Introdução a Psicologia do Ser



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Saber para Redução de Ansiedade e para Crescimento

Até agora, estive falando sobre a necessidade de saber pelo saber, pelo puro prazer e a satisfação primitiva de conhecimento e entendimento per se. Torna a pessoa maior, mais sábia e mais prudente, mais rica e mais forte, mais evoluída e mais madura. Representa a concretização de uma potencialidade humana, a realização daquele des­tino humano preconizado pelas possibilidades humanas. Temos, então, um paralelo com o livre desabrochar de uma flor ou com o canto dos pássaros. É assim que uma macieira produz maçãs, sem luta nem esforço, simples­mente como expressão da sua natureza inerente.

Mas também sabemos que a curiosidade e a explora­ção constituem necessidades “superiores,” à segurança, isto é, que a necessidade de se sentir seguro, tranqüilo, sem receio, é prepotente e mais forte do que a curiosidade. Tanto nos macacos como nas crianças humanas, isso pode ser abertamente observado. A criança pequena, num am­biente estranho, apegar-se-á caracteristicamente à mãe e só depois, pouco a pouco, se arriscará a afastar-se do seu regaço para sondar coisas, explorar e investigar. Se a mãe desaparece e a criança fica assustada, a curiosidade desaparece até que a segurança seja restaurada. A crian­ça só explora na certeza de contar com um porto seguro onde se refugiar a qualquer momento. O mesmo ocorre com os filhotes de macaco nas pesquisas de Harlow. Qual­quer coisa que os assuste faz com que disparem correndo de volta à mãe-substituta. Aferrado nesta, o macaco pode observar primeiro e depois arriscar uma saída. Se a mãe-substituta estiver ausente, o macaco enrola-se, simples­mente, numa bola e choraminga. Os filmes de Harlow mostram-nos isso muito claramente. [pág. 91]

O ser humano adulto é muito mais sutil e dissimulado em suas ansiedades e temores. Se estes não o vencem completamente, ele é muito capaz de reprimi-los, de negar até, para si próprio, que existam. Freqüentemente, não “sabe” que está com medo.

Há muitas maneiras de enfrentar e combater essas ansiedades e algumas delas são cognitivas. Para uma tal pessoa, o insólito, o vagamente percebido, o misterioso, o oculto, o inesperado, são coisas suscetíveis de representar ameaças. Uma forma de torná-las familiares, previsíveis, controláveis, isto é, não-assustadoras e inofensivas, é co­nhecê-las e compreendê-las. E, assim, o conhecimento pode ter não só uma função de estímulo ao desenvolvimento, mas também uma função de redução de ansiedade, uma função homeostática protetora. O comportamento mani­festo talvez seja muito semelhante em qualquer dos casos, mas as motivações podem ser extremamente diferentes. E as conseqüências subjetivas também são muito diversas. Por um lado, temos o suspiro de alívio e a sensação de um abaixamento de tensão, por exemplo, do preocupado dono de casa, explorando um misterioso e assustador ruído em sua casa, a meio da noite, com uma arma na mão, quando chega à conclusão de que não era nada. Isso é muito diferente da revelação e da sensação exultante, até extática, de um jovem estudante de olhos colados no mi­croscópio, quando vê pela primeira vez a estrutura minu­ciosa do rim, ou quando compreende, subitamente, a estru­tura de uma sinfonia ou o significado de um intricado poema ou de uma complexa teoria política. Nestes últimos casos, a pessoa sente-se maior, mais esclarecida, mais forte, mais completa, mais capaz, vitoriosa e perceptiva. Supo­nhamos que os nossos órgãos sensoriais se tornavam mais eficientes, os nossos olhos subitamente mais penetrantes, os nossos ouvidos desobstruídos. É justamente isso o que sentiríamos. É isso o que pode acontecer na educação e na psicoterapia — e acontece, de fato, com bastante fre­qüência.

Essa dialética motivacional pode ser vista nos maiores quadros humanos, as grandes filosofias, as estruturas re­ligiosas, os sistemas políticos e jurídicos, as várias ciên­cias, até a cultura como um todo. Em palavras simples, demasiado simples, eles podem representar, simultaneamente, o resultado da necessidade de compreender e da [pág. 92] necessidade de segurança, em diversas proporções. Por vezes, as necessidades de segurança podem dobrar quase inteiramente as necessidades cognitivas aos seus propósitos de alívio de ansiedade. A pessoa livre de ansiedade pode ser mais audaciosa e mais corajosa, pode explorar e teo­rizar por amor ao próprio conhecimento. É certamente razoável supor que essa pessoa tenha mais possibilidade de abordar a verdade, a verdadeira natureza das coisas. Uma filosofia, religião ou ciência da segurança é mais suscetível de ser cega do que uma filosofia, religião ou ciência do desenvolvimento.



