8. Relações Interpessoais Interessadas e Desinteressadas
Em essência, o homem deficit-motivado é muito mais dependente de outras pessoas do que o homem que é predominantemente motivado para o crescimento. Ele é mais “interessado”, mais necessitado, mais vinculado, mais desejoso. [pág. 62]
Essa dependência dá cor e fixa os limites às relações interpessoais. Ver as pessoas, primordialmente, como saciadoras de necessidades ou como fontes de abastecimento é um ato abstrativo. Elas são vistas não como todos, como indivíduos complicados e singulares, mas, antes, do ponto de vista da utilidade. O que nelas não está relacionado com as necessidades do percebedor ou é inteiramente negligenciado ou então irrita, entedia ou ameaça. Isso equipara-se às nossas relações com vacas, cavalos e ovelhas, assim como com motoristas de táxi, criados, carregadores, policiais ou outros a quem usamos.
A percepção totalmente desinteressada, isenta de desejo, objetiva e holística de outro ser humano só se torna possível quando nada se precisa dele, quando ele não é necessário. A percepção idiográfica, estética, da pessoa toda é muito mais viável para as pessoas individuacionantes (ou em momentos de individuação); e, além disso, a aprovação, a admiração e o amor baseiam-se menos na gratidão pela utilidade e mais nas qualidades objetivas e intrínsecas da pessoa percebida. Ela é admirada mais por qualidades objetivamente admiráveis do que por causa de lisonjas ou elogios. Ela é amada mais porque é digna de amor do que por dar amor. Isso é o que será analisado mais adiante como amor desinteressado, por exemplo, por Abraham Lincoln.
Uma característica das relações “interessadas” e supridoras de necessidade com outras pessoas é que, em grande parte, essas pessoas supridoras de necessidade são intermutáveis. Como, por exemplo, a moça adolescente necessita de admiração per se, pouca diferença faz, portanto, quem fornece essa admiração; um supridor de admiração é tão bom quanto qualquer outro. O mesmo ocorre com o supridor de amor ou o supridor de segurança.
A percepção desinteressada, não-premiada, inútil, sem desejo, do outro como ser único, independente, um fim-em-si — por outras palavras, como pessoa e não como instrumento — é tanto mais difícil quanto mais o percebedor estiver ávido por satisfazer o deficit. Uma Psicologia interpessoal de “teto alto”, isto é, uma compreensão do desenvolvimento mais elevado possível das relações humanas, não pode basear-se na teoria deficitária da motivação. [pág. 63]
9. Egocentrismo e Egotranscendência.
Deparamos cora um difícil paradoxo quando tentamos descrever a complexa atitude em relação ao eu ou ego da pessoa orientada para o crescimento e a individuação. É justamente essa pessoa, em quem o vigor do ego está no auge, aquela que mais facilmente esquece ou transcende o ego, a que pode ser mais centrada no problema, mais desprendida do ego, mais espontânea em suas atividades, mais homônoma, para usar o termo de Angyal (6). Em tais pessoas, a absorção em perceber, em fazer, em fruir e em criar, pode ser muito completa, muito integrada e muito pura.
Essa capacidade para centrar-se no mundo em vez de ser autoconsciente, egocêntrica e orientada para a satisfação, torna-se tanto mais difícil quanto mais deficits de necessidades a pessoa tem. Quanto mais motivada para o crescimento a pessoa for, mais centrada no problema poderá ser, e, quanto mais deixar para trás a consciência de si própria, mais envolvida estará com o mundo objetivo.
10. Psicoterapia Interpessoal e Psicologia Intrapessoal
Uma característica principal das pessoas que recorrem à psicoterapia é uma antiga e (ou) presente deficiência de satisfação de uma necessidade básica. A neurose pode ser considerada uma doença de deficiência. Sendo assim, uma necessidade básica de cura fornece o que estava faltando ou possibilita que o doente o faça por si mesmo. Como esses suprimentos provêm de outras pessoas, a terapia comum deve ser interpessoal.
Mas esse fato foi erroneamente generalizado, de uma forma excessiva. É certo que as pessoas cujas necessidades por deficiência foram satisfeitas e são, primordialmente, motivadas para o crescimento, de maneira nenhuma estão isentas de conflito, infelicidade, confusão e angústia. Em tais momentos, elas também são passíveis de procurar ajuda e poderão multo bem recorrer à terapia interpessoal. Contudo, não será prudente esquecer que, freqüentemente, os problemas e conflitos da pessoa motivada para o crescimento são resolvidos por ela própria, recolhendo-se à meditação, isto é, analisando-se e perscrutando o seu íntimo, em vez de procurar a ajuda de outrem. Mesmo em [pág. 64] princípio, muitas das tarefas da individuação são largamente intrapessoais, como a elaboração de planos, a descoberta do eu, a seleção de potencialidades a desenvolver, a construção de uma perspectiva geral da vida.
Na teoria do aperfeiçoamento da personalidade, um lugar deve ser reservado para o auto-aperfeiçoamento e a auto-análise, para a contemplação e a meditação sobre o eu. Nas fases subseqüentes do crescimento, a pessoa está essencialmente só e pode confiar unicamente em si mesma. A esse aperfeiçoamento de uma pessoa que já está bem chamou Oswald Schwarz (151) psicogogia. Se a psicoterapia faz das pessoas doentes não-doentes e remove os sintomas, então a psicogogia começa onde a terapia -parou e faz das não-doentes pessoas sadias. Fiquei interessado ao notar em Rogers (142) que a terapia bem sucedida elevava o “score” médio dos pacientes na Escola de Maturidade de Willoughby do 25.° para o 50.° percentil. Quem o elevará depois para o 75.° percentil? Ou para o 100.°? E não será possível que necessitemos de novos princípios e novas técnicas para fazer isso?
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