedoria que ia muito além da tenra idade dela. E estavam repletos de compaixão.

Um súbito pensamento ocorreu-lhe

— Você será obrigada a pagar o mesmo preço que antes?

Allegra meneou a cabeça.

— Não há dúvida de que o que farei irá exigir algum preço de minha parte. A cada vez que uso meu dom, devo pagar. — explicou. — Isso certamente me enfraquecerá, mas não me esgotará por completo como antes. A jornada do outro lado até este é a maior e a que exige mais. Muitos mais do que a jornada do passado até o presente.

Ele inclinou a cabeça com ar compreensivo.

— Providenciarei para que o quarto ao lado do de Hamish seja preparado para você. Deverá informar à sra. MacDonald tudo o que você precisar. Quer seja comida, repouso, ou ervas que necessite, serão providenciados.

Merrick ergueu o filho agora sereno em seus braços e começou a carregá-lo até o castelo, com Allegra seguindo-o. Ela levantou os olhos para ver a governanta e os criados espiando ansiosamente de portas e balcões.

Com o que, afinal acabara de concordar? perguntou-se, apreensiva. Embora não fosse culpada pelo que acontecera ao menino, havia pessoas ali que não hesitariam em responsabilizá-la se Hamish sofresse qualquer efeito posterior a sua enfermidade. Estariam observando e à espera para ver se ela era realmente uma feiticeira. Até mesmo aquelas coisas longe de seu alcance...as mudanças do tempo, pragas, a crueldade dos outros... acabariam, de algum modo, sendo-lhe atribuídas.

Mais uma vez, ao que parecia, colocara-se em perigo por alguém que mal conhecia. E tudo por causa de seu tolo e sensível coração.

Será que jamais aprenderia?

CAPÍTULO 7

Enquanto ambos entravam no castelo, Merrick começou a esbravejar ordens, fazendo com que os criados corressem em todas as direções para atendê-lo.

Allegra seguiu-o até o quarto do filho dele, observando enquanto Hamish era deitado sobre as mantas de peles. Usando o restante das ervas que deixara reservadas, triturou as folhas depressa e colocou-as num cálice de água quente. Quando o chá ficou pronto levou-o aos lábios do menino e ajudou-o a beber.

Satisfeita, colocou o cálice de lado.

— Por hora, milorde, acho que o menino deve dormir. Ele esteve numa jornada longa e árdua e tanto seu corpo quanto sua mente ainda estão cansados.

Merrick ajoelhou-se ao lado da cama e pegou a mão do filho, olhando para seu rosto, agora sereno em seu repouso.

— Corta meu coração vê-lo tão atormentado.

— Sim. — Allegra ajoelhou-se do outro lado da cama baixa e alisou as cobertas. — Mas o sono auxilia na cura. O repouso faz tanto bem para a mente quanto para o corpo. Suspeito que, quando Hamish acordar, não se lembrará desse último incidente no jardim.

— Se ele não se lembrar, como você poderá ajudá-lo? — inquiriu Merrick, intrigado, o semblante grave, a profunda preocupação evidenciada em seus olhos azuis.

— Nós todos temos lembranças das quais nos esquecemos, milorde. Mas, bem no fundo, nossa mente as retém. E, às vezes, quando menos esperamos, as lembranças vêm a tona. Em primeiro lugar, preciso conquistar a confiança de Hamish. E, então, talvez eu encontre um caminho através da névoa até a exata coisa que o atormenta.

— Milorde. — A governanta parou junto à porta, alternando nervosamente o olhar entre lorde MacAndrew e a jovem ruiva que deixara todos no castelo se sentindo tão inquietos. — Como solicitou, os aposentos da dama já foram preparadas.

— Obrigado, sra. MacDonald. — Merrick virou-se para Allegra. — Do que você necessita?

Ela lançou um olhar ao manto de viagem, que deixara numa cadeira próxima. Aquele dia teria sido o de seu feliz retorno para casa. E agora, mais uma vez, seus planos tinham sido alterados.

— Eu tenho de enviar uma mensagem a minha família, assegurando que estou bem e que não estou sendo mais mantida aqui contra a minha vontade. Você ordenará a um de seus homens que a leve?

Pela primeira vez naquela manhã, ele lhe abriu um sorriso, e ela se deu conta, através de uma sequência de arrepios pela espinha, do quanto o senhor do Castelo de Berkshire era perigosamente bonito.

