Insucesso Escolar Abordagem Psicopedagógica das Dificuldades de Aprendizagem



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O processo de leitura (existem quase tantos modelos quantos os investigadores) possui obviamente várias propriedades e qualidades:
1) Totalidade: envolve a integração de processos sensoriais (fixações, movimentos sacádicos dos olhos), perceptivos (formas e conflgurações), imagéticos (induçõès picturais), de memória (curto e longo termo), de simbolização e conceptualização;

2) Interdependência: tais subprocessos ou partes inter-relacionam-se e afectam-se mutuamente; trata-se de uma gestalt cuja totalidade é mais importante do que a soma das partes, cujas interacções mútuas envolvem circuitós neurológicos e processos psíquicos extremamente complexos;


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3) Hierar Quia: os subprocessos da leitura organizam-se de acordo com uma complexidade crescente; do não-verbal para o verbal; do não-simbólico para o simbólico; do simples para o composto; do composto para o complexo e hipercomplexo, pondo em marcha processos de reduplicação e de re-representação neurofuncional, desde os subpro cessos intra e interneurosensoriais aos integrativos; desde o primeiro ao segundo sistema simbólico; desde a pré-análise à reanálise; desde a conversão intermodal e a representação semânticossintáctica; desde a cognição à metacognição, desde a descodif icação à compreensão; desde a leitura silábica à leitura rápida e criativa;

4) Autorregulação e controlo: o que subentende uma cibernética, uma transdução e uma transferência da informação, desde os centros de processamento visual (grafema) aos de processamento auditivo (fonema), desde processamento semântieo (para leitura silenciosa) a processamento semântieo-sintáctico do sistema oral (para a leitura oral), visando um fim, isto é, a extracção activa e autodirigida de informação de textos, páginas impressas, imagens, diagramas, gráficos, etc. , o que subentende inúmeros feed-backs;

5) Intercâmbio com o exterior: compreende um acto mental com processos de input - análise visual precoce - e processos de outputoromotricidade, mediados por processos hipercomplexos de elaboração da informação;
i I
Figura 134 - Substractos neurológicos da leitura - Uma constelação sistémica e não um centro de leitura: 1) Hemisfério esquerdo e hemisfério direito: córtex visual - subsistema visual; 2) Córtex visual associativo dos dois hemisférios, conectados pelo corpo caloso; 3) Girus angular; 4) Área de Wernicke, subsistema auditivo semântico; 5) Área de Broea: área motora da linguagem do lobo frontal.

Adaptação dos modelos de Benson e Geschwind


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Estfmulo
AVP
RGP - RAL - AG
DM
RS
RA I/ I CGF
CM AF
Resposta
Figura 135 - O processo de leitura implica a participação de subprocessos visuais, auditivos, linguísticos e cognitivos, numa verdadeira constelação de trabalho.

(AVP - Análise visual precoce; RGP - Representação global de palavras;

RAL - Representação abstracta de letras; AG - Analisador grafético;

DM - Decomposição morfológica; RS - Representação semântica;

RA - Representação de articulemas; CGF - Conversão grafeticofonética;

AF - Assoeiação de fonemas; CM - Córtex motor (output verbal)


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6) Equihbrio o processo da leitura envolve uma homeostasia e uma arquitectura operacional que, em certa medida, foram ilustradas atrás, ou seja, consubstanciam uma organização sistémica e sistemogenética antientrópica;

7) Adaptabilidade: o processo da leitura não é um processo rígido e inflexível, mas sim um processo adaptável porque a leitura equaciona uma combinatória informática em constante mudança, daí decorrendo uma sistematização progressiva e um subsistema principal, assegurando, assim, a natureza realmente dinâmica do processo de leitura;

