História Universal da Destruição dos Livros Das Tábuas Sumérias à Guerra do Iraque Fernando Báez


CAPÍTULO 9 Entre inimigos naturais e legais



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CAPÍTULO 9

Entre inimigos naturais e legais
Sobre os inimigos naturais dos livros

I
Horácio lamentava a futura destruição de seus livros pelas traças. É triste pensar, na verdade, que esse verme dos livros tenha reduzido tantos milhares de livros a destroços. Dessa espécie há alguns particularmente destrutivos, como o Anobium pertinax, o Anobium punctatum, o Anobium eruditus e o Anobium pankeum. Também devo mencionar o Xestobium rufovillosum, causador de buracos em centenas de textos dos séculos XV, XVI, XVII e XVIII. A Oecophora pseudospretella abre buracos enormes numa página e pode acabar com um volume em pouco tempo.

Numa carta a um discípulo de Petrarca, chamado Francisco de Fiana, datada ao que parece de 1416, Cincius Romanus relata como durante uma viagem ao mosteiro de São Gall, na Alemanha, encontrou na torre da igreja "incontáveis livros mantidos como prisioneiros e a biblioteca descuidada e infestada de poeira, vermes, fuligem, e todas as coisas relacionadas com a destruição de livros [...]".

Entre os Lepidoptera (lepidópteros) há duas famílias nocivas aos livros. Os Tineidae, pequenos, de um cinza pardo, têm larvas capazes de devorar encadernações quase inteiras. A outra é a Tineola pellionella, uma traça destruidora.

No caso dos insetos, é claro que os que devoram plantas se sentem atraídos pela celulose presente no papel, na madeira, em tecidos, cortinas, tapetes, fios, cordas e material das encadernações. Há adesivos usados por encadernadores que têm origem vegetal, como as colas, feitas com farinha, ou de origem animal, como a famosa cola de sapateiro, feita a partir de gelatina.

A lista de insetos prejudiciais é bastante extensa e por isso me limitarei a destacar os mais interessantes.

Em primeiro lugar, devemos mencionar os Thysanura (tisanuros), que incluem o Lepisma saccharina (traça cinza-prateada) que se distingue por sua cobertura de escamas. Tem um corpo fusiforme que culmina em três finos e compridos filamentos. De hábitos noturnos, come papel, cola, couro ou têxteis. Raspa as superfícies com grande precisão e sentido de limpeza, e provoca perfurações pequenas, semelhantes às das ratazanas. Quando destrói o couro ou o pergaminho, deixa covas em forma de funil.

Seguem os Blattodea (blatários), que deixam os ovos nas lombadas. Muitas bibliotecas contêm milhares de membros da espécie barata preta (Blatta orientalis), Blatella germânica (barata ruiva) e Periplaneta americana (os baratões). Nos trópicos, comem a madeira e todo o papel úmido que encontram por onde passam. Também devoram o papelão das lombadas, as etiquetas dos dorsos e a encadernação, além de sujar com seus excrementos o papel dos livros.

Entre os Orthoptera (ortópteros), o inocente Gryllus domesticus pode destruir livros porque come papel, tecido, couro e costuras. Quanto às térmitas (ou cupins), incluídas entre os Isoptera (isópteros), dotados de asas em determinados momentos, devido ao seu forte gosto pela madeira e a celulose costumam ser grandes destruidores de bibliotecas em continentes como a África e a América Latina.

Os Ptinidae, pequenos e convexos, alimentam-se de madeira, couro, lã e até de peles. A espécie Ptinus fur pode acabar com pergaminhos e encadernações. Perfuram o papel e depositam as larvas no fundo.

Também se deve mencionar aqui os Corrodentia, piolhos com antenas compridas que partilham seu hábitat com líquens e, enquanto os fungos destroem o papel, se aproveitam para perfurar as folhas, sendo as Trogium pulsatorium e Liposcelis divinatorius as espécies mais daninhas.

Os Coleoptera (coleópteros) incluem os dermestas, particularmente destrutivos porque atacam as encadernações de couro e pergaminho.

Entre os Cerambycidae (cerambicídeos), enormes e alongados, estão os Hylotrupes bajulus, comedores de madeira e papel.



II
Quanto aos Hymenoptera (himenópteros), o perigo está no modo pelo qual depositam as larvas, pois perfuram as folhas. As Formkidae (formicídeos), que incluem as formigas, têm as Camponotus, com uma voracidade incrível que lhes permite destruir papel. E as abelhas-carpinteiras, incluídas entre os Anthophoridae (antofóridos), de cor preta, são capazes de fazer canais completos de cumprimento superior a dez centímetros nos livros de uma mesma estante.

A espécie Vespidae (vespídeos), em que estão as vespas-cartoneiras, pretas e amareladas, é potencialmente nociva se construir seus ninhos numa estante, porque usa até o papel. Há notícia de danos causados por membros das Vespas, as Eumenes, na Europa, e o Sceliphron, que podem unir entre si as lombadas de dois ou três livros, provocando deterioração por meio da umidade da lama e da adesão do papel.

Um dos mais avançados formatos do livro na atualidade é o CD, seguro e capaz de armazenar milhões de informações. Sua composição de alumínio e policarbonatos o converte num material não-biodegradável de grande duração. Apesar de seu prestígio, descobriu-se em 1999 que é atacado por um fungo do tipo Geotrichum, que é, em essência, um fungo comum, usado até na feitura de queijos e na dos cítricos. O Geotrichum se introduz nos CDs da seguinte maneira: entra pelas bordas e mantém uma trajetória sinuosa que causa danos irreversíveis nas trilhas do disco até destruí-lo. Como se pode ver, o perigo é real.

Além de vermes e insetos, os ratos causam graves estragos. Cícero foi talvez um dos primeiros autores a considerar o problema: "[...] Os ratos roeram há pouco em minha casa a República, de Platão [...]."

No século XVIII, a biblioteca de Westminster sofreu grande perda pela falta de controle da quantidade de ratos.


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