Os manuscritos do Mar Morto
Em 1947, jovens beduínos que perseguiam uma cabra entraram numa gruta a leste do Mar Morto, perto das ruínas da antiga comunidade de Qumran, e para sua surpresa, encontraram vários jarros cilíndricos que continham manuscritos sagrados. Divulgado o achado, arqueólogos e teólogos iniciaram a exploração de 11 grutas e conseguiram recuperar uma biblioteca escondida durante dois mil anos, com rolos intactos e alguns outros destruídos, que são, para os filólogos, uma charada sinistra (15 mil fragmentos).
Os textos, escritos em hebraico, aramaico e, excepcionalmente, em grego, são extraordinários. O primeiro aspecto surpreendente é que se trata da primeira coleção conhecida de escritos do Antigo Testamento. Até então, o Códice Alepo, do século X, era o códice bíblico mais antigo. Assim, há uma cópia do livro de Isaías anterior em mais de mil anos a qualquer outra. O segundo aspecto se relaciona com o próprio ato de esconder a biblioteca: foi deliberadamente oculta nas grutas nos anos 66 ou 70, quando as tropas romanas combatiam os judeus rebeldes. O terceiro aspecto é que a escrita dos rolos é atribuída aos essênios.
Como quarto aspecto, convém destacar o material usado: quase todos os manuscritos são feitos de peles, papiros e pelo menos um de cobre. Escritos com uma tinta à base de carvão, não mostram preocupação para com os sinais de pontuação ou divisão dos parágrafos e, como muitos manuscritos gregos, tampouco respeitam os espaços entre palavras. O mais extenso deles, chamado Manuscrito dos Salmos, apareceu em 1956 na Gruta 11, e as colunas conservadas apresentam de 14 a 17 linhas. O Tetragramaton, a quarta letra do nome divino de Deus, surge nesse manuscrito para glorificar seu poder. Como quinto aspecto, os rolos foram divididos em três categorias: bíblicos, apócrifos e sectários.
A prova do temor causado por esses manuscritos é a história do jesuíta José O'Callaghan. Esse erudito estudou durante toda a vida um pedacinho de papiro encontrado na Gruta 7, descoberta em 1955, e se atreveu a afirmar, num artigo de 1972, que o fragmento de papiro conhecido como 7Q5 é um fragmento do Evangelho de São Marcos (6,52-53), escrito provavelmente no ano 50, o que significa, entre outras coisas, que esse diminuto texto, com apenas algumas letras, demonstra de forma contundente a existência histórica de Cristo, porque sua composição é apenas posterior à sua morte em cerca de trinta anos. Tal achado lhe valeu certamente toda espécie de críticas violentas e ataques tolos. Os teólogos não parecem preparados para admitir a existência de Cristo para além da fé.
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