Jogos Vorazes


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Jogos Vorazes - Suzanne Collins (2)

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1
Quando eu acordo, o outro lado da cam a está frio. Meus dedos se esticam , procurando o calor
de Prim  m as encontrando apenas a áspera lona que cobre o colchão. Ela deve ter tido sonhos
ruins e subido com  a nossa m ãe. É claro que ela subiu. Esse é o dia da colheita.
Eu m e apoio em  um  cotovelo. Há luz bastante no quarto para vê-las. Minha irm ã pequena,
Prim , enroscada do seu lado, em brulhada no corpo da m inha m ãe, suas bochechas
pressionadas j untas. No sono, m inha m ãe parece m ais j ovem , ainda que cansada m as não
deprim ida. A face de Prim  é fresca com o um a gota de chuva, tão linda quanto a prím ula cuj o
nom e a ela foi dado. Minha m ãe era m uito bonita antigam ente, tam bém . Ou assim  m e dizem .
Sentada aos j oelhos de Prim , guardando-a, está o gato m ais feio do m undo. Nariz am assado,
m etade de um a orelha faltando, olhos cor de suco apodrecido. Prim  o nom eou Buttercup,
insistindo que a pele am arela lam acenta dele com binava com  um a flor brilhante. Ele m e
odeia.
Ou ao m enos desconfia de m im . Mesm o que tenha sido há anos, eu acho que ele ainda se
lem bra de com o eu tentei afogá-lo em  um  balde quando Prim  o trouxe para casa. Gatinho
m agro, barriga inchada de lom brigas, rastej ando com  pulgas. A últim a coisa que eu precisava
era outra boca para alim entar. Mas Prim  im plorou tanto, chorou até, que eu tive de deixá-lo
ficar. Ficou ok. Minha m ãe se livrou dos insetos e ele tornou-se um  caçador de ratos. Ainda
pega um  rato ocasional. Às vezes, quando eu lim po um a caça, eu alim ento as entranhas de
Buttercup.
Entranhas. Sem  vaia. Esse é o m ais próxim o do que nós nunca chegarem os ao am or.
Eu balanço m inhas pernas para fora da cam a e deslizo dentro das m inhas botas de caça. Couro
flexível que foi m oldado para o m eu pé. Eu coloquei m inhas calças, a cam isa, enrolei m inha
longa trança escura dentro de um  boné, e agarrei m eu saco de forragem . Na m esa, em  um a
tigela de m adeira para protegê-lo de ratos e gatos, está um  perfeito queij inho envolto em
folhas de m anj ericão. O presente de Prim  para m im  no dia da colheita. Eu coloco o queij o
cuidadosam ente no m eu bolso e deslizo pra fora.
Nossa parte do Distrito 12, apelidado de Seam , está usualm ente rastej ando com  m ineiros de
carvão dirigindo-se para o turno da m anhã nesta hora. Hom ens e m ulheres com  os om bros
curvados, j untas inchadas, m uitos dos que deixaram  há m uito tem po de tentar esfregar o pó de
carvão de suas unhas quebradas, as linhas de suas faces afundadas. Mas hoj e as ruas de cinza
negra estão vazias. Persianas na toca das casas cinza estão fechadas. A colheita não é até as
duas. Pode tam bém  dorm ir dentro. Se você puder.
Nossa casa é quase no lim ite do Seam . Eu só tenho que passar uns poucos portões para chegar
ao cam po im undo cham ado de Meadow. Separando Meadow da floresta, de fato fechando
todo o Distrito 12, está um a alta cerca de aram e com  voltas de aram e-farpado no topo. Na


teoria, é supostam ente para estar eletrificada vinte e quatro horas por dia com o um  dissuasor
para predadores que vivem  na floresta – bando de cães selvagem , pum as solitários, ursos –
que costum avam  am eaçar nossas ruas. Mas desde que nós som os sortudos pra conseguir duas
ou três horas de eletricidade nas noites, é geralm ente seguro tocar. Mesm o assim , eu sem pre
tiro um  m om ento para escutar cuidadosam ente um  zum bido que significa que a cerca está
viva. Nesse m om ento, está silenciosa com o um a pedra. Escondida por um a m assa de arbustos,
eu deito sobre m inha barriga e deslizo sob um  trecho de 60 cm  que estava frouxo por anos.
Existiam  alguns outros pontos fracos na cerca, m as esse era tão perto de casa que eu quase
sem pre entro na floresta por aqui.
Tão logo eu estou nas árvores, eu encontro um  arco e um a bainha de flechas em  um  tronco
oco. Eletrificada ou não, a cerca tinha sucesso em  afastar os com edores de carne do Distrito
12. Dentro da floresta eles vagam  livrem ente, e há preocupações adicionais com o cobras
venenosas, anim ais violentos, e nenhum  cam inho real para seguir. Mas há tam bém  com ida se
você sabe com o encontrá-la. Meu pai sabia e m e ensinou algo antes dele ser explodido em
pedaços em  um a detonação na m ina. Não existia nada nem  para enterrar. Eu tinha onze anos
então. Cinco anos depois, eu ainda acordo gritando para ele correr.
Em bora passar os lim ites para a floresta sej a ilegal e caça furtiva exerce as m ais severas das
punições, m ais pessoas se arriscariam  se tivessem  arm as. Mas a m aioria não é destem ida o
bastante para se aventurar com  apenas um a faca. Meu arco era um a raridade, feito pelo m eu
pai, j unto com  uns poucos outros que eu m antenho escondidos na floresta, cuidadosam ente
envoltos em  capas im perm eáveis. Meu pai podia ter feito um  bom  dinheiro vendendo-os, m as
se os oficiais descobrissem  ele seria publicam ente executado por incitar um a rebelião. A
m aioria dos Pacifistas cobre os olhos para os poucos de nós que caçam  porque eles estão tão
fam intos por com ida fresca quanto todo m undo está. Na verdade, eles estão entre os m elhores
clientes. Mas a idéia de que alguém  possa andar arm ado em  Seam  nunca seria perm itida.
No outono, um as poucas bravas alm as enfiam -se na floresta para colher m açãs. Mas sem pre
na vista do Meadow. Sem pre perto o bastante para correr de volta à segurança do Distrito 12
se problem as chegassem . “Distrito Doze. Onde você pode m orrer de fom e em  segurança,” eu
m urm uro. Então eu olho rapidam ente por sobre m eu om bro. Mesm o aqui, m esm o no m eio do
nada, você se preocupa que alguém  tenha de escutado.
Quando eu era m ais j ovem , eu assustei m inha m ãe até a m orte, as coisas que eu exclam aria
sobre o Distrito 12, sobre as pessoas que regram  nosso país, Panem , de um a cidade distante
cham ada de Capitol. Eventualm ente eu entendi que isso iria apenas nos trazer m ais problem as.
Então eu aprendi a segurar m inha língua e m udar m inhas feições para um a m áscara de
indiferença para que ninguém  pudesse j am ais ler m eus pensam entos. Faço m eu trabalho
silenciosam ente na escola. Tenho apenas pequenas conversas polidas no m ercado público.
Discuto um  pouco m ais que negócios no Hob, que é um  m ercado negro onde eu faço a m aior


parte do m eu dinheiro. Até em  casa, onde eu sou m esm o agradável, fuj o de discussões sobre
assuntos enganadores. Com o a colheita, ou a carência de com ida, ou os Hunger Gam es.
Prim  podia com eçar a repetir m inhas palavras e então onde nós estaríam os?
Na floresta espero a única pessoa com  quem  eu posso ser eu m esm a. Gale. Eu posso sentir os
m úsculos do m eu rosto relaxando, m eu passo apressando enquanto eu subia as colinas para o
nosso lugar, um a orla de pedra com  vista para o vale. A visão dele m e esperando lá m e trouxe
um  sorriso. Gale diz que eu nunca sorrio exceto na floresta.
“Hey , Catnip,” diz Gale. Meu nom e real é Katniss, m as quando eu disse para ele pela prim eira
vez, eu m al tinha sussurrado. Assim  ele pensou que eu tinha dito Catnip. Então quando esse
lince louco com eçou a m e seguir nos arredores da floresta procurando esm olas, tornou-se o
apelido oficial dele para m im . Eu finalm ente tive de m atar o lince porque ele assustou a caça.
Eu quase m e arrependi porque ele não era m á com panhia. Mas eu consegui um  preço decente
pelo seu couro.
“Olhe o que eu peguei,” Gale segura um  pedaço de pão com  um a flecha o atravessando, e eu
rio. Era um  pão de padaria de verdade, não o plano e estúpido pão de form a que nós fazem os
das nossas rações de grãos. Eu o pego em  m inha m ão, retiro a flecha, e o seguro perto do m eu
nariz, inalando a fragrância que faz m inha boca encher de saliva. Pão ótim o com o esse é para
ocasiões especiais.
“Mm , ainda quente,” eu digo. Ele deve ter estado na padaria de m adrugada para consegui-lo.
“Quanto te custou?”
“Só um  esquilo. Acho que o velho estava se sentindo sentim ental essa m anhã,” diz Gale. “Até
m e desej ou sorte.”
“Bem , nós todos nos sentim os m ais próxim os hoj e, não?” Eu disse, nem  sequer m e im portando
de girar m eus olhos. “Prim  nos deixou um  queij o.” Eu o puxei.
Sua expressão de ilum inou de prazer. “Obrigado, Prim . Nós terem os um a festa de verdade.”
De repente ele cai no sotaque de Capitol, enquanto im ita Effie Trinket, a m ulher loucam ente
alegre que chega um a vez ao ano para ler os nom es no pódio. “Eu quase esqueci! Feliz Hunger
Gam es!” Ele arranca algum as am oras silvestres dos arbustos que nos rodeia. “E que as
chances
–” Ele lança um a uva em  um  alto arco na m inha direção. Eu a peguei com  a m inha boca e
quebrei a pele delicada com  os m eus dentes. A aspereza doce explode pela m inha boca. “–
estej a sem pre em  seu favor!” Eu term inei com  igual entusiasm o. Nós tem os que brincar sobre
isso porque a alternativa é ficar assustado fora de seu j uízo. Além  disso, o sotaque de Capitol é


tão fingido, quase qualquer coisa soa divertida nele.
Eu assisto enquanto Gale tira sua faca e corta o pão. Ele podia ser m eu irm ão. Cabelo escuro
liso, pele cor de oliva, nós até tem os os m esm os olhos cinzentos. Mas não som os parentes, pelo
m enos não próxim os. Maior parte das fam ílias que trabalham  nas m inas se assem elham  dessa
form a. É por isso que m inha m ãe e Prim , com  seus cabelos claros e olhos azuis, sem pre
parecem  fora de lugar. Eles estão. Os pais da m inha m ãe são parte de um a pequena classe de
com erciantes que fornecem  para os oficiais, Pacifistas, e o ocasional cliente de Seam . Eles
adm inistram  um a loj a farm acista na parte m ais legal do Distrito 12. Um a vez que ninguém
pode se dar ao luxo de m édicos, boticários são nossos rem édios. Meu pai conheceu m inha m ãe
porque num a caçada ele iria de vez em  quando coletar ervas m edicinais e vendê-las na loj a
dela para m isturá-las em  rem édios. Ela deve ter realm ente o am ado para deixar a casa dela
para o Seam . Eu tento lem brar isso quando tudo o que eu posso ver é um a m ulher que se senta,
vazia e inatingível, enquanto suas crianças ficam  só pele e ossos. Eu tento perdoá-la pelo m eu
pai. Mas para ser honesta, eu não sou do tipo que perdoa.
Gale arrum a as fatias de pão com  o queij o m acio, cuidadosam ente colocando as folhas de
m anj ericão em  cada enquanto eu esvazio os arbustos de suas uvas. Nós ficam os atrás em  um
esconderij o nas rochas. Desse lugar, nós som os invisíveis m as tem os um a clara visão do vale,
que está transbordando com  vida de verão, verduras para recolher, raízes para escavar,
pescado iridescente na luz do sol. O dia é glorioso, com  um  céu azul e brisa suave. A com ida
está um a m aravilha, com  o queij o gotej ando dentro do pão quente e as uvas estourando em
nossas bocas. Tudo seria perfeito se isso fosse realm ente um  feriado, se todo o dia fosse vagar
nas m ontanhas com  Gale, caçando pela ceia da noite. Mas em  vez disso nos tem os de ficar de
pé na praça às duas horas esperando pelos nom es que são cham ados.
“Nós poderíam os fazer, sabe,” Gale diz quietam ente.
“O quê?” Eu pergunto.
“Deixar o distrito. Fugir. Viver na floresta. Você e eu, nós podem os fazer,” diz Gale.
Eu não sei com o responder. A idéia é tão ridícula.
“Se nós não tivéssem os tantas crianças,” ele acrescenta quietam ente.
Eles não são nossos filhos, é claro. Mas eles poderiam  ser. Os dois irm ãos pequenos e irm ã de
Gale. Prim . E você pode tam bém  acrescentar nossas m ães, tam bém , porque com o elas
viveriam  sem  nós? Quem  saciaria aquelas bocas que estão sem pre pedindo por m ais? Com
am bos caçando diariam ente, ainda há noites que a caça tem  que ser trocada por banha de
porco ou cordões de sapatos ou m adeira, ainda tem  noite em  que nós vam os para cam a com
nossos estôm agos roncando.
“Eu nunca quero ter filhos,” eu digo.


