História Universal da Destruição dos Livros Das Tábuas Sumérias à Guerra do Iraque Fernando Báez


CAPÍTULO 7 Em pleno Renascimento



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CAPÍTULO 7

Em pleno Renascimento
O desaparecimento da biblioteca de Matias Corvino
Na Hungria, o exército turco, comandado pelo mítico Solimão II, o Magnífico, cruzou rios transbordados e colinas cheias de bosques até chegar à chuvosa Mohács em 29 de agosto de 1526. Pouco depois, e com o vaticínio equivocado de um conselheiro que não soube interpretar um sinal celestial, as tropas enfrentaram os húngaros do rei Luís II (1506-1526), um erudito em falcoaria e ervas com poderes viris. Em poucas horas vinte mil soldados europeus jaziam por terra, incluindo o próprio rei da Hungria e um bispo que dissera que teria sido melhor empregar essas almas para o martírio em Roma. A carnificina dos janízaros e dos soldados da cavalaria turca culminou com a matança e tortura de dois mil prisioneiros. De certa forma, era uma vingança pelo que aconteceu na batalha de 1456 pela cidade de Nándorfehérvár (hoje Belgrado), na qual János Hunyadi humilhou os turcos e deteve, por alguns anos, a expansão otomana.

Em 2 de setembro, com a tropa já descansada, Solimão subiu o Danúbio e marchou contra a cidade de Buda. No caminho, cada cidade era saqueada sem piedade, apesar das boas intenções do monarca. Segundo seu diário, em Buda ele encontrou uma população submissa, mas não pôde evitar que se iniciasse um inexplicável e voraz incêndio que devastou tudo. Antes, havia percorrido o palácio de Matias Hunyadi (1443-1490), chamado Corvino (semelhante ao corvo), que foi rei da Hungria de 1458 a 1490, e ficou admirado com a gigantesca biblioteca que encontrou, formada desde 1476/'"

A biblioteca de Corvino era, na época, uma das bibliotecas mais importantes do mundo, a segunda depois da do Vaticano. Continha textos em grego, latim e hebraico, e fora organizada por Taddeo Ugoleto, que estimulou a ilustração de livros por artistas talentosos como Attavante degli Attavanti. Pelo menos quatro amanuenses trabalharam na cópia de livros, que abarcavam os campos da filosofia, teologia, literatura, direito, geografia, medicina e arquitetura. Segundo algumas fontes, a biblioteca contava com dois mil ou 2.500 volumes. Segundo outras, teve três mil. Alguns afirmam que as bibliotecas do bispo János Vitez e a de Janus Pannonius foram precursoras e acabaram fazendo parte da de Corvino.

Solimão pediu um parecer sobre a biblioteca e decidiu seu confisco e transporte pelo Danúbio. Foi a última vez que a coleção foi vista na íntegra. Hoje se conhecem 216 livros que podem ter sido copiados ou que pertenceram a essa biblioteca. Cinqüenta e três obras ainda estão em bibliotecas húngaras, 39 na Biblioteca Nacional da Áustria e o resto está disperso na França, Alemanha, Inglaterra, Turquia e Estados Unidos.



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