J. R. Ward Amante Revelado

CAPÍTULO 49
Dentro do Escalade, no caminho de volta à mansão, todo mundo se sentia cheio de energia e falava pelos cotovelos: Rhage estava soltando merda como sempre. Wrath ria dele. Logo V começou a lhe responder, e antes de que passasse muito tempo, todo mundo estava criticando um ao outro. Como devem fazer os irmãos.

Butch se acomodou no assento, conciente de que esta volta em casa como a cerimônia anterior, eram motivo de uma grande alegria para a Irmandade. E mesmo, embora não pudesse sentir-se igualmente alegre, estava realmente contente por eles.

Estacionaram em frente da mansão, e quando Butch desceu do veiculo as grandes portas da frente da casa se abriram completamente e a Irmandade formou um semicírculo atrás dele.

O cântico começou de novo, e quando ingressaram no vestíbulo decorado com as cores do arco íris lhes chegou um grande aplauso: os doggen estavam esperando, os vinte que serviam no complexo, e frente deles estavam as três fêmeas que viviam no Complexo, tão bonitas que tiravam o fôlego. Beth usava o vestido vermelho sangue que tinha usado em suas bodas, Mary estava vestida de azul real e Bela de prata brilhante.

Butch desejava tanto que Marissa estivesse ali, que não podia suportar olhar às shellans sem sentir uma dor no peito. Estava a ponto de fazer uma saída desesperada, de fugir covardemente para o Pit, quando o mar de corpos se abriu e…

Alí estava Marissa, usava um vestido cor pêssego vibrante, tão bonito e vívido que Butch se perguntou se um raio de sol não teria se concentrado e tomado sua forma. O cântico se deteve quando ela deu um passo para frente.

Confuso, sem entender ainda o porque de sua presença, Butch se aproximou, de toda forma.

Mas caiu de joelhos frente a ele com o vestido envolvendo-a, formando grandes ondas ao seu redor.

Inclinou a cabeça e com voz rouca devido à emoção disse:

—Guerreiro, ofereço-te este objeto de boa sorte para quando lutar.

Elevou as mãos e nela estava uma grossa trança de seu cabelo atada em cada um dos extremos com fitas azul pálido.

—Seria para mim um orgulho que levasse isto na batalha. Seria para mim um orgulho que eu… Hellren servisse a nossa raça, se ainda… me quiser.

Totalmente afligito pelo gesto, Butch se agachou e lhe levantou o tremente queixo, enquanto lhe secava as lágrimas, pegou a trança que lhe oferecia e a embalou contra seu coração.

—É obvio que quero você —murmurou— Mas por que mudou de opinião?

Olhou para trás, às três fêmeas da casa, em seus magníficos vestidos, e logo em um tom igualmente baixo, disse:

—Falei com algumas amigas. Ou melhor dizendo, elas falaram comigo.

—Marissa… —foi tudo o que pôde dizer.

Como parecia que ficou sem voz, beijou-a, e enquanto se abraçavam uma grande ovação se elevou no amplo vestíbulo.

—Sinto muito ter sido tão fraca —lhe sussurrou ao ouvido— Beth, Mary e Bela foram me ver. Nunca estarei tranqüila com o perigo que enfrenta ao ser membro da Irmandade. Estarei preocupada toda a noite. Mas elas confiam que seus homems serão cuidadosos e eu… eu acredito que você me ama. Acredito que nunca me deixaria se pudesse evitá-lo. Acredito que se cuidará e se deterá se se parecer que o mal pode chegar a ultrapassar. Se elas podem dirigir o medo à perda, também posso fazê-lo eu.

Apertou-a ainda mais forte.

—Tomarei cuidado, juro, juro.

Por um momento, ficaram de pé, abraçados, logo Butch levantou a cabeça e olhou a Wrath, que tinha tomado Beth em seus braços.

—Então, irmão —disse Butch— Tem uma faca e um pouco de sal? É tempo de terminar certo emparelhamento me segue?

—Deixamos tudo preparado, amigo.

Fritz se adiantou com a mesma jarra uma das melhores usadas na mansão, que tinham usado para a cerimônia de Wrath e Beth. E na de Rhage e Mary. E na de Zsadist e Bela.

Olhando dentro dos olhos azul pálido de sua shellan, Butch murmurou:

—A escuridão nunca voltará… porque tenho você. Marissa, a luz de minha vida. Isso é o que é.

CAPÍTULO 50
No dia seguinte, Marissa sorriu quando elevou a vista da sua mesa. Butch enchia a entrada do escritório, seu corpo tão grande.

Deus, embora seu pescoço ainda estivesse se curando da iniciação, Meu Deus!Parecia bem. Forte. Poderoso. Seu companheiro.

—Olá —disse, cintilando seu dente da frente prejudicado. Assim como suas presas.

Ela sorriu.

—Chegou cedo.