“Eu poderia. Se eu não vivesse aqui,” diz Gale.
“Mas você vive,” eu digo, irritada.
“Esqueça,” ele rebate de volta.
A conversa ficou toda errada. Partir? Com o eu poderia deixar Prim , que é a única pessoa no
m undo que eu certam ente am o? E Gale é devotado a sua fam ília. Nós não podem os partir,
então por que nós estam os falando sobre isso? E m esm o se nós pudéssem os... m esm o se
pudéssem os... de onde essa coisa de ter filhos veio? Nunca teve nada rom ântico entre Gale e
eu. Quando nós nos conhecem os, eu era um a m agrela de doze anos, e em bora ele sej a apenas
dois anos m ais velho, ele j á parecia um  hom em . Levou um  longo tem po pra nós m esm o
tornássem os am igos, para parar de discutir sobre todo negócio e com eçar a aj udar um  ao
outro.
Além  disso, se ele quer filhos, Gale não terá problem as em  encontrar um a esposa. Ele é
bonito, forte o bastante para lidar com  o trabalho das m inas, e ele pode caçar. Você pode dizer
pela form a que as garotas cochicham  sobre ele quando ele passa na escola que o querem .
Deixa-m e com  ciúm es, m as não pela razão que as pessoas pensariam . Com panheiros
caçadores bons são difíceis de encontrar.
“O que você quer fazer?” eu pergunto. Nós podem os caçar, pescar, ou colher.
“Vam os pescar no lago. Nós podem os deixar nossas varas e colher na floresta. Consiga
algum a coisa legal para essa noite,” ele diz.
Hoj e à noite. Depois da colheita, todos são supostos a com em orar. E m uitas pessoas fazem , de
alívio que seus filhos foram  poupados por m ais um  ano. Mas no m ínim o duas fam ílias vão
fechar suas persianas, trancar suas portas, e tentar im aginar se eles sobreviverão às dolorosas
sem anas que virão.
Nós fazem os bem . Os predadores nos ignoram  em  dias quando há abundância de presas m ais
saborosas e fáceis. Ao final da m anhã, nós tem os um a dúzia de peixes, um  saco de verduras e,
o m elhor de tudo, um  galão de m orangos. Eu achei o rem endo há poucos anos atrás, m as Gale
teve a idéia de am arrar a rede de m alha ao redor dele para afastar os anim ais.
No cam inho de casa, nós viram os para o Hob, o m ercado negro que opera em  um  depósito
abandonado que um a vez guardou carvão. Quando vieram  com  um  sistem a m ais eficiente que
transportava o carvão diretam ente das m inas para os trens, o Hob gradativam ente tom ou o
lugar. A m aioria dos negócios estão fechados a essa hora no dia da colheita, m as o m ercado
negro ainda está claram ente ocupado. Nós facilm ente negociam os seis dos peixes por bom
pão, os outros dois por sal. Greasy  Sae, a velha ossuda que vende tigelas de sopa quente de
um a larga caldeira, tom a m etade das verduras das nossas m ãos em  troca de um  par de
pedaços de parafina. Nós podem os fazer um  pouquinho m elhor em  outro lugar, m as nós nos


esforçam os em  continuar em  boas relações com  Greasy  Sae. Ela é a única que se pode
sem pre contar para com prar um  cão selvagem . Nós não os caçam os de propósito, m as se
você é atacada e arranj a um  cão ou dois, bem , com ida é com ida. “Um a vez na sopa, eu
poderei cham á-lo de bife,” Greasy  Sae diz com  um a piscadela. Ninguém  em  Seam  iria virar o
nariz para um a boa perna de cão selvagem , m as o Pacifistas que vem  para o Hob podem  se
dar ao luxo de ser um  pouco seletivo.
Quando nós term inam os nossos negócios no m ercado, vam os para porta dos fundos da casa do
prefeito para vender m etade dos m orangos, sabendo que ele tem  um a particular afeição por
eles e pode bancar nosso preço. A filha do prefeito, Madge, abre a porta. Ela está no m eu ano
na escola. Sendo filha do prefeito, você esperaria que fosse um a esnobe, m as ela é toda direita.
Ela só se guarda a si m esm a. Com o eu. Desde que nenhum a de nós realm ente tem  um  grupo
de am igos, nós parecem os term inar j untas m uito na escola. Com endo o lanche, sentando perto
um a da outra nas reuniões, fazendo parcerias em  atividades esportivas.
Raram ente conversam os, o que satisfaz a am bas.
Hoj e a sua m onótona veste escolar tem  sido substituída por um  caro vestido branco, e seu
cabelo loiro está preso com  um a fita rosa. Roupas da colheita.
“Bonito vestido,” diz Gale.
Madge lança a ele um  olhar, tentando ver se é um  elogio genuíno ou se ele está apenas
tentando ser irônico. Era um  vestido bonito, m as ela nunca o usaria de m aneira ordinária. Ela
pressiona seus lábios j untos e então sorri. “Bem , se eu term inar indo ao Capitol, quero parecer
legal, não?”
Agora é a vez de Gale ficar confuso. O que ela quer dizer? Ou ela está brincando com  ele? Eu
acho que é o segundo.
“Você não vai para o Capitol,” diz Gale friam ente. Seus olhos chegam  num  pequeno alfinete
circular que enfeita o vestido dela. Ouro de verdade. Belam ente feito. Podia m anter um a
fam ília com  pães por m eses. “O que você pode ter? Cinco entradas? Eu tive seis quando eu
tinha apenas doze anos de idade.”
“Não é culpa dela,” eu digo.
“Não, não é culpa de ninguém . Só é assim ,” diz Gale. O rosto de Madge fica fechado. Ela
coloca o dinheiro pelas uvas na m inha m ão. “Boa sorte, Katniss.”
“Você tam bém ,” eu digo, e a porta se fecha.
Nós andam os em  direção a Seam  em  silêncio. Eu não gosto que Gale zom be de Madge, m as
ele está certo, é claro. O sistem a da colheita é inj usto, com  os pobres conseguindo o pior. Você
se torna elegível para a colheita no dia que com pleta doze anos. Nesse ano, seu nom e entra


um a vez. Aos treze, duas vezes. E assim  por diante até com pletar dezoito, o últim o ano de
elegibilidade, quando seu nom e vai para a piscina sete vezes.
Isso é certo para todo cidadão dentro de todos os doze distritos do país de Panem  inteiro.
Mas há um  truque. Diga que você é pobre e está fam into com o nós estam os. Você pode optar
por adicionar seu nom e m ais vezes em  troca de tessera. Cada tessera vale um  ano de um
m agro suprim ento de grãos e óleo para um a pessoa. Você pode fazer isso para cada m em bro
da sua fam ília tam bém . Assim , aos doze anos, eu tive m eu nom e anotado quatro vezes. Um a
vez, porque eu tive de fazer, e três vezes pelo tesserae para grãos e óleo para eu m esm a, Prim ,
e m inha m ãe. Na verdade, todos os anos eu tenho que fazer isso. E as entradas são
cum ulativas. Então agora, aos dezesseis anos, m eu nom e estará na colheita vinte vezes. Gale,
que está com  dezoito anos e tem  sozinho aj udado e alim entando um a fam ília de cinco a sete
anos, terá seu nom e em  quarenta e duas vezes.
Você pode ver porque alguém  com o Madge, que nunca esteve no risco de precisar de tessera,
pode tirá-lo de si. A chance do nom e dela ser puxado é m uito pequena com parada àqueles de
nós que vivem  em  Seam . Não im possível, m as pequena. E em bora as regras tenham  sido
m ontadas em  Capitol, não nos distritos, certam ente não pela fam ília de Madge, é difícil não se
ressentir daqueles que não tem  que registrar pelo tesserae.
Gale sabe que a sua raiva de Madge é equivocada. Em  outro dia, fundo dentro da floresta, eu o
escutei falar alto sobre o tesserae ser apenas outra ferram enta para causar m iséria no nosso
distrito. Um  form a de plantar ódio entre os trabalhadores fam intos de Seam  e aquele que
geralm ente podem  contar com  a ceia e, assim , garantir que nunca confiarão um  no outro. “É
para um a vantagem  para o Capitol ter-nos divididos entre nós m esm os,” ele podia falar se não
havia nenhum  ouvido para escutar exceto os m eus. Se não fosse o dia da colheita. Se um a
garota com  um  alfinete de ouro e nenhum  tesserae não tivesse feito o que eu tenho certeza que
ela pensou ser um  com entário inofensivo.
Enquanto cam inham os, eu fito o rosto de Gale, ainda ardendo sob sua expressão pétrea. Sua
raiva parece inútil para m im , em bora eu nunca dissesse isso. Não é que eu não concordava
com  ele. Eu concordo. Mas que bom  é gritar sobre o Capitol no m eu da floresta? Não m uda
nada. Não faz as coisas j ustas. Não sacia nossos estôm agos. Na verdade, espanta a caça m ais
próxim a. Eu o deixo gritar, entretanto. Melhor ele fazer isso na floresta que no distrito.
Gale e eu dividim os nosso saque, deixando dois peixes, um  par de pães bons, verduras, um
quarto de galão de m orangos, sal, parafina, e um  pouco de dinheiro para cada um .
“Te vej o na praça,” eu digo.
“Use algo bonito,” ele diz sem  rodeios.
Em  casa, eu encontro m inha m ãe e irm ã prontas para ir. Minha m ãe usa um  vestido fino dos


seus dias de farm acista. Prim  está com  m eus traj es da m inha prim eira colheita, um a saia e
um a blusa franzida. Está um  pouco grande nela, m as m inha m ãe o fixou com  alfinetes.
Mesm o assim , ela está tendo trabalho para m anter a blusa dobrada nas costas.
Um a banheira de água quente m e espera. Eu esfrego a suj eira e o suor da floresta e ainda lavo
o m eu cabelo. Para m inha surpresa, m inha m ãe estendeu para m im  um  de seus belos vestidos.
Um a coisa azul e m acia com  sapatos com binando.
“Você tem  certeza?” Eu pergunto. Estou tentando passar a rej eitar as ofertas de aj uda ela. Por
um  tem po, eu estava tão furiosa que não perm itiria que ela fizesse qualquer coisa por m im . E
isso era algo especial. As roupas dela do seu passado eram  m uito especiais para ela.
“Claro. Deixa eu puxar esse cabelo para cim a, tam bém ,” ela diz. Eu a deixo secá-lo e fazer
um a trança na m inha cabeça. Dificilm ente posso m e reconhecer no espelho rachado apoiado
na parede.
“Você parece bonita,” diz Prim  num a voz quieta.
“E nada com o eu m esm a,” eu falo. Abraço-a, porque eu sei que essas próxim as horas serão
terríveis para ela. Sua prim eira colheita. Ela está tão segura quanto poderia ficar, desde que ela
entrou apenas um a vez. Eu não a deixaria arranj ar nenhum  tesserae. Mas ela está preocupada
com igo. Que o im pensável pode acontecer. Eu protej o Prim  de toda m aneira que eu posso,
m as sou im potente contra a colheita. A angústia que eu sem pre sinto quando ela está com  dor
brota em  m eu peito e am eaça aparecer no m eu rosto. Eu noto que a blusa dela está puxada
para fora da saia nas costas de novo, e m e forço a ficar calm a. “Olhe seu traseiro, patinha,”
digo, alisando a blusa de volta ao lugar.
Prim  ri e m e dá um  pequeno “Quack.”
“Quack você,” eu falo com  um  ligeiro sorriso. Do tipo que apenas Prim  consegue tirar de
m im .
“Venha, vam os com er,” digo e dou um  rápido beij o no topo de sua cabeça.
O peixe e as verduras j á estão sendo cozidas na sopa, m as aquilo será para a ceia. Nós
decidim os guardar os m orangos e pão de padaria para a refeição da noite, para fazê-lo
especial, nós dissem os. Em  vez disso tom am os leite da cabra de Prim , Lady , e com em os o pão
duro feito de grãos de tessera, em bora ninguém  tenha m uito apetite de qualquer m odo.
A um a hora, nos dirigim os à praça. Com parecer é obrigatório a não ser que estej a com  o pé
na cova. Esta noite, oficiais irão ao redor checar se esse é o caso. Se não, você será preso.
Mas hoj e, apesar das bandeiras brilhantes penduradas nas construções, há um  ar de crueldade.


O grupo de câm eras, em poleiradas com o urubus nos telhados, só contribui nesse efeito.
Pessoas andam  em  fila silenciosam ente e assinam . A colheita é um a boa oportunidade para o
Capitol de m anter etiquetas na população tam bém . Os de doze aos dezoito anos são unidos
dentro de áreas m arcadas por cordas pela idade, os m ais velhos na frente, os m ais novos,
com o Prim , lá trás. Mem bros da fam ília se enfileiram  ao redor do perím etro, segurando
apertado a m ão um  do outro. Mas há outros, tam bém , que tem  ninguém  que eles am am  em
perigo, ou que não se im portam  m ais, ou deslizam  pela m ultidão, fazendo apostas nas duas
crianças cuj os nom es serão puxados. Probabilidade é dada pela idade, se eles são Seam  ou
com erciantes, se eles terão um  ataque e chorarão. A m aioria se recusa a fazer negócio com  os
m afiosos, m as cuidadosam ente, cuidadosam ente. Essas m esm as pessoas tendem  a serem
inform antes, e quem  não tem  quebrado a lei? Eu poderia ser pega na base diária para caça,
m as o apetite dos responsáveis m e protege. Nem  todos podem  dizer o m esm o.
De qualquer form a, Gale e eu concordando que se nós tem os que escolher entre m orrer de
fom e e um a bala na cabeça, a bala seria m uito m ais rápida.
O espaço fica m ais apertado, m ais claustrofóbico enquanto as pessoas chegam . A praça é bem
larga, m as não o bastante para concentrar a população de cerca de oito m il do Distrito 12. Os
retardatários são direcionados para as ruas adj acentes, onde se pode assistir ao evento em  telas
enquanto é transm itida ao vivo pelo Estado.
Eu m e encontro de pé no grupo dos dezesseis anos de Seam . Nós todos trocam os pequenos
acenos então focam os nossa atenção no palco tem porário que é colocado em  frente do
Edifício da Justiça. Possui três cadeiras, um  pódio, e dois globos de vidro, um  para os m eninos
e um  para as m eninas. Eu olho para os papeis escorregando dentro do globo das garotas. Vinte
deles tem  Katniss Everdeen escrito em  cuidadosa caligrafia. Em  duas das três cadeiras estão o
pai de Madge, Prefeito Undersee, que é um  hom em  alto e ficando careca, e Effie Trinket,
escolta do Distrito 12, recente do Capitol com  seu assustador sorriso branco, cabelo rosa e terno
verde de prim avera. Eles cochicham  um  para o outro e então olham  com  interesse o assento
vazio.
Logo que o relógio bate as duas, o prefeito se levanta no pódio e com eça a ler. É a m esm a
história todo ano. Ele fala da história de Panem , o país que se levantou das cinzas de um  lugar
que j á foi cham ado de Am érica do Norte. Ele lista os desastres, as secas, as tem pestades, os
incêndios, as invasões dos m ares que engoliu m uita terra, a guerra brutal pelo pequeno
alim ento restante. O resultado foi Panem , um a ilum inada Capitol rodeado por treze distritos,
que trouxe paz e prosperidade para os cidadãos. Então veio os Dias Negros, a revolta dos
distritos contra o Capitol. Doze foram  derrotados, o décim o terceiro obliterado. O Tratado de
Traição nos deu novas leis para garantir a paz e, com o nosso lem bre anual de que os Dias
Negros nunca deveriam  ser repedidos, deu-nos o Hunger Gam es.
As regras do Hunger Gam es são sim ples. Com o punição pela revolta, cada um  dos doze
distritos devem  providenciar um a garota e um  garoto, cham ados tributos, para participar. Os


