Introdução a Psicologia do Ser



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Parte II
CRESCIMENTO E

MOTIVAÇÃO

3
Motivação de Deficiência e

Motivação de Crescimento
O conceito de “necessidade básica” pode ser definido em função das perguntas a que responde e das operações que o desvendam (97). A minha interrogação original foi sobre psicopatogênese. “O que é que faz as pessoas neuróticas?” A minha resposta (uma modificação e, penso eu, um progresso em relação ã resposta analítica) foi, em re­sumo, que a neurose parecia ser, em seu núcleo e em seu começo, \urna doença de deficiência; que se originava na privação de certas satisfações, a que chamei necessidades, no mesmo sentido em que a água, os aminoácidos e o cál­cio são necessidades, isto é, a sua ausência produz doença. A maioria das neuroses envolve, a par de outras determi­nantes complexas, desejos insatisfeitos de segurança, de filiação e de identificação, de estreitas relações de amor, de respeito e prestígio. Os meus “dados” foram reunidos ao longo de doze anos de trabalho piscoterapêutico e pes­quisa, e de vinte anos de estudo da personalidade. Uma óbvia pesquisa de controle (feita ao mesmo tempo e na mesma operação) foi sobre o efeito da terapia de substi­tuição, a qual mostrou, com muitas complexidades, que as doenças tendiam a desaparecer quando essas deficiên­cias eram eliminadas.

Essas conclusões, que hoje, de fato, são compartilha­das pela maioria dos psicólogos clínicos, dos psicoterapeutas e dos psicólogos infantis (muitos deles usariam [pág. 47] uma fraseologia diferente da minha) tornaram mais pos­sível, ano após ano, definir necessidade, de uma forma natural, fácil e espontânea, como uma generalização dos dados experienciais concretos (em vez de, arbitrária e prematuramente, por “decreta”, antes da acumulação de co­nhecimentos e não subseqüentemente (141), tão-só por uma questão de maior objetividade).

As características de deficiência são, pois, a longo prazo, as seguintes. Ela é uma necessidade básica ou instintóide se

1. a sua ausência gerar doença,

2. a sua presença evitar a doença,

3. a sua restauração curar a doença,

4. em certas situações (muito complexas) de livre es­colha, for preferida a outras satisfações pela pessoa privada,

5. for comprovadamente inativa, num baixo nível, ou funcionalmente ausente na pessoa sadia.

Duas características adicionais são subjetivas, a saber, o anseio e desejo consciente ou inconsciente, e a sensação de carência ou deficiência, como de algo que falta, por uma parte, e, por outra, de palatabilidade. (“Isso sabe bem.”)

Uma última palavra sobre definição. Muitos dos pro­blemas que têm flagelado os autores nessa área, quando tentaram definir e delimitar a motivação, são uma con­seqüência da demanda exclusiva de critérios comportamentais, externamente observáveis. O critério original de motivação e aquele que ainda é usado por todos os seres humanos, exceto os psicólogos behavioristas, é o subjetivo. Sou motivado quando sinto desejo, ou carência, ou anseio, ou desejo, ou falta. Ainda não foi descoberto qualquer estado objetivamente observável que se correlacione decen­temente com essas informações subjetivas, isto é, ainda não foi encontrada uma boa definição comportamental de motivação.

Ora, evidentemente, nós devemos persistir na procura de correlatos ou indicadores objetivos de estados subjetivos. No dia em que descobrirmos um tal indicador público e externo do prazer, da ansiedade ou do desejo, a Psicologia terá avançado um século. Mas, até que o descubramos, não devemos fazer crer que já o conseguimos. Nem devemos [pág. 48] negligenciar os dados subjetivos de que dispomos. É uma pena que não possamos pedir a um rato que nos forneça informações subjetivas. Felizmente, porém, podemos pedi-las ao ser humano e não existe razão alguma no mundo que nos impeça de fazê-lo, enquanto não dispuser-mos de melhor fonte de dados.

Essas necessidades é que constituem, essencialmente, deficits no organismo, por assim dizer, buracos vazios que devem ser preenchidos a bem da saúde e, além disso, devem ser preenchidos de fora por outros seres humanos que não sejam o próprio sujeito; e é às que eu chamo neces­sidades por deficit ou de deficiência para os fins dessa exposição e para situá-las em contraste com outra e muito diferente espécie de motivação.

Não ocorreria a ninguém pôr em dúvida a afirmação de que “necessitamos” de iodo ou vitamina C. Quero lem­brar que a prova de que “necessitamos” de amor é exa­tamente do mesmo tipo.

Em anos recentes, um número cada vez maior de psicólogos viu-se compelido a postular alguma tendência para o crescimento ou autoperfeição, a fim de suplementar os conceitos de equilíbrio, homeostase, redução de tensão, defesa e outras motivações conservadoras. Isso ocorreu por várias razões.

