Introdução a Psicologia do Ser



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11. Aprendizagem Instrumental e Mudança de Persona­lidade

A chamada teoria de aprendizagem, nos Estados Uni­dos, baseou-se, quase inteiramente, na motivação por deficit com objetivos usualmente externos ao organismo, isto é, aprender a melhor maneira de satisfazer uma ne­cessidade. Por essa razão, entre outras, a nossa Psicologia da Aprendizagem é um corpo limitado de conhecimento, útil apenas em pequenas áreas da vida e de real interesse unicamente para outros “teóricos da aprendizagem”.

Isso ajuda pouco na resolução do problema do cres­cimento e da individuação. Aqui, as técnicas de aquisição repetida, do mundo exterior, das satisfações de deficiências motivacionais são muito menos precisas. A aprendizagem associativa e as canalizações cedem lugar à aprendizagem perceptual (123), ao aumento de compreensão e introvisão, ao conhecimento do eu e ao crescimento firme e constante da personalidade, isto é, sinergia, integração e coesão in­terna aumentadas. A mudança passa a ser menos uma aquisição de hábitos ou associações, uma a uma, e muito [pág. 65] mais uma transformação total da pessoa total, isto é, uma nova pessoa em vez da mesma pessoa com alguns hábitos adicionados, como se fossem novos bens externos.

Essa espécie de aprendizagem de mudança de caráter significa mudar um organismo holístico, muito complexo e altamente integrado, o que significa, por seu turno, que muitos impactos não provocarão mudança alguma, visto que um número cada vez maior de tais impactos será re­jeitado, à medida que a pessoa se torna mais estável e mais autônoma.

As mais importantes experiências de aprendizagem que me foram relatadas pelos meus sujeitos eram, com muita freqüência, experiências singulares da vida, como tragédias, mortes, traumas, conversões e súbitas introvisões, as quais impuseram uma mudança na perspectiva da vida da pessoa e, por conseguinte, em tudo o que ela fazia. (É claro, a chamada “elaboração” da tragédia ou da introvisão ocorreu num período mais longo de tempo, mas tampouco isso é, primordialmente, uma questão de aprendizagem associativa.)

Na medida em que o crescimento consiste em despo­jar-se de inibições e limitações, permitindo ã pessoa “ser ela própria”, emitir comportamento — por assim dizer, “radiantemente” — em vez de repeti-lo, permitir à sua natureza íntima que se expresse, nessa medida, repetimos, o comportamento das pessoas que se realizam a si próprias e alcançam a sua própria individuação é não-aprendido, criado e libertado, em vez de adquirido, é expressivo e não interatuante. (97, pág. 180.)



12. Percepção Motivada pela Deficiência e Motivada pelo Crescimento

O que talvez resulte ser a mais importante diferença de todas é a maior proximidade das pessoas deficit-satisfeitas do domínio próprio do Ser (163). Os psicólogos ainda não foram capazes, até agora, de reivindicar essa vaga jurisdição dos filósofos, essa área tenuemente vis­lumbrada, mas que, não obstante, tem uma base indis­cutível na realidade. Mas talvez se torne agora viável, através do estudo do indivíduo auto-realizador, ter os olhos abertos para toda a espécie de introvisões básicas, velhas para os filósofos, mas novas para nós. [pág. 66]

Por exemplo, penso que o nosso entendimento da per­cepção e, portanto, do mundo percebido, será multo alte­rado e ampliado se estudarmos cuidadosamente a distin­ção entre percepção interessada na necessidade e percep­ção desinteressada na necessidade ou isenta de desejos. Dado que esta última é muito mais concreta e menos abstrata e seletiva, é possível a tal pessoa ver mais cla­ramente a natureza intrínseca do objeto da percepção. Além disso, ela também pode perceber simultaneamente os opostos, as dicotomias, as polaridades, as contradições e os incompatíveis (97, pág. 232). É como se as pessoas menos desenvolvidas vivessem num mundo aristotélico em que as classes e conceitos têm fronteiras nítidas e são mu­tuamente exclusivas e incompatíveis, por exemplo, macho-fêmea, egoísta-altruista, adulto-criança, generoso-cruel, bom-mau. A é A e tudo o mais é não-A, na lógica aristotélica, e os dois nunca se encontrarão. Mas as pessoas individuacionantes vêem o fato de que A e não-A se interpenetram e são um, de que qualquer pessoa é, simul­taneamente, boa e má, adulto e criança, macho e fêmea. Não se pode colocar uma pessoa toda num contínuo, ape­nas um aspecto extraído de uma pessoa. Os todos não são comparáveis.

Podemos não estar cônscios disso quando percebemos de um modo determinado pela necessidade. Mas certa­mente estamos cônscios disso quando somos percebidos dessa maneira, por exemplo, simplesmente como um supridor de dinheiro, um supridor de alimento, um supridor de segurança, alguém de quem se pode depender, ou como um criado ou outro servidor anônimo ou objeto-meio. Quando isso acontece, não gostamos. Queremos ser to­mados por nós próprios, ser aceitos como indivíduos com­pletos e totais. Não nos agrada sermos percebidos como objetos úteis ou instrumentos. Desagrada-nos ser “usados”.

Visto que, habitualmente, as pessoas individuacionantes não têm que extrair qualidades gratificadoras de ne­cessidades nem ver as pessoas como instrumentos, é muito mais possível para aquelas adotar uma atitude não-avaliatória, não-judicativa, não-interferente e não-condenatória em relação a outras, uma “consciência sem esco­lha” (85) e isenta de desejos. Isso permite uma percep­ção e compreensão mais clara e mais penetrante do que “aí está”. É a espécie de percepção desprendida e desafetada [pág. 67] que se supõe que os cirurgiões e terapeutas tentam manter e que as pessoas individuacionantes alcançam sem se esforçar por isso.

Especialmente quando a estrutura da pessoa ou objeto visto é difícil, sutil e não óbvia, essa diferença no estilo da percepção é de suma importância. É então, sobretudo, que o percebedor deve ter respeito pela natureza do objeto. A percepção deve ser então sutil, delicada; não deve ser importuna nem insistente; deve estar apta a ajustar-se passivamente à natureza das coisas, tal como a água penetra docemente nas fendas do solo. Não deve ser a espécie de percepção motivada pela necessidade que molda as coisas de uma forma tempestuosa, violenta, exploradora e deliberada, à maneira de um açougueiro talhando uma carcaça.

O modo mais eficiente de perceber a natureza intrín­seca do mundo é ser mais receptivo do que ativo, deter­minado, tanto quanto possível, pela organização intrínseca do que é percebido e o menos possível pela natureza do percebedor. Essa espécie de consciência desprendida, tauísta, passiva e não-interferente de todos os aspectos simul­taneamente existentes do concreto tem muito em comum com algumas descrições da experiência estética e da ex­periência mística. A tônica é a mesma. Vemos, de fato, o mundo real e concreto ou vemos o nosso próprio sistema de rubricas, motivos, expectativas e abstrações que proje­tamos no mundo real? Ou, em palavras mais claras ainda, vemos ou somos cegos?


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