História Universal da Destruição dos Livros Das Tábuas Sumérias à Guerra do Iraque Fernando Báez



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Quando a memória está em perigo
I
O século XX foi marcado por desastres naturais de toda espécie: incêndios, terremotos, inundações, maremotos, furacões, tornados e vulcões. Cada um deles causou devastação cultural.

De 25 para 26 de janeiro de 1904, um incêndio atingiu a Biblioteca Nacional Universitária de Turim, que conservava valiosos manuscritos classificados em gregos, latinos e orientais. No fim ficaram destruídos cerca de 2.500 textos, incluindo escritos franceses e italianos. Toda a seção piemontesa ficou em cinzas. Livros como o Códice Teodosianus, palimpsestos de Cícero, entre muitos outros, ficaram completamente danificados.

Em 18 de abril de 1906, às 5hl2 da manhã, um terremoto que durou 45 ou sessenta segundos acabou com 28 mil prédios da cidade de San Francisco e matou setecentas pessoas. Um dos edifícios era a biblioteca da cidade, famosa por conter manuscritos e peças únicas. A chamada San Francisco Law Library, fundada em 1865, desapareceu nessa catástrofe juntamente com 46 mil livros. Em 1910, com a Bud Werner Memorial Library ardeu uma das coleções mais completas dos Estados Unidos.

No terremoto de 1923 desapareceram setecentos mil livros da biblioteca da Universidade Imperial de Tóquio: essa importante quantidade incluía registros de cidades e vilas japonesas do século XIX, registros governamentais, a Sala Max Muller sobre idiomas e religiões, as Salas Nishimura e Hoshino com textos de história e filosofia chinesa antiga.

Em 1931, um terremoto destruiu a Biblioteca Nacional da Nicarágua (o acontecimento se repetiu em 1972), e se perderam milhares de livros. Em 16 de dezembro de 1934, o Tucker Memorial Hall da biblioteca da Escola de Leis de Lee e Washington University desapareceu num incêndio que destruiu 11 mil livros. As inundações de 1937 nos Estados Unidos acabaram com milhares de livros em Ohio, Virgínia Ocidental e Mississippi. Uma explosão numa mina esquecida causou nos anos 1940 o desaparecimento de cinqüenta mil livros da biblioteca da Universidade de Marburg.

Em maio de 1943, a Biblioteca Nacional do Peru, em Lima, incendiou-se e cerca de cem mil livros e quarenta mil manuscritos sobre a conquista, a época colonial e a independência sul-americana desapareceram para sempre. Em 23 de fevereiro de 1949, a biblioteca Ferdinand Postma foi destruída por um incêndio que arrasou as estantes em poucas horas.

As chamas acabaram com a Biblioteca Pública de Michigan em fevereiro de 1951: o fogo e a água usada para extinguir o fogo eliminaram 22.400 livros e 7.200 panfletos. Em 1955, o primeiro andar do British Council em Nicósia, Chipre, ardeu com sua biblioteca. Em julho de 1963, um terremoto devastou a cidade de Skopje, na antiga Iugoslávia, e destruiu a biblioteca central. A biblioteca do Seminário Teológico Judeu da cidade de Nova York ficou em ruínas depois de um incêndio que destruiu em 1966 cerca de setenta mil livros e danificou mais de 150 mil.

Só o desespero dos bibliotecários italianos permitiu salvar milhares de obras quando o rio Arno inundou Florença em 1966 e danificou prédios como a Biblioteca Nacional Central, onde 1,2 milhão de livros, cem mil manuscritos, cinqüenta mil fólios e quatrocentos mil volumes com periódicos ficaram debaixo d’água. Também sofreram perdas e danos a Biblioteca Vieusseux e a biblioteca da Universidade, na qual duzentos mil livros ficaram expostos à água.

Em 1968, o fogo destruidor do Holyoke Community College de Massachusetts acabou com 16 mil livros. Um incêndio misterioso na Biblioteca Central de Godthab, na Groenlândia, em 1968, destruiu trinta mil livros com edições limitadas. Outro incêndio em 1969 eliminou quarenta mil livros na biblioteca da Universidade de Indiana e causou graves danos em 27 mil textos sobre a cultura alemã.

Em 28 de julho de 1972, uma grande parte da coleção de livros da Temple University Law Library da Filadélfia, Pensilvânia, Estados Unidos, pegou fogo. Em 22 de fevereiro de 1977, um incêndio na biblioteca de engenharia da Universidade de Toronto, em Ontário, Canadá, acabou com 12 mil livros.

A biblioteca da Universidade de Stanford perdeu quarenta mil livros na tempestade de 1978. A primeira edição da tradução do Inferno de Dante, de Tom Phillips, se perdeu quase toda (só ficaram dois exemplares) porque a Ediciones Alecto queimou em 1978.
II
Este registro de desastres não acaba aqui.