vinte e quatro tributos serão aprisionados num a vasta arena ao ar livre que pode conter
qualquer coisa de um  deserto ardente a um a devastação congelada. Pelo período de poucas
sem anas, os com petidores devem  lutar até a m orte. O últim o tributo de pé ganha.
Tirando as crianças dos nossos distritos, forçando-os a m atar um  ao outro enquanto eles
assistem  – essa é a hora do Capitol de nos lem brar com o estam os totalm ente a m ercê deles.
Quão pequena chance nos teríam os de sobreviver a outra rebelião.
Quaisquer palavras que usem , a real m ensagem  é clara. “Olhe com o nós tom am os suas
crianças e as sacrificam os e não há nada que vocês possam  fazer. Se você levantarem  um
dedo, destruirem os cada um  de vocês. Assim  com o fizem os no Distrito Treze.” Para fazer a
hum ilhação m ais atorm entadora, o Capitol nos obriga a tratar os Hunger Gam es com o um a
festa, um  evento desportivo que coloca cada distrito contra os outros. O últim o tributo vivo
recebe um a vida de tranqüilidade de volta para casa, e seu distrito terá um a chuva de prêm ios,
consistindo largam ente de com ida. Todo ano, o Capitol m ostrará ao distrito vencedor presentes
com o grãos e óleo e m esm o delicadezas com o açúcar enquanto o resto de nós batalha contra a
fom e.
“É tanto um a hora de penitência com o um a hora de arrependim ento,” entoa o prefeito.
Então ele lê um a lista de antigos vitoriosos do Distrito 12. Em  setenta e quatro anos, nós tivem os
exatam ente dois. Apenas um  ainda está vivo. Hay m itch Abernathy , um  hom em  barrigudo de
m eia-idade, que nesse m om ento aparece gritando algo ininteligível, cam baleia para o palco, e
cai na terceira cadeira. Ele está bêbado. Muito. A m ultidão responde com  aplausos sim bólicos,
m as ele está confuso e tenta dar em  Effie Trinket um  grande abraço, ao qual ela m al consegue
defender-se.
O prefeito parece aflito. Desde que tudo isso está sendo em itido através de televisão, agora
m esm o o Distrito 12 é o alvo de riso de Panem , e ele sabe disso. Ele rapidam ente tentar puxar
a atenção de volta à colheita introduzindo Effie Trinket. Brilhante e espum ante com o sem pre,
Effie Trinket trota para o pódio e dá sua assinatura, “Feliz Hunger Gam es! E que as chances
estej am  sem pre ao seu favor!” Seu cabelo rosa deve ser um a peruca porque seus cachos
tinham  se deslocado levem ente do centro desde que ela encontrou com  Hay m itch. Ela vai um
pouco sobre que honra é estar aqui, em bora todos saibam  que ela está apenas se doendo para ir
a um  distrito m elhor onde eles tenham  vitoriosos apropriados, não bêbados que m olestam  você
na frente de um a nação inteira.
Através da m ultidão, eu localizo Gale olhando de trás para m im  com  um a som bra de um
sorriso. Enquanto a colheita vai, esse pelo m enos tem  um  fator de entretenim ento. Mas de
repente eu estou pensando em  Gale e seus quarenta e dois nom es dentro daquele grande globo
e com o as chances não estão ao seu favor. Não com parado a m uitos garotos. E talvez ele
estej a pensando a m esm a coisa porque o rosto dele escureceu e ele se virou. “Mas ainda há
m ilhares de papéis,” eu desej ei poder sussurrar isso para ele.


É a hora do sorteio. Effie Trinket diz com o ela sem pre faz, “Dam as prim eiro!” e cruzou o
globo de vidro com  os nom es das garotas. Ela chegou, em purrou sua m ão fundo no globo, e
puxa pra fora um a tira de papel. A m ultidão prende em  um a respiração coletiva e então você
pode escutar um  alfinete cair, e eu estou m e sentido com  náuseas, e desesperadam ente
desej ando que não fosse eu, que não fosse eu, que não fosse eu.
Effie Trinket atravessa o pódio, alisa o pedaço de papel, e lê o nom e num a voz clara. E não é
eu.
É Prim rose Everdeen.


2
Um a vez, quando eu estava em  um a cobertura num a árvore, esperando im óvel por um a caça
a vaguear, eu cochilei e caí 3 m etros no chão, caindo sobre m inhas costas. Foi com o se o
im pacto tivesse bloqueado todo fragm ento de ar dos m eus pulm ões, e eu fiquei deitada lá,
lutando para inalar, exalar, fazer qualquer coisa.
Era com o eu m e sinto agora, tentando lem brar com o respirar, incapaz de falar, totalm ente
estupefata enquanto o nom e salta para dentro do m eu crânio. Alguém  está agarrando m eu
braço, um  garoto de Seam , e acho que talvez eu com ecei a cair e ele m e pegou.
Deve ter sido algum  engano. Isso não pode estar acontecendo. Prim  era um a tira de papel
entre m ilhares! Suas chances de ser escolhida eram  tão rem otas que eu nem  m esm o m e
incom odei em  ficar preocupada. Eu não tenho feito nada? Tom ado o tesserae, recusando a
deixar ela fazer o m esm o? Um a tira. Um  tira entre m ilhares. As chances tinham  estado
inteiram ente a favor dela. Mas isso não im portou.
Em  algum  lugar bem  longe, eu posso ouvir a m ultidão m urm urando infelizm ente com o eles
sem pre fazem  quando alguém  de doze anos de idade é escolhido porque ninguém  acha que é
j usto. E então eu a vej o, o sangue drenado de seu rosto, as m ãos apertadas em  punhos dos seus
lados, andando com  rígidos e pequenos passos em  direção ao palco, passando por m im , e vej o
que a costa da sua blusa está solta e balançando sobre a sua saia. É esse detalhe, a blusa solta
form ando um  rabo de pato, que m e traz de volta a m im  m esm a.
“Prim !” Um  grito estrangulado sai da m inha garganta, e m eus m úsculos com eçam  a se m over
de novo. “Prim !” Eu não preciso em purrar pela m ultidão. As outras crianças fazem  um
cam inho im ediatam ente m e perm itindo um a passagem  direta para o palco. Eu a alcanço j usto
enquanto ela está para subir o piso. Com  um  arrastão do m eu braço, eu a puxo para trás de
m im .
“Eu m e voluntario!” Arfo. “Eu m e voluntario com o tributo!” Há algum a confusão no palco.
Distrito 12 não tinha um  voluntário em  décadas e o protocolo tinha ficado enferruj ado. A regra
era que um a vez que o nom e do tributo tinha sido puxado do globo, outro garoto elegível, se um
nom e de garoto tinha sido lido, ou garota, se o nom e de um a garota tinha sido lido, pode andar
para tom ar o lugar dele ou dela. Em  alguns distritos, nos quais ganhar a colheita é um a honra
m aravilhosa, pessoas estão ansiosas para arriscar suas vidas, o voluntariado é com plicado. Mas
no Distrito 12, onde a palavra tributo é com o um  sinônim o para a palavra cadáver, voluntários
são quase extintos.
“Am ável!” diz Effie Trinket. “Mas eu acredito que há um  pequeno problem a de introduzir o
vencedor da colheita e então perguntar por voluntários, e se alguém  vem  adiante então nós,
hum ...” ela se perde, incerta.
“O que isso im porta?” diz o prefeito. Ele está olhando para m im  com  um a expressão de dor no


seu rosto. Ele não m e conhece realm ente, m as há um  leve reconhecim ento aí. Eu sou a garota
que traz os m orangos. A garota sobre a qual sua filha deve ter falando em  um a ocasião. A
garota que cinco anos atrás está de pé, aconchegada a sua m ãe e irm ã, enquanto ele a
presenteava, a filha m ais velha, com  um a m edalha de coragem . Um a m edalha do pai dela,
vaporizando nas m inas. Ele lem bra daquilo? “O que isso im porta?” ele repete bruscam ente.
“Deixe-a vir.”
Prim  está gritando histericam ente atrás de m im . Ela está rodeando seus m agros braços ao m eu
redor com o um  vício. “Não, Katniss! Não! Você não pode ir!”
“Prim , deixe,” eu digo roucam ente, porque isso está m e angustiando e eu não quero chorar.
Quando eles transm itirem  na televisão a gravação das colheitas hoj e a noite, todos verão
m inhas lágrim as, e eu serei m arcada com o um  alvo fácil. Um a fraca. Eu não darei satisfação
a ninguém . “Deixe!”
Eu posso sentir alguém  a puxando das m inhas costas. Eu m e viro e vej o Gale arrastando Prim
e ela batendo nos braços dele. “Agora é com  você, Catnip,” ele diz, em  um a voz que está
brincando para m anter estável, e então ele carrega Prim  para m inha m ãe. Eu m e endureço
com o aço e subo os degraus.
“Bem , bravo!” em ociona-se Effie Trinket. “Esse é o espírito dos Gam es!” Ela está satisfeita
que finalm ente tem  um  distrito com  um  pouco de ação acontecendo. “Qual é o seu nom e?” Eu
engulo rigidam ente. “Katniss Everdeen,” digo.
“Eu aposto m eus botões que era sua irm ã. Não querem os que ela roube toda glória, querem os?
Vam os, todo m undo? Vam os dar um a salva de palm as para nosso novo tributo!” garganteia
Effie Trinket.
Para o últim o crédito das pessoas do Distrito 12, ninguém  bateu palm as. Nem  m esm o aqueles
segurando cupons de aposta, os que usualm ente estão além  de se im portar. Possivelm ente
porque eles m e conhecem  do Hob, ou conheciam  m eu pai, ou tem  encontrado Prim , a quem
ninguém  pode deixar de am ar. Assim  em  vez de aplausos de reconhecim ento, eu fiquei em  pé
ali sem  m e m over enquanto eles tom am  parte na m ais ousada form a de dissidência que ele
podiam . Silêncio. Que diz que eles não concordam . Nós não perdoam os. Todo isso está errado.
Então algo inesperado acontece. No m ínim o, eu não esperava porque não pensava no Distrito
12 com o um  lugar que se im porta com igo. Mas um a m udança tem  ocorrido desde que eu subi
para tom ar o lugar de Prim , e agora parece que eu tenho m e tornado um a pessoa preciosa. O
prim eiro, depois outro, então quase todos os m em bros da m ultidão tocaram  os três dedos do
m eio das suas m ãos esquerdas para os seus lábios e seguram  por m im . É um  velho e raro gesto
usado no nosso distrito, ocasionalm ente visto em  funerais. Significa obrigada, significa
adm iração, significa adeus para alguém  que você am a.


Agora eu estou realm ente em  perigo de chorar, m as felizm ente Hay m itch escolhe essa hora
para vir vacilante pelo palco para m e congratular. “Olhe para ela. Olha para essa!” ele grita,
atiram  um  braço ao redor dos m eus om bros. Ele é surpreendente forte para tal arruinado. “Eu
gosto dela!” Sua respiração fede a licor e faz um  bom  tem po desde quando ele tom ou banho.
“Muita...” Ele não pode pensar em  um a palavra por enquanto. “Bravura!” Ele diz triunfante.
“Mais que vocês!” Ele m e solta e com eça ir para a frente do palco. “Mais que vocês!” ele
grita, apontando para a câm era.
Ele está se dirigindo a audiência ou ele está tão bêbado que ele podia na verdade estar
ridicularizando o Capitol? Eu nunca saberia porque j usto quando ele estava abrindo a boca para
continuar, Hay m itch cai fora do palco e fica inconsciente.
Ele é noj ento, m as estou grata. Com  toda câm era alegrem ente treinando nele, eu tenho só
tem po o bastante para liberar um  som  pequeno e chocado da m inha garganta e m e com por.
Ponho m inhas m ãos atrás das m inhas costas e olho para o distante.
Eu posso ver as m ontanhas que eu subi essa m anhã com  Gale. Por um  m om ento, eu sinto
saudade de algo... a idéia de nós partindo do distrito... fazendo nosso cam inho na floresta...
m as eu sei que eu estava certa em  não fugir. Por que quem  m ais se voluntariaria por Prim ?
Hay m itch é arrastado em  um a m aca, e Effie Trinket está tentando rodar o globo novam ente.
“Que dia excitante!” ela gorj eia enquanto tenta aj eitar sua peruca, que tinha deslizado um
pouco para a direita. “Mas m ais excitação está por vir! É a hora de escolher nosso tributo
garoto!” Claram ente esperando conter a situação do seu tênue cabelo, ela coloca um a m ão na
sua cabeça enquanto atravessa o globo que contém  os nom es dos garotos e agarra o prim eira
tira que encontra. Ela m ove-se rápido de volta ao pódio, e eu nem  tenho tem po para desej ar a
segurança de Gale quando ela está lendo o nom e. “Peeta Mellark.” Peeta Mellark!
Oh, não, eu penso. Não ele. Porque eu reconheço esse nom e, em bora eu nunca tenha falado
diretam ente com  o dono. Peeta Mellark.
Não, as chances não estavam  ao m eu favor hoj e. Eu o assisti enquanto ele fazia seu cam inho
em  direção ao pódio. Altura m édia, sólida estrutura, cabelos loiros cinza que caem  em  ondas
sobre sua testa. O choque do m om ento está registrado no seu rosto, você pode ver que ele luta
para se m anter sem  em oções, m as seus olhos azuis m ostram  o alarm e que eu vej o tão
freqüentem ente nas caças. Ainda ele sobe firm em ente o pódio e tom a seu lugar.
Effie Trinket pergunta por voluntários, m as ninguém  dá um  passo a frente. Ele tem  dois irm ãos
m ais velhos, eu sei, tenho-os visto na padaria, m as um  é provavelm ente velho dem ais agora
para se voluntariar e o outro não vai. Esse é o padrão. Devoção fam iliar só vai até aqui para a


m aioria das pessoas no dia da colheita. O que eu fiz foi um a coisa radical.
O prefeito com eça a ler o longo e estúpido Tratado de Traição com o ele faz todo ano nesse
ponto – é necessário – m as não estou escutando um a palavra.
Por que ele? Eu penso. Então tento m e convencer de que isso não im porta. Peeta Mellark e eu
não som os am igos. Nem  m esm o visinhos. Nós não nos falam os. Nossa única real interação
aconteceu anos atrás. Ele provavelm ente esqueceu. Mas eu não e sei que nunca vou...
Foi durante o tem po pior. Meu pai tinha sido m orto num  acidente na m ina três m eses m ais
cedo no j aneiro m ais am argo que qualquer um  podia lem bra. A paralisia da perda dele tinha
passado, e a dor m e atingiria do nada, dobrando-m e m ais, quebrando m eu corpo em  soluços.
Onde você está? Eu gritava na m inha m ente. Onde você foi? Claro, nunca havia algum a
resposta.
O distrito nos deu um a pequena quantia em  dinheiro para com pensar a sua m orte, o bastante
para cobrir um  m ês de luto que era o tem po que m inha m ãe esperaria para conseguir um
trabalho. Só que ela não conseguiu. Ela não fez nada além  de sentar em  um a cadeira ou, m ais
freqüentem ente, aconchegada sob os cobertores na sua cam a, olhos fixos em  algum  ponto
distante. De vez em  quando, ela se agitaria, levantava com o se m ovida por um  propósito
urgente, só para então cair dentro da paralisia. Nenhum a quantidade de pedidos de Prim
pareceu afetá-la.
Eu estava aterrorizada. Eu suponho agora que m inha m ãe estava trancada em  algum  escuro
m undo de tristeza, m as naquela hora, tudo o que eu sabia era que eu tinha perdido não só m eu
pai, m as m inha m ãe tam bém . Aos onze anos de idade, Prim  com  apenas sete, eu assum i a
chefia da fam ília. Não havia escolha. Eu trouxe nossa com ida do m ercado e cozinhei o m elhor
que pude e tentei m anter Prim  e eu parecendo apresentável. Porque ficou claro que m inha
m ãe não podia se im porta m ais conosco, o distrito teria nos levado dela e nos colocado num a
casa com unitária. Cresci vendo essas crianças na escola. A tristeza, as m arcas m ãos raivosas
em  seus rostos, a desesperança que curvava seus om bros. Eu nunca poderia deixar isso
acontecer a Prim . Docy , pequena Prim  que chorou quando eu chorei antes m esm o de saber a
razão, que escovou e trançou o cabelo da m inha m ãe antes de irm os para a escola. Que ainda
polindo o espelho de barbear do pai cada noite porque ele odiava a cam ada de pó de carvão
que se instalava em  todo em  Seam . A casa com unitária iria exterm iná-la com o um  besouro.
Então m antive nossa situação difícil em  segredo.
Mas o dinheiro se foi e nós ficam os lentam ente m orrendo de fom e. Não há outra form a de
dizer isso. Eu continuei dizendo a m im  m esm a se pudesse segurar até m aio, só 8 de m aio, eu
com pletaria doze anos e seria capaz de m e registrar pelo tesserae e conseguir os preciosos
grãos e óleo para nos alim entar. Só faltava ainda algum as sem anas. Nós poderíam os estar bem
m ortas até lá.