8) Equifinalidade: o processo da leitura tem um fim, uma meta, um resultado, significando que o produto final pode ser realizado de muitas maneiras e desde vários pontos de partida, materializando um processamento de informação complexo e exclusivo da espécie humana. Se de facto queremos abordar as disfunções do processo da leitura, ou seja, a dislexia (dis, que significa no fundo pobre ou inadequada aprendizagem, ou fraca apropriação de aquisições, e lexia, que significa linguagem escrita), temos de, forçosamente, tentar perceber ou enquadrar, em termos psiconeurológicos, o que subentende tal processo; caso contrário, as nossas soluções não superarão um problema que tem repercussões individuais e sociais múltiplas.
QUE TIPOS DE DISFUNÇÕES PODEM AFECTAR A LEITURA DA CRIANÇA?
Os casos de hemialexia e de alexia sem agrafia demonstram claramente uma desconexão entre regiões ou sistemas que estão envolvidos no processamento do material escrito, onde efectivamente o girus angular parece ter um papel essencial no processo de leitura. As áreas de Wernicke e de Broca produzem desordens de linguagem falada e, obviamente, da escrita. Todavia, sabe-se que são áreas e componentes cruciais no processo inicial de aquisição da leitura (hierarquia do primeiro sistema simbólico ao segundo sistema simbólico que consubstancia uma pré-estruturação no cérebro humano, quer filogeneticamente, quer ontogeneticamente).

Sabe-se, por outro lado, que uma lesão unilateral do hemisfério esquerdo ocomda precocemente na vida da criança não leva necessariamente a uma dif Iculdade de leitura, porque o hemisfério direito pode reassumir tal função. Em contrapartida, a lesão bilateral do girus angular leva a uma dificuldade na aquisição da leitura. Mas. haverá alguma anomalia unilateral que possa produzir tal dificuldade?


I, esões no feto e na criança: suas comparações e implicações
Por se saber que se recupera bem uma lesão unilateral na criança, tal não quer dizer que quanto mais cedo ocorrer tal lesão, melhor será o prognós
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tico. A lesão fetal, por exemplo, gera inequivocamente disfunções severas. Quando a lesão (ou a malformação) ocorre no período intrauterino, as consequências são diferentes do que se a lesão ocorrer extrauterinamente. A lesão no hemisfério esquerdo da criança leva a uma redução das funções normais do hemisfério direito, isto é, segundo Geschwind 1983, ela tem de < Se a lesão for no feto, novos aspectos emergem e quase ocorre o inverso. Goldman 1978 demonstrou que quando uma região é lesada no período fetal, a região oposta correspondente apresenta um padrão mais extensivo de conexões do que o normal. Por isso, as lesões no hemisfério esquerdo levam a um aumento das capacidades do hemisfério direito, enquanto as do hemisfério esquerdo ficam permanentemente diminuídas. As lesões no adulto levam à perca de um ou vários talentos, enquanto outros ficam mais ou menos intactos. A lesão na criança, em termos de factores transientes, resulta


HEMISFÉRIO fiEMISFÉRIO ESQUERDO DIREITO
I I

, ;y


Y ' . i 1 Sy

AUDIÇÃO \ AUDIÇÃO

__ :

. :r` ' i W,



çk r\ \ I

, : Planum

V F tem orale

Planum


temporale
. VOZ '
Figura 136 - Assimetrias anatómicas dos dois hemisférios cerebrais humanos, e sua relação com os temtórios de Brodmann. (Sy = Fissura de Silvius; B = Área de Broca; W = Áréa de Wernicke V = Aquisições visuoconstrutivas (lesões nesta área produzem desordens visuoconstrutivas); F = Reconhecimento de faces (lesões nesta área produzem prosopagnosia). O planum temporal da área associativa auditiva é visivelmente maior à esquerda. A fissura de Silvius à direita é mais angularizada diagonalmente do que à esquerda, que é, em si, mais horizontalizada. Tais assimeú'ias têm algo a ver com o processo da leitura
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em mecanismos compensatórios pelos quais se gera uma recuperação, mas com um custo, isto é, a diminuição de ouvas capacidades afectando a prestação e a realização. A lesão fetal leva à diminuição de um talento, enquanto outros podem aúngir níveis mais elevados.
Assimetria estrutural do cérebro e sua signi cação juncional
O girus angular é uma grandé região, que se expandiu extraordinariamente no cérebro humano mais do que qualquer outra em comparação com outros primatas. Reúne tcês lobos: o temporal (para a integração auditiva}, o occipital (para a integração visual), e o parieta1 (para a integração taetiloquinestésica).