A Evitação de Conhecimento Como Evitação de Responsabilidade

A ansiedade e a timidez não só inclinam a curiosi­dade, o saber e a compreensão aos seus próprios fins, usando-os, por assim dizer, como instrumentos para ali­viar a ansiedade, mas a falta de curiosidade também pode ser uma expressão ativa ou passiva de ansiedade e medo. (Isso não é o mesmo que a atrofia da curiosidade por falta de uso.) Quer dizer, podemos procurar saber a fim de reduzir a ansiedade e também podemos evitar saber para reduzir a ansiedade. Usando a linguagem freudiana, a incuriosidade, as dificuldades de aprendizagem e a pseudo-estupidez podem constituir uma defesa. Todos concor­dam em que o conhecimento e a ação estão intimamente ligados. Irei muito mais longe e estou convencido de que conhecimento e ação são, freqüentemente, sinônimos, até mesmo, no sentido socrático, termos idênticos. Quando sabemos plena e completamente, uma ação adequada se­gue-se de forma automática e reflexa. As escolhas são então feitas, sem conflito e com total espontaneidade. Mas, a esse respeito, veja-se (32).

É isso o que observamos, em alto nível, na pessoa sadia que parece saber o que é certo e errado, bom e mau, e o mostra em seu funcionamento fácil e pleno. Mas também o observamos noutro nível completamente dis­tinto, na criança pequena (ou na criança escondida no adulto), para quem pensar sobre uma ação pode ser o mesmo que ter atuado — “a onipotência do pensamento”, como lhe chamam os psicanalistas. Quer dizer, se ela tivesse desejado a morte do pai, a criança poderá reagir, [pág. 93] inconscientemente, como se, na realidade, o tivesse ma­tado. De fato, uma função da psicoterapia adulta con­siste em desintegrar essa identidade infantil, para que a pessoa não tenha que sentir-se culpada de pensamentos infantis como se estes tivessem sido cometimentos ou atos reais.

Em qualquer dos casos, essa estreita relação entre saber e fazer poder-nos-á ajudar a interpretar uma causa do medo de saber como um profundo receio de fazer, um medo das conseqüências decorrentes do conhecimento, um medo das suas perigosas responsabilidades. Muitas vezes, é melhor não saber porque, se soubermos, então teremos de atuar e salientar-nos-emos dos demais. Isso é um tanto complicado, um pouco como aquele homem que disse: “Estou tão satisfeito por não gostar de ostras. Porque se eu gostasse de ostras certamente as comeria, e detesto semelhante porcaria.”

Era certamente mais seguro para os alemães que moravam perto de Dachau não saber o que se passava, ser cegos e pseudo-estúpidos. Pois, se soubessem, teriam de fazer alguma coisa a respeito ou sentir-se-iam culpados de covardia.

A criança também pode usar o mesmo estratagema, recusando-se a ver o que é evidente para qualquer outra pessoa: que o pai é uma criatura desprezível e fraca ou que a mãe realmente não a ama. Essa espécie de conheci­mento é um convite para uma ação impossível. É melhor não saber.

Em todo o caso, conhecemos hoje o bastante sobre ansiedade e cognição para rejeitar a posição extrema que muitos filósofos e psicólogos teóricos sustentaram durante séculos: que todas as necessidades cognitivas são instiga­das pela ansiedade e são unicamente esforços para reduzir a ansiedade. Durante muitos anos, isso pareceu plausível, mas, hoje, os nossos experimentos com animais e crianças contradizem essa teoria, em sua forma pura, pois todos eles provam que, geralmente, a ansiedade mata a curiosi­dade e exploração, e que elas são mutuamente incompa­tíveis, sobretudo quando a ansiedade é extrema. As ne­cessidades cognitivas manifestam-se mais claramente em situações seguras e não-ansiosas. [pág. 94]

Um livro recente resume admiravelmente a situação.

Um aspecto admirável de um sistema de crenças é que ele parece estar construído para servir simultanea­mente a dois amos: compreender o mundo até onde for possível e preservá-lo até onde for necessário. Não con­cordamos com os que sustentam que as pessoas destor­cem seletivamente o seu funcionamento cognitivo, de forma a verem, recordarem e pensarem somente o que querem. Pelo contrário, sustentamos a opinião de que as pessoas só farão isso na medida em que tiverem de fazê-lo e nada mais. Pois todos nós somos motivados pelo desejo, por vezes forte e outras vezes fraco, de ver a realidade tal como ela é, mesmo que isso doa (146, pág. 400).

Resumo

Parece muito claro que a necessidade de saber, se for bem entendida, deve ser integrada com o medo de conheci­mento, com a ansiedade, com as necessidades de segurança e proteção. Chegamos a uma relação dialética de vaivém que, simultaneamente, é uma luta entre o medo e a cora­gem. Todos aqueles fatores psicológicos e sociais que au­mentam o medo sufocarão o nosso impulso para saber; todos os fatores que permitem a coragem, a liberdade e a audácia libertarão também, por conseguinte, a nossa ne­cessidade de saber. [pág. 95]




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