Morrer de fom e não é um  destino incom um  no Distrito 12. Quem  não tinha visto as vítim as?
Pessoas velhas não podiam  trabalhar. Crianças de um a fam ília com  m uito para alim entar.
Aqueles m achucados nas m inas. Estendendo-se pelas ruas. E um  dia, você os vê sentados
im óveis contra a parede ou deitados no Meadow, você escuta o lam ento de um a casa, e os
Pacifistas são cham ados para retom ar o corpo. Morrer de fom e nunca é a oficial causa da
m orte. É sem pre gripe, ou exposição, ou pneum onia. Mas isso não engana ninguém .
Na tarde do m eu encontro com  Peeta Mellark, a chuva estava caindo em  im placáveis folhas
de gelo. Eu tinha estado na cidade, tentando negociar algum as roupas de bebê velhas e gastas
de Prim  no m ercado público, m as não havia conquistadores. Em bora eu tenha estado no Hob
em  algum as ocasiões com  m eu pai, estava m uito assustada para m e aventurar dentro daquele
lugar bruto e de areia sozinha. A chuva tinha m olhado toda a j aqueta de caça do m eu pai,
deixando-m e resfriada até os ossos. Por três dias, nós não tínham os nada além  de água fervida
com  algum as folhas de hortelã velhas que eu tinha achado nos fundos do arm ário. Até o
m om ento que o m ercado fechou, eu estava trem endo tão forte que eu deixei m inha trouxa de
roupa de bebê em  um a poça de lam a. Não o peguei de volta por m edo de m e aj oelhar e não
conseguir recuperar m eus pés. Além  disso, ninguém  queria aquelas roupas.
Eu não podia ir para casa. Porque em  casa estava m inha m ãe com  seus olhos m ortos e m inha
irm ãzinha, com  suas bochechas encovadas e lábios rachados. Não podia andar dentro daquele
quarto com  o fogo fum arento dos galhos úm idos que eu lim pei no lim ite da floresta depois que
o carvão tinha acabado, m inhas bandas vazias de qualquer esperança.
Eu m e encontrei tropeçando ao longo de um a pista enlam eada atrás das loj as que servem  as
pessoas m ais ricas da cidade. Os com erciantes vivem  acim a de seus negócios, assim  eu estava
essencialm ente em  seus quintais. Lem bro que os contornos do j ardim  não estavam  plantados
para prim avera ainda, um a cabra ou duas no cercado, um  cão encharcado am arrado em  um
poste, curvado derrotado na lam a. Todas as form as de roubar eram  proibidas no Distrito 12.
Punição por m orte. Mas atravessou m inha m ente que deveria ter algo nas lixeiras, e essas
eram  caças j ustas. Talvez um  osso de açougueiro ou legum es podres da m ercearia, algo que
ninguém  além  da m inha fam ília estava desesperada o bastante para com er. Infelizm ente as
lixeiras estavam  vazias.
Quando passei do padeiro, o cheiro de pão fresco era tão esm agador que fiquei tonta. O forno
era nos fundos, e fulgor dourado derram ou-se de porta aberta da cozinha. Eu fiquei hipnotizada
pelo calor e o cheiro agradável até a chuva interferir, correndo com o dedos gelados nas
m inhas costas, forçando-m e a voltar à vida. Eu levantei a tam pa da lixeira do padeiro e a achei
im pecável e cruelm ente vazia.
De repente um a voz estava gritando para m im  e eu olhei para cim a para ver a m ulher do
padeiro, dizendo para eu ir em bora e se eu queria que ela ligasse para os Pacifistas e o quão


doente ela estava por ter esses pirralhos de Seam  tocando o lixo dela. As palavras eram  feias e
não tive nenhum a defesa. Enquanto cuidadosam ente recoloquei a tam pa e m e voltei para ir
em bora, eu o notei, um  garoto com  cabelo loiro espiando atrás de sua m ãe. Eu o tinha visto na
escola. Ele era do m eu ano, m as eu não sabia o seu nom e. Ele está com  as crianças da cidade,
então com o eu saberia? Sua m ãe voltou para a padaria, resm ungando, m as ele deve ter
ficando m e olhando enquanto eu fazia m eu cam inho atrás da cerca que segurava o porco deles
e m e inclinei no lado m ais distante de um  pé de m açã. A realização de que eu não teria nada
para levar para casa tinha finalm ente afundado. Meus j oelhos entortaram  e eu deslizei para as
raízes da árvore. Era dem ais. Eu estava doente e fraca e cansada, oh, tão cansada. Deixe-os
cham ar os Pacificadores e nos tom ar para a casa com unitária, eu pensei. Ou m elhor ainda,
deixe-m e m orrer aqui m esm o na chuva.
Houve um  barulho na padaria e escutei um a m ulher gritando de novo e o som  de um a
bofetada, e eu vagam ente m e perguntei o que estava acontecendo. Pés surgiram  na m inha
direção e eu pensei, É ela. Ela está vindo m e m andar em bora com  um a vara. Mas não era ela.
Era o garoto. Nos seus braços, ele carregava dois largos pedaços de pão que devem  ter caído
no fogo por causa das crostas que estavam  queim adas.
Sua m ãe estava gritando, “Alim ente o porco, sua criatura estúpida! Por que não? Ninguém
decente com praria pão queim ado!”
Ele com eçou a arrancar os pedados das peças queim adas e atirá-las no canal, e o sino da
frente da padaria tocou e a m ãe desapareceu para aj udar o cliente.
O garoto nunca lançou um  olhar para o m eu lado, m as eu estava assistindo-o. Por causa do
pão, por causa do m achucado verm elho que estava na sua bochecha. Com  o que ela tinha
batido nele?
Meus pais nunca nos bateram . Eu não podia nem  im aginar. O garoto olhou para trás, para a
padaria, com o se checasse se o cam po estava lim po, então, sua atenção voltou-se para o
porco, ele atirou um  pedaço de pão na m inha direção. O segundo rapidam ente se seguiu, e ele
voltou para a padaria, fechando a porta da cozinha firm em ente.
Eu olhei para os pedaços descrente. Eles estavam  ótim os, realm ente perfeitos, exceto pelas
partes queim adas. Ele quis dizer que eu podia tê-los? Ele devia. Porque eles estavam  aos m eus
pés. Antes que alguém  pudesse testem unhar o que tivesse acontecido, eu puxei os pedaços de
pão para debaixo da m inha cam isa, agasalhei a j aqueta de caça firm em ente ao m eu redor, e
andei rapidam ente. O calor do pão queim ava a m inha pele, m as eu apertei com  força,
apegando à vida.
Na hora que eu cheguei em  casa, os pedaços tinham  esfriado de algum a form a, m as dentro
ainda estava quente. Quando eu os coloquei na m esa, as m ãos de Prim  levantaram  para pegar
um  pedaço, m as eu a forcei a sentar, forcei m inha m ãe a se j untar a m esa, e derram ei chá


quente. Raspei a parte preta e fatiei o pão. Nós com em os um  pedaço todo, fatia por fatia. Era
um  bom  pão puro, cheio com  passas e nozes.
Coloquei m inhas roupas para secas no fogo, arrastei-m e para dentro da cam a, e cai num  sono
sem  sonhos. Não m e ocorreu até a m anhã seguinte que o garoto devia ter queim ado o pão de
propósito. Devia ter deixado cair os pedaços nas cham as, sabendo que seria punido, e então os
entregou a m im . Mas eu descartei isso. Deve ter sido um  acidente. Por que ele teria feito isso?
Ele nem  m esm o m e conhecia. Ainda, apenas m e atirando o pão era um a enorm e gentileza
que teria resultado em  surra se descoberta. Eu não podia explicar suas ações.
Nós com em os as fatias de pão no café da m anhã e seguim os para a escola. Era com o se a
prim avera tivesse vindo durante a noite. Ar doce e quente. Nuvens m acias. Na escola, eu
passei pelo garoto no corredor, sua bochecha tinha inchado e seu olho estava escurecido. Ele
estava com  seus am igos e não m e reconheceu de form a nenhum a. Mas quando eu recolhi
Prim  e com ecei a ir para casa naquela tarde, eu o encontrei olhando para m im  através do
cam po da escola. Nossos olhos se encontraram  apenas por um  segundo, então ele virou a sua
cara para longe. Eu baixei m eu olhar, em baraçada, e foi quando eu vi. A prim eira planta do
ano. Um  sino tocou na m inha cabeça. Eu pensei nas horas passadas na floresta com  m eu pai e
eu sabia com o nós iríam os sobreviver.
Para esse dia, eu nunca posso abalar a ligação com  esse garoto, Peeta Mellark, e o pão que m e
deu esperança e a planta que m e lem brou que eu não era condenada. E m ais de um a vez, eu
estava no corredor da escola e peguei seus olhos m e seguindo, só para rapidam ente se m over
para longe. Eu sinto com o se devesse a ele algo, e eu odeio dever as pessoas. Talvez se eu
tivesse o agradecido em  algum  ponto, eu estaria m e sentindo m enos cheia de conflito agora.
Eu pensei sobre isso um  par de vezes, m as a oportunidade nunca pareceu presente. E agora
nunca vai parecer. Porque nós vam os ser atirados em  um a arena para brigar até a m orte.
Exatam ente com o eu deveria trabalhar em  um  agradecim ento lá? De qualquer form a não
pareceria sincero se eu tentasse cortar sua garganta.
O prefeito term ina o som brio Tratado de Traição e gesticula para Peeta e eu apertar as m ãos.
A m ão dele era tão sólida e quente quando aqueles pedaços de pão. Peeta olha para m im
direto no olho e dá a m inha m ão o que eu penso que significa ser um  aperto tranqüilizador.
Talvez fosse apenas um  espasm o nervoso.
Nós nos voltam os para encarar a m ultidão enquanto o hino de Panem  toca.
Oh, bem , eu penso. Haverá vinte e quatro de nós. Chances são de m ais alguém  m atá-lo antes
de eu fazê-lo. É claro, as chances não estão m uito confiáveis ultim am ente.


3
No m om ento em  que o hino acaba, som os levados em  custódia. Eu não quero dizer que som os
algem ados ou algo, m as um  grupo de Pacifistas nos m archa até as portas dianteiras do Prédio
da Justiça. Talvez tributos tenham  tentado escapar no passado. Eu nunca vi isso acontecer,
contudo.
Um a vez dentro, sou conduzida para um a sala e deixada sozinha. É o lugar m ais rico em  que
eu j á estive, com  tapetes grossos e espessos e um  sofá de veludo e cadeiras. Eu conheço
veludo porque m inha m ãe tem  um  vestido com  um  colarinho feito desse negócio. Quando eu
sento no sofá, eu não posso evitar correr m eus dedos sobre o tecido repetidam ente. Ele m e
aj uda a m e acalm ar enquanto eu tento m e preparar para a próxim a hora. O tem po destinado
para os tributos dizerem  adeus aos seus am ados. Eu não posso m e dar ao luxo de ficar
chateada, de deixar essa sala com  olhos inchados e um  nariz verm elho. Chorar não é um a
opção. Haverá m ais câm eras na estação de trem .
Minha irm ã e m inha m ãe vêm  prim eiro. Eu m e estico para Prim  e ela sobe no m eu colo, seus
braços ao redor do m eu pescoço, a cabeça no m eu om bro, bem  com o ela fazia quando era um
bebê. Minha m ãe se senta ao m eu lado e envolve seus braços ao nosso redor. Por alguns
m inutos, não dizem os nada. Então eu com eço a contar a elas todas as coisas que elas devem
lem brar fazer, agora que eu não estarei lá para fazer isso por elas.
Prim  não deve pegar nenhum  tesserae. Elas conseguirão sobreviver, se forem  cuidadosas,
vendendo o leite e queij o de cabra da Prim  e com  o pequeno apotecário que a m inha m ãe
agora com anda para as pessoas em  Seam . Gale lhes dará as ervas que ela m esm a vão plantar,
m as ela deve tom ar m uito cuidado ao descrevê-las, porque ele não está tão fam iliarizado com
elas quanto eu. Ele tam bém  lhes trará caça – e eu fizem os um  pacto sobre isso há m ais ou
m enos um  ano – e provavelm ente não pedirá por com pensação, m as elas deveriam  agradecê-
lo com  algum  tipo de troca, com o leite ou rem édio.
Eu não incom odo em  sugerir à Prim  que aprenda a caçar. Eu tentei ensiná-la algum as vezes e
foi desastroso. A floresta a aterrorizava, e quando eu atirava em  algum a coisa, ela ficava a
beira de lágrim as e falava em  com o poderíam os curá-lo se o levássem os para casa cedo o
bastante. Mas ela se dá bem  com  sua cabra, então eu m e concentro nisso.
Quando eu acabo com  as instruções sobre com bustível, e trocas, e ficar na escola, eu m e viro
para m inha m ãe e agarro seu braço, duram ente. “Me escute. Você está m e escutando?” Ela
assente, assustada pela m inha intensidade. Ela deve saber o que está por vir. “Você não pode ir
em bora novam ente,” eu digo. Os olhos da m inha m ãe encontram  o chão. “Eu sei. Eu não irei.
Eu não pude evitar o quê –”
“Bem , você tem  que evitar dessa vez. Você não pode pular fora e deixar Prim  por conta