Geschwind e Levitsky 1968 verificaram uma simetria na parte superior do lobo temporal, região que contém parte da área de Wernicke. Idenúficaram também uma área particular, o planum temporale, visivelmente mais larga no hemisfério esquerdo na maioria dos cérebros.

Galaburda 1978 verificou igualmente uma signifreaúva assimetria na esWtura celular (citoarquitectura), nitidamente mais larga no hemisfério esquerdo do que no hemisfério direito.

A fissura ou rego de Silvius, que separa o lobo temporal do lobo parietal, também contém assimetrias. A fissura de Silvius esquerda é maior do que a direita. Le May e Culebras 1972 mostraram que a fissura de Silvius direita é mais angularizada diagonatmente do que a esquerda, que é, em si, mais horizontalizada.

O corno posterior do ventrículo lateral é maior no hemisfério esquerdo do que no hemisfério direito. A zona posterior do hemisfério esquerdo é mais larga do que a do hemisfério direito.

Em conclusão: o cérebro humano apresenta várias assimetrias, reflectináo um maior crescimento quer em si, em termos esa- uturais, quer igualmente na arquúectura especifica as regiões qué o constituem. É óbvio que tais assimetrias têm algo a ver com o processo da leitura.


Que anomalias acompaniram a dislexia evolutiva ?
É perfeitamente aceitável que as anomalias cerebrais que caracterizam a ' dislexia estejam relacionadas com o girus angular ou com as regiões que o
cercam.

Os componentes da síndroma de Gerstmann, por exemglo, são caraeterísticos. No adulto, esta síndroma resulta da lesão do girus angular esquerdo e consiste em dificuldades no cálculo, na orientação esquerda-direita, na identificação e no reconhecimento dos dedos e na escrita.

Os distúrbios na escrita dos disléxicos são universais, mas outras características nem sempre surgem na dislexia, o que pode sugerir um padrão
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diferente de desenvolvimento ou mesmo de lesão ou disfunção. Uma anomalia do girus angular pode sugerir outras manifestações, como o envolvimento da área de Wernicke, com outras difculdades associadas.

Muitos disléxicos têm problemas na discriminação de fonemas, or outro lado, pare e estar evidente um distúrbio intra-uterino no hemisfério uerdo que tende a uma hiper oFa do hemisfério direito em termos funciona visto que em muitos disléxicos as dificuldades na linguagem estão associadas frequentemente a talentos superiores do hemisfério direito: capacidades supepopulação. te os artísticos, atléticos, espaciais, etc. são frequentes nesta


Possiveis alterações no cérebro disléxico
Há uma malformação evidente na vizinhança da área de Wernicke no cérebro disléxico (Geschwind 1985). Galaburda e Kemper 1979 encontram ariomalias no padrão da área de Wernicke, assim como ilhas de células nervosas que faiharam em atingir o córtex (três casos com análise post-mortem conf >am este aspecto). Verificou-se uma anomalia na migração normal das células nervosas para o córtex, do lado esquerdo, e fundamentalmente nas áreas da linguagem. A área de Wernicke ficou provavelmente mais reduzida e o seu padrão de arquitectura celulac mais aúpico. O cérebro está im ro priamente interconectado (wiredj, e consequentemente não funciona adequadamente. Talvez se verifique também nestes casos um desenvolvimento atípico intrauterino no hemisfério esquerdo.

