Igor moreira



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João Miguel A. Moreira/Arquivo da editora

Mercado financeiro

Com o passar do tempo, à medida que a economia crescia, criavam-se instrumentos para facilitar as transações. Esses instrumentos representam valor, mas não têm valor em si mesmos. O dinheiro, ou papel-moeda, por exemplo, é uma promessa do governo que o emitiu de honrar o valor estampado na face. Há muitos outros instrumentos cujo valor está registrado em papel.

Depois da Segunda Guerra Mundial, intensificou-se um descolamento entre a riqueza real produzida (bens e serviços) e o valor formalmente atribuído a ela. Desde então, sobretudo a partir do fim do século passado, as transações se intensificaram e se diversificaram muito, intrinsecamente ligadas ao desenvolvimento do capitalismo financeiro.

Há variados tipos de instrumentos ou papéis, públicos e privados, que representam valores. Quando o governo de uma nação precisa de dinheiro, seja para cobrir deficit, seja para fazer investimentos, pode tomar emprestada a importância de que necessita. Para isso, emite um título público (letra, obrigação do Tesouro, etc.), o qual será comprado por algum investidor, que pagará um preço menor que o indicado no papel adquirido; a diferença é o juro, que corresponde à remuneração do capital emprestado ao governo. Quando uma empresa precisa de recursos para investir ou crescer, por exemplo, em vez de fazer empréstimo em um banco, pode emitir papéis, que serão títulos privados. Os mais comuns são as ações. Quem compra ações se torna sócio ou acionista da empresa emissora dos papéis.

Denomina-se mercado financeiro o mecanismo por meio do qual são realizadas as transações de títulos ou papéis, ou seja, as operações de compra e venda de valores ditos mobiliários (ações, obrigações, etc.) ou relativos a mercadorias, moedas (câmbio) e promessas a cumprir em geral. Todos esses papéis são chamados de ativos financeiros.

Na essência, é no mercado financeiro que se negocia dinheiro mediante diversos instrumentos, constituídos por compromissos de valor expresso em papel. Ele é o elo entre quem precisa de dinheiro e quem o tem para vender, cabendo ao comprador pagar o lucro do vendedor, sob a forma de juro. As operações que envolvem exclusivamente papéis são realizadas por instituições financeiras, como bancos e corretoras.

Como é da dinâmica do capitalismo, os preços dos papéis também são regulados pela lei da oferta e da procura. Por operar com valores materialmente divorciados da economia real, o mercado financeiro tem uma enorme fluidez, expressa pela alta volatilidade dos capitais envolvidos. Por isso, presta-se a inúmeras manobras especulativas, movidas pela busca de lucro fácil. Por exemplo: um grupo de investidores faz expressivas compras de determinado papel, provocando elevação de seu valor. De pronto, os mesmos investidores vendem no mercado os títulos recém-comprados, obtendo lucro considerável com a operação. Em seguida, não havendo mais procura, os referidos papéis perdem valor e retornam à sua antiga cotação no mercado. Assim, os ganhos de uns ocorrem à custa das perdas de outros – os compradores dos papéis especulativamente valorizados.

Atualmente, há muitos trilhões de dólares circulando no mercado financeiro global, movimentando-se em função da maior ou menor rentabilidade, isto é, lucros propiciados pela compra e venda de títulos privados ou públicos. Ao lado da rentabilidade, outro fator impulsiona a movimentação do capital financeiro: a credibilidade do emissor do título, ou seja, o grau de segurança com que vai honrar o compromisso expresso no papel.


Folhapress/Fernando Frazão

A Casa da Moeda do Brasil é responsável pela emissão de papel-moeda no país e pela produção de outros produtos, como passaportes com chip e selos fiscais. Na foto, Casa da Moeda no Rio de Janeiro (RJ), 2012.

O mercado financeiro tem influência em muitas das mudanças que acontecem no mundo, pois a movimentação de capitais pode impactar a economia de países, alterando os espaços com suas paisagens. Em 2015, por exemplo, o mundo financeiro aguardava a esperada elevação dos juros nos Estados Unidos. Pelos títulos do Tesouro estadunidense, periodicamente emitidos para cobrir o gigantesco deficit do país, o governo pagaria juros mais altos pelo dinheiro captado mediante a venda de tais papéis. Além de os juros se tornarem muito atrativos, títulos estadunidenses têm máxima credibilidade, em virtude da segurança representada pela mais poderosa economia do mundo, mesmo que deficitária. Por outro lado, no mesmo ano, o Brasil enfrentava uma séria crise econômica e financeira, precisando de dinheiro para fechar suas contas e investir na economia em recessão.

A consumação da expectativa provocaria uma debandada de capitais do Brasil para os Estados Unidos, pois os grandes investidores internacionais venderiam suas ações de empresas brasileiras e deixariam de comprar títulos públicos nacionais, empregando seus recursos na compra de títulos estadunidenses, que ofereceriam maior lucratividade a seus investimentos.

Com isso, muitas empresas brasileiras poderiam quebrar, e inúmeros projetos deixariam de ser implementados no Brasil, aumentando o desemprego e diminuindo a renda da população e a arrecadação de impostos governamentais. Para cobrir o aumento do deficit público, o governo brasileiro teria de pagar taxas mais altas de juro pelo dinheiro a ser captado no mercado financeiro, ficando ainda mais endividado. Isso provocaria a diminuição da credibilidade, o aumento da inflação e a falta de recursos para os serviços públicos. E todos esses efeitos repercutiriam na sociedade brasileira e no espaço geográfico.