própria. Não há m ais eu para m anter vocês duas vivas. Não im porta o que aconteça. O que
quer que vej a na tela. Você tem  que m e prom eter que vai lutar contra isso!” Minha voz se
levantou para um  grito. Nela está toda a raiva, todo o m edo que eu senti com  seu abandono.
Ela puxa seu braço do m eu aperto, ela própria m ovida por raiva agora. “Eu estava doente. Eu
podia ter m e tratado se eu tivesse os rem édios que eu tenho agora.” Aquela parte sobre ela
estar doente podia ser verdade. Eu tinha visto ela curar pessoas que sofriam  de tristeza
im obilizante desde então. Talvez sej a um a doença, m as é um a que não podem os nos dar ao
luxo.
“Então tom e-os. E tom e conta dela!” Eu digo.
“Eu ficarei bem , Katniss,” diz Prim , apertando m eu rosto em  suas m ãos. “Mas você tem  que
tom ar cuidado tam bém . Você é tão rápida e coraj osa. Talvez possa vencer.” Eu não posso
vencer. Prim  deve saber isso, em  seu coração. A com petição estará m uito além  das m inhas
habilidades. Garotos de distritos m ais ricos, onde ganhar é um a grande honra, que treinaram
suas vidas todas para isso. Garotos que são duas a três vezes o m eu tam anho.
Garotas que conhecem  vinte m aneiras diferentes de te m atar com  um a faca. Ah, haverá
pessoas com o eu tam bém . Pessoas a serem  extirpadas antes que a verdadeira diversão
com ece. “Talvez,” eu digo, porque eu não posso dizer a m inha m ãe para continuar se eu
m esm a j á desisti. Além  do m ais, não é da m inha natureza desistir sem  lutar, m esm o quando as
coisas parecem  insuperáveis. “Então serem os ricas com o Hay m itch.”
“Eu não ligo realm ente se som os ricos. Eu só quero que você volte para casa. Você tentará,
não tentará? Realm ente, realm ente tentará?” pergunta Prim .
“Realm ente, realm ente tentarei. Eu j uro,” eu digo. E eu sei, por causa de Prim , que terei que.
E então o Pacificador está na porta, sinalizando que nosso tem po acabou, e estam os todas nos
abraçando tão forte que dói e tudo o que eu digo é “eu am o vocês. Eu am o vocês duas.” E elas
dizem  isso de volta e então o Pacificador ordena que elas saiam  e a porta fecha. Eu enterro
m inha cabeça em  um a das alm ofadas de veludo com o se isso pudesse bloquear todo esse
negócio.
Outra pessoa entra na sala, e quando eu olho para cim a, fico surpresa em  ver que é o padeiro,
o pai de Peeta Mellark. Eu não acredito que ele veio m e visitar. Afinal de contas, eu tentarei
m atar seu filho em  breve. Mas nós nos conhecem os um  pouco, e ele conhece Prim  ainda
m elhor. Quando ela vende seu queij o de cabra no Hob, ela deixa dois separados para ele e ele
lhe dá um a generosa quantidade de pão em  troca. Nós sem pre esperam os para trocar com  ele
quando a bruxa da m ulher dele não está por perto, porque ele fica bem  m ais bonzinho. Eu
tenho certeza de que ele nunca bateria no filho dele do j eito que ela bateu por causa do pão
queim ado. Mas por que ele veio m e ver? O padeiro se senta desconfortavelm ente na ponta de
um a das cadeiras felpudas. Ele é um  hom em  grande de om bros largos com  cicatrizes de


queim aduras por causa dos anos passados nos fornos. Ele deve ter acabado de dizer adeus ao
seu filho.
Ele puxa um  pacote de papel branco do bolso de sua j aqueta e o segura para m im . Eu o abri e
achei biscoitos. Eles são um  luxo que nunca podem os bancar.
“Obrigada,” eu digo. O padeiro não é um  hom em  m uito falante, na m elhor das ocasiões, e
hoj e ele não solta nenhum a palavra. “Eu com i um  pouco do seu pão essa m anhã. Meu am igo
Gale lhe deu um  esquilo por ele.” Ele assente, com o se lem brando do esquilo. “Não foi a sua
m elhor troca,” eu digo. Ele dá de om bros, com o se isso não tivesse im portância.
Então eu não consigo pensar em  m ais nada, então ficam os sentados em  silêncio até que o
Pacificador o convoque. Ele se levanta e tosse para lim par sua garganta. “Eu ficarei de olho na
m enininha. Para m e certificar que ela está com endo.”
Eu sinto um  pouco da pressão no m eu peito se aliviar com  as palavras dele. As pessoas lidam
com igo, m as eles genuinam ente adoram  a Prim . Talvez haj a adoração o bastante para m antê-
la viva.
Meu próxim o convidado tam bém  é inesperado. Madge anda diretam ente até m im . Ela não
está chorosa ou evasiva, ao invés, há um a urgência no seu tom  que m e surpreende. “Eles te
deixam  usar um a coisa do seu distrito na arena. Um a coisa para lem brá-la de casa. Você
usaria isso?” Ela segura um  alfinete circular de ouro que estava em  seu vestido m ais cedo. Eu
não tinha prestado m uita atenção nele antes, m as agora eu vej o que é um  pássaro pequeno
voando.
“Seu alfinete?” Eu digo. Usar um a lem brança do m eu distrito é a últim a coisa na m inha m ente.
“Aqui, vou colocá-lo no seu vestido, está bem ?” Madge não espera por um a respostas, ela
sim plesm ente se inclina e fixa o pássaro no m eu vestido. “Prom ete que o usará na arena,
Katniss?” ela pergunta. “Prom ete?”
“Sim ,” eu digo. Biscoitos. Um  alfinete. Estou recebendo toda a sorte de presentes hoj e. Madge
m e dá m ais um . Um  beij o na bochecha. Então ela se vai e eu fico pensando que talvez Madge
realm ente tenha sido m inha am iga todo esse tem po.
Finalm ente, Gale está aqui e talvez não haj a nada de rom ântico entre nós, m as quando ele abre
seus braços, eu não hesito em  ir neles. Seu corpo é fam iliar para m im  – o j eito com o ele se
m ove, o cheiro de fum aça de m adeira, até m esm o o som  de seu coração batendo, que eu
conheço de m om entos silenciosos caçando – m as essa é a prim eira vez que eu realm ente
sinto-o, os m úsculos m agros e fortes contra os m eu. “Escuta,” ele diz. “Pegar um a faca deve
ser bem  fácil, m as você tem  que colocar suas m ãos num  arco e flecha. É a sua m elhor
chance.”


“Eles nem  sem pre tem  arcos e flechas,” eu digo, pensando no ano onde só havia horríveis
cetros cheios de esporões com  que os tributos tinham  que acertar uns aos outros até a m orte.
“Então faça um ,” diz Gale. “Mesm o um  arco e flecha fraco é m elhor que nenhum  arco e
flecha.”
Eu tentara copiar os arcos e flechas do m eu pai com  resultados fracos. Não é tão fácil. Até ele
tinha que j ogar fora seu próprio trabalho de vez em  quando.
“Eu nem  sei se haverá m adeira,” eu digo. Em  outro ano, eles j ogaram  todos em  um  cenário
com  nada além  de pedras e areia e arbustos im undos. Eu particularm ente odiei aquele ano.
Muitos com petidores foram  m ordidos por cobras venenosas ou ficaram  insanos por causa da
sede.
“Há quase sem pre um  pouco de m adeira,” Gale diz. “Já que naquele ano m etade deles
m orreram  de frio. Não há m uito entretenim ento nisso.” É verdade. Nós passam os um  Hunger
Gam es assistindo os j ogadores congelarem  até a m orte de noite. Você m al podia vê-los porque
eles estavam  contraídos em  bolas e não tinham  m adeira para fogueiras ou tochas ou qualquer
coisa. Foi considerado m uito anti-clim ático no Capitol, todas aquelas m ortes silenciosas e sem
derram am ento de sangue. Desde então, geralm ente há m adeira pra fazer fogueiras.
“Sim , geralm ente tem  um  pouco,” eu digo.
“Katniss, é apenas caçada. Você é a m elhor caçadora que eu conheço,” diz Gale.
“Não é só caçada. Eles estão arm ados. Eles pensam ,” eu digo.
“Assim  com o você. E você praticou m ais. Prática real,” ele diz. “Você sabe com o m atar.”
“Não pessoas,” eu digo.
“O quão diferente pode ser, sério?” diz Gale carrancudam ente.
O horrível é que se eu conseguir esquecer que eles são pessoas, não será nem  um  pouco
diferente.
Os Pacifistas voltam  cedo dem ais e Gale pede por m ais tem po, m as eles o estão levando e eu
com eço a entrar em  pânico. “Não as deixe m orrer de fom e!” Eu gritei, unindo-m e a sua m ão.
“Eu não deixarei! Você sabe que eu não deixarei! Katniss, lem bre-se que eu –” ele diz, e eles
nos tiram  de perto e batem  a porta e eu nunca saberei o que é que ele queria que eu m e
lem brasse.
É um  cam inho curto do Prédio da Justiça até a estação de trem . Eu nunca estive num  carro
antes. Raram ente andei em  vagões. Em  Seam , nós viaj am os a pé.


Eu estive certa em  não chorar. A estação está pululando de repórteres com  suas câm eras feito
insetos instruídos diretam ente no m eu rosto. Mas eu pratiquei m uito apagar m eu rosto de
em oções e eu faço isso agora. Eu capturo um  relam pej o de m im  m esm a na tela de televisão
na parede que está transm itindo a m inha chegada ao vivo e m e sinto grata por parecer quase
entediada. Peeta Mellark, por outro lado, obviam ente esteve chorando e, m ais interessante, não
parece tentar cobrir isso. Eu im ediatam ente m e pergunto se essa será sua estratégia no Gam es.
Aparecer fraco e assustado, reassegurar aos outros tributos que ele não é com petição algum , e
então sair lutando. Isso funcionou m uito bem  para um a garota, Johanna Mason, do Distrito 7,
há alguns anos. Ela parecia um a tola tão choram ingona e covarde que ninguém  se incom odou
com  ela até que sobrou apenas um  punhado de participantes. Acontece que ela podia m atar
viciosam ente. Bem  esperto, o j eito com o ela j ogou. Mas essa parece um a estratégia estranha
para Peeta Mellark, porque ele é filho do padeiro. Todos esses anos tendo o bastante para
com er e transportando bandej as de pão por aí o fizeram  ter om bros largos e fortes. Será
preciso m uita choradeira para convencer qualquer um  a negligenciá-lo.
Nós tem os que ficar de pé por alguns m inutos na entrada do trem  enquanto as câm eras
engolem  as nossas im agens, então nos perm item  entrar e as portas fecham  com passivam ente
atrás de nós. O trem  com eça a se m over de im ediato.
A velocidade inicialm ente tira m eu fôlego. É claro, eu nunca estive em  um  trem , j á que
viagens entre distritos são proibidas, exceto para deveres oficialm ente sancionados. Para nós,
isso quase sem pre é transportar carvão. Mas esse não é um  trem  norm al de carvão. É um  dos
m odelos de alta velocidade do Capitol que chega a um a m édia de 402 quilôm etros por hora.
Nossa j ornada para Capitol levará m enos que um  dia.
Na escola, eles nos dizem  que Capitol foi construído num  lugar que um a vez cham ara-se
Montanhas Rochosas. O Distrito 12 estava num a região conhecida com o Appalachia. Mesm o
há centenas de anos, eles exploravam  carvão aqui. E é por isso que nossos m ineradores tem
que escavar tão fundo.
De algum a m aneira, tudo se volta ao carvão na escola. Além  de leitura e m atem ática básica, a
m aioria das nossas instruções são relacionadas a carvão. Exceto pelas aulas sem anais de
história de Panem . Na m aior parte é um  m onte de tolices sobre o que devem os a Capitol. Eu
sei que deve ter m ais do que eles nos dizem , um a explicação real sobre o que aconteceu
durante a rebelião. Mas eu não passo m uito tem po pensando nisso. Qualquer que sej a a
verdade, eu não vej o com o ela pode m e aj udar a colocar com ida na m esa.
O trem  do tributo é ainda m ais chique do que a sala no Prédio da Justiça. É dado a cada um  de
nós nossas próprias câm aras, que tem  um  quarto, um  cam arim , e um  banheiro privado com
água quente e fria corrente. Nós não tem os água quente em  casa, a não ser que a fervam os.
Há gavetas cheias de roupas finas, e Effie Trinket m e diz para fazer o que eu quiser, usar o que
eu quiser, tudo está a m inha disposição. É só estar pronta para o j antar em  um a hora. Eu m e


retiro do vestido azul da m inha m ãe e tom o um  banho quente. Eu nunca tom ei banho de
chuveiro antes. É com o estar em  um a chuva de verão, só que m ais quente. Eu m e visto com
um a cam isa e calça verde escura.
No últim o m inuto, eu m e lem bro do pequeno alfinete dourado da Madge. Pela prim eira vez, eu
dou um a boa olhada nele. É com o se alguém  tivesse criado um  pequeno pássaro dourado e
então anexado um  anel ao redor. O pássaro está conectado ao anel só pelas pontas da asa. Eu
de repente o reconheci. Um  m ockinj ay . Eles são pássaros estranhos e m eio que um  tapa na
cara de Capitol. Durante a rebelião, o Capitol reproduziu um a série de anim ais geneticam ente
alterados com o arm as. O term o com um  para eles era m uttações, ou às vezes m utts, com o
apelido. Um  era um  pássaro especial cham ado j abberj ay  que tinha a habilidade de m em orizar
e repetir conversas hum anas inteiras. Eles eram  pássaros residentes, exclusivam ente
m asculinos, que eram  soltos em  regiões onde era sabido que os inim igos de Capitol estavam
escondidos. Após os pássaros coletarem  palavras, eles voavam  de volta aos centros para ser
gravados. Levou um  tem po para as pessoas perceberem  o que estava acontecendo nos
distritos, com o conversas privadas estavam  sendo transm itidas. Então, é claro, os rebeldes
alim entaram  Capitol com  inúm eras m entiras, e a piada com eçou. Então os centros foram
fechados e os pássaros abandonados para m orrer na selva.
Só que eles não m orreram . Ao invés, os j abberj ay s se acasalaram  com  m ockinbirds fêm eas,
criando um a nova espécie que conseguia replicar tanto os assobios dos pássaros quando as
m elodias hum anas. Eles perderam  a habilidade de enunciar palavras, m as ainda conseguiam
m im icar um a cadeia de sons vocais hum anos, de um  gorj eio agudo de um a criança até os tons
profundos de um  hom em . E eles conseguiam  recriar canções. Não só poucas notas, m as
canções inteiras com  m últiplos versos, se você tivesse paciência para cantar para eles e se eles
gostassem  da sua voz.
Meu pai era particularm ente afeiçoado aos m ockinj ay s. Quando saíam os para caçar, ele
assobiava ou cantava canções com plicadas para eles e, após um a pausa educada, eles sem pre
cantavam  de volta. Nem  todos são tratados com  tanto respeito. Mas sem pre que m eu pai
cantava, todos os pássaros na área caiam  no silêncio e escutavam . Sua voz era tão bonita, alta e
clara e tão cheia de vida que fazia você querer rir e chorar ao m esm o tem po. Eu nunca
consegui m e forçar a continuar a praticar depois que ele partiu. Ainda assim , há algo de
confortante no passarinho. É com o ter um  pedaço do m eu pai com igo, m e protegendo. Eu
prendo o alfinete na m inha cam isa, e com  o tecido verde escuro de fundo, eu quase consigo
im aginar o m ockinj ay  voando pelas árvores.
Effie Trinket vem  m e buscar para o j antar. Eu a sigo por um  corredor estreito e chacoalhante
até a sala de j antar com  refinadas paredes alm ofadadas. Há um a m esa onde todos os pratos
são altam ente quebráveis. Peeta Mellark está sentado esperando por nós, a cadeira próxim a a
ele vazia.
“Onde está Hay m itch?” pergunta Effie Trinket alegrem ente.


