História Universal da Destruição dos Livros Das Tábuas Sumérias à Guerra do Iraque Fernando Báez



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Os expurgos culturais
Na noite de 31 de maio de 1981, um grupo de fanáticos que recebeu instruções do Partido de Unidade Nacional, no Sri Lanka, incendiou a biblioteca Jaffna, fundada em 1841 e estabelecida num magnífico prédio em 1950, com 97 mil livros e manuscritos da cultura tamil. Um dos livros era Yalpanam Vaipavama, crônica histórica sobre Jaffna, cujo único exemplar estava numa das estantes.

Na Índia, um grupo de estudantes queimou o livro Mother índia (1927), de Katherine Mayo. Em 1992, a biblioteca de Srinagar ardeu e centenas de manuscritos antigos foram destruídos.

Durante a captura da cidade de Khojali, em fevereiro de 1992, foram assassinadas mais de mil pessoas, sobretudo crianças e mulheres. Como se não bastasse, as tropas armênias invadiram Shusha em 1992 e começaram a atacar em todo o país 927 bibliotecas e 22 museus. Em conseqüência, 4,6 milhões de livros foram destruídos, incluindo cópias de tratados antigos de filosofia e música. Também desapareceram quarenta mil livros raros.

Satisfação semelhante à dos nazistas, ainda que em menor escala, sentiu o bispo Nikon Mironov, da igreja ortodoxa russa, quando ordenou em 1998 a queima de dezenas de exemplares de tratados teológicos em que se propunha a interação da fé ortodoxa com outras crenças religiosas. Dessa maneira, os livros de John Meyendorff, Alexander Men, Nikolai Afanasiev e Alexander Schmemann foram destruídos publicamente em Ekaterinburgo.

Ativistas contra o apartheid demonstraram sua intolerância ao atacar em Amsterdã a biblioteca da Sociedade Holandesa-Sul-Africana e lançar todos os livros nos canais.

Em março de 1999, uma sinagoga da cidade siberiana de Novosibirski foi atacada. De acordo com o relatório dos estragos, foram destruídos textos religiosos primitivos e relíquias preciosas. O pior dano ocorreu na Congregação B'nai Israel: a biblioteca foi completamente destruída, junto com dezenas de vídeos sobre a história do povo hebreu, o Holocausto e as tradições rabínicas.

Segundo uma estatística cruel, de janeiro de 1995 a setembro de 1998, cerca de 670 centros religiosos foram atacados por grupos fascistas. O alvo nem sempre eram os judeus: em abril de 1999, uma livraria de textos religiosos de Kansas City chamada Steels Used Christian Books foi incendiada e mais de cem mil livros queimados sem que fosse possível prender um só culpado.

Os árabes também sofreram expurgos culturais. Em 1998, um livreiro francês, cujo nome os europeus não desejam lembrar, foi condenado a dois anos de suspensão por destruir livros muçulmanos e árabes numa biblioteca municipal de Paris. O fanático escondia livros árabes e os levava para casa, onde os queimava. Um movimento contra o racismo e pela amizade entre os povos condenou o ato e questionou a leve sanção recebida pelo culpado.

Em fevereiro de 1999, o governo do Vietnã confiscou mais de 700 kg de livros budistas por atentado à cultura do país. Foi detido Nguyen Thi Phu, um granjeiro de 42 anos, acusado de fotocopiar os textos para posterior venda. Como em todos os casos anteriores, os livros foram destruídos.

Em 1998 foram destruídos muitos livros no Hollins College, na Virgínia Ocidental. Um grupo chamado Coletivo de Mulheres acendeu uma gigantesca fogueira onde foram lançados todos os livros, jornais e revistas considerados degradantes à condição feminina ao longo da história. Volumes de Schopenhauer, páginas da Bíblia, fotos do papa, exemplares do Cosmopolitan, cartas de namorados machistas e romances românticos foram destruídos em questão de minutos. As cinqüenta estudantes que participaram do ato só se retiraram depois de comemorar aos gritos o desaparecimento das páginas odiadas.

Em 1996, um tribunal de Bordéus ordenou a detenção de Jean-Luc Lundi, dono de uma livraria de textos revisionistas. Os livros foram destruídos, e a venda de qualquer exemplar do gênero proibida em território francês.


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