—Não podia estar afastado nem mais um momento. —Entrou e fechou a porta… e quando de maneira sutil trancou a fechadura, seu corpo se esquentou.

Rodeou a mesa e girou a cadeira para enfrentá-la, logo se ajoelhou no chão. Quando estendeu suas coxas e se aproximou acomodando-se entre elas, o aroma da vinculação encheu o ar enquanto acariciava sua clavícula. Com um suspiro, ela envolveu os braços ao redor de seus largos ombros e beijou a pele suave detrás da orelha.

—Como esta, hellren?

—Melhor agora, esposa.

Enquanto se segurava a ele, deslocou seu olhar pelo escritório. Ali, entre os papéis, pastas e canetas, estava uma pequena estatueta branca. A peça estranhamente esculpida era uma figura em mármore de uma mulher sentada de pernas cruzadas com uma adaga dupla na palma da mão, um mocho na mão oposta.

Beth as tinha mandado fazer. Uma para Mary. Uma para Bela. Uma para Marissa. E a Rainha tinha conservado uma para si mesma. O significado da adaga era óbvio. O mocho branco era um vínculo com a Virgem Escriba, um símbolo de oração para o amparo de seus companheiros guerreiros.

A Irmandade era forte, uma unidade, uma força poderosa em seu mundo para o bem. E as fêmeas também eram fortes. Uma unidade. Uma força poderosa para o bem em seu mundo.

Unidas tão fortemente, juntas como seus guerreiros.

Butch levantou a cabeça e a olhou com total adoração. Com a cerimônia de emparelhamento completa, e com seu nome gravado nas costas, ela exercia domínio sobre seu corpo tanto por lei como por instinto, um controle que com muito gosto lhe entregou, meigamente rendido a ela. Era seu para mandar, como a glymera sempre dizia, era bonito estar realmente apareado.

A unica coisa em que aqueles idiotas acertaram alguma vez.

—Marissa, quero levar você para que conheça alguém, tudo bem?

—É obvio. Agora?

—Não, amanhã ao anoitecer.

—Bem. Quem?

Beijou-a.

—Você verá.

Olhando profundamente em seus olhos cor avelã, ela acariciou seu cabelo escuro e grosso. Então riscou suas sobrancelhas com os polegares. Passou a ponta do dedo sobre seu nariz desigual, quebrado muitas vezes. Tocou ligeiramente seu dente estilhaçado.

—Estou um pouco desgastado pela batalha, certo? —disse—Mas já sabe, com cirurgia plástica e uma capa, poderia ser tão deslumbrante como Rhage.

Marissa deu uma olhada atrás à estatueta e pensou em sua vida. E na de Butch.

Sacudiu a cabeça devagar e se inclinou para beijá-lo.

—Eu não mudaria nada em você. Nenhuma única coisa.

EPÍLOGO
Joyce O’Neal Rafferty estava ocupada e completamente de saco cheio, enquanto se dirigia à ao asilo. Sean, o bebê, tinha passado toda a noite vomitando, e estiveram três horas esperando no pediatra antes que o doutor pudesse atendê-los. Logo Mike tinha deixado uma mensagem dizendo que trabalharia até tarde, assim não teria tempo para ir ao supermercado na volta para casa.

Maldição, não tinham nada na geladeira nem na despensa para comer.

Joyce acomodou a Sean no quadril e correu pelo corredor, esquivando carros de comida e uma equipe de cadeiras de rodas. Ao menos agora Sean estava dormido e não tinha vomitado durante horas. Tratar com um bebê suscetível e doente, assim como com sua mãe, era mais do que Joyce podia dirigir a um mesmo tempo. Sobre tudo depois de um dia como o de hoje.

Bateu na porta da quarto de sua mãe, entrou diretamente. Odell estava sentada na cama, folheando o Reader’s Digest.

—Ouça, mamãe, como se encontra? —Joyce se aproximou da cadeira estofada que estava perto da janela. Quando se sentou, a almofada chiou. Igual a Sean quando despertava.

—Estou bem. —O sorriso de Odell era agradável. Seus olhos vazios como mármore escuro.

Joyce checou o relógio. Ficaria dez minutos, logo iria ao Star Market no caminho de casa.

—Tive um convidado ontem à noite.

—Sim, mamãe? —E definitivamente, ia comprar comida suficiente para uma semana completa.

—Quem era?

—Seu irmão.

—Teddy esteve aqui?

—Butch.

Joyce congelou. Então decidiu, que sua mãe estava imaginando.

—Que bom, mamãe.

—Veio quando não havia ninguém ao redor. Depois do anoitecer. Trouxe sua esposa. É muito bonita. Disse que se casarão em uma igreja. Quero dizer, já são marido e mulher, mas o fizeram por sua religião. Que graça... não entendi qual era. Talvez luterana?

Definitivamente tinha imaginado.