“Da útlim a vez que eu o vi, ele disse que ia tirar um a soneca,” diz Peeta.
“Bem , foi um  dia exaustivo,” diz Effie Trinket. Eu acho que ela está aliviada pela ausência de
Hay m itch, e quem  pode culpá-la?
O j antar vem  em  porções. Um a espessa sopa de cenoura, salada verde, costeletas de carneiro
e purê de batata, queij o e fruta, um  bolo de chocolate. Durante a refeição, Effie Trinket fica
nos lem brando para guardar lugar, porque há m ais por vir. Mas eu estou m e em panturrando
porque nunca tive com ida com o essa antes, tão boa e tão farta, e porque provavelm ente a
m elhor coisa que eu posso fazer entre agora e os Gam es é engordar alguns quilos. “Pelo
m enos vocês dois tem  boas m aneiras,” diz Effie enquanto term inam os o prato principal. “O
par do ano passado com eu tudo com  as m ãos com o dois selvagens. Perturbou com pletam ente
m inha digestão.”
O par do ano passado foram  duas crianças de Seam  que nunca, nem  por um  dia em  suas vidas,
tiveram  o bastante para com er. E quando eles tinham  com ida, m aneiras a m esa eram
certam ente a últim a coisa em  suas m entes. Peeta é filho do padeiro. Minha m ãe ensinou Prim
e eu a com er propriam ente, então sim , eu sei lidar com  um  garfo e um a faca. Mas eu odeio
tanto o com entário de Effie Trinket que eu tom o nota de com er o resto da m inha refeição com
m eus dedos. Então eu lim po m inhas m ãos na toalha de m esa. Isso a fez franzir seus lábios
apertadam ente j untos.
Agora que a refeição acabou, eu estou lutando para m anter a com ida no lugar. Eu posso ver
que Peeta está um  pouquinho verde tam bém . Nenhum  dos nossos estôm agos está acostum ado
a um  cardápio tão rico. Mas se eu consigo segurar o preparado de carne de rato, entranhas de
porco, e casca de árvore da Greasy  Sae – um a especialidade do inverno – eu estou
determ inada a segurar isso.
Nós vam os a outro com partim ento para assistir o recapitulam ento das colheitas por Panem .
Eles tentam  balancearem -nas durante o dia para que um a pessoa possa concebivelm ente
assistir o negócio todo ao vivo, m as só pessoas em  Capitol podem  realm ente fazer isso, j á que
nenhum a delas tem  que atender colheitas pessoalm ente.
Um a por um a, vem os as outras colheitas, os nom es cham ados, os voluntários se apresentando
ou, m ais frequentem ente, não. Nós exam inam os os rostos das crianças que serão nossa
com petição. Algum as se destacam  na m inha m ente. Um  garoto m onstruoso que se lança a
frente para se voluntariar pelo Distrito 2. Um a garota de rosto astuto com  cabelo verm elho liso
do Distrito 5. Um  garoto com  um  pé inválido do Distrito 10. E, m ais assustador, um a garota de
doze anos do Distrito 11. Ela tem  pele e olhos m arrom  escuros, m as fora isso, ela é bem
parecida com  Prim  no tam anho e no com portam ento. Só que quando ela sobe no palco e eles
pedem  por voluntários, tudo o que você consegue ouvir é o vento assoprando pelos prédios
decrépitos ao redor dela. Ninguém  desej a tom ar seu lugar.


Por últim o, eles m ostram  o Distrito 12. Prim  sendo cham ada, eu correndo a frente para m e
voluntariar. Você não consegue deixar passar o desespero em  m inha voz enquanto eu em purro
Prim  para trás de m im , com o se eu tivesse m edo de que ninguém  iria ouvir e eles tom assem
Prim . Mas, é claro, eles ouvem . Eu vej o Gale puxando-a de m im  e observo a m im  m esm a
subir no palco. Os com entaristas não tem  certeza do que dizer sobre a recusa da m ultidão em
aplaudir. A saudação silenciosa. Um  diz que o Distrito 12 sem pre foi um  tanto atrasado, m as
que costum es locais podem  ser charm osos. Bem  no m om ento correto, Hay m itch cai do palco,
e eles berram  com icam ente. O nom e de Peeta é sorteado, e ele silenciosam ente tom a seu
lugar. Nós apertam os as m ãos. Eles cortam  para o hino novam ente, e o program a acaba.
Effie Trinket está decepcionada sobre o estado que sua peruca se encontrava. “Seu m entor tem
m uito o que aprender sobre apresentação. Muito sobre com portam ento televisivo.” Peeta ri
inesperadam ente. “Ele estava bêbado,” diz Peeta. “Ele fica bêbado todo ano.”
“Todo dia,” eu acrescento. Eu não posso evitar forçar um  pouco o riso. Effie Trinket faz soar
com o se Hay m itch tivesse sim plesm ente algum as m aneiras brutas que pudessem  ser
corrigidas com  algum as dicas dela.
“Sim ,” sibila Effie Trinket. “Que estranho vocês dois acharem  isso engraçado. Vocês sabem
que seu m entor é sua corda de salvação ao m undo nesses Gam es. Aquele que o aconselha,
encarreira seus patrocinadores, e dita a apresentação de qualquer presente. Hay m itch pode
m uito bem  ser a diferença entre a sua vida e a sua m orte!” Bem  então, Hay m itch tropeça
para dentro do com partim ento. “Eu perdi o j antar?” ele diz num a voz indistinta. Então ele
vom ita sobre todo o tapete caro e cai na bagunça.
“Então riam  a vontade!” diz Effie Trinket. Ela salta ao redor da piscina de vôm ito em  seus
sapatos de bico fino e foge da sala.


4
Por alguns m om entos, Peeta e eu captam os a cena do nosso m entor tentando se levantar do
m aterial vil e escorregadio do seu estôm ago. A fetidez do vôm ito e do álcool bruto quase traz
m inha refeição para fora. Nós trocam os um  olhar. Obviam ente Hay m itch não era m uita
coisa, m as Effie Trinket está certa quanto a um a coisa, um a vez dentro da arena ele é tudo que
terem os. Com o se por um  acordo silencioso, Peeta e eu tom am os cada um  braço de Hay m itch
e o aj udam os a se levantar.
“Eu tropecei?” Hay m itch pergunta. “Cheira ruim .” Ele esfrega sua m ão no nariz, m anchando
seu rosto de vôm ito.
“Vam os levá-lo de volta ao seu quarto,” diz Peeta. “Te lim par um  pouco.” Nós m eio que
carregam os Hay m itch de volta a sua cabine. Desde que não podem os exatam ente j ogá-lo na
cam a bordada, o rebocam os para dentro da banheira e abrim os o chuveiro. Ele nem  nota.
“Ok,” Peeta diz para m im . “Eu continuo daqui.”
Não posso evitar m e sentir um  pouco grata visto que a últim a coisa que eu quero fazer é despir
Hay m itch, lavar o vôm ito dos pêlos do seu peito, e enfiá-lo num a cam a. Possivelm ente Peeta
está tentando fazer um a boa im pressão nele, para ser seu favorito um a vez que os Gam es
com ecem . Mas j ulgando o estado em  que ele está, Hay m itch não terá nenhum a m em ória
am anhã.
“Tudo bem ,” digo. “Posso m andar alguém  do Capitol vir te aj udar.” Há m uitos deles no trem .
Cozinhando para nós. Esperando por nós. Guardando-nos. Tom ar conta de nós é trabalho deles.
“Não. Eu não os quero,” diz Peeta.
Eu aceno e sigo para m eu próprio quarto. Entendo com o Peeta se sente. Eu não posso suportar
a visão das pessoas de Capitol. Mas fazê-las lidar com  Hay m itch poderia ser um a pequena
form a de vingança. Então eu ponderei a razão para ele insistir em  cuidar do Hay m itch e
repentinam ente eu penso, É porque ele está sendo gentil. Justo com o ele foi gentil ao m e dar o
pão.
A idéia foge rapidam ente. O tipo Peeta Mellark é m uito m ais perigoso para m im  do que o tipo
cruel. Pessoas gentis sem pre têm  um a form a de trabalhar seus cam inhos para dentro da m im
e se enraizar lá. E eu não posso deixar Peeta fazer isso. Não onde nós estam os indo. Então eu
decido, desse m om ento em  diante, ter o m ínim o possível para fazer com  o filho do padeiro.
Quando eu entro no m eu quarto, o trem  está parado num a plataform a para abastecer. Abro
rapidam ente a j anela, j ogo os biscoitos que o pai de Peeta m e deu fora do trem , e fecho a
j anela com  força. Não m ais. Não m ais de nenhum  deles.


Infelizm ente, o pacote dos biscoitos bate no chão e se abre num  rem endo de dandelions pela
pista. Vej o a im agem  apenas por um  m om ento, porque o trem  com eça a se m over, m as é o
bastante. O bastante para m e lem brar de outro dandelion no cam po da escola anos atrás...
Eu tinha acabado de m e virar do rosto m achucado de Peeta Mellark quando vi o dandelion* e
eu soube que a esperança não estava perdida. Eu o arranquei cuidadosam ente e m e apressei
para casa. Agarrei um  balde e a m ão de Prim  e segui para Meadow e sim , ele estava
pontilhada de ervas daninhas am arelas. Depois de nós as arrancarm os, nós procuram os nos
arredores dentro do m uro por provavelm ente um  1,5 km  até que nós tínham os enchido o balde
com  dandelions verdes, raízes e flores. Naquela noite, nos em panturram os com  um a salada de
dandelion e o resto do pão da padaria.
“Que m ais?” Prim  m e perguntou. “Que m ais com ida nós podem os encontrar?”
“Todo tipo de coisa,” prom eti a ela. “Só tenho que lem brá-las.”
* Tipo de erva
Minha m ãe pegou um  livro que ela tinha trazido com  ela da loj a farm acista. As páginas eram
feitas de velho pergam inho e coberta de pinturas de plantas. Blocos de caligrafia lim pa
disseram  seus nom es, onde os j untando, quando eles florescem , seus usos m edicinais. Mas
m eu pai acrescentou outras entradas no livro. Plantas para com er, não curar. Dandelions,
ervas, cebolas selvagens, pinhos. Prim  e eu passam os o resto da noite debruçadas sobre essas
páginas.
No dia seguinte, nós faltam os à escola. Por um  tem po eu fiquei andando perto dos m uros de
Meadow, m as finalm ente j untei coragem  para ir debaixo da cerca. Era a prim eira vez que
tinha estado lá sozinha, sem  as arm as do m eu pai para m e proteger. Mas eu recuperei o
pequeno arco e flechas que ele tinha feito para m im  de um  tronco oco. Eu provavelm ente não
fui m ais que 20 m etros floresta adentro naquele dia. Na m aior parte do tem po, eu fiquei
em poleirada nos galhos de um  velho carvalho, esperando que um a caça viesse. Após algum as
horas, eu tive a sorte de m atar um  coelho.
Eu tinha acertado uns poucos coelhos antes, com  a aj uda do m eu pai. Mas dessa vez eu tinha
feito sozinha.
Não tínham os tido carne em  m eses. A visão do coelho pareceu m exer algo na m inha m ãe. Ela
despertou, pele de carcaça, e fez um a sopa com  a carne e algum as verduras que Prim  tinha
j untado. Então ela ficou confusa e voltou para cam a, m as quando a sopa estava feita, nós a
fizem os com er um a tigela.
A floresta se tornou nossa salvação, e a cada dia eu ia um  pouco além  a seus braços. Era
devagar no princípio, m as eu estava determ inada a nos alim entar. Roubei ovos dos ninhos,
peguei peixe com  redes, às vezes eu conseguia acertar um  esquilo ou um  coelho para a sopa, e


j untava as diversas plantas que surgiram  sob m eus pés. Plantas eram  enganadoras. Muitas são
com estíveis, m as um  bocado falso e você está m orta. Eu verifico um a e outra vez as plantas
que eu colhi das figuras do m eu pai. Eu nos m antenho vivas.
Qualquer sinal de perigo, um  uivo distante, um a quebra de galho inexplicável, faz-m e correr
de volta para a cerca. Então com eço a m e arriscar subir nas árvores para escapar de cães
selvagens que rapidam ente ficam  entediados e vão em bora. Ursos e gatos vivem  m ais adentro,
talvez não gostando do fedor de fuligem  do nosso distrito.
Em  8 de Maio, eu fui para o Edifício da Justiça, registrei-m e para o tesserae, e levei para casa
m eu prim eiro lote de grãos e óleo no vagão de brinquedo de Prim . No oitavo dia de cada m ês
eu tinha o direito de fazer o m esm o. Eu não podia parar de caçar e colher, é claro. Os grãos
não são o suficiente para viver, e havia outras coisas para com prar, sabão e leite e cordas. O
que nós não precisávam os absolutam ente para com er, com ecei a negociar no Hob. Foi
assustador entrar naquele lugar sem  m eu pai do m eu lado, m as as pessoas tinham  o respeitado,
e m e aceitaram . Caça era caça depois de tudo, não im porta quem  pegou. Eu tam bém  vendi
nas portas dos fundos de clientes ricos na cidade, tentando lem brar o que m eu pai tinha m e dito
e aprendendo alguns poucos truques tam bém . O açougueiro com praria m eus coelhos m as não
os esquilos. O padeiro aproveitaria os esquilos, m as só negociaria um  se a esposa não tivesse
por perto. O Pacifista Chefe adorava perus selvagens. O prefeito tinha um a paixão por
m orangos.
No final do verão, eu estava m e lavando em  um  lago quando notei as plantas crescendo ao
m eu redor. Altas com  folhas com  pontas afiladas. Florescendo com  três pétalas brancas. Eu
m e aj oelhei na água, m eus dedos escavando na lam a m acia, e puxei um  punhado de raízes.
Bulbos azulados que não parecem  m uita coisa, m as cozidos ou assados eram  tão bons quanto
batatas.
“Katniss,” eu disse alto. É a planta cuj o nom e m e foi dado. E eu ouvi a voz do m eu pai
brincando, “Contanto que você ache a si m esm a, você nunca m orrerá de fom e.” Passei horas
agitando o leito da lagoa com  m eus dedos dos pés e um a vara, colhendo os bulbos que
flutuavam  para a superfície. Naquela noite nós banqueteam os com  peixe e raízes de katniss até
que todos nós, pela prim eira vez em  m eses, estávam os cheios.
Lentam ente, m inha m ãe retornou para nós. Ela com eçou a lim par e cozinhar e guardar
algum a da com ida que eu trouxe para o inverno. Pessoas negociam  conosco ou pagam  em
dinheiro pelos recursos m édicos dela. Um  dia, eu a ouvi cantando.
Prim  estava em ocionada por tê-la de volta, m as continuei observando, esperando que ela
desaparecesse de nós novam ente. Não confiei nela. E em  algum  pequeno lugar retorcido
dentro de m im  eu a odiava pela sua fraqueza, pela sua negligência, pelos m eses em  que ela
nos deixou de lado. Prim  a perdoou, m as eu coloquei um  pé atrás com  a m inha m ãe, coloquei
um  m uro para m e proteger de precisar dela, e nada nunca m ais foi o m esm o entre nós.