No Natal de 1985, a Companhia Jenkins, especializada na venda de livros em Austin, Texas, sofreu um estranho incêndio que acabou com quinhentos mil livros. O proprietário, John H. Jenkins, nasceu em 22 de março de 1940, em Beaumont, Texas; serviu no exército e, desde 1963, pôs em marcha o grande projeto de uma editora chamada Pemberton Press & Jenkins Publishing Company. A tragédia de 1985, no entanto, incitou-o a continuar; não fechou o negócio, mas em 16 de abril de 1989 morreu assassinado.

Em setembro de 1986, a chuva destruiu a biblioteca do News-Sun. Milhares de livros da biblioteca da Universidade de Amsterdã foram destruídos num incêndio ocorrido em novembro de 1987.

No fim do século XX, a biblioteca do mosteiro de Dabra Damo, na Etiópia, ao norte do caminho de Adwa, foi destruída por um incêndio voraz. O mosteiro, fundado no início do século VI d.C. por um dos chamados nove santos, Abuna Za-Mikael Aragawi, teve em determinado momento mais de mil volumes, mas em 1965 o doutor Otto Jaeger, que visitou o local, encontrou cerca de cinqüenta manuscritos de valor incalculável. O incêndio destruiu tudo e uma investigação policial feita pelo governo concluiu que "os culpados eram desconhecidos e que, numa hora indeterminada, sem testemunhas, atacaram o mosteiro por motivos ignorados". A investigação demonstra o pouco interesse em atribuir as perdas a algum grupo político do país.

A biblioteca de Norwich Central, na Inglaterra, foi destruída em Ia de agosto de 1994: quase 350 mil livros foram reduzidos a cinzas apesar do esforço dos bombeiros. A biblioteca Langley sofreu grandes perdas depois de um incêndio ocorrido em 7 de julho de 1996 que arrasou 85% dos livros.

Em 21 de dezembro de 1996, queimou no México a biblioteca do poeta Octavio Paz, que disse na ocasião: "Os livros se vão como os amigos." Nesse incidente se perderam primeiras edições de autores como Rubén Darío, Manuel Díaz Mirón, Manuel José Othón e a herança de livros deixados por seu avô Irineo. Um grupo de admiradores do poeta levou alguns dos textos a um laboratório de restauração e conservação, e outros os colocaram em cofres.

Aproximadamente às 15:30 h de 3 de fevereiro de 1997, começou um incêndio na Feira do Livro de Calcutá, e durante uma hora queimaram mais de seiscentas barracas: além do saldo de um morto e mais de quarenta feridos, desapareceram milhares de livros.

A agência Associated Press, numa nota de 5 de fevereiro de 1997, quarta-feira, noticiou um incêndio inexplicável no Observatório Astronômico Pulkov, perto da cidade de São Petersburgo. Em meio ao fogo, a primeira coisa a queimar foi uma gigantesca coleção de livros reunida em parte por Vasily Struve, fundador do centro, no século XIX. Um quarto dos escritos classificados, de 1500 a 1850, já se perdera na Segunda Guerra Mundial, incluindo edições raras dos livros de Kepler. O fogo de 1997 destruiu o resto.

Em abril de 1997, 35 mil livros queimaram num incêndio na Biblioteca Shirley, nos Estados Unidos. Em agosto de 1997, as inundações na República Tcheca acabaram com milhares de livros. A Biblioteca Técnica Estatal de Ostrava, com mais de 35 mil textos, sofreu danos irreparáveis. Talvez o mais grave foi a perda de 3.600 enciclopédias, dicionários e livros técnicos básicos de consulta. Algumas testemunhas contam horrorizadas que o pior espetáculo foi o dos livros flutuando junto aos cadáveres.
III
O tornado de março de 1998 destruiu a Biblioteca Pública de São Pedro, em Minnesota, Estados Unidos, perdendo-se sua coleção de trinta mil livros. O furacão Mitch, em outubro de 1998, destruiu mais de 295 mil livros na Nicarágua.

Da noite de 11 de junho ao meio-dia de 12 de junho de 1999, um incêndio acidental destruiu por completo o acervo da Biblioteca Central das Universidades de Lyon 2 e Lyon 3, biblioteca fundada em 1886 e que atendia à procura de mais de dez mil estudantes e milhares de usuários externos e internos. A quantidade de perdas nesse incidente superou os 280 mil livros.

Em setembro de 1999, uma inundação destruiu 28 mil livros, vídeos e documentos da biblioteca de Rahway. Também destruiu as bibliotecas de Park Ridge, Springfield, Fanwood, Caldwell, Berkeley Heights, Summit e Trenton.

Um jornal da índia, The Asian Age Calcutta, publicou em 30 de setembro de 1999 uma notícia em que detalhava a inundação que destruiu oitenta mil livros do College Street: "A água destruiu livros raros e manuscritos cuidadosamente preservados durante anos [...].”