—Isso é bom.

—Parece-se com seu pai.

—Ah, sim? Pensei que era o único que não se parecia com papai.

—Seu pai. Não o seu.

Joyce franziu o cenho.

—Perdão?

Sua mãe assumiu uma expressão sonhadora e olhou para fora através da janela.

—Contei a você alguma vez sobre a tempestade de neve de '69?

—Mamãe, voltando para Butch ...

—Ficamos presos no hospital, nós as enfermeiras junto com os médicos. Ninguém podia ir ou vir. Fiquei ali durante dois dias. Deus, seu pai estava tão aborrecido por ter que cuidar dos meninos sem mim. —Repentinamente, Odell pareceu anos mais jovem e tão aguda como uma tachinha, seus olhos beilharam.—Havia um cirurgião ali. Ah, era tão… diferente de todos os outros. Era o chefe de cirurgia, era muito importante. Era… bonito e diferente e muito importante. Aterrador também. Seus olhos, ainda posso vê-los em meus sonhos. —De repente, todo o entusiasmo se evaporou e sua mãe se desinflou—. Fui má. Fui uma esposa má, má.

— Mamãe… —Joyce sacudiu sua cabeça.—O que esta dizendo?

Lágrimas começaram a cair pelo rosto enrugado do Odell.

—Fui confessar quando cheguei em casa. Rezei. Rezei com força. Mas Deus me castigou por meus pecados. Mesmo durante o parto… o parto foi terrível com o Butch. Quase morri, sangrei tanto. Todos os meus outros partos foram bons. Mas… o do Butch não.

Joyce apertou Sean com força, este começou a mover-se em protesto. Logo afrouxou seu aperto e tratou de acalmá-lo, enquanto sussurrava —Continua. Mamãe … segue falando.

—A morte de Janie foi meu castigo por ser infiel e levar o filho de outro homem.

Quando foi solto um gemido, Joyce virou a cabeça com uma suspeita horrível, terrível que isso fosse…

Ah, venha em que demônios estava pensando? Sua mãe estava louca. Não estava bem da cabeça.

O único erro, era que nesse momento parecia realmente lúcida.

Odell começou a saudar com a cabeça como se respondesse a uma pergunta que alguém lhe tivesse formulado. —Ah, sim, amo a Butch. Realmente, amo-o mais que a qualquer um de meus filhos porque é especial. Entretanto, nunca poderei demonstra-lo, seu pai suportou o que fiz. Favorecer a Butch de qualquer modo seria um insulto ao Eddie e eu não poderia… não envergonharei a meu marido assim. Não depois que ficou comigo.

—Papai sabe…? —No silêncio que seguiu, as coisas começaram a cair em seu lugar, um feio quebra-cabeças começou a juntar-se. Merda… era certo. É obvio que papai sabia. Por isso odiava a Butch.

Sua mãe fico pensativa. —Butch parecia tão feliz com sua esposa. E ah, doce Maria, é linda. São perfeitos um para o outro. Ela é especial como o pai de Butch o era. Como Butch o é. São todos tão especiais. Que pena que não puderam ficar mais tempo. Disse… que tinha vindo para dizer adeus.

Como Odell se quebrou, Joyce estendeu a mão e lhe agarrou o braço a sua mãe.

—Mamãe, aonde foi Butch?

Sua mãe deu uma olhada para baixo à mão que a tocava. Então franziu o cenho um pouco.

—Quero uma Saltine. Posso tomar uma Saltine?

—Mamãe, me olhe. Aonde foi? —por que parecia importante de repente, não estava segura.

Seus olhos mudaram voltando-se vazios.

—Com queijo. Eu gostaria de uma Saltine. Com queijo.

—Falávamos de Butch… mamãe, se concentre.

Deus, todo este assunto era uma comoção total e na realidade não era. Butch sempre tinha sido diferente, certo?

—Mamãe, onde está Butch?

—Butch? Ah, obrigado por perguntar. Esta bem… parecia tão feliz. Estou tão contente de que se casou. —Sua mãe piscou—. A propósito, vocêi quem é,? é uma enfermeira? Eu estava acostumado a ser uma enfermeira …

Durante um momento, Joyce esteve a ponto de pressioná-la...

Mas em vez disso, quando sua mãe seguiu balbuciando, olhou para fora pela janela e respirou fundo. O bate-papo monótono de Odell de repente pareceu consolador. Sim… todo o assunto era tolice. Só tolice.

Deixe-o, disse-se Joyce. Só deixe-o.

Quando Sean deixou de gritar e se colocou contra ela, Joyce abraçou seu pequeno corpo quente. Entre divagações absurdas provenientes da cama, pensou quanto amava a seu bebê. E sempre o amaria.

Beijou sua suave cabecinha. A família, depois de tudo, era o suporte da vida.

O maior suporte da vida.
Fim