Outros autores referem alterações químicas ou a presença de células com estruturas atípieas. De atender que, embora as células sejam normais, as suas conexões podem ser disfuncionais, resultando daí formas de organização mbém desviantes. Por outro lado, as células, c:nbora normais, podem não ter atingido o tamanho usual, daí resultando prohlemas de processamento ou memorização da informação.

Hier 1978 verificou que os disléxicos com atraso na fala apresentavam tomogr as computadorizadas (CT scans) em que o hemisfério esquerdo, na zona posterior, surgia mais estreito do que a mesma região no hemisfério direito, o que em si representa uma assimetria em relação à população normal.
Casos de hiperplexia e sua significação
A hiperlexiá é exactamente a síndroma oposta à dislexia. Os casos de hiperlexia mostram uma rápida aquisição da capacidade de Ier, no sentido de aprender a ier alto correctamente incluindo muitas palavras irregulares.

Tal precocidade, porém, é equivalente a uma fraca compreensão da leitura e a uma nula produção escrita. Nestes casos, pode-se postular que a área


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envolvida na conversão grafema-fonema está bem desenvolvida, enquanto outros padrões de conexão dessa área para outras áreas cerebrais se encontram disfuncionais e imaturos.

É sabido que os disléxicos apresentam também dificuldades em adquirir e produzir a escrita, e essencialmente nas aquisições do ditado, embora haja casos com estas competências intactas (input intacto, output com dificuldades, ou o inverso. ); muitos casos acusam boa compreensão da linguagem escrita (descodificação intacta), porém com dificuldades na produção da escrita (disortografia ou disgrafia, segundo Fonseca 1984).


Perfil psicomotor da criança disléxica. Introdução à síndroma dislexia mais dispraxia
O perf il psicomotor (ou perceptivomotor, para os autores americanos) da criança disléxica tem sido estudado por vários autores, desde Orton, 1937, Critchley, 1970, Benton e Pearl 1978, Denckla 1973 e 1974,

Fonseca 1982 e muitos outros. Estudar os problemas psícomotores pode trazer alguma ajuda à compreensão da dislexia, que obviamente não pode

ser considerada uma doença ou udeficiência que tenha de ser curada, ou tratada.

O que se passa então com o perfil psicomotor da criança disléxica, uma i vez que pode haver disléxicos com dificuldades psicomotoras (designados por dyslexia plus por Denckla 1985) e disléxicos sem dificuldades de coordenação, por vezes até, como já foi dito, com um perfil de proficiência motora que faz deles bons atletas ou bons artistas?

A integração sensorial (Ayres 1977 e 1978) e a integração psicomotora (Fonseca 1985) constituem verdadeiros pré-requisitos da mielinização que

consubstanciam a totalidade expressiva através da qual a consciência se edifica e se materializa, e o potencial de aprendizagem se estrutura e hierarquiza, podendo ser concebidos como verdadeiros instrumentos de apropriação sociohistórica e verdadeiros alicerces da cognitividade e da corticalização progressiva.

Tudo o que a criança faz é movimento (macro, micro, oromotricidade) ou um processo em que o movimento está implicado para o exprimir. Os pen= samentos são expressos por movimentos, movimentos como comportamentos vicariados). Motricidade sem cognitividade é possível, mas cognitividade sem motricidade não o é.

É a partir da motricidade que as subsequentes capacidades de aprendizagem se organizam. O desenvolvimento motor é um processo adaptativo que produz o desenvolvimento do cérebro, pois através da acção e das suas múltiplas e variadas aquisi ões o cérebro vai organizando e diferenciando os seus centros integradores. A hierarquia da experiência humana correspondem novos níveis de complexidade que são sobrepostos sobre unidades funcio


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nais pelas progressivas organização e integração de tais unidades num só e único sistema - o cérebro, órgão da aprendizagem e, consequentemente, da psicomotricidade e da aprendizagem da leitura.

