INTRODUÇÃO: percursos, motivações, conjecturas pessoais → novas perspectivas…
INTRODUÇÃO: percursos, motivações, conjecturas pessoais → novas perspectivas…
EXEMPLOS CLÍNICOS: o doente, a doença, apessoa e a sua história.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: a) hipóteses explicat.; b) “descoberta” da empatia: o seu impacte na relação médico-doente e nas aulas de medicina.
Um dos aspectos mais tocantes no reconhecimento da psicossomática é o que ela traz de novo à relação médico-doente.
Um dos aspectos mais tocantes no reconhecimento da psicossomática é o que ela traz de novo à relação médico-doente.
Mudanças nos últimos anos:
Grupanálise e Curso de Formação em GA (SPG) ↓
Dar conta da importância
da “pessoa” que o doente é e das suas histórias
Nas nossas vidas
Nas nossas vidas
Nos nossos desempenhos
Não há acasos nem coincidências
Até para os fervorosos da “Evidence-Based-
Até para os fervorosos da “Evidence-Based-
Medicine” a clínica “prova” que nem
sempre conseguimos obter provas.
Outras “razões” estarão a interferir
na função orgânica…!?
Fisiologia
Emerg.ª da doença
Reflexões de clínicos notáveis
Reflexões de clínicos notáveis
acerca do homem,
enquanto o observavam
na sua relação com a doença e tentavam novos métodos terapêuticos
A doença: uma perturbação do curso da “natureza” (do homem).
A doença: uma perturbação do curso da “natureza” (do homem).
“Natureza”: estado de “Saúde” do indivíduo.
“A natureza do doente é o seu próprio médico” (Epidemias VI. 5. 1.)
Função da Medicina: restituir-”lhe” (ao homem enquanto doente) esse curso natural, i. e., o seu “correcto modo de vida”.
“Fazer o que o homem é”:
“Fazer o que o homem é”:
Reconhecer no doente a integridade do homem.
Colaborar na sua realização como homem.
“(…) a própria natureza é(…) uma história e a história que ela narra não é a da doença,(…) mas a do próprio homem; o que está em causa (…) não é pois a doença, mas pura e simplesmente o homem.”
“(…) a própria natureza é(…) uma história e a história que ela narra não é a da doença,(…) mas a do próprio homem; o que está em causa (…) não é pois a doença, mas pura e simplesmente o homem.”
“[…] It is more important to know what sort of a patient has a disease than what sort of disease the patient has.”
“[…] It is more important to know what sort of a patient has a disease than what sort of disease the patient has.”
(O que subjaz ao “haver doença”
é o “haver doente”)
“(…) lidar como ciência com
“(…) lidar como ciência com
aquilo de que não há ciência, a
saber, com o indivíduo
enquanto tal.”
(AP Mesquita 1999,“A Vitória sobre Trasímaco: Hipócrates e a
Medicina Grega”, Rev. FML, 4 (III Série), pp. 35-47)
“É missão do médico fazer o bem.
“É missão do médico fazer o bem.
É missão do cientista explicar os factos.
[...] Se os factos não se adequam às suas
concepções presentes, então teremos
de repensar as concepções, porque os
factos não mudarão [...]”
“Ser, Parecer, Aparecer e (des)aparecer”
“Ser, Parecer, Aparecer e (des)aparecer”
“Réunion de la Societé Francophone de Dermatologie
Mário, 26 A, caucasiano, solteiro, reside há 3 anos com a namorada, sem filhos.
Mário, 26 A, caucasiano, solteiro, reside há 3 anos com a namorada, sem filhos.
Saudável; 2 peladas desde há um mês.
Pai vivo; mãe falecida com uma “queda” (o Mário tinha 18 A); 1 irmã 3 anos mais nova.
A mãe: doente psiquiátrica “muito medicada”, “muito confusa”. “Por isso caiu do 5º andar onde morava”.
Família emigrada na Austrália quando a mãe adoeceu (o Mário tinha 8 A).
Família emigrada na Austrália quando a mãe adoeceu (o Mário tinha 8 A).
O Mário ficou entregue a si próprio, cuidando também da irmã (com 5 A):
“Dava-lhe o pequeno-almoço.”
“Ajudava-a a vestir-se.”
“Levava-a e trazia-a da Escola.”
“Orientava os estudos, olhava pela casa…”
Actualmente: dificuldade no raciocínio (ficava “bloqueado”), menos rendimento no trabalho, navegava aos fins-de-semana na internet.
Actualmente: dificuldade no raciocínio (ficava “bloqueado”), menos rendimento no trabalho, navegava aos fins-de-semana na internet.
Tinha um “Grande Projecto”:
Constituir Família!
(“Casar-me e ter filhos”)
Paula, 43 A, afro-europeia, angolana, mãe solteira (1 filho adolescente jovem).
Paula, 43 A, afro-europeia, angolana, mãe solteira (1 filho adolescente jovem).
Queixas de queda acentuada de cabelo.
Saudável. AA 3 A antes (“em pânico” com medo de voltar a ter peladas).
E.O.: s/ alterações (cabelo ou couro cabeludo.
A.P.: É a mais nova de 5 irmãos e quando nasceu a mãe já era viúva há um tempo.
O pai era um homem rico e influente na terra, com uma família oficial.
O pai era um homem rico e influente na terra, com uma família oficial.
Sempre ouviu contar à mãe que o pai nunca apoiou o seu nascimento.
Reconheceu a paternidade quando a Paula era adolescente.
Sempre apoiou economicamente a sua educação.
IVG 3 A antes (altura do episódio de AA).
IVG 3 A antes (altura do episódio de AA).
O companheiro com quem estava há mais de 7 anos ameaçou abandoná-la se não fizesse IVG.
