Prefácio da Segunda Edição
Muita coisa aconteceu no mundo da Psicologia desde que este livro foi publicado pela primeira vez. A Psicologia Humanista — como vem sendo mais freqüentemente chamada — está hoje solidamente estabelecida como terceira alternativa viável da psicologia objetivista e behaviorista (mecanomórfica) e do freudianismo ortodoxo. A sua literatura é vasta e está em rápido crescimento. Além disso, está começando a ser usada, especialmente na educação, indústria, organização e administração, terapia e auto-aperfeiçoamento e por vários indivíduos, revistas e organizações “eupsiquianos” (ver a Rede Eupsiquiana, págs. 275-279).
Devo confessar que acabei pensando nessa tendência humanista da Psicologia como uma revolução no mais verdadeiro e mais antigo sentido da palavra, o sentido em que Galileu, Darwin, Enstein, Freud e Marx fizeram revoluções, isto é, novos caminhos de perceber e de pensar, novas imagens do homem e da sociedade, novas concepções éticas e axiológicas, novos rumos por onde enveredar.
Esta Terceira Psicologia é agora uma faceta de uma Weltanschauung geral, uma nova filosofia da vida, uma nova concepção do homem, o começo de um novo século de trabalho (isto é, se conseguirmos sustar, entrementes, um holocausto). Para qualquer homem de boa vontade, qualquer homem “pró vida”, há um trabalho a ser feito aqui, efetivo, probo e eficaz, satisfatório, que pode proporcionar um significado fecundo à nossa própria vida e à dos outros.
Essa Psicologia não é puramente descritiva ou acadêmica; sugere ação e implica conseqüências. Ajuda a gerar [pág. 11] um modo de vida, não só para a própria pessoa, dentro da sua psique particular, mas também para a mesma pessoa como ser social, como membro da sociedade. De fato, ajuda a compreender até que ponto esses dois aspectos da vida estão realmente relacionados entre si. Fundamentalmente, a pessoa que fornece a melhor ajuda é a “boa pessoa”. Quantas vezes, tentando ajudar, a pessoa doente ou inadequada causa, pelo contrário, sérios danos.
Devo também dizer que considero a Psicologia Humanista, ou Terceira Força da Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Psicologia ainda “mais elevada”, transpessoal, transumana, centrada mais no cosmo do que nas necessidades e interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade, da individuação e quejandos. Haverá em breve (1968) um Journal of Transpersonal Psychology, organizado pelo mesmo Tony Sutich que fundou o Journal of Humanistic Psychology. Esses novos avanços podem muito bem oferecer uma satisfação tangível, usável e efetiva do “idealismo frustrado” de muita gente entregue a um profundo desespero, especialmente os jovens. Essas Psicologias comportam a promessa de desenvolvimento de uma filosofia da vida, de um substituto da religião, de um sistema de valores e de um programa de vida cuja falta essas pessoas estão sentindo. Sem o transcendente e o transpessoal, ficamos doentes, violentos e niilistas, ou então vazios de esperança e apáticos. Necessitamos de algo “maior do que somos”, que seja respeitado por nós próprios e a que nos entreguemos num novo sentido, naturalista, empírico, não-eclesiástico, talvez como Thoreau e Whitman, William James e John Dewey fizeram.
Creio que outra tarefa que precisa ser realizada antes de podermos ter um mundo bom é o desenvolvimento de uma psicologia humanista e transpessoal do mal, uma que seja escrita com um sentimento de compaixão e amor pela natureza humana e não de repulsa ou de irremediabilidade. As correções que fiz nesta nova edição encontram-se, primordialmente, nessa área. Sempre que pude, sem incorrer numa dispendiosa tarefa de reescrever, aclarei a minha psicologia do mal — o “mal de cima” e não de baixo. Uma leitura atenta localizará essas revisões, muito embora sejam extremamente condensadas. [pág. 12]
Essas alusões ao mal talvez soem aos leitores do presente livro como um paradoxo, ou uma contradição com as suas principais teses, mas não é, decididamente não é. Existem certamente homens bons, fortes e bem sucedidos no mundo — santos, sábios, bons líderes, responsáveis, candidatos a políticos, estadistas, homens de espírito forte, vencedores mais do que perdedores, pais em vez de filhos. Tais pessoas estão à disposição de quem quiser estudá-los como eu fiz. Mas nem por isso deixa de ser verdade que existem muito poucos, embora pudesse haver muitos mais, e são freqüentemente maltratados pelos seus semelhantes. Assim, isso também deve ser estudado, esse medo da bondade e da grandeza humanas, essa falta de conhecimento sobre como ser bom e forte, essa incapacidade para converter a nossa ira em atividades produtivas, esse temor da maturidade e da sublimação que nos chega com a maturidade, esse receio de nos sentirmos virtuosos, de nos amarmos a nós próprios, de sermos dignos de amor e de respeito. Especialmente, devemos aprender como transcender a nossa tendência insensata para deixar que a compaixão pelos fracos gere o ódio pelos fortes.
É essa espécie de pesquisa que recomendo mais insistente e urgentemente aos jovens e ambiciosos psicólogos, sociólogos e cientistas sociais em geral. E a outras pessoas de boa vontade, que querem ajudar a construir um mundo melhor, recomendo veementemente que considerem a ciência — a ciência humanista — uma forma de fazer isso, uma forma muito boa e necessária, talvez até a melhor de todas.
Simplesmente, não dispomos hoje de conhecimentos bastante idôneos para avançar na construção de Um Mundo Bom. Não dispomos sequer de conhecimentos suficientes para ensinar aos indivíduos como se amarem uns aos outros — pelo menos, com uma razoável dose de certeza. Estou convencido de que a melhor resposta está no progresso do conhecimento. Minha Psychology of Science, assim como Personal Knawledge, da autoria de Polanyi, são claras demonstrações de que a vida da ciência também pode ser uma vida de paixão, de beleza, de esperança para a humanidade e de revelação de valores. [pág. 13]
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