De 15 a 17 de dezembro de 1999, todo o litoral central venezuelano foi destruído pelas chuvas. A biblioteca de Macuto desapareceu. Era certamente uma biblioteca escolar, mas em suas prateleiras se encontravam livros de Joseph Conrad e de grandes poetas como Udón Pérez e Ramos Sucre. Os livros do Museu Armando Reverón foram arrastados por ondas de lama. A biblioteca do Núcleo do Litoral da Universidade Simón Bolívar ficou em ruínas. As águas arrasaram 32 mil volumes. Em Carmen de Uria, bela cidade completamente devastada, desapareceram escolas e bibliotecas.

As terríveis inundações européias de 2002 arrasaram milhares de textos. Num balanço provisório, comenta-se que a biblioteca da Universidade Carlos de Praga perdeu um terço da coleção de livros jurídicos. Também foram danificados o Arquivo Histórico Militar, a Academia de Ciências, a Orquestra Filarmônica da Tchecoslováquia e o Departamento Central de Estatísticas.

Em 29 de maio de 2002, um incêndio destruiu três milhões de livros da coleção Belles Lettres, em Gasny, França. Havia clássicos gregos e latinos, todos editados magistralmente pela prestigiosa editora Budê. Nesse desastroso acontecimento desapareceram exemplares de Plínio, Aristófanes, Platão, Aristóteles, Plotino e dezenas de mestres da literatura.

Em 3 de junho de 2002, se incendiou a Biblioteca West Slope (fundada em 1950), na área de Raleigh Hills Park, em Portland, e desapareceram os periódicos e a coleção de livros infantis. Em 9 de dezembro de 2002, outro incêndio destruiu o centro antigo de Edimburgo. Milhares de livros sobre inteligência artificial se perderam na Escola de Informática.

O terremoto de dezembro de 2003 em Bam, Irã, acabou com toda a cidade medieval e destruiu a coleção de livros árabes que se encontrava na biblioteca municipal. Morreram mais de quarenta mil pessoas nesse desastre.

Não é improvável que hoje, ao ler o jornal ou ver as notícias na televisão, o leitor tome conhecimento de outro incidente que acabou com milhares de livros. A falta de previsão, por um lado, e de defesas eficazes contra a natureza, de outro, contribuem para que se consigam evitar as grandes perdas.

Dois grandes incêndios de bibliotecas: Los Angeles e Leningrado

"Nunca aconteceu algo semelhante na história das bibliotecas dos Estados Unidos", comentou um reverendo nas ruas de Los Angeles ao contemplar a fumaça que saía do imponente edifício da Biblioteca Central. "Nunca a fragilidade foi tão evidente. Somos fumaça e somos pó." Certamente, e além da retórica do momento, foi o maior incêndio num país onde existem os mecanismos mais modernos para a proteção de bibliotecas.

Em 29 de abril de 1986, seis dias depois da comemoração mundial do Dia do Livro, um depósito da prestigiada Biblioteca Pública de Los Angeles pegou fogo. Certa falta de previsão, a negligência e o excesso de confiança fizeram com que o incêndio se prolongasse por sete horas e, em conseqüência, muitas salas foram afetadas. Pelo menos quatrocentos mil livros queimaram e quatrocentos mil outros volumes ficaram danificados. Entre outras coleções, desapareceram a de invenções americanas e a de ciência e tecnologia.

Em 30 de abril, tudo era ruína e desolação. Cerca de 1.500 voluntários começaram desde as quatro da tarde a transferir os livros, em cem mil caixas, para sua posterior recuperação. Os volumes estavam molhados e concluíram ser necessário empregar o protocolo de procedimentos em caso de desastres em bibliotecas, que consiste em sua secagem e limpeza. As perdas ultrapassaram os 20 milhões de dólares.

O irreverente Charles Bukowsky (1920-1994) dedicou a esse incidente o poema intitulado O incêndio de um sonho:

A velha Biblioteca Pública de Los Angeles

Provavelmente evitou

Que me convertesse em

Suicida,

Ladrão


De bancos,

Um cara que bate na mulher,

Um açougueiro ou

Um motociclista da polícia

E, embora admita que

Sejam boas atividades,

Graças

A minha boa sorte



E ao caminho que tinha de percorrer,

Aquela biblioteca estava

Ali quando eu era jovem e buscava

Algo a que me aferrar e não parecia que havia

Muita coisa.

E quando abri o

Jornal

E li a notícia do incêndio



Que destruiu

A biblioteca e a maior parte

Do que havia nela

Disse à minha Mulher: "Eu costumava Passar horas E horas Ali [...]."

Antes da queda do comunismo se soube do incêndio devastador da biblioteca da Academia Russa de Ciências (Biblioteca Acadêmica Nauk), em 14 de fevereiro de 1988, na velha Leningrado, hoje São Petersburgo. Tudo começou na sala hemerográfíca, no terceiro andar. Essa biblioteca já queimara em 1747, em 1901 e em 1942.

O registro conservado do fato indica que quatrocentos mil livros foram destruídos e mais de 3,6 milhões sofreram graves danos, alguns irreparáveis. Em sua maior parte se tratava de textos científicos russos, médicos e de pesquisa em campos heterogêneos, publicados nos séculos XVII, XVIII e XIX.



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