Após a IVG a relação terminou.
Hoje, “o caso Esmeralda tira-me do sério!” “Sinto uma raiva contra o pai biológico que quer a filha depois de a ter rejeitado!”
Seria por isso que o cabelo lhe caía tanto?
Bernardo, 34 A, caucasiano, casado, com uma filha de 3 A, vigilante num armazém.
Bernardo, 34 A, caucasiano, casado, com uma filha de 3 A, vigilante num armazém.
Peladas recentes na barba e couro cabeludo.
A.P.: Abandonado pela mãe quando tinha 1 A.
O pai voltou a casar-se; tem 1 irmão 14 meses mais novo.
Chama “a minha mãe” à madrasta e “essa mulher” à mãe biológica.
Procurou a mãe biológica quando fez 18 A (“foi difícil encontrá-la”).
Procurou a mãe biológica quando fez 18 A (“foi difícil encontrá-la”).
Descobriu que tinha “vários” irmãos (filhos de diferentes pais).
A mãe soube “sempre” do paradeiro do filho (Escolas frequentadas, onde fez o s. Militar…).
“Mas então porque é que ela nunca me procurou!???”
Nos últimos anos vive outro drama: foi feito o diagnostico de epilepsia de causa desconhecida à mulher .
Nos últimos anos vive outro drama: foi feito o diagnostico de epilepsia de causa desconhecida à mulher .
As crises não estavam controladas.
Vigiava em permanência a mulher, sobretudo quando ela cuidava “da menina”.
Desabafa: “Sinto-me nervoso, raivoso,
só me apetece bater-me!”
A Nazaré vai à consulta 4 D antes de fazer 14 A.
A Nazaré vai à consulta 4 D antes de fazer 14 A.
Uma pelada muito recente na nuca.
A mãe atribui-a a uma grande ansiedade porque “a Nazaré ainda é muito menina em comparação com as amigas – não é menstruada, não tem maminhas, só cresce em altura – e está ansiosa por se tornar uma mulherzinha”
2ª Filha do casal. Nasce 2 A depois da morte do 1º filho (aos 15 A, “foi apanhado por um comboio quando caiu à linha”).
2ª Filha do casal. Nasce 2 A depois da morte do 1º filho (aos 15 A, “foi apanhado por um comboio quando caiu à linha”).
A mãe comove-se quando relata a tragédia e a Nazaré salta-lhe para o colo, abraça-a e cobre-a de beijos.
A mãe diz que nunca lhe fala deste assunto “para ela não sentir”.
“Eu já disse à minha mãe que
“Eu já disse à minha mãe que
não quero nenhuma festa
quando eu fizer 15 anos.”
“Quero passar dos 14 para os 16
e quando eu fizer 15
já lhe pedi para pôr
16 velas no meu bolo.”
Como explicar a emergência
Como explicar a emergência
destas manifestações?
A patologia orgânica associa-se a um “impasse” que pode emergir de conflitos emocionais e da incapacidade em elaborar mentalmente o sofrimento.
A doença seria 1 resposta possível à situação que “convém (…) descobrir no 2º plano do quadro clínico”.
A doença seria 1 resposta possível à situação que “convém (…) descobrir no 2º plano do quadro clínico”.
Nos 3 primeiros casos, as vivências actuais ou os seus projectos a curto prazo, levaram ao encontro doloroso com o passado:
Nos 3 primeiros casos, as vivências actuais ou os seus projectos a curto prazo, levaram ao encontro doloroso com o passado:
Quer sob a forma de grande apreensão, como no caso do Mário quando pensou constituir família. Enquanto criança não cuidaram dele, e muito cedo tornou-se um cuidador hiper-responsabilizado pela irmã.
Quer sob a forma de uma zanga desmedida (revolta, raiva), como nos casos da Paula e do Bernardo, 2 crianças rejeitadas:
Quer sob a forma de uma zanga desmedida (revolta, raiva), como nos casos da Paula e do Bernardo, 2 crianças rejeitadas:
A Paula, que, ao contrário da mãe, inviabiliza o nascimento de um filho, cumprindo a sentença do pai sobre ela pp.
O Bernardo que vive através da doença da mulher a ameaça de um 2º abandono, súbito e sem explicação, como a mãe lhe fizera.
Caso da Nazaré: a antecipação assustadora de uma data fatídica, vivenciada pela aproximação dos 15 anos.
Caso da Nazaré: a antecipação assustadora de uma data fatídica, vivenciada pela aproximação dos 15 anos.
O facto deste ter sido sempre um tema tabu para os pais, cujo sofrimento ela sentia intensamente, nunca lhe permitiu exorcizar as suas fantasias acerca do mesmo, nem descarregar a ansiedade causada por estas.
O Bernardo e a Nazaré tiveram uma evolução favorável, com alta da consulta:
O Bernardo e a Nazaré tiveram uma evolução favorável, com alta da consulta:
Terapêuticas farmacológicas?
Atitude empática?
Os 3 doentes adultos e a mãe da Nazaré ficaram muito curiosos com as hipóteses sugeridas…
A curiosidade acerca de si próprios e das suas histórias foi um bom ponto de partida para compreenderem a premência em procurar ajuda especializada, sob risco de virem a recidivar com esta ou qualquer outra patologia.
A curiosidade acerca de si próprios e das suas histórias foi um bom ponto de partida para compreenderem a premência em procurar ajuda especializada, sob risco de virem a recidivar com esta ou qualquer outra patologia.
Consequências:
Consequências:
No relacionamento mais espontâneo com as pessoas doentes. As suas emoções e formas de sentir passaram a ser igualmente importantes para o seu conhecimento (compreensão) e o das suas afecções.
Nos seminários de dermatologia, onde estes e outros exemplos são comentados…