1. Atitude em Relação ao Impulso: Rejeição de Impulso e Aceitação de Impulso
Praticamente, todas as teorias históricas e contemporâneas de motivação se unem na consideração das necessidades, [pág. 53] impulsos e estados motivadores, em geral, como importunos, irritantes, indesejáveis, desagradáveis, enfim, como algo de que nos devemos livrar. O comportamento motivado, a procura de metas, as respostas consumatórias, são técnicas para reduzir esses tipos de desconforto. Essa atitude é assumida, de maneira muito explícita, em numerosas descrições amplamente usadas da motivação como redução de necessidade, redução de tensão, redução de impulso e redução de ansiedade.
Tal abordagem é compreensível na Psicologia Animal e no Behaviorismo, que se baseia tão substancialmente no trabalho com animais. É possível que os animais tenham unicamente necessidades por deficiência. Se assim é ou não, temos tratado os animais, em todo o caso, como se assim fosse, a bem da objetividade. Um objeto-meta tem de ser algo fora do organismo animal, para que possamos medir o esforço despendido pelo animal na realização desse objetivo.
Também é compreensível que a Psicologia Freudiana tenha sido erguida sobre a mesma atitude em relação à motivação, ou seja, que os impulsos são perigosos e devem ser combatidos. No fim de contas, essa Psicologia baseia-se, toda ela, na experiência com pessoas doentes, pessoas que, de fato, sofrem de más experiências com as suas necessidades, e com as suas satisfações e frustrações. Não admira, pois, que essas pessoas temam ou odeiem até os seus impulsos que lhes causaram tais perturbações e que elas manipulam tão mal; e que uma forma usual de manipulação seja a repressão.
Essa degradação do desejo e da necessidade tem sido, é claro, um tema constante ao longo da história da Filosofia, Teologia e Psicologia. Os estóicos, a maioria dos hedonistas, praticamente todos os teólogos, muitos filósofos políticos e a maior parte dos teorizadores econômicos uniram-se na afirmação do fato de que o bem, ou felicidade, ou prazer, é essencialmente a conseqüência da melhoria desse desagradável estado de coisas de carência, de desejo, de necessidade.
Para dizê-lo da maneira mais sucinta possível, todas essas pessoas acham que o desejo ou impulso é um inconveniente ou mesmo uma ameaça; e, portanto, tentarão livrar-se dela, negá-lo ou evitá-lo. [pág. 54]
Essa asserção é, por vezes, uma explicação exata do caso. As necessidades fisiológicas, as necessidades de segurança, amor, respeito, informação, constituem, de fato, com freqüência, inconvenientes para muitas pessoas, fatores de perturbação psíquica e geradores de problemas, especialmente para aquelas que tiveram experiências mal sucedidas na tentativa de satisfazê-las e para aquelas que não podem contar agora com a sua satisfação.
Contudo, mesmo no caso dessas deficiências, as alegações não sublinham adequadamente o que se passa: podemos aceitar e desfrutar as nossas necessidades e acolhê-las na consciência se a) a experiência passada com elas foi satisfatória e b) se podemos contar com a satisfação presente e futura. Por exemplo, se uma pessoa sentiu, em geral, prazer em comer e se dispõe agora de boa comida, o surgimento de apetite na consciência é bem recebido, em vez de ser temido. (“O inconveniente de comer é que mata o meu apetite.”) Algo do mesmo gênero é verdadeiro no tocante à sede, ao sono, ao sexo, às necessidades de dependência e às necessidades de amor. Contudo, uma refutação muito mais poderosa da teoria da “necessidade-é-um-inconveniente” é encontrada na consciência emergente da motivação de crescimento (individuação) e na preocupação com esta.
A multidão de motivos idiossincrásicos que é abrangida pela designação geral de “individuação” dificilmente pode ser enumerada, visto que cada pessoa tem diferentes talentos, capacidades e potencialidades. Mas algumas características são gerais para todas elas. E uma é que esses impulsos são desejados e bem acolhidos, são desfrutáveis e agradáveis, a pessoa prefere mais do que menos desses impulsos e, se acaso constituem tensões, são tensões agradáveis. Usualmente, o criador acolhe favoravelmente os seus impulsos criadores; a pessoa talentosa gosta de usar e expandir os seus talentos.
É simplesmente inexato falar, nesses casos, de redução de tensão, subentendendo com isso que a pessoa se desenvencilha de um estado incômodo. Pois esses estados não são, em absoluto, incômodos.
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