Agora eu ia m orrer sem  nunca ter aj eitado tudo. Eu pensei em  com o eu tinha gritado com  ela
hoj e no Edifício da Justiça. Eu tinha dito que a am ava, tam bém , no entanto. Então talvez deva
ter balanceado.
Por um  m om ento eu fico de pé olhando pela j anela do trem , desej ando poder abri-la de novo,
m as incerta do que poderia acontecer num a velocidade tão alta. À distância, vej o luzes de
outro distrito. 7? 10? Não sei. Penso nas pessoas em  suas casas, arrum ando-se para dorm ir.
Im agino m inha casa, com  as persianas apertadas. O que elas estão fazendo agora, m inha m ãe
e Prim ? Estão na m esa com endo a refeição? Sopa de peixe e m orangos? Ou isso está intocado
em  seus pratos? Elas assistiram  o resum o dos eventos do dia na velha TV a bateria que fica na
m esa contra a parede? Certam ente, houve m ais lágrim as. Minha m ãe está segurando a barra,
sendo forte pela Prim ? Ou ela j á com eçou a escapulir, deixando o peso do m undo nos om bros
frágeis da m inha irm ã?
Prim  sem  dúvida dorm irá com  m inha m ãe hoj e à noite. O pensam ento daquele Buttercup
velho e im undo se colocando na cam a para vigiar Prim  m e conforta. Se ela chorar, ele vai
introm eter-se em  seus braços e enrolar-se lá até ela se acalm ar e dorm ir. Eu estou m uito
satisfeita por não tê-lo afogado.
Im aginar m inha casa m e faz doer de solidão. Esse dia parece interm inável. Gale e eu
podíam os estar com endo am oras apenas essa m anhã? Parecia que tinha sido há um  longo
tem po. Com o um  longo sonho deteriorado num  pesadelo. Talvez, se eu for dorm ir, acordarei
de volta no Distrito 12, onde eu pertenço.
Provavelm ente as gavetas estão cheias de cam isolas, m as eu apenas tiro m inha cam isa e
calças e subo na cam a só com  a roupa íntim a. Os lençóis eram  feitos de tecido m acio e
sedoso. Um a m anta grossa e m acia m e dá conforto im ediatam ente.
Se eu vou chorar, agora é a agora. De m anhã, eu vou ser capaz de lavar o dano feito pelas
m inhas lágrim as do m eu rosto. Mas nenhum a lágrim a veio. Eu estou cansada e paralisada
dem ais para chorar. A única coisa que sinto é um  desej o de estar em  qualquer outro lugar.
Então deixo o trem  m e balançar para o esquecim ento.
Luz cinza está escapando através das cortinas quando a batida m e desperta. Escuto a voz de
Effie Trinket, cham ando para m e levantar. “Levanta, levanta, levanta! Hoj e vai ser um
grande, grande, grande dia!” Tento im aginar, por um  m om ento, com o deve ser dentro da
cabeça daquela m ulher. Que pensam entos a preenchem  durante as horas? Que sonhos vêm  a
ela a noite? Não tenho idéia.
Coloco os traj es verdes de volta visto que não estão realm ente suj os, só levem ente
am arrotados por passar a noite no chão. Meus dedos traçam  o círculo ao redor do pequeno
m ockinj ay  e penso na floresta, no m eu pai, e na m inha m ãe e Prim  acordando, tendo que


colocar as coisas nos lugares.
Eu dorm i com  a trança elaborada que m inha m ãe fez para a colheita e não parece m uito ruim ,
então eu a deixo. Não im porta. Não podem os estar longe do Capitol agora. E um a vez que nós
cheguem os à cidade, m eu estilista ditará m inha aparência para a cerim ônia de abertura hoj e à
noite, de qualquer form a. Eu só espero que eu pegue alguém  que não pense que nudez é a
últim a palavra em  m oda.
Quando entro no vagão restaurante, Effie Trinket m e tocou de leve com  um a xícara de café
preto. Ela está m urm urando obscenidades sob sua respiração. Hay m itch, sua face inchada e
verm elha das indulgências do dia anterior, está dando risadas. Peeta segura um  pãozinho e
parece um  pouco em baraçado.
“Sente-se! Sente-se!” diz Hay m itch, acenado para m im . No m om ento em  que eu sento na
m inha cadeira sirvo-m e de um  enorm e prato de com ida. Ovos, presunto, pilhas de batatas
fritas. Um a terrina de frutas fica sobre o gelo para m anter-se fria. A cesta de pãezinhos
colocada a m inha frente m anteria m inha fam ília por um a sem ana. Há um  elegante j arro de
suj o de laranj a. Ao m enos eu acho que é suco de laranj a. Eu só experim entei laranj a um a vez,
no ano novo, quando m eu pai trouxe um a com o um  banquete especial. Um a xícara de café.
Minha m ãe adora café, que nós quase nunca podíam os bancar, m as parece apenas am argo e
fino para m im . Um a xícara de algo de um  m arrom  forte que eu nunca tinha visto.
“Eles cham am  de chocolate,” diz Peeta. “É bom .”
Eu tom o um  gole do líquido quente, doce e crem oso e um  trem or m e percorre. Mesm o com  o
resto da refeição m e cham ando, eu o ignoro e term ino a m inha xícara. Então engulo todo o
gole que seguro, que é um a quantidade substancial, sendo cuidadosa para não exagerar nessa
coisa rica. Um a vez, m inha m ãe m e contou que eu sem pre com ia com o se nunca m ais fosse
ver com ida novam ente. E eu falei, “Não vou a m enos que eu a traga para casa.” Isso a
silenciou.
Quando m eu estôm ago parece que vai botar para fora, eu m e inclino para trás e olho para
m eus com panheiros de café da m anhã. Peeta ainda está com endo, tirando pedaços dos pães e
os m ergulhando no chocolate quente. Hay m itch não tem  dado m uita atenção ao seu prato, m as
ele está tom ando um a taça de um  suco verm elho que ele m antém  diluído com  um  líquido
claro de um a garrafa. Julgando pela espum a, é algum  tipo de bebida. Não conheço Hay m itch,
m as eu tenho o visto freqüentem ente o bastante no Hob, Jogando punhados de dinheiro em  um
canto com  um a m ulher que vende líquido branco. Ele estará incoerente no m om ento em  que
nós chegarm os ao Capitol.
Noto que detesto Hay m itch. Sem  dúvida os tributos do Distrito 12 têm  chance. Não é só que
nós estiverm os desnutridos e sem  treinam ento. Alguns dos nossos tributos tinham  sido fortes o
bastante para fazer algo. Mas nós dificilm ente conseguim os patrocinadores e ele é em  grande


parte o m otivo. Mas pessoas ricas pegam  tributos – ou porque eles estão apostando neles ou
sim plesm ente para ter o direito de se gabar de ter escolhido o vencedor – esperam  alguém
com  m ais classe que Hay m itch para lidar.
“Então, você é para, supostam ente, dar-nos conselhos,” digo para Hay m itch.
“Aqui está um  conselho. Fique viva,” diz Hay m itch, e então explode em  risadas. Troco um
olhar com  Peeta antes de lem brar que eu não tenho nada a fazer com  ele. Estou surpresa de
ver dureza em  seus olhos. Ele geralm ente parece tão brando.
“Isso é m uito divertido,” diz Peeta. De repente ele j oga a taça fora da m ão de Hay m itch. Ela
se quebra no chão, m andando o líquido verm elho para a parte detrás de trem . “Só não para
nós.” Hay m icth considera isso por um  m om ento, então coça Peeta no m axilar, j ogando da sua
cadeira. Quando ele se vira para pegar a bebida, eu coloco m inha faca na m esa entre sua m ão
e a garrafa m al errando seus dedos. Eu m e esforço para desviar de sua batida, m as ela não
veio. Em  vez disso ele se senta de volta e dá um a olhada para nós.
“Bem , o que é isso?” diz Hay m itch. “Eu realm ente peguei um  par de lutadores esse ano?”
Peeta se levanta do chão e pega um  punhado de gelo debaixo da terrina de frutas. Ele com eça
a levá-lo para a m arca verm elha de seu m axilar.
“Não,” diz Hay m itch, o parando. “Deixe o m achucado aparecer. A audiência pensará que
você o trocou com  outro tributo antes de você m esm o fazer algo na arena.”
“Isso é contra as regras,” diz Peeta.
“Som ente se eles te pegarem . Esse m achucado dirá que você brigou, você não foi pego, ainda
m elhor,” diz Hay m itch. Ele se vira para m im . “Você pode acertar qualquer coisa com  a faca
além  da m esa?”
O arco e a flecha são m inhas arm as. Mas eu passei um  bom  tem po atirando facas tam bém . Às
vezes, se eu tinha ferido um  anim al com  a flecha, era m elhor pegar a faca tam bém , antes de
m e aproxim ar. Noto que se eu quero a atenção de Hay m itch, esse é o m eu m om ento para
fazer um a im pressão. Arranco m inha faca da m esa, consigo o controle da lâm ina, e então a
atiro na parede do outro lado do quarto. Eu estava de fato apenas esperando um a sólida
cravada, m as ela se aloj a na fresta entre duas panelas, fazendo-m e parecer m uito m elhor do
que sou.
“Fiquem  de bem  ali. Vocês dois,” diz Hay m itch, acenando para o m eio do aposento. Nós
obedecem os e ele nos circula, cutucando-nos com o anim ais às vezes, checando nossos
m úsculos, exam inando nossas faces. “Bem , vocês não parecem  inteiram ente perdidos.
Parecem  com binar. E um a vez que os estilistas os pegarem , você serão atraentes o bastante.”
Peeta e eu não questionam os isso. Os Hunger Gam es não são um a com petição de beleza, m as
os tributos m ais bonitos sem pre parecem  conseguir m ais patrocinadores.


“Ok, vou fazer um  acordo com  vocês. Vocês não interferem  com  a m inha bebida, e eu ficarei
sóbrio o bastante para aj udá-los,” diz Hay m itch. “Mas vocês têm  que fazer exatam ente o que
eu digo.”
Isso não é m uito um  acordo, m as ainda é um  grande passo adiante com parado a dez m inutos
atrás quando nós não tinham os nenhum a aj uda.
“Ótim o,” diz Peeta.
“Então nos aj ude,” digo. “Quando nós entrarm os na arena, qual é a m elhor estratégia no
Cornucopia para alguém  –”
“Um a coisa de cada vez. Em  poucos m inutos, nós estarem os entrando na estação. Vocês serão
colocados nas m ãos dos estilistas. Vocês não gostarão do que eles fazem  com  vocês. Mas não
im porta o quê, não resistam ,” diz Hay m itch.
“Mas –” eu com eço.
“Sem  m ais. Não resistam ,” diz Hay m itch. Ele pega a garrafa de bebida da m esa e deixa o
vagão.
Enquanto as portas fecham  atrás dele, o vagão fica escuro. Há ainda algum as poucas luzes
dentro, m as fora é com o se a noite tivesse caído novam ente. Noto que nós devem os estar num
túnel que corre através das m ontanhas para o Capitol. As m ontanhas form am  um a barreira
natural entre o Capitol e os distritos orientais. É quase im possível entrar do leste exceto através
dos túneis. Essa vantagem  geográfica foi um  fator im portante na derrota dos distritos que m e
levou a ver um  tributo hoj e. Desde que os rebeldes tinham  que escalar as m ontanhas, eles
eram  alvos fáceis para as forças aéreas do Capitol.
Peeta Mellark e eu ficam os em  silêncio enquanto o trem  m ovia-se com  velocidade. O túnel
continua e continua e eu penso nas toneladas de rocha que m e separam  do céu, e m eu peito se
aperta. Odeio ser envolvida num a pedra dessa form a. Lem bra das m inas e do m eu pai,
em boscado, incapaz de atingir a luz do sol, enterrado para sem pre na escuridão.
O trem  finalm ente com eça a dim inuir de velocidade e de repente um a luz brilhante inunda o
com partim ento. Nós não podem os evitar. Am bos Peeta e eu correm os para a j anela para ver
o que nós tínham os visto apenas na televisão, o Capitol, a cidade governante de Panem . As
câm eras não tinham  m entido sobre sua grandeza. De fato, eles não tinham  capturado o
bastante de toda a m agnificência dos edifícios cintilantes em  um  arco-íris de cores que se
erguem  ao ar, os carros reluzentes que andam  nas largas ruas pavim entadas, as pessoas
vestidas de form a estranha com  cabelos bizarros e faces pintadas que nunca perderam  um a
refeição. Todas as cores parecem  artificiais, o rosa m uito profundo, o verde m uito brilhante, o
am arelo doloroso aos olhos, com o os discos redondos de um  doce duro que nós nunca podem os
bancar na m inúscula loj a de doces no Distrito 12. As pessoas com eçam  a nos apontar


avidam ente enquanto eles reconhecem  um  trem  de tributo entrando na cidade. Dou um  passo
para longe da j anela, nauseada pelo excitam ento deles, sabendo que eles não podem  esperar
para nos ver m orrer. Mas Peeta continua lá, na verdade acenando e sorrindo para a tola
m ultidão. Ele só para quando o trem  entra na estação, bloqueando-nos de suas vistas.
Ele m e vê olhando para ele e encolhe os om bros. “Quem  sabe?” ele diz. “Um  deles pode ser
rico.”
Tenho o j ulgado m al. Penso nas suas ações desde a colheita com eçar. O aperto am igável na
m inha m ão. Seu pai m ostrando os biscoitos e prom etendo alim entar Prim ... Peeta o fez fazer
aquilo? Suas lágrim as na estação. Voluntariando-se para lavar Hay m itch, m as então o
desafiando essa m anhã quando aparentem ente a abordagem  cara-legal tinha falhado. E agora
acenando na j anela, j á tentando ganhar a m ultidão.
Todos os pedaços ainda estão se encaixando, m as eu percebo que ele tem  um  plano form ado.
Ele não tem  aceitado sua m orte. Ele j á está lutando duro para sobreviver. O que significa que o
tipo Peeta Mellark, o garoto que m e deu o pão, está lutando duro para m e m atar.


