Introdução a Psicologia do Ser



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Parte V
VALORES

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Dados Psicológicos e Valores Humanos
Os humanistas, durante milhares de anos, tentaram construir um sistema psicológico e naturalista de valores que se pudesse derivar da própria natureza do homem, sem necessidade de recorrer a uma autoridade fora do próprio ser humano. Muitas dessas teorias têm sido oferecidas ao longo da História. Todas fracassaram para fins práticos universais, tal como todas as outras teorias falharam. Temos hoje tantos canalhas e neuróticos no mundo quan­tos os que houve em qualquer outra época, ou ainda mais.

Essas teorias inadequadas, na sua maioria, assenta­vam em pressupostos psicológicos de uma espécie ou outra. Hoje, pode ser demonstrado, à luz de conhecimentos re­centemente adquiridos, que praticamente todas elas são falsas, inadequadas, incompletas ou, de uma forma ou de outra, deficientes. Mas é minha convicção que certos desenvolvimentos na ciência, e na arte da Psicologia, nas últimas décadas, nos possibilitaram, pela primeira vez, sentir confiança em que essa velha esperança pode ser realizada, se trabalharmos com suficiente afinco. Sabe­mos como criticar as antigas teorias; sabemos, ainda que vagamente, moldar as teorias vindouras e, sobretudo, sa­bemos onde procurar e o que fazer para suprir as lacunas de conhecimento, o que nos permitirá responder às inter­rogações clássicas: “Ó que é a vida boa? O que é o homem bom? Como podem as pessoas ser ensinadas a desejar e preferir a vida boa? Como devem as crianças ser educadas para se tornarem adultos sãos? “ etc. Quer dizer, pensamos [pág. 181] que uma ética cientifica será possível e acreditamos saber como proceder para construí-la.

A seção seguinte examinará brevemente algumas das provas e pesquisas mais promissoras, sua importância para as teorias de valor passadas e futuras, assim como uma análise dos progressos teóricos e fatuais que devemos rea­lizar no próximo futuro. É mais seguro julgá-los como mais ou menos prováveis do que como certos.

Experimentos de Livre Escolha: Homeostase

Centenas de experimentos foram realizados para de­monstrar uma aptidão universal inata em todas as espé­cies de animais para selecionar uma dieta benéfica, se alternativas suficientes se apresentarem entre as quais uma livre escolha seja permitida. Essa sabedoria do corpo é freqüentemente retida em condições menos usuais, por exemplo, os animais adrenalectomizados podem manter-se vivos mediante o reajustamento de sua dieta alimentar, por eles próprios escolhida. As fêmeas de animais grávidas adaptarão perfeitamente suas dietas às necessidades do embrião em desenvolvimento.

Sabemos agora que isso não é, de maneira alguma, uma sabedoria perfeita. Esses apetites são menos eficien­tes, por exemplo, para refletir as necessidades vitamínicas do corpo. Os animais inferiores protegem-se mais eficien­temente contra os venenos do que os animais superiores e os humanos. Hábitos de preferência anteriormente for­mados podem sobrepujar completamente as necessidades metabólicas atuais (185). E, sobretudo, no ser humano, especialmente no ser humano neurótico, toda a espécie de forças podem contaminar essa sabedoria do corpo, embora, segundo parece, nunca esteja inteiramente perdida.

O princípio geral é verdadeiro não só para a seleção de alimentos, mas também para toda a sorte de outras necessidades corporais, como foi demonstrado pelos famosos experimentos de homeostase (27).

Parece evidente que todos os organismos são mais autogovernados, auto-regulados e autônomos do que se pensava há 25 anos. O organismo merece uma boa dose de confiança e estamos aprendendo seguramente a confiar nessa sabedoria interna dos nossos bebês, com referência [pág. 182] à escolha de dieta, ao tempo de desmame, ao montante de sono, ao período de treino de higiene, à necessidade de atividade e muitas coisas mais.

Contudo, mais recentemente, aprendemos, especial­mente das pessoas física e mentalmente enfermas, que existem os que sabem escolher bem e os que escolhem mal. Aprendemos, especialmente dos psicanalistas, muita coisa sobre as causas ocultas de tal comportamento e também aprendemos a respeitar essas causas.

