Introdução a Psicologia do Ser



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Defesa e Crescimento
Este capítulo representa um esforço para ser um pouco mais sistemático na área da teoria do crescimento. Pois desde que aceitemos a noção de crescimento, surgem muitas questões de pormenor. Como é que o crescimento ocorre? Por que é que as crianças se desenvolvem ou não se desenvolvem? Como é que sabem em que direção cres­cer? Como é que se desviam na direção da patologia?

Afinal de contas, os conceitos de individuação, cres­cimento e eu são abstrações de alto nível. Temos de nos aproximar muito mais dos processos reais, dos dados em bruto, dos acontecimentos concretos da existência.

Existem objetivos remotos. Os bebês e as crianças que crescem sadiamente não vivem em função de objetivos re­motos ou de um futuro distante; estão demasiado ocupa­dos em divertir-se e em viver espontaneamente para o momento. Estão vivendo, não preparando-se para viver. Como é que conseguem apenas ser, espontaneamente, não se esforçando por crescer, procurando apenas desfrutar a atividade presente e, no entanto, avançar, seguir em frente passo a passo? Isto é, crescer de uma forma saudável? Descobrir os seus eus reais? Como podemos reconciliar os fatos de Ser com os fatos de Devir? O crescimento não é, no caso puro, um objetivo adiante, nem é individuação ou descoberta do Eu. Na criança, não tem um propósito es­pecífico; apenas acontece. Ela descobre mais do que busca. As leis da motivação de deficiência e de esforço deliberado não valem para o crescimento, a espontaneidade e a cria­tividade. [pág. 71]

O perigo com uma Psicologia pura do Ser é que pode tender para ser estática, não explicando os fatos do mo­vimento, direção e crescimento. Somos propensos a des­crever estados de Ser, de individuação, como se fossem estados nirvânicos de perfeição. Uma vez que aí estamos, aí ficamos, e parece como se tudo o que um indivíduo poderá fazer é repousar, contente, na perfeição.

A resposta que acho satisfatória é muito simples, a saber: o crescimento ocorre quando o seguinte passo em frente é subjetivamente mais agradável, mais feliz, mais intrinsecamente satisfatório do que a satisfação anterior com que já nos familiarizamos e é, inclusive, motivo de tédio; a única maneira de que dispomos para saber o que está bem para nós é optando por aquilo que, subjetiva­mente, nos agrada mais do que qualquer alternativa. A nova experiência valida-se a si própria e não por qualquer critério exterior. É autojustificante e autovalidante.

Não o fazemos porque é bom para nós ou porque os psicólogos aprovam, ou porque alguém nos pediu, ou por­que nos fará viver mais tempo, ou porque é bom para a espécie, ou porque trará recompensas externas, ou porque é lógico. Fazemo-lo pela mesma razão porque escolhemos uma sobremesa em vez de outra. Já descrevi isso como um mecanismo básico para enamorar-se ou para escolher um amigo, isto é, beijar uma pessoa dá mais prazer do que beijar outra, ser amigo de a é subjetivamente mais satisfatório do que ser amigo de b.

Assim, aprendemos em que somos bons, o que real­mente nos agrada ou desagrada, quais são os nossos gostos, juízos e capacidades. Numa palavra, é essa a maneira pela qual descobrimos o Eu e respondemos às interroga­ções básicas: Quem sou? O que sou?

As iniciativas e as escolhas são empreendidas por pura espontaneidade, de dentro para fora. A criança sadia, ape­nas como Ser, como parte do seu Ser, é aleatória e espon­taneamente curiosa, exploratória, maravilhada e interes­sada. Mesmo quando é espontânea, não-deliberada, não-interatuante, expressiva, não motivada por qualquer de­ficiência do tipo comum, a sua tendência será para exer­citar os seus poderes, esforçar-se por alcançar alguma coisa, deixar-se absorver e fascinar, mostrar-se interessada, jogar e representar, querer saber, explorar, manipular o [pág. 72] mundo. Explorar, manipular, experimentar, interessar-se, escolher, deliciar-se, gozar, podem ser considerados atri­butos do puro Ser e, no entanto, levam ao Vir a Ser, em­bora de um modo acidental, fortuito, imprevisto e não-programado. A experiência espontânea e criadora pode acon­tecer (e acontece) sem expectativas, planos, previsões, de­liberação ou meta.1quando a criança se sacia, quando fica entediada, é que está pronta para se voltar para outros prazeres, talvez “mais elevados”.

Surgem então as perguntas inevitáveis: O que é que retém a criança? O que impede o seu desenvolvimento? Onde se localiza o conflito? Qual é a alternativa para o progresso? Por que é tão árduo e penoso para algumas progredir? Aqui, devemos nos tornar mais plenamente cônscios do poder regressivo e fixador das necessidades por deficiência que não foram satisfeitas, dos atrativos da segurança, das funções de defesa e proteção contra a dor, o medo, a perda e a ameaça, da necessidade de coragem para seguir adiante.

Todo o ser humano tem dentro de si ambos os con­juntos de forças. Um conjunto apega-se à segurança e à defensiva por medo, tendendo a regredir, a aferrar-se ao passado, receoso de se desenvolver longe da comunicação primitiva com o útero e o seio maternos, receoso de correr riscos, receoso de pôr em perigo o que já possui, receoso de independência, liberdade e separação. O outro con­junto de forças impele-o para a totalidade do Eu e a sin­gularidade do Eu, para o funcionamento pleno de todas as suas capacidades, para a confiança em face do mundo externo, ao mesmo tempo que pode aceitar o seu mais profundo, real e inconsciente Eu.

Posso reunir tudo isso num esquema que, embora muito simples, também é muito poderoso, tanto heurística como teoricamente. Esse dilema ou conflito básico entre as forças defensivas e as tendências de crescimento é por mim concebido como existencial, imbuído na mais profunda [pág. 73] natureza do ser humano, agora e para sempre no futuro. O seu diagrama é este:

Segurança PESSOA Crescimento

Então, podemos classificar muito simplesmente os vários mecanismos de crescimento de uma forma nada complicada, na medida em que

a. Promovem os vectores do crescimento, por exemplo, tornam o crescimento mais atraente e gerador de prazer.

b. Minimizam os temores do crescimento.

c. Minimizam os vectores de segurança, isto é, tornam esses vectores menos atraentes.

d. Elevam ao máximo os temores de segurança, defesa, patologia e regressão.

Podemos então adicionar ao nosso esquema básico estes quatro conjuntos de valências:




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