1. Psicoterapia. A pressão no sentido da saúde tor­na possível a terapia. É um sine qua non absoluto. Se não existisse tal tendência, a terapia seria inexplicável, na medida em que vai além da construção de defesas contra a dor e a ansiedade (6, 142, 50, 67).

2. Soldados com lesões cerebrais. O trabalho de Goldstein (55) é bem conhecido de todos. Ele considerou necessário inventar o conceito de individuação para ex­plicar a reorganização das capacidades da pessoa, depois da lesão.

3. Psicanálise. Alguns analistas, notadamente, Fromm (50) e Horney (67), consideraram impossível com­preender até as neuroses, a menos que se postule que elas são uma versão destorcida de um impulso para o cresci­mento, a perfeição do desenvolvimento, a plena realização das possibilidades da pessoa. [pág. 49]

4. Criatividade. Muita luz está sendo projetada so­bre a questão geral da criatividade pelo estudo do cresci­mento de pessoas sadias, especialmente em contraste com pessoas doentes. Em particular, a teoria da arte e da educação artística requer um conceito de crescimento e espontaneidade (179, 180).

5. Psicologia Infantil. A observação de crianças mos­tra-nos cada vez mais claramente que as crianças sadias comprazem-se no crescimento e no movimento para diante ou progresso, na aquisição de novas aptidões, capacidades e poderes. Isso está em franca contradição com aquela versão da teoria freudiana que concebe cada criança como se ela se aterrasse desesperadamente a cada ajustamento que realiza e a cada estado de repouso ou equilíbrio. Segundo essa teoria, a criança relutante e conservadora tem que ser continuamente espicaçada para cima, desalojando-a do seu confortável e preferido estado de repouso para jogá-la numa nova e aterradora situação.

Conquanto essa concepção freudiana seja continua­mente confirmada pelos clínicos, ela é predominantemente verdadeira no caso de crianças inseguras e assustadas; e, se bem que seja parcialmente verdadeira para todos os seres humanos, ela é substancialmente inverídica no caso de crianças sadias, felizes e seguras. Nessas crianças, ob­servamos claramente uma ânsia de crescer, de amadu­recer, de abandonar o velho ajustamento como algo im­prestável e gasto, como um velho par de sapatos. Vemos nelas, com especial clareza, não só a avidez de novas apti­dões, mas também o mais óbvio prazer em desfrutá-las repetidamente, aquilo a que Karl Buhler (24) chamou Funktionslust [prazer de função.]

Para os autores nesses vários grupos, notadamente, Fromm (50), Horney (67), Jung (73), C. Buhler (22), Angyal (6), Rogers (143) e G. Allport (2), Schachtel (147) e Lynd (92), e, recentemente, alguns psicólogos católi­cos (9, 128), crescimento, autonomia, auto-atualização, individuação, autodesenvolvimento, produtividade, auto-realização, são todos sinônimos, de uma forma rudimentar, designando mais uma área vagamente percebida do que um conceito nitidamente definido. Na minha opinião, não é possível definir atualmente essa área em termos precisos. [pág. 50] Tampouco é desejável fazê-lo, visto que uma definição que não surge fácil e naturalmente de fatos bem conhecidos é mais suscetível de inibir e destorcer do que de ajudar, porquanto é bem provável que esteja errada ou equivocada se tiver sido estabelecida por um ato de vontade, em bases apriorísticas. Simplesmente, ainda não sabemos o bas­tante sobre crescimento para podermos defini-lo bem.

O seu significado pode ser mais indicado do que defi­nido, em parte assinalando positivamente e em parte con­trastando negativamente, isto é, indicando o que não é. Por exemplo, não é o mesmo que equilíbrio, homeostase, redução de tensão etc.

A sua necessidade apresentou-se aos seus proponentes, em parte, por causa da insatisfação decorrente do fato de certos fenômenos recém-observados não serem, simples­mente, cobertos pelas teorias existentes; e, em parte, pela necessidade positiva de teorias e conceitos que servissem melhor aos novos sistemas humanistas de valor que esta­vam surgindo do colapso dos antigos sistemas de valor.

