Hulagu e a destruição dos livros de Bagdá
Conserva-se uma crônica do ataque de Gêngis Khan à mesquita de Bujara, onde os livros foram confiscados e destruídos:
Levaram ao pátio da mesquita baús cheios de livros e de manuscritos sagrados e os esvaziaram no chão, utilizaram os baús como pesebres nas cavalariças, beberam taças de vinho e chamaram os músicos da cidade para se divertir e dançar na mesquita. Os mongóis cantaram e gritaram, para saciar seus apetites, e ordenaram que os imames, sábios, doutores da religião, chefes dos clãs e notáveis se pusessem ao seu serviço e se ocupassem de cuidar dos cavalos. O Khan decidiu então partir para seu palácio, seguido por seus homens, que pisotearam as páginas arrancadas do livro sagrado, caídas entre o monte de objetos destruídos. Naquele instante, o emir imame Jalaleddin Ali ben Hassan Al-Rendi, chefe religioso supremo da Transoxiana, voltou-se para o imame Rokneddin
Imamzadeh, o sábio eminente, e perguntou-lhe: "O que está nos acontecendo, Molana? Será um sonho ou realidade?" Molana Imamzadeh respondeu: "Não diga mais nada. E o vento da cólera de Deus que nos varre, e já não nos restam forças para falar [...]."
Um descendente seu, Hulagu Khan,"'5 repetiu sua crueldade em Bagdá, cidade à qual chegou em 1257. Como era habitual nesses casos, teve um gesto diplomático e enviou um mensageiro com um ultimato ao califa abácida, Al-Mutasim, pedindo-lhe a rendição incondicional. Conta-se que Hulagu era amável e cruel, uma ambigüidade que num rei é sinal de grandeza. Horas mais tarde, o astrólogo Husim-al-Din, seriamente perturbado, recomendou desistir do cerco a Bagdá porque alguns indícios e planetas não eram favoráveis: "[...] Se o rei não escutar e não abandonar sua intenção, seis demônios se manifestarão: primeiro, todos seus cavalos morrerão e os soldados adoecerão; segundo, o Sol não sairá mais; terceiro, não choverá; quarto, haverá tormentas e o mundo será devastado por um terremoto; quinto, as plantas não crescerão na terra; e sexto, o Grande Rei morrerá nesse mesmo ano [...]."
Em meio a esse desastroso dilema, Hulagu mandou chamar Nasir al-Din al-Tusi, cronista e matemático (inventou a trigonometria) que incorporou ao seu séquito depois da captura e destruição de Alamut e da seita dos assassinos, da qual esse erudito fazia parte. Depois de escutar todos os conselheiros, Nasir sentenciou: "São cálculos falsos. Nada ocorrerá se você atacar Bagdá."
Essas palavras bastaram para convencer o conquistador, que mandou de imediato cruzar o Tigre. Depois de assolar as aldeias dos arredores de Bagdá, atacou a cidade em 15 de novembro de 1257. Havia fortes inundações e era necessário esperar, mas o califa se adiantou e, no dia 17 de janeiro, atacou os mongóis em Bashiriya. Quatro horas de combate deixaram 12 mil soldados mortos. Finalmente, a 4 de fevereiro, Hulagu soube que as tropas começaram a entrar em Bagdá e houve ferozes combates até o dia 12.
As crônicas lembram que o califa decidiu se entregar, mas no dia 13 a carnificina continuava e mais de quinhentos mil corpos ficaram nas ruas, as casas foram saqueadas e só se respeitaram os cristãos porque a mulher de Hulagu era uma cristã nestoriana. Em algum momento, o califa foi capturado e entrou junto com o invasor no palácio Al-Rihainiyyin, onde estava toda a família real, que foi assassinada sem piedade.
Os manuscritos da biblioteca foram então levados para a margem do Tigre, jogados na água e a tinta se misturou ao sangue. O califa Al-Mustasim foi enrolado num tapete e assim espancado até morrer; pois como fora profetizado, que os mongóis sofreriam se seu sangue atingisse a terra, assim eles evitaram o problema envolvendo-o.
Outro descendente de Gêngis Khan, Tamerlão, voltou a atacar Bagdá em 1393 e acabou com tudo o que encontrou pela frente. Seus soldados prosseguiram e assolaram a Síria, eliminando, dessa maneira, todos os livros de seus adversários.
No Cairo se criou uma das mais interessantes bibliotecas de todo o Egito. Consistia em milhares de livros de todos os povos conhecidos. A invasão dos turcos, em 1068, destruiu os livros.
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