As transações de papéis são feitas nas bolsas, onde o mercado financeiro se materializa, assumindo uma dimensão visível. As bolsas são instituições autorizadas pelos governos, nas quais se reúnem negociantes e corretoras, agentes credenciados a operar na compra e na venda de papéis, isto é, de ativos financeiros.

Há diversos tipos de bolsas: de valores, de mercadorias, de câmbio, etc. No Brasil, o maior reduto de operações financeiras é a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que é mista, pois reúne operações com títulos, ações, mercadorias e outros papéis.

A maior bolsa de mercadorias do mundo é a de Chicago, nos Estados Unidos. De lá são ditados os preços dos principais produtos agrícolas, influenciando a economia de todos os países exportadores de commodities.

A principal bolsa de valores é a de Nova York, também conhecida pelo nome da rua onde está localizada: Wall Street. Mas há outras importantes bolsas de valores espalhadas pelos continentes, como a de Londres, de Frankfurt, de Xangai e de Tóquio. Elas constituem os nós da vasta rede formada pelo intenso fluxo de capitais, que exerce papel fundamental no mundo globalizado.

O mercado financeiro não faz parte apenas do setor terciário, sendo cada vez mais influente nas atividades dos setores primário e secundário da economia.

Muitos estudiosos sustentam que o mercado financeiro global estimula a desigualdade entre regiões ou países ricos e regiões ou países pobres. Sendo livre a circulação de capitais, a tendência é de que os maiores investimentos sejam atraídos para onde há maiores possibilidades de crescimento econômico e de ganhos de capital, em detrimento de onde há carência de recursos e de condições para o efetivo desenvolvimento. Para tais estudiosos, se não houver controle sobre a circulação do capital financeiro, valerá o princípio de que “o maior enriquecimento (ou desenvolvimento) ocorre exatamente onde a riqueza está presente”.

Wall Street: poder e cobiça

Direção de Oliver Stone. Estados Unidos: 20th Century Fox, 1987. 136 minutos.

Conta a história de um jovem corretor do mercado de ações que vive na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, e se envolve com um milionário investidor. Os segredos da bolsa de valores e os bastidores do mercado financeiro estadunidense na década de 1980 servem como pano de fundo da trama.

Fotoarena/Nelson Antoine

Bolsa de valores de São Paulo (Bovespa), principal mercado de ações brasileiro que atrai investidores internacionais para aplicar seu capital em empresas do país. Foto de 2013.

Circulação de capitais

No processo de integração global, o investimento de capital fora das fronteiras nacionais tem assumido cada vez mais destaque. Veja, no gráfico ao lado, os países que mais investem no Brasil.

Os principais fluxos realizam-se entre os países mais desenvolvidos e também em direção a alguns emergentes, que apresentam boas perspectivas econômicas, como a China e o Brasil. O capital é aplicado tanto no mercado financeiro quanto no processo produtivo. No segundo caso, o capital exerce o papel de principal incentivador do comércio: graças a investimentos estrangeiros, vários países em desenvolvimento podem aumentar e melhorar sua participação nas trocas comerciais mundiais.

A Ásia (entenda-se China e Leste Asiático) e a América Latina recebem, sobretudo, investimentos externos de empresas privadas. A África subsaariana e o Oriente Médio, ao contrário, recebem investimentos principalmente de organismos oficiais; o capital de empresas privadas tem evitado essas regiões, consideradas de risco.

A mobilidade de capitais constitui uma grande preocupação para os governos e depende de acordos feitos por meio de relações diplomáticas e especializadas nas diversas áreas do mercado. Salários e lucros são discutidos como elementos básicos, além de taxas e o uso ou não de políticas protecionistas.

Circulação, transporte e telecomunicação

A circulação e o transporte têm grande significado geográfico. Por um lado, dependem das condições naturais, que podem facilitar ou dificultar um traçado viário, e das técnicas, com as quais serão construídos os meios de circulação. Por outro, modificam o espaço, na medida em que geram novas atividades e transformações nos sistemas de produção e de consumo.

Os transportes e a circulação compreendem pessoas e mercadorias; as comunicações incluem também o som, a palavra, a imagem e as ideias.

Com os progressos dos meios de transporte, das vias de circulação e das telecomunicações em geral, as distâncias foram encurtadas e os países se aproximaram. Essa evolução teve início com a revolução dos transportes, que acompanhou a Revolução Industrial na Europa e na América do Norte, e, daí em diante, ganhou fôlego com a construção de ferrovias e o uso da máquina a vapor na navegação, no século XIX. No século XX, os marcos desse desenvolvimento foram a popularização do automóvel e o surgimento do avião.

O aprimoramento dos transportes e das comunicações representou progressos também nos demais setores da economia, como a agropecuária, a indústria e o comércio. O aumento da capacidade dos computadores, softwares e satélites, assim como a utilização de ondas de rádio e cabos de fibra óptica, permitiu que as informações econômicas e financeiras e o fluxo de capital se tornassem mais globalizados. Graças ao desenvolvimento tecnológico, os custos dos transportes e das comunicações sofreram uma queda vertiginosa ao longo do século XX e no início do século XXI.
Países que mais investem no Brasil (2012)

Edição de arte/Arquivo da editora

Fonte: SOBRAL, Lilian. Os 10 países que mais investem no Brasil. Exame.com,
10 ago. 2012. Disponível em:


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