Contudo, esse tratamento atual deriva, em grande parte, de um estudo direto de indivíduos psicologicamente sadios. Esse estudo foi empreendido não só por razões de interesse pessoal e intrínseco, mas também para fornecer uma base mais sólida à teoria da terapia, da patologia e, portanto, de valores. As verdadeiras metas da educação, do adestramento familiar, da psicoterapia e do desenvol­vimento do eu só podem ser descobertas, segundo me parece, por meio desse ataque direto. O produto final do crescimento nos ensina muito sobre os processos de cres­cimento. Num livro recente (97), descrevi o que era aprendido através desse estudo e, além disso, teorizei muito livremente sobre várias conseqüências possíveis, para a Psicologia Geral, desse gênero de estudo direto dos seres humanos bons, em vez de maus, de pessoas sadias, em vez de doentes, do positivo assim como do negativo. (Devo advertir que os dados só podem ser considerados idôneos quando o estudo for repetido por outrem. As possibili­dades de projeção são muito concretas num tal estudo e, é claro, têm poucas probabilidades de ser percebidas pelo próprio investigador.) Quero agora examinar algumas das diferenças cuja existência observei entre a vida motivacional de pessoas sadias e outras, isto é, pessoas motivadas [pág. 51] por necessidades de crescimento, em contraste com as que são motivadas pelas necessidades básicas.

No que diz respeito ao status motivacional, as pessoas sadias satisfizeram suficientemente as suas necessida­des básicas de segurança, filiação, amor, respeito e amor-próprio, de modo que são primordialmente motivadas pelas tendências para a individuação (definida como o processo de realização de potenciais, capacidades e talen­tos, como realização plena de missão (ou vocação, destino, apelo), como um conhecimento mais completo e a aceita­ção da própria natureza intrínseca da pessoa, como uma tendência incessante para a unidade, a integração ou si­nergia, dentro da própria pessoa).

A essa definição genérica seria muito preferível uma definição de caráter descritivo e operacional, que por mim já foi publicada (97). Essas pessoas sadias são aí definidas mediante a descrição de suas características clinicamente observadas. São elas:

1. Percepção superior da realidade.

2. Aceitação crescente do eu, dos outros e da natureza.

3. Espontaneidade crescente.

4. Aumento de concentração no problema.

5. Crescente distanciamento e desejo de intimidade.

6. Crescente autonomia e resistência à enculturação.

7. Maior originalidade de apreciação e riqueza de rea­ção emocional.

8. Maior freqüência de experiências culminantes.

9. Maior identificação com a espécie humana.

10. Relações interpessoais mudadas (o clínico diria, neste caso, melhoradas).

11. Estrutura de caráter mais democrática.

12. Grande aumento de criatividade.

13. Certas mudanças no sistema de valores.

Além disso, também descrevemos neste livro as limi­tações impostas à definição por inevitáveis deficiências na amostragem e na acessibilidade dos dados.

Uma grande dificuldade nessa concepção, tal como foi apresentada até agora, consiste no seu caráter algo estático. A individuação, dado que a tenho estudado sobretudo em pessoas mais velhas, tende a ser vista como um estado final ou último de coisas, uma meta distante, em vez de um processo dinâmico e ativo durante a vida inteira, Ser em vez de Vir a Ser. [pág. 52]

Se definirmos o crescimento como os vários processos que levam a pessoa no sentido da sua individuação final, então isso ajusta-se melhor ao fato observado que se está desenrolando o tempo todo, na biografia do indivíduo. Também desencoraja a concepção gradativa, saltante, de tudo ou nada, da progressão motivacional para a indivi­duação, em que as necessidades básicas são completamente satisfeitas, uma por uma, antes de surgir na consciência a necessidade seguinte e mais elevada. Assim, o cresci­mento é visto não só como a satisfação progressiva de necessidades básicas, até ao ponto em que elas “desapa­recem”, mas também na forma de motivações específicas do crescimento, além e acima dessas necessidades básicas, por exemplo, talentos, capacidades, tendências criadoras, potencialidades constitucionais. Dessa maneira, somos também ajudados a compreender que necessidades básicas e individuação não se contradizem entre si mais do que a infância e a maturidade. Uma pessoa transita de uma para a outra e a primeira é condição prévia e necessária da segunda.

A diferenciação entre essas necessidades de crescimen­to e as necessidades básicas, que iremos explorar aqui, é uma conseqüência da percepção clínica de diferenças qua­litativas entre a vida motivacional dos que conquistaram a sua própria autonomia ou individuação e das outras pes­soas. Essas diferenças, abaixo enumeradas, são razoavel­mente, ainda que não perfeitamente, descritas pelos nomes de necessidades por deficiências e necessidades de cresci­mento. É claro que nem todas as necessidades fisiológicas são deficits, por exemplo, sexo, eliminação, sono e re­pouso.

Em qualquer dos casos, a vida psicológica da pessoa, em muitos dos seus aspectos, é vivida de forma diferente quando ela é propensa à satisfação das necessidades de deficiência e quando é dominada pelo crescimento, ou “metamotivada”, ou motivada pelo crescimento ou pela necessidade de individuação. As seguintes diferenças dei­xam isso bem claro.




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