O cérebro, verdadeiro órgão da civilização (Vygotsky, 1962), é o órgão mais organizado do organismo. Não é de admirar que esteja envolvido na psicomotricidade e na aprendizagem da leitura.

A aprendázagem da leitura requer a integridade mínima de processos psiconeurológicos e psicomotores. Psiconeurológicos, quando estão em jogo processos neurossensoriais: tácteis, quinestésicos e vestibulares (pro prioceptivos), e também visuais e auditivos (exteroceptivos). Tais processos trabalham de forma intraneurossensorial e interneurossensorial, para finalmente serem integrados sob a forma de memórias neuronais (Fonseca 1984 e 1985).

Estão, portanto, em jogo complexos circuitos internos e inúmeras conexões sinápticas que reflectem uma organização e uma reorganização de regiões subcorticais, e a inter-relação de aquisições filogenéticas e ontogenéúcas, como já tínhamos equacionado.

As dificuldades de aprendizagem da leitura, que não podem ser confundidas com incapacidade de aprendizagem (agnosias, afasias, apraxias, etc. ), embora necessitem de ser muito bem estudadas, para exactamente poderem ser compreendidas, têm sido definidas como desordens psiconeurológicas (Myklebust 1964 e 1978) e como disfun ões cerebrais (Kirk 1966).

Trata-se de desordens num ou mais processos de linguagem falada, leitura, ortografia, caligrafia ou aritmética, resultantes de défices e/ou desvios dos processos cerebrais da aprendizagem que não são devidos nem provocados por deficiência mental, por privação sensorial ou cultural, ou mesmo por dispedagogias).

Há, portanto, défices específicos da aprendizagem que compreendem a organização intrínseca do cérebro (Duffy 1985, Galaburda 1979) na qual subsistem discrepâncias dos níveis de realização cognitiva quer intra, quer interverbais e intra ou inter não verbais, que em nenhuma condição podem ser confundidas com deficiência de qualquer tipo.

As crianças disléxicas ou com dificuldades de aprendizagem apresentam uma inteligência média ou acima da média (QI > 80).

Trata-se, efectivamente, de crianças dotadas em inúmeras competências quando nos referimos aos disléxicos puros. Não podemos esquecer que nesta categoria podem cair figuras científicas da Humanidade; personalidades políticas de grande relevo; grandes expoentes da arte e da criatividade.

Na medida em que a aprendizagem da leitura envolve uma integração automática de informações auditivas e visuais (categorização foneticografética) de nível simbólico muito complexo, que assentam em informações sensoriais, tácteis e quinestésicas, vestibulares e proprioceptivas de nível perceptivo mais simples, é facilmente compreensível encontrar problemas


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- I:

psicomotores em crianças com dificuldades de aprendizagem na leitura ( disléxicas, ). Muitos estudos apontam nas crianças disléxicas as seguintes características:


- Má lateralização (Orton 1937);

- Desenvolvimento insuficiente de certas zonas como o girus angular, a corpo caloso e os lobos frontais (Duffy 1985);

- Distorções perceptivoespaciais (Frostig 1965);

- Défices na memória de curto termo (memória imediata ou memória de trabalho (Bannatyne 1971);

- Actividades eléctricas evocadas e EEGS nitidamente diferenciadas das ' crianças normais (Duffy 1985). Duffy 1980, com base na comparação G da actividade eléctrica dos cérebros de crianças normais com os de. crianças disléxicas, por meio de ordenadores, constatou que a dislexia * ~ não está apenas associada a uma disfunção da área de Wernicke do

hemisfério esquerdo ou da zona do girus angular, que faz fronteira entre o lobo parielal e o lobo occipital. Ao contrário, aquele autor diferenciou quatro zonasfundamentais (que acusam uma actividade eléctrica disfuncional):


1) Uma grande zona média frontal envolvendo os dois hemisférios i (e compreendendo a área suplementar motora, fundamental na orga

nização psicomotora);