— Por que você não pode simplesmente abrandar as preocupações de sua família com um pensamento?

— Uma coisa dessas é possível durante ocasiões de extremo perigo. Sei que minha família pressentiu sua presença em nosso reino e se reuniu para tentar me proteger lutando contra sua força.

— A tempestade que agitou tanto as águas do lago? — Merrick estreitou os olhos. —. Foi sua família que provocou?

—Sim. E elas poderiam ter feito mais, mas tiveram medo de acabarem me ferindo, como também a você. O fato de que você se recusou a me soltar diminuiu o poder delas.

— Um feliz acaso. — Ele meneou a cabeça. — Está certo, cara dama. Escreva sua mensagem que eu providenciarei para que um dos meus homens a entregue em sua casa.

— Ele não precisará arriscar a vida atravessando o Lago Encantado. Se a colocar dentro de um saco feito de couro, ela futuará pelas águas do lago até o lado oposto, onde minha família a encontrará.

O sorriso de Merrick alargou-se.

— Tantos segredos. Isso significa que você está começando a confiar em mim?

— Tanto quanto confia em mim, milorde.

A resposta o fez jogar a cabeça para trás e soltar uma sonora gargalhada.

— Pelos céus, você é uma mulher esperta, uma como nunca conheci.

— E você é um homem duro, autoritário. Mas acho que também é justo. —Allegra se levantou e endireitou a saia longa do vestido verde. — Precisarei de pergaminho e pena para escrever. Minha família já se preocupou por tempo demais.

Merick olhou para a governanta, parada na soleira da porta, e para a criada de ar sisudo, Mara, ao lado dela.

— Providencie o que quer que a dama precise, sra. MacDonald.

Quando a governanta deu ordens à criada, Allegra tornou a olhar para Merrick. Descobriu o homem estudando-a de uma maneira intensa, que a fez ruborizar. Apesar da distância entre ambos, podia sentir seu olhar acariciando-a com a presição de um toque. E podia quase sentir o contato dos lábios dele nos seus.

Era mais uma mostra da poderosa magia dele, pensou, enquanto seguia a governanta até os aposentos que lhe haviam sido preparados ao lado. O homem tinha poderes tão estranhos.

Merrick permaneceu ao lado da cama do filho, ouvindo o farfalhar das saias de Allegra até que ela se foi. Se fosse franco, teria de admitir que, lá fora no pátio, experimentara momentos de pesar diante da iminente partida dela. E, de repente, num piscar de olhos, quase como se seu desejo tivesse sido atendido, houvera uma razão justificável para a bela jovem ficar.

Teria de se manter atento. Pois havia algo naquela feiticeira que o tocava fundo. Seria tão fácil iludir a si mesmo, levando-se a acreditar que ela era meramente tão doce, inocente e bondosa quanto parecia. Mas, afinal, qualquer mulher com magia tão poderosa quanto aquela era capaz de persuadir um homem a acreditar em qulquer coisa. Ele logo estaria convencido de que feiticeiras não tinham interesse em seduzir mortais, embora todos soubessem que tinham.

Não tinha a menor intenção de se tornar vítima dos encantos dela.

Sua única preocupação devia ser a plena recuperação de Hamish. Não descansaria enquanto o menino não estivesse completamente curado, tranquilo e feliz outra vez.

Esperava fervorosamente que os poderes daquela mulher se estendessem não só ao corpo, mas também a mente, pois o estado do filho era bastante preocupante.

Nos recantos mais escuros e profundos de sua mente, Merrick alimentava o terrível medo de que Hamish estivesse seguindo os passos da mãe em direção à loucura.
Alegra entrou no quarto do menino na ponta dos pés e ajoelhou-se ao lado da cama, atenta ao som regular e suave de sua respiração. Depois de ter se certificado de que seu sono era sereno, calmante, levantou-se e ajeitou as saias. Pela manhã, pretendia caminhar até o campo e floresta próximos e começar a colher as ervas e raízes que precisaria para o processo de cura.

No corredor, velas ardendo em amontoados de cera derretida lançavam sombras bruxeleantes na parede.

Enquanto estava prestes a passar pelo alto da escadaria, Allegra parou de repente. Foi mais uma sensação do que um som que a fez olhar por sobre o ombro. Uma sensação estranha de que alguém a estava seguindo. A coisa seguinte de que se deu conta foi de alguém empurrando-a com força por trás. Com um grito de pânico, viu-se caindo rapidamente pela escadaria.

