Os estudantes e seu ódio pelos livros didáticos
Um antigo costume juvenil é o de queimar textos didáticos. Quando concluí meu ensino médio, o primeiro ato consumado, além das assinaturas nas camisas, foi queimar os livros de estudo, o que não deixou de me impressionar, pois os professores avalizavam a prática com seus sorrisos. Salvador Garcia Jiménez escreveu:
Num dos institutos de ensino médio onde fui professor, na conclusão do curso, os alunos queimaram vários livros nas quadras de basquete. O corpo docente se expôs ao ridículo ao pôr as mãos na cabeça, ignorando a chave que Freud lhes dera para interpretar aquele episódio da infância de Goethe. Quando Goethe atirou os pratos da baixela na rua para destruí-los após o nascimento de seu irmão, realizou um ato simbólico com o qual manifestou seu desejo de jogar o bebê - que acabava de entrar no mundo para perturbá-lo - pela janela. Para aqueles alunos, o manual de Literatura que lançaram na fogueira era a representação de sua exigente, estúpida e pedante professora.
Quem ganhou de todos em matéria de vingança pelos danos causados pelos textos didáticos foi o anônimo estudante que incendiou a Biblioteca "Nebrija da Universidade de Murcia. Depois de passar a noite escondido entre os livros, às 5:45 h da manhã, borrifou-os com a gasolina de uma lata para que ardessem até os incunábulos. Os sermões do século XV, tão carregados de inferno, encontraram moldura para suas palavras; a História das ervas e plantas, de Dioscórides, gemeu como as brasas de um carvalho; o Livro da vaidade do mundo, de Diego de Estella, se retorceu embriagado de gasolina; o Cerimonial das missas de defuntos extinguiu suas velas... O culpado continua desaparecido há dois anos; todos o procuravam para imediatamente prendê-lo e condená-lo, ninguém para saber de seus lábios as ações vis cometidas pelos professores para provocar sua reação. A notícia publicada na imprensa deixaria muitos estudantes, que não se atreveram a praticar o ato, purificados por suas chamas.
Em junho de 2001, houve um caso escandaloso nas areias da praia La Victoria, em Cádiz, onde centenas de estudantes se reuniram para fazer uma grande fogueira. Entre risos e gritos, lançaram às chamas todos os seus livros didáticos, incluindo alguns de leitura obrigatória. Dessa forma, nem sequer alguns clássicos da literatura espanhola se salvaram do que devia ser, unicamente, um ato de fim de curso.
Um dos rituais secretos de Harvard consiste em que, no final do curso, se queimem os livros do último ano. Desaparecem habitualmente dessa forma dezenas de manuais acadêmicos.
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