2) Uma grande área temporal envolvendo as funções mais relevantes da linguagem no hemisfério esquerdo;

; 3) Uma pequena zona temporal central, também situada à esquerda; 4) Uma grande zona pós-lateral, área temporo-occipital, também situada

no hemisfério esquerdo.
! Por estes dados se conclui que a actividade eléctrica das crianças dislóxicas envolve mais áreas disfuncionais do que anteriormente se pensou e onde ressaltam, pela sua obviedade, áreas de integração sensorial/visual e auditiva e áreas de integração psicomotora (área parieto-occipital e área

' suplementar motora). Podemos assegurar, portanto, que algumas crianças disléxicas acusam disfunções cerebrais da organização proprioceptiva (dispraxia) que interferem com o potencial de aprendizagem e com a planificação das acções onde certamente o pezfil psicomotor da criança se vat

manifestar (as tais crianças dyslexia-plus de Denckla 1985); trata-se de uma dispraxia, ou seja, de uma insuficiência na planificação de acções (Fonseca 1986), independentemente de uma inteligência e de uma motricidade normais. O problema parece residir na ponte entre o intelecto e o motor, entre o psíquico e o motor.
I

Efectivamente, os resultados de Duffy 1980 são consentâneos com as concepções mais actuais da planificação do movimento voluntário introduzidas


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por Eccles 1985, Allen e Tsukahara 1974, Brinkman e colaboradores 1979, 1983, Kornhuber e colaboradores 1979, Roland e colaboradores 1980; e muitos outros.
Figura 137 - Esquema simplificado dos resultados dos estudos de EEG e dos

potenciais evocados em crianças disléxicas. As zonas indicadas no esquema

indicam as diferenças notáveis nas quatro regiões: uma zona média frontal

(área suplementar motora); uma pequena zona auterolateral frontal no hemisfério esquerdo (área de Broca); uma zona temporal centcal situada à esquerda; uma grande zona pós-lateral que se situa no hemisfério esquerdo, segundo Duffy


Segundo estes autores, as suas experiências demonstram que os processos cerebrais que actuam na realização do movimento voluntário implicam inúmeros processos de integração psicomotora que jogam com dados proprioceptivos (somatograma com envolvimento da noção do corpo - somatognosia - e da segurança gravitacional) e dados exteroceptivos (opticograma e melodia cinética, com envolvimento dos dados sequenciais espaciais e temporais, isto é, visuoauditivos).

Os movimentos que requerem as formas adaptaúvas mais elementares estão naturalmente integrados nas formas adaptativas mais complexas, como uma totalidade sistémica, razão pelo qual o acto de escrever, por exemplo, exige a sequencialização de impulsos seriados disparados pelo córtex motor e programados no córtex pré-motor (córtex psicomotor - áreas associaúvas do lobo frontal) que envolvem necessariamenté subsistemas ditos simples, como a tonicidade e a equilibraÇão; subsistemas ditos compostos, como a lateralização, a noção do corpo e a estrutura ão espaciotemporal e, por último, subsistemas ditos complexos, como apraxia global e apraxiafina (Fonseca I985 e 1986).

A psicomotricidade, entendida como uma organização superior da motricidade, e como neomotricidade, reduplica subsistemas simples e compostos (proto, paleo e arquimotrocidade) em subsistemas complexos, subsistemas
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estes ligados aos processos de desencadeamento (a tal sequência evocada por Geschwind e Piaget) do movimento intencional, programado e planificado.

As primeiras reacções cerebrais, segundo os autores acima referenciados, devido à inten ão de movimento (psicomotricidade), produzem-se nos neurónios da área suplementar motora (ASM), área situada no topo do cérebro, ocupando uma posição ideal para pilotar o seu todo funcional. É esta área suplementar motora (ASM) que Duffy 1980 identificou como tendo uma actividade eléctrica disfuncional e diferente nas crianças disléxicas.


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