Por um momento, ficou deitada no chão duro de madeira abaixo, sentindo a sala rodopiar a sua volta. Conforme sua mente se desanuviou, tocou a cabeça depressa com a ponta dos dedos e sentiu um inchaço começando a tomar forma. Sentou-se com cuidado e olhou ao redor, mas não havia sinal de ninguém por perto.

Permaneceu sentada por vários minutos, até que teve certeza de que podia se levantar. Com um suspiro resignado, levantou-se e subiu a escadas em direção a seu quarto.

Quando deitou-se na cama, soube sem a menor sombra de dúvida que sua queda não fora acidental. Alguém estava deixando bem claro que ela era indesejável ali, no Castelo de Berkshire.

Aquele ato proposital de crueldade só firmou sua determinação de ficar e cuidar do menino. Pois havia muito mais acontecendo ali do que percebera em princípio.

— Do que se trata isso? — Allegra levantou os olhos com ar surpreso quando a sra. MacDonald entrou em seu quarto seguida de um pequeno exército de criadas. Uma carregava uma banheira de madeira vazia, funda o bastante para que uma pessoa se sentasse. Depois de a colocar sobre várias camadas de linho a criada se retirou, enquanto as demais esvaziaram baldes de água fumegante na banheira, até que estivesse completa. Todas olharam ao redor rapidamente, como se corressem perigo de vida, e pareceram ansiosas para deixarem os aposentos da feiticeira.

A jovem criada de ar sisudo que geramente servia Hamish entrou no quarto, levando uma braçada de vestidos e uma variedade de apetrechos femininos.

A governanta olhou ao redor com nervosismo, notando os feixes de ervas que Allegra colhera nas proximidades do castelo. Havia tantas. O quarto estava perfumado com a mescla das fragrâncias que exalavam.

— Milorde ordenou-me que estes vestidos sejam ajustados para servirem em você. Mara é uma criada preguiçosa e carrancuda, mas é também uma hábil costureira. Ela atenderá suas necessidades.

Allegra não pôde esconder sua impaciência,enquanto começava a pendurar as ervas para secar.

— Sou simplesmente uma curandeira. Que necessidade tenho de vestidos refinados?

A governanta já dispunha os itens sobre a cama.

— Lorde MacAndrew ordenou que você se reúna a ele para o jantar no salão principal.

— Entendo. —. Allegra correu um olhar desinteressado pela profusão de vestidos, xales, anáguas e sapatilhas. Depois, tornou a desviar a atenção para suas plantas. — Pode escolher por mim, sra. MacDonald. Quanto a mim, devo fazer um preparado para o menino.

Enquanto Allegra se ocupava macerando folhas de várias ervas numa tijela de madeira, a governanta escolheu um vestido adorável, da cor púrpura das urzes.

— Este está ótimo, Mara. Acredito que cairá muito bem na dama. Se ficar folgado, use uma destas fitas para amarrar na cintura. — Ela separou um xale de fina lã creme, entremeado de fitas purpúreas. — E isto, creio eu, para protegê-la das correntes de ar do salão.

A sra. MacDonald notou a maneira como a criada observava o preparado na tijela de Allegra. Entendeu-lhe o medo e a aversão, pois estavam ali, em sua própria mente também. Mas lorde MacAndrew decidira confiar naquela curandeira e, pelo que ela própria pudera observar, Allegra Drummond parecia sinceramente interessada em curar o menino.

A sra. MacDonald pegou o braço da criada e sacudiu.

— Ouça bem, Mara. Você atenderá a cada necessidade do menino, ou milorde irá querer sua cabeça. Você entendeu?

A criada jogou a cabeça para trás com ar desafiador.

— Sim, sra. MacDonald.

— Ótimo. E arrume os cabelos da dama, se isso for possível. — A governanta lançou um olhar duvidoso à cabeleira rebelde que cascateava pelas costas de Allegra feito um manto acobreado. Seria necessário mais habilidade do que a que Mara possuía para domar aquelas madeixas longas. Ainda assim, sabia que a criada obedeceria a ordem. E qualquer coisa seria melhor do que o aspecto que a curandeira tinha agora, o de alguma criatura selvagem arrastada do interior de uma floresta das Terras Altas.


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