A esse respeito, dispomos de um surpreendente expe­rimento (38 b) que está prenhe de implicações para a teoria do valor. Frangos a que se permitiu que escolhessem a sua própria dieta variaram muito em sua capacidade para escolher o que é bom para eles. Os bons escolhedores tornaram-se mais robustos, maiores, mais dominantes, do que os maus escolhedores, o que significa que eles apa­nham o melhor de tudo. Se, depois, a dieta escolhida pelos bons escolhedores for imposta aos maus escolhedores, verifica-se que eles agora ficam mais fortes, maiores, mais sadios e mais dominantes, embora nunca atinjam o nível dos bons escolhedores. Quer dizer, os bons escolhedores podem selecionar melhor do que os maus escolhedores o que é melhor para estes últimos. Se forem obtidos resul­tados experimentais semelhantes em seres humanos, como penso que serão (dados clínicos de apoio existem em abundância), estaremos a caminho de uma ampla recons­trução de toda a espécie de teorias. No que diz respeito à teoria humana de valor, nenhuma teoria que assente, simplesmente, na descrição estatística das escolhas de seres humanos não-selecionados será adequada. É inútil obter a média de escolhas de bons e maus escolhedores, de pessoas sadias e doentes. Somente as escolhas, os gostos, as preferências e as decisões ou juízos formulados por seres humanos sadios nos dirão muita coisa sobre o que, a longo prazo, é bom para a espécie humana. As escolhas de pessoas neuróticas podem nos dizer, na me­lhor das hipóteses, o que é bom para manter a neurose estabilizada, assim como as escolhas de um homem por­tador de lesão cerebral são boas para impedir um colapso catastrófico ou as escolhas de um animal adrenalectomizado poderão impedi-lo de morrer, mas matariam um ani­mal sadio. [pág. 183]

Penso ser esse o principal escolho em que a maioria das teorias hedonistas de valor tem soçobrado. Os pra­zeres patologicamente motivados não podem equivaler aos prazeres sadiamente motivados.

Além disso, qualquer código ético terá de se haver com o fato de que existem diferenças constitucionais não só em frangos e ratos, mas também nos homens, como Sheldon (153) e Morris (110) demonstraram. Alguns va­lores são comuns a toda a humanidade (sadia), mas tam­bém alguns outros valores não serão comuns a toda a humanidade e somente a alguns tipos de pessoas ou a indivíduos específicos. Aquilo a que chamei necessidades básicas é, provavelmente, comum a toda a humanidade; portanto, essas necessidades são valores compartilhados. Mas as necessidades idossincrásicas geram valores idiossincrásicos.

As diferenças constitucionais, nos indivíduos, geram preferências entre as formas de relacionamento com o eu, a cultura e o mundo, isto é, geram valores. Essas pesquisas corroboram a (e são corroboradas pela) experiência uni­versal de clínicos com diferenças individuais. Isso é igual­mente verdadeiro no tocante aos dados etnológicos que tornam compreensível a diversidade cultural, ao postular que cada cultura seleciona para exploração, supressão, aprovação ou reprovação, um pequeno segmento da vasta gama de possibilidades constitucionais humanas. Isso está tudo de acordo com os dados e teorias biológicas e com as teorias de individuação que nos mostram que um sistema orgânico pressiona no sentido de expressar-se, numa pa­lavra, de funcionar. A pessoa musculosa gosta de usar os seus músculos, na verdade, ela tem de usá-los para individuar-se e para realizar o sentimento subjetivo de funcio­namento harmonioso, desinibido e satisfatório que cons­titui um aspecto tão importante da saúde psicológica. ‘As pessoas dotadas de inteligência devem usar a sua inteli­gência, as pessoas com olhos devem usar seus olhos, as pessoas com capacidade de amar têm o impulso para amar e a necessidade de amar, a fim de se sentirem sau­dáveis. As capacidades pedem para ser usadas e só ces­sam o seu clamor quando estão suficientemente usadas. Quer dizer, as capacidades são necessidades e, portanto, também são valores intrínsecos. Na medida em que as capacidades diferem, assim os valores também diferem. [pág. 184]




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