História Universal da Destruição dos Livros Das Tábuas Sumérias à Guerra do Iraque Fernando Báez



Yüklə 0,98 Mb.
səhifə59/141
tarix02.01.2022
ölçüsü0,98 Mb.
#15256
1   ...   55   56   57   58   59   60   61   62   ...   141
A tragédia de Dante
A vida de Dante Alighieri foi marcada por uma série de incidentes lamentáveis. Viveu no exílio e sofreu várias tentativas de assassinato. Em 1315 foi condenado à decapitação e teve de se refugiar em Ravena. Seu tratado Sobre a monarquia, em que provava que a autoridade dos reis não era legitimada pelo papa e sim pelo próprio Deus, foi queimado na Lombardia, em 1318.

Em 7 de fevereiro de 1497, Savonarola substituiu o carnaval de Florença pela festa da Penitência. Mandou acender na senhoria de Florença uma fogueira onde foram lançados cosméticos, jóias e livros, enquanto os artistas viam com estupor como suas obras pagas se consumiam. Os livros de Dante estavam entre os volumes convertidos em cinzas. Savonarola ignorava nesse momento que um ano mais tarde a Igreja iria torturá-lo e queimar seu corpo com todos seus escritos, sermões, ensaios e panfletos. Seus seguidores colaboraram, emocionados, para que o fogo se prolongasse por mais tempo.

Como corolário a isso, em torno de 1581 vários exemplares da Divina comédia foram confiscados e destruídos em Portugal.

Heresias


O direito canônico define heresia como "erro religioso em que se persevera por vontade própria e de forma duradoura contra a verdade proclamada pela Igreja". Esse conceito estimulou a organização de um sistema para combater tal prática, por meio de procedimentos teóricos e práticos, e não faltava justificativa para perseguições a membros de qualquer seita que se opunham a acatar a autoridade da Igreja.

Um dos primeiros casos heréticos medievais foi o de Leutardo, um camponês que abandonou a mulher, destruiu as cruzes e disse que Deus lhe falara para empreender uma missão apocalíptica.

O principal problema da época era a diversidade de movimentos, o que impedia uma compreensão exata dos verdadeiros motivos de cada grupo considerado herético. Em 1259 apareceram os flageladores, que anunciavam a salvação aos que se flagelassem 33 dias; os adamitas proclamavam a volta à nudez original; os bogomilos exaltavam o amor livre; os cátaros propunham uma volta ao maniqueísmo; os albigenses negavam os sacramentos; os stadingers defendiam a total liberdade sexual; os euquitas não repudiavam o demônio por ser filho de Deus... O papa Inocêncio III autorizou cruzadas contra os albigenses. Além das matanças, os soldados queimavam seus escritos. Segundo Caesarius de Heisterbach, tomou-se em Paris a decisão de proibir a leitura dos livros de física e se queimaram exemplares dos livros de David de Dinant e dos chamados Livros gauleses.

Os discursos do pregador Arnaud de Bresse foram queimados em 1155. As obras de Amaury de Chartres - fundador dos almaricos, que sustentavam que Deus e as criaturas eram apenas uma estratégia da providência em que Deus era tudo e tudo era Deus - foram queimadas em 1215 depois da condenação do papa Inocêncio III. Levangile éternel, texto atribuído a Joachim de Flore e seus discípulos, também foi destruído em torno de 1256.

Marguerite Porete foi condenada à morte em 31 de maio de 1310, entre outros motivos porque não aceitava sua condição de mulher. No dia seguinte, 1º. de junho, foi queimada, junto com seus livros sobre o amor místico. Um em especial causou discórdia: o que tinha o título de Espelho das almas aniquiladas. Em 1322 Lolardo Waltero também foi queimado junto com seus livros.

No caso dos valdenses, como assinalam os historiadores, a falta de documentos se deve à sua destruição sistemática. Ao nascer o movimento dos pobres de Lyon, estes encontraram num asceta chamado Pierre Valdo estímulo para confrontar a hipocrisia católica e voltar à pobreza inicial. Desde 1160 os valdenses questionaram o poder da Igreja de Roma e se dedicaram ao ensino aberto da Bíblia. Escreviam seus textos em língua provençal e proporcionavam novas interpretações dos salmos, do Velho e do Novo Testamento. A excomunhão colocou-os à margem das atividades legais e foram perseguidos com verdadeira fúria do século XIII ao século XVI. A resistência do movimento foi exemplar, mas não pôde evitar uma carnificina. Em 5 de junho de 1561, em São Sisto, uma aldeia de seis mil habitantes, foi atacada e os escritos queimados. Os prisioneiros foram atados em estacas como se fossem archotes.

A heresia nem sempre era religiosa: podia ser política ou fictícia. João XXII, por exemplo, mandou queimar um livro em 1328 só porque duvidava de sua onipotência sobre a propriedade eclesiástica. "[...] Nesse tempo foram condenados pelo papa dois clérigos que compuseram um livro cheio de erros. Eles se esforçaram para provar que o imperador podia corrigir, pôr e dispor à sua vontade, e que os bens da Igreja estavam à mercê da vontade do imperador [...]."

Há uma crônica, de Gabriel Peignot,'" datada de 16 de agosto de 1463, em que se registra a queima de um exemplar sobre magia. Ao repassar seu conteúdo, num hotel em Dijon, Messire Jehan Bonvalet, em companhia de sacerdotes e personagens locais como Jehan de Molesmes, Aymé d'Eschenon, Jehan Robustel, Aymé Barjod, tomou uma decisão irrevogável, que a crônica guarda: "[...] e este livro foi condenado ao fogo". O mesmo narrador, com temor e reverência, mas não sem ironia, conta que a decisão de queimar o livro provocou grande confusão entre os presentes.

Em 23 de maio de 1473 foi levantado um palanque diante da porta da igreja de Santa Maria em Alcalá de Henares. Imediatamente começou a cerimônia de cremação de um exemplar do livro De confessione, de Pedro Martínez de Osma, catedrático de teologia da Universidade de Salamanca. O livro circulou pelas ruas, foi cuspido e logo queimado, e a ação foi precedida por uma bula de excomunhão.


Yüklə 0,98 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   55   56   57   58   59   60   61   62   ...   141




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin