— O que levanta um ponto importante — disse Ritter. — Lutaremos apenas como soldados alemães. Isso ficou claro desde o começo. Acho que chegou a ocasião de acabar com a mascarada.
Tirou a boina vermelha e a jaqueta de pára-quedista, revelando sua Fliegerbluse. Do bolso da calça puxou um boné da Luftwaffe e colocou-o na cabeça, no ângulo certo.
— Muito bem — disse a Brandt e Altmann. — Isto vale para todo mundo e, assim, é melhor que vocês comecem a se mexer.
Joanna Grey presenciou a cena da janela do quarto e ao ver o uniforme de Ritter sentiu um frio no coração. Observou quando Altmann entrou no prédio dos Correios. Um momento depois, o Sr. Turner surgiu à porta, cruzou a ponte e começou a subir a colina na direção da igreja.
Ritter encontrava-se num terrível dilema. Ordinariamente, nessas circunstâncias, teria ordenado uma retirada imediata, mas como dissera a Brandt, para onde? Incluindo ele mesmo, dispunha de doze homens para guardar os prisioneiros e defender a aldeia. Uma situação intolerável. Mas.o mesmo acontecera no canal Albert e em Eban Emael, teria dito Steiner. Pensou, e não pela primeira vez, em quanto viera a depender de Steiner ao longo de todos aqueles anos. Tentou fazer outra vez contato com ele pelo telefone de campanha:
— Responda, Águia Um — disse em inglês. — Aqui fala Águia Dois.
Não obteve resposta. Entregou o aparelho ao soldado Hagl, que se encontrava abrigado sob parapeito da ponte, com o cano de sua Bren projetando-se de um sangradouro de drenagem, o que lhe dava um bom campo de fogo. Ao lado tinha uma bem-arrumada pilha de pentes de bala. Ele, também, tirara a boina vermelha e a jaqueta e usava o schiff e a fliegerbluse, embora ainda conservasse as calças camufladas.
— Não teve sorte, Herr Oberleutnant? — perguntou e, em seguida, imobilizou-se. — Acho que estou ouvindo o barulho de um jipe.
— Sim, mas vindo de uma direção inteiramente errada — respondeu-lhe, sombrio, Ritter.
Transpôs o parapeito com um salto e agachou-se ao lado de Hagl. Viu nesse momento um jipe fazer a volta pela esquina do bangalô de Joanna Grey. Uma bandeira adejava na ponta da antena do rádio. Havia um único ocupante no veículo, o homem que o dirigia. Ritter saltou do parapeito e ficou à espera, com as mãos nos quadris.
Shafto não se preocupara em pôr o capacete e usava ainda o boné de campanha. Tirou um charuto de um dos bolsos da camisa e mordeu-o entre os dentes, visando produzir um efeito puramente teatral. Demorou-se a acendê-lo, saltou finalmente do jipe e aproximou-se. Parou a ou metro ou dois de Ritter e ali permaneceu, de pernas abertas, olhando-o de alto a baixo. Ritter notou as insígnias na gola e fez-lhe uma continência formal: — Coronel.
Shafto retribuiu a continência. Lançou um olhar rápido às duas Cruzes de Ferro, à fita da Guerra de Inverno, ao distintivo em prata de ferimento em campanha, ao emblema de serviços distintos em batalhas terrestres, ao escudo de pára-quedista, e teve certeza de que o rapaz de rosto inocente à sua frente era um endurecido veterano.
— Então, chega de fingimento, não, Herr Oberleutnant? Onde está Steiner? Diga-lhe que o Coronel Robert E. Shafto, comandante da Vigésima Primeira Força de Assalto Especial, deseja falar com ele.
— Estou em comando aqui, Herr Oberst. O senhor terá que tratar comigo.
Os olhos de Shafto tocaram o parapeito, onde o cano da Bren se projetava do sangradouro de drenagem, voltaram-se para o prédio dos Correios e, em seguida, para o primeiro andar da Studley Arms, onde estavam abertas as janelas de dois dos quartos.
Polidamente, perguntou-lhe Ritter:
— Há mais alguma coisa, coronel, ou o senhor já viu o suficiente?
— O que foi que houve com Steiner? Fugiu, ou foi alguma outra coisa? — Ritter permaneceu calado e Shafto continuou: — Muito bem, filho, eu sei quantos homens você tem sob seu comando e se eu trouxer para aqui meus rapazes vocês não durarão dez minutos. Por que não se mostra prático e lança a toalha no ringue?
— Sinto muito — disse Ritter —, mas o fato é que saímos com. tanta pressa que me esqueci de colocar uma toalha em aninha maleta.
Shafto bateu a cinza do charuto.
— Dez minutos, isto é tudo que lhe darei. Em seguida, atacaremos.
— E eu lhe dou dois, coronel — respondeu Ritter —, para sair fora daqui antes que meus homens abram fogo.
Ouviu-se nesse momento um clique metálico do gatilho de uma arma. Shafto levantou os olhos para a janela e disse sombrio:
— Muito bem, filho, foi você mesmo quem pediu isso.
Lançou o charuto ao chão, pisou-o com toda a calma, voltou para o jipe e sentou-se ao volante. Afastando-se, apanhou o microfone do rádio de campanha:
— Aqui, Açúcar Um. Vinte segundos, e contando. Dezenove, dezoito, dezessete. . .
Passou pelo bangalô de Joanna Grey à contagem de doze e desapareceu na curva da estrada à contagem de dez.
Ela o observou da janela do quarto, virou-se e dirigiu-se o estádio. Abriu a porta secreta do cubículo no sótão e fechou-a a chave. Subiu, sentou-se em frente ao rádio, tirou a Luger da gaveta e colocou-a ao lado sobre a mesa, onde poderia apanhá-la com rapidez. Estranho, mas agora que a situação chegara àquele clímax, não sentia o menor medo. Apanhou uma garrafa de uísque e, quando se servia de uma grande dose, começou o tiroteio do lado de fora.
O jipe líder da seção de Shafto fez a curva da esquina com um rugido e entrou em campo aberto. Havia nele quatro homens. Os dois na traseira encontravam-se de pé, guarnecendo uma metralhadora Browning. No momento em que passaram em frente ao jardim do bangalô vizinho ao de Joanna Grey, Dinter e Berg levantaram-se juntos, Dinter segurando o cano da metralhadora Bren enquanto Berg a acionava. Uma longa e única rajada derrubou os dois homens que guarneciam a Browning. O jipe corcoveou para a margem da estrada e virou, imobilizando-se de rodas para cima em meio do riacho.
O jipe seguinte guinou loucamente, fazendo o motorista uma curva sobre a margem gramada que quase o lançou no riacho, como o outro. Berg virou o cano da Bren, continuando a atirar em rajadas curtas, derrubando a guarnição da metralhadora e estilhaçando o pára-brisa antes que o jipe corresse para a segurança de uma esquina.
Nos escombros de Stalingrado, Dinter e Berg haviam aprendido que a essência do sucesso em tais situações era acertar e cair fora, ligeiro. Enfiaram-se imediatamente pelo portão de ferro do muro e voltaram para o prédio dos Correios, usando como cobertura as cercas dos jardins dos fundos dos bangalôs.
Shafto, que presenciara toda a dèbâcle de uma elevação na estrada, rilhou os dentes de raiva. De súbito, havia-se tornado claro demais que Ritter lhe deixara ver exatamente o que quisera que ele visse.
— Ora, aquele safadinho estava me enganando — disse, baixinho.
O jipe que acabara de ser metralhado parou ao lado da estrada em frente ao número 3. O seu motorista tinha um grande corte na face. Um sargento chamado Thomas colocava uma atadura de campanha no ferimento.
— Pelo amor de Deus, sargento — berrou Shafto —, você está brincando de quê? Há uma metralhadora por trás do muro do jardim do segundo bangalô à frente. Vá com três homens a pé e acabe com eles.
Krukowski, que se encontrava atrás dele guarnecendo o telefone de campanha, contorceu-se todo. “Há cinco minutos, nós éramos treze. Agora somos nove. De que pensa ele que está brincando?”
Irrompeu um pesado tiroteio do outro lado da aldeia. Shafto ergueu o binóculo de campanha, mas pouco pôde ver, exceto o trecho da estrada que descrevia uma curva do outro lado da ponte e o telhado do moinho, erguendo-se depois das últimas casas. Estalou o dedo e Krukowski passou-lhe o telefone.
— Mallory, está me ouvindo?
No mesmo instante, Mallory respondeu: — Afirmativo, coronel.
— Que diabo está acontecendo aí? Eu estava esperando que, por esta altura, você já houvesse feito sua parte.
— Eles montaram uma forte posição no primeiro andar do moinho. Daí têm um campo de fogo danado de bom. Liquidaram o primeiro jipe, que está bloqueando a estrada agora. Já perdi quatro homens.
— Então, perca mais alguns — berrou Shafto ao telefone. — Entre no moinho, Mallory. Force-os pelo fogo a sair. Faça o que for preciso.
O fogo estava muito intenso nessa ocasião e Shafto tentou a outra seção.
— Está me ouvindo, Hustler?
— Coronel, aqui é Hustler. — A voz dele parecia muito débil.
— Eu esperava que você já estivesse na igreja, no alto daquela colina.
— O caminho tem sido duro, coronel. Começamos a atravessar os campos, como o senhor mandou, e ficamos atolados nas turfeiras. Estamos agora nos aproximando da extremidade sul de Hawks Wood.
— Bem, pelo amor de Deus, mande à frente o jipe líder! Devolveu o telefone a Krukowski:
— Jesus Cristo! — disse amargamente. — Não se pode confiar em ninguém. Quando chega o momento de fazer alguma coisa, se eu quiser que ela saia direito, tenho que fazê-la eu mesmo.
Deslizou pela margem até a valeta no momento em que voltavam o Sargento Thomas e os três homens que ele havia levado.
— Nada a comunicar, coronel.
— O que você quer dizer com esse “nada a comunicar”?
— Não há ninguém lá, senhor, apenas isto. — Thomas mostrou-lhe um punhado de cartuchos 0,303.
Shafto deu uma palmada violenta na mão do sargento, derramando os cartuchos pelo chão.
— Muito bem. Quero ambos os jipes na frente, dois homens em cada Browning. Quero aquela ponte lançando lascas. Quero que estabeleçam tal campo de fogo que nem mesmo uma folha de grama possa levantar-se.
— Mas, coronel. . . — começou Thomas.
— Leve quatro homens e comece a avançar a pé por trás dos bangalôs. Ataque pela retaguarda o prédio dos Correios, junto à ponte. Krukowski fica comigo. — Deu um murro violento no capô do jipe. — Agora, andem!
No moinho, Otto Brandt tinha sob seu comando o cabo Walther, Meyer e Riedel. Do ponto de vista defensivo, a posição era excelente: as antigas paredes de pedra tinham noventa centímetros de espessura e, embaixo, as portas de carvalho encontravam-se aferrolhadas e fechadas com barrotes. Era excelente o campo de fogo das janelas do primeiro andar e Brandt mandou instalar ali uma metralhadora Bren.
Embaixo, um jipe queimava sem parar, bloqueando a estrada. Havia ainda um homem dentro.dele e dois outros espichados numa valeta. Brandt se ocupava pessoalmente do jipe, sem dar sinal algum de sua presença, deixando que Mallory e seus homens entrassem rugindo. Somente no último momento lançara duas granadas pela janela do sótão. O efeito fora catastrófico. Detrás das cercas-vivas, mais além na estrada, os americanos faziam uma grande fuzilaria, mas com muito pouco efeito, em virtude das grossas paredes.
— Não sei quem está no comando ali embaixo, mas ele não conhece seu ofício — observou Walther enquanto recarregava seu M-l.
— Bem, o que você teria feito? — perguntou-lhe Brandt, apertando os olhos sobre o cano da Breu enquanto soltava uma curta rajada.
— Há o riacho ali, não? Não há janelas daquele lado. Deviam estar vindo pela retaguarda.
— Parem de atirar — disse Brandt, erguendo a mão.
— Por quê? — perguntou Walther.
— Porque eles vieram, ou será que você não viu?
Caiu um silêncio mortal e Brandt disse baixinho.
— Não tenho certeza se acredito realmente nisto, mas preparem-se.
Um momento depois, com um inspirador grito de guerra, Mallory e oito ou nove homens emergiram do abrigo e correram para a valeta seguinte, atirando do quadril. A despeito do fato de que estavam recebendo fogo de cobertura das Brownings dos dois jipes restantes, parados do outro lado da cerca-viva, aquilo foi um incrível ato de loucura.
— Meu Deus! — exclamou Brandt. — Onde é que eles pensam que estão? No Somme?
Disparou uma longa e quase preguiçosa rajada em Mallory e matou-o instantaneamente. Três mais caíram enquanto todos os alemães atiravam em uníssono. Um dos americanos levantou-se e voltou cambaleando para a segurança da primeira cerca, enquanto os sobreviventes se retiravam.
No silêncio que se seguiu, Brandt apanhou um cigarro.
— Com isso, são sete. Oito se contarmos aquele que conseguiu arrastar-se para trás.
— Loucura — comentou Walther. — Suicídio. Quero dizer, por que eles estão com tanta pressa? Só lhes resta esperar.
Kane e o Coronel Corcoran, sentados no jipe a duzentos metros do portão principal da Meltham House, olharam para o estilhaçado poste telefônico. -
— Meu Deus! — disse Corcoran. — Isso é realmente incrível. Em que estava ele pensando?
Kane poderia ter-lhe dito, mas conteve-se. Respondeu:
— Não sei, coronel. Talvez alguma idéia dele sobre segurança. Ele estava certamente ansioso por um pega com aqueles pára-quedistas.
Um jipe saiu nesse instante pelo portão e aproximou-se, com Garvey ao volante. No momento em que parou, ele tinha a fisionomia muito séria.
— Acabamos de receber uma mensagem na sala de rádio.
— De Shafto?
Garvey sacudiu a cabeça.
— Krukowski, logo de quem. Perguntou pelo senhor, major, pessoalmente. Está a maior confusão lá embaixo. Ele disse que a tropa entrou diretamente na boca do leão. Mortos por toda parte.
— E Shafto?
— Krukowski estava num estado de grande histeria. Continuava a dizer que o coronel estava agindo como um louco. Parte do que ele disse não fazia sentido.
“Deus todo poderoso, ele entrou ali de peito aberto com todos os pendões flutuando à brisa”, pensou Kane.
Voltou-se para Corcoran:
— Acho que devo ir para lá, coronel.
— Também acho — respondeu Corcoran. — Naturalmente, o senhor dará a devida proteção ao primeiro-ministro.
Kane virou-se para Garvey:
— O que sobrou na garagem?
— Um carro-patrulha White e três jipes.
— Muito bem. Vamos levá-los, juntamente com um destacamento de vinte homens. Por favor, prepare-se para sair dentro de cinco minutos, sargento.
Garvey virou o jipe numa curva fechada e afastou-se em grande velocidade.
— Com isso sobram vinte e cinco, senhor — disse Kane a Corcoran. — Esse número será suficiente?
— Vinte e seis comigo — respondeu Corcoran. — Perfeitamente adequado, especialmente porque eu, claro, assumirei o comando. Já é tempo de que alguém endireite vocês coloniais.
— Eu sei, senhor — replicou Harvey Kane, ligando o motor. — Nada, senão uma massa de complexos desde Bunker Hill. — Engatou a marcha e partiu.
Dezoito
A aldeia estava ainda a uns bons dois quilômetros e meio de distância quando Steiner ouviu pela primeira vez o persistente zumbido eletrônico do telefone de campanha Grauman. Havia alguém no canal, mas longe demais para ser compreendido. .
— Pé na tábua — disse a Klugl. — Há algo de errado.
A mil e quinhentos metros de distância, o crepitar de armas de pequeno porte confirmou-lhe os piores receios. Engatilhou a submetralhadora Sten e ergueu os olhos para Werner.
— Prepare-se para usar essa coisa. Você talvez tenha que fazê-lo.
Klugl exigiu o máximo do jipe, pisando no acelerador até o fundo. .
— Vamos, diabos o levem! Vamos! — exclamou Steiner.
O Grauman deixara de zumbir e, ao se aproximarem da aldeia, tentou um contato telefônico.
— Águia Um. Responda, Águia Dois.
Não houve resposta. Tentou mais uma vez, sem maior êxito.
— Talvez estejam ocupados demais, Herr Oberst — disse Klugl.
Um momento depois chegaram à altura de Garrowby Heath, a uns trezentos metros a oeste da igreja, no alto da colina, e todo o panorama descortinou-se a seus pés. Steiner ergueu o binóculo de campanha, abarcando o moinho e o destacamento de Mallory no campo, do outro lado. Continuou a andar e notou os rangers atrás das cercas-vivas dos fundos do prédio dos Correios, a Studley Arms e Ritter, com o jovem Hagl ao lado, imobilizados por trás da ponte pesada concentração de fogo de metralhadora das duas Brownings montadas nos dois jipes que restavam a Shafto. Um deles estava parado ao lado do muro do jardim de Joanna Grey, de onde a guarnição podia atirar e, ainda assim, permanecer bem protegida. O outro jipe empregava a mesma técnica por trás do muro do bangalô vizinho. Steiner tentou outra vez o Grauman:
— Aqui, Águia Um. Está me ouvindo?
No primeiro andar do moinho, sua voz estalou no ouvido de Riedel, que acabara de ligar o aparelho durante um intervalo na luta.
— É o coronel — gritou ele para Brandt, e disse, ao aparelho: — Aqui, Águia Três, no moinho. Onde está você?
— Na colina, acima da igreja — respondeu Steiner. — Qual é a sua situação?
Diversas balas passaram pela janela e ricochetearam da parede.
— Dê-me o telefone! — disse Brandt de sua posição estirada no chão, por trás da Bren.
— Ele está na colina — disse Riedel. — Pode-se confiar em que Steiner apareça para nos tirar dessa merda. —Rastejou pelo chão até a porta da palheira sobre a d’água e abriu-a com um pontapé.
— Volte aqui — berrou Brandt.
Riedel agachou-se para olhar para fora. Riu excitado e ergueu o Grauman à boca.
— Posso vê-lo, Herr Oberst, nós. . .
Nesse momento, uma pesada rajada de fogo automático estrugiu do lado de fora e sangue e massa cerebral borrifaram a parede quando a parte posterior do crânio de Riedel se desintegrou e ele mergulhou de cabeça para fora, agarrado ao telefone de campanha.
Brandt lançou-se pelo cômodo e olhou pela borda. Riedel caíra em cima da roda d’água. Ela continuou a girar, arrastando-o, e mergulhou nas águas borbulhantes. Quando subiu outra vez, ele havia desaparecido.
No alto da colina, Werner deu uma palmadinha no ombro de Steiner.
— Ali embaixo, Herr Oberst, no bosque à direita. Soldados. !
Steiner virou o binóculo de campanha. Com a vantagem da altura que lhe dava a colina, era-lhe possível ver, ainda que mal, uma única seção da trilha rebaixada que passava por Hawks Wood, mais ou menos a meio caminho. O Sargento Hustler e seus homens atravessavam-na nesse momento.
Steiner tomou uma decisão e agiu baseado nela:
— Isso significa que somos mais uma vez Fallschirmjäger, rapazes.
Lançou longe a boina vermelha, desabotoou o cinto de lona com o coldre da Browning e tirou a jaqueta de pára-quedista. Por baixo, usava a sua Fliegerbluse e a Cruz de Cavaleiro, com Folhas de Carvalho, à garganta. Tirou o Schiff do bolso e. enfiou-o na cabeça. Klugl e Werner seguiram-lhe o exemplo.
— Muito bem, rapazes, vamos agora para nossa viagem educativa — disse Steiner. — Direto pela trilha através do bosque à ponte de pedestres para algumas palavras com aqueles jipes. Acho que você pode consegui-lo, Klugl, se for bastante ligeiro; em seguida, vamos até o Oberleutnant Neumann. — Ergueu os olhos para Werner. — E não pare de atirar. Por nada neste mundo.
O jipe fazia oitenta por hora quando eles desceram o trecho final na direção da igreja. O Cabo Becker encontrava-se no terraço. Agachou-se, alarmado. Steiner fez-lhe um gesto com a mão, Klugl girou o volante e virou o jipe para a trilha de Hawks Wood.
Sacolejaram sobre um pequeno calombo, fizeram uma curva em grande velocidade e logo caíram sobre Hustler e seus homens, a não mais de vinte metros, dispostos de cada lado da trilha. Werner começou a atirar à queima-roupa, não lhe sobrando mais do que alguns segundos para apontar, pois logo depois o jipe estava no meio dos soldados inimigos. Homens saltaram como loucos para salvar a vida, tentando galgar as margens íngremes. Uma das rodas dianteiras corcoveou sobre um corpo e eles passaram, deixando atrás, mortos, o Sargento Hustler e sete soldados.
O jipe emergiu como um raio ao fim da trilha. Klugl continuou em linha reta para a frente, da forma ordenada, diretamente para a ponte de pedestres que cruzava o riacho, quebrando, como se fossem palitos de fósforos, o rústico corrimão de madeira e subindo a margem até a estrada, com as quatro rodas no ar ao transpor a elevação.
Os dois homens que guarneciam a metralhadora do jipe que se abrigava por trás do muro do jardim de Joanna Grey, viraram frenéticos a Browning, mas tarde demais. Werner varreu o muro com uma rajada demorada que os derrubou.
O fato de terem morrido, porém, deu à guarnição do segundo jipe, estacionado ao lado do muro seguinte, dois ou três preciosos segundos para reagir — segundos que significavam a diferença entre a vida e a morte. Giraram a Browning e já estavam atirando no momento em que Klugl deu uma guinada ao volante e recuou para a ponte.
Chegara; a vez dos rangers. Werner disparou uma rápida rajada enquanto passavam como um raio, atingindo um dos atiradores, mas o outro continuou a atirar, despejando balas no jipe alemão, estilhaçando-lhe o pára-brisas. Klugl soltou um inesperado e agudo grito e caiu para a frente sobre o volante. O jipe derrapou loucamente e chocou-se contra o parapeito numa das extremidades da ponte. Pareceu permanecer suspenso ali por um momento e, em seguida, inclinou-se devagar sobre um dos lados.
Werner curvou-se sobre Klugl, estirado à sombra do jipe. Sangue escorria da face de Werner, dos lugares onde fora cortado pelos estilhaços de vidro. Ergueu os olhos para Steiner:
— Ele está morto, Herr Oberst — disse, e seus olhos brilharam, insanos.
Estendeu a mão para uma submetralhadora Sten e começou a levantar-se. Steiner puxou-o para baixo.
— Controle-se, rapaz. Ele está morto, mas você está vivo.
Embotado, Werner inclinou a cabeça.
— Sim, Herr Oberst.
— Agora, ponha em posição essa Browning e conserve ocupados aqueles caras ali.
No momento em que Steiner se virava, Ritter Neumann rastejou de detrás. do parapeito, trazendo uma metralhadora Bren.
— O senhor, certamente, fez uma confusão dos diabos ali.
— Havia uma seção movendo-se pelo bosque na direção da igreja — disse Steiner. — Nós tampouco fomos bonzinhos com eles. O que me diz de Hagl?
— Liquidado, sinto muito. — Neumann indicou com a cabeça uma seção do parapeito, de onde se projetavam as botas de Hagl.
Werner havia instalado a Browning ao lado do jipe e começava a atirar em rajadas curtas.
— Muito bem, Herr Oberleutnant — disse Steiner. — O que exatamente tem em mente?
— Deve escurecer dentro de uma hora — respondeu Ritter. — Pensei que talvez pudéssemos agüentar até lá e, em seguida, esgueirarmo-nos em grupos de dois e três. Poderíamos ficar escondidos no pântano de Hobs End sob a proteção da noite. E ainda conseguir chegar ao barco, se Koenig aparecer da forma combinada. Afinal de contas, nós, agora, jamais chegaremos perto do velho. — Hesitou e acrescentou, algo desajeitado: — Isso nos dá uma espécie de chance.
— A única — concordou Steiner. — Mas não aqui. Acho que é tempo de nos reagruparmos outra vez. Onde está o resto do pessoal?
Ritter fez-lhe um rápido resumo da situação geral. Quando terminou, Steiner inclinou a cabeça:
— Consegui entrar em contato com eles no moinho a caminho daqui. Ouvi Riedel no telefone e um bocado de fogo de metralhadora. Procure Altmann e seus rapazes e eu vou ver se consigo chegar até Brandt.
Werner deu a Ritter fogo de cobertura quando o Oberleutnant atravessou correndo a estrada. Steiner tentou chamar Brandt ao Grauman. Não teve sucesso e, no momento em que Neumann apareceu à porta do prédio dos Correios em companhia de Altmann, Dinter e Berg, o fogo recomeçou pesado perto do moinho. Agacharam-se todos por trás do parapeito.
— Não posso entrar em contato com Brandt — disse Steiner. — Só Deus sabe o que está acontecendo. Quero que vocês tentem chegar à igreja. Terão boa cobertura durante a maior parte do caminho se permanecerem junto à cerca. Você está no comando, Ritter.
— E o senhor?
— Eu os conservarei ocupados durante, algum tempo com esta Browning e, em seguida, irei para junto de vocês.
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