5
R-i-i-i-p! Eu cerrei m eu dentes enquanto Venia, um a m ulher com  cabelo azul-piscina e
tatuagens douradas acim a de suas sobrancelhas, puxa um  pedaço de pano da m inha perna,
arrancando o cabelo abaixo dela. “Perdão!” ela grita em  seu tolo sotaque de Capitol. “É que
você é tão peluda!”
Por que essas pessoas sem pre falam  tão alto? Por que suas m andíbulas m al abrem  quando elas
falam ? Por que o final das frases delas sobem  com o se elas estivessem  fazendo um a pergunta?
Vogais estranhas, palavras cortadas, e sem pre um  zunido na letra s... não é de se espantar que
é im possível não im itá-los.
Venia faz o que deveria ser um  rosto sim pático. “Boa notícia, contudo. Esse é o últim o.
Pronta?” Eu agarro as pontas da m esa na qual estou sentada e aceno. A faixa final dos pelos da
m inha perna é arrancada com  um  puxão violento.
Eu estou no Centro de Rem odelagem  por m ais de três horas e eu ainda não conheci m eu
estilista. Aparentem ente ele não tem  interesse em  m e ver até que Venia e os outros m em bros
da m inha equipe de preparação tenham  resolvido alguns problem as óbvios. Isso incluíra
esfregar m eu corpo com  greda arenosa que rem oveu não só suj eira, m as pelo m enos três
cam adas de pele, transform ando m inhas unhas em  form as uniform es, e prim ariam ente
livrando m eu corpo de pelos. Minhas pernas, braços, torso, axilas, e partes das m inhas
sobrancelhas tinham  sido livradas dos pelos, deixando-m e com o um  pássaro depenado, pronto
para assar. Eu não gosto disso. Minha pele está dolorida e form igante e intensam ente
vulnerável. Mas eu tinha m antido m inha parte do acordo com  Hay m ich, e nenhum a obj eção
cruzou m eus lábios.
“Você está indo m uito bem ,” diz algum  cara cham ado Flavius. Ele dá um a chacoalhada em
suas m echas espirais laranj as e aplica um a cam ada nova de batom  roxo em  sua boca. “Se há
um a coisa que não suportam os, é um  choram ingão. Ensebem  ela!” Venia e Octavia, um a
m ulher rechonchuda cuj o corpo inteiro fora tingido de um  tom  pálido de verde-ervilha, m e
esfregam  com  um a loção que prim eiram ente dói, m as depois alivia m inha pele ferida. Então
eles m e puxam  da m esa, rem ovendo o fino robe que eu fora perm itida a usar dentro e fora. Eu
fico parada lá, com pletam ente nua, enquanto os três m e circulam , em punhando pinças para
rem over todos os últim os pedacinhos de pelo. Eu sei que deveria estar em baraçada, m as eles
são tão diferentes de pessoas que eu não estou m ais auto-consciente do que se um  trio de
pássaros estranham ente coloridos estivesse bicando ao redor do m eu pé.
Os três recuam  e adm iram  seu trabalho. “Excelente! Você quase parece um  ser hum ano
agora!” diz Flavius, e todos eles riem .
Eu forço m eus lábios em  um  sorriso para m ostrar com o estou grata. “Obrigada,” eu digo
docem ente. “Não tem os m uito m otivo para parecerm os bem  no Distrito Doze.” Isso os


conquista com pletam ente. “É claro que você não tem , pobre querida!” diz Octavia batendo
suas m ãos em  sofrim ento por m im .
“Mas não se preocupe,” diz Venia. “Quando Cinna term inar com  você, você vai estar
absolutam ente linda!”
“Nós prom etem os! Você sabe, agora que nos livram os de todos aqueles pelos e suj eira, você
não é m esm o horrível!” diz Flavius encoraj adoram ente. “Vam os cham ar Cinna!” Eles se
lançam  para fora da sala. É difícil odiar a m inha equipe de preparação. Eles são uns idiotas
totais. E ainda assim , de um a m aneira estranha, eu sei que eles estão sinceram ente tentando
m e aj udar.
Eu olho para as frias paredes e para o chão branco e resisto ao im pulso de recuperar m eu
robe. Mas esse Cinna, m eu estilista, certam ente m e fará rem ovê-lo im ediatam ente. Ao invés,
m inhas m ãos vão para o m eu penteado, a única área do m eu corpo que fora dita a m inha
equipe de preparação para deixar quieta. Meus dedos acariciam  as tranças sedosas que m inha
m ãe tão cuidadosam ente arrum ou. Minha m ãe. Eu deixei seu vestido e sapatos azuis no chão
do vagão, nunca pensando em  recuperá-los, em  tentar m anter um  pedaço dela, de casa. Agora
eu desej ava que tivesse recuperado. A porta se abre e um  j ovem  que deve ser Cinna entra. Eu
fico surpresa por ver o quanto ele parece norm al. A m aioria dos estilistas que eles tinham
entrevistado na televisão tinham  cabelos tão pintados, tinham  tantos desenhos de estêncil, e
eram  tão cirurgicam ente alterados que eram  grotescos. Mas o cabelo curto de Cinna parece
ser do seu tom  natural de castanho. Ele está com  um a sim ples cam iseta e calça pretas. A única
concessão de auto-m udança parece ser o delineador m etálico dourado que foi aplicado com
um a m ão leve. Destaca os grãos de dourado em  seus olhos verdes. E, apesar do m eu noj o por
Capitol e seu senso fashion horrível, eu não consigo parar de pensar em  com o ele é atraente.
“Olá, Katniss. Eu sou o Cinna, seu estilista,” ele diz em  um a voz baixa que de algum a form a
carece das afetações de Capitol.
“Olá,” eu m e aventurei cuidadosam ente.
“Só m e dê um  m om ento, está certo?” ele pergunta. Ele anda ao redor do m eu corpo nu, não
m e tocando, m as tom ando nota de cada centím etro dele com  seus olhos. Eu resisto ao im pulso
de cruzar m eus braços sobre m eu peito. “Quem  arrum ou o seu cabelo?”
“Minha m ãe,” eu digo.
“É lindo. Clássico, realm ente. E em  equilíbrio quase perfeito com  o seu perfil. Ela tem  dedos
m uito espertos,” ele diz.
Eu tinha esperado alguém  exibicionista, alguém  m ais velho tentando desesperadam ente
parecer m ais j ovem , alguém  que m e via com o um  pedaço de carne a ser preparado num
prato.


Cinna não correspondeu a nenhum a dessas expectativas.
“Você é novo, não é? Eu não acho que eu o vi antes,” eu digo. A m aior parte dos estilistas são
fam iliares, constantes na concentração dinâm ica dos tributos. Alguns estiveram  em  volta por a
m inha vida inteira.
“Sim , esse é o m eu prim eiro ano nos Gam es,” diz Cinna.
“Então eles lhe deram  o Distrito Doze,” eu digo. Novatos geralm ente acabam  conosco, o
distrito m enos desej ável.
“Eu pedi pelo Distrito Doze,” ele diz sem  m aiores explicações. “Por que não coloca seu robe e
batem os um  papo?”
Puxando m eu robe, eu o sigo por um a porta para um a sala de estar. Dois sofás verm elhos
encaram  um a m esa baixa. Três paredes estão vazias, a quarta é inteiram ente de vidro,
providenciando um a j anela para a cidade. Eu consigo ver pela luz que deve ser por volta do
m eio-dia, apesar do céu ensolarado ter ficado nublado. Cinna m e convida para sentar em  um
dos sofás e tom a seu lugar na m inha frente. Ela aperta um  botão de um  lado da m esa. O topo
se divide e debaixo sobre um  segundo tam po de m esa que guarda nosso lanche. Frangos e
pedaços de laranj a cozinhados em  um a m olho crem oso estavam  deitados num a cam a de
grãos branco-perolados, m inúsculas ervilhas e cebolas, pãozinhos no form ato de flores, e para
sobrem esa, um  pudim  da cor de m el. Eu tento im aginar coletar eu m esm a essa refeição lá em
casa. Frangos são caros dem ais, m as eu podia m e virar com  um  peru selvagem . Eu precisaria
atirar num  segundo peru para rocar por um a laranj a. O leite de cabra teria que substituir o
crem e. Nós podem os plantar ervilhas no j ardim . Eu teria que pegar cebolas selvagens na
floresta. Eu não reconheço o grão, nossa própria ração de tessera cozinha e vira um  m ingau
m arrom  feio. Pãozinhos chiques significam  outra troca com  o padeiro, talvez dois ou três
esquilos. E quanto ao pudim , eu não consigo nem  adivinhar o que tem  dentro dele. Dias
caçando e reunindo coisas para essa única refeição e ainda assim  seria um a substituição pobre
da versão do Capitol.
Com o deve ser, eu m e pergunto, viver num  m undo onde a com ida aparece ao toque de um
botão? Com o eu passaria as horas que agora eu dedico a passar um  pente na floresta
procurando por sustento se fosse tão fácil de arranj ar? O que eles fazem  o dia todo, essas
pessoas em  Capitol, além  de decorar seus corpos e esperar por um a nova descarga de tributos
chegarem  e m orrerem  para sua diversão?
Eu olhei para cim a e achei os olhos de Cinna treinados nos m eus. “Com o devem os parecer
desprezíveis para você,” ele diz.
Ele tinha visto isso na m inha cara ou de algum  m odo lido m eus pensam entos? Ele está certo,
contudo. Todos eles são podres e desprezíveis.


“Não im porta,” diz Cinna. “Então, Katniss, sobre o seu traj e para a cerim ônia de abertura.
Minha parceira, Portia, é a estilista do seu com panheiro de tributo, Peeta. E nosso pensam ento
atual é vesti-la com  um  traj e com plem entário,” diz Cinna. “Com o você sabe, é com um  refletir
o sabor do distrito.”
Para as cerim ônias de abertura, você deve usar algo que sugira a principal indústria do seu
distrito. Distrito 11, agricultura. Distrito 4, pescaria. Distrito 3, fábricas. Isso significa que vindos
do Distrito 12, Peeta e eu estarem os em  algum  tipo de vestim enta de m ineiros de carvão. Já
que os m acacões largos dos m ineiros são particularm ente adequados, nossos tributos
geralm ente acabam  em  traj es reduzidos e chapéus com  lâm padas frontais. Um  ano nossos
tributos foram  com pletam ente nus e cobertos em  pó negro para representar poeira de carvão.
É sem pre horroroso e não aj uda em  nada a conquistar a platéia em  nosso favor. Eu m e
preparo para o pior.
“Então, eu estarei em  um  traj e de m ineiro de carvão?” Eu pergunto, esperando que não sej a
indecente.
“Não exatam ente. Vej a, Portia e eu acham os que o negócio de m ineiros de carvão é m uito
exagerado. Ninguém  se lem brará de você com  isso. E am bos vem os com o nosso trabalho
transform ar os tributos do Distrito Doze inesquecíveis," diz Cinna.
Eu ficarei nua, com  certeza, eu penso.
“Então ao invés de nos focarm os na própria m ineiração de carvão, vam os nos focar no
carvão,” diz Cinna. Nua e coberta em  poeira negra, eu penso. “E o que fazem os com  o
carvão? Nós o queim am os,” diz Cinna.
“Você não tem  m edo de fogo, tem , Katniss?” Ele vê m inha expressão e sorri.
Algum as horas depois, eu estou vestida no que será ou o traj e m ais sensacional ou o m ais fatal
das cerim ônias de abertura. Eu estou num  m acacão colado sim ples e preto que m e cobre do
tornozelo até o pescoço. Brilhantes botas de couro enlaçadas até os m eus j oelhos. Mas é a capa
agitada feita de j orros de laranj a, am arelo, e verm elho e chapéu com binando que define esse
traj e. Cinna planej a tocar fogo neles logo antes da nossa carruagem  entrar nas ruas.
“Não são cham as de verdade, é claro, só um  pouco de fogo sintético que Poria e eu
inventam os. Você estará perfeitam ente segura,” ele diz. Mas eu não estou convencida de que
não ficarei perfeitam ente tostada na hora que alcançarm os o centro da cidade.
Meu rosto está relativam ente lim po de m aquiagem , só um  pouco de ilum inador aqui e ali.
Meu cabelo fora escovado e então trançado pelas m inhas costas no m eu estilo norm al. “Eu
quero que a audiência reconheça você quando você estiver na arena,” diz Cinna
sonhadoram ente. “Katniss, a garota que estava pegando fogo.” Passa pela m inha m ente que a


conduta calm a e norm al de Cinna esconde um  com pleto louco.
Apesar da revelação dessa m anhã sobre o caráter de Peeta, eu estou na verdade aliviada
quando ele aparece, vestido em  um  traj e idêntico. Ele deve conhecer fogo, sendo o filho de
um  padeiro e tudo. Sua estilista, Portia, e o tim e dela acom panhando-o ao entrar, e todos estão
absolutam ente tontos de anim ação sobre o furor que causarem os. Exceto Cinna. Ele
sim plesm ente parece um  pouco fatigado enquanto aceita os parabéns.
Som os m ovidos rapidam ente para o andar de baixo do Centro de Rem odelagem , o que é
essencialm ente um  estábulo gigante. A cerim ônia de abertura está para com eçar. Pares de
tributos estão sendo colocados em  carruagens puxadas por tim es de quatro cavalos. Os nossos
são negros com o carvão. Os anim ais são tão bem  treinados, ninguém  nem  m esm o precisa
guiar suas rédeas. Cinna e Portia nos dirigem  para a carruagem  e cuidadosam ente arrum am
as posições dos nossos corpos, guarnecendo nossas capas, antes de saírem  para fazerem
consultas um  com  o outro.
“O que você acha?” eu sussurro para Peeta. “Do fogo?”
“Eu arranco a sua capa se você arrancar a m inha,” ele diz por dentes cerrados.
“Fechado,” eu digo. Talvez, se conseguirm os tirá-las cedo o bastante, possam os evitar as piores
queim aduras. É ruim , contudo. Eles nos j ogarão na arena não im porta em  que condição
estej am os. “Eu sei que prom etem os a Hay m itch que faríam os exatam ente o que eles
dissessem , m as eu não acho que ele considerou esse ângulo.”
“Onde está Hay m itch, de qualquer j eito? Ele não deveria nos proteger desse tipo de coisa?” diz
Peeta.
“Com  todo aquele álcool nele, provavelm ente não é aconselhável tê-lo por perto de cham as,”
eu digo.
E de repente estam os os dois rindo. Eu suponho que am bos estam os tão nervosos sobre os
Gam es e, m ais prem entem ente petrificados em  serm os transform ados em  tochas hum anas,
que não estam os agindo sensivelm ente.
A m úsica de abertura com eça. É fácil de ouvir, explodindo por Capitol. Portas m assivas
deslizaram -se para revelar as ruas enfileiradas com  pessoas. A viagem  dura por volta de vinte
m inutos e acaba na Cidade Circular, onde eles nos recebem , tocam  o hino, e nos escoltam  para
o Centro de Treinam ento, que será nossa casa/prisão até que os Gam es com ecem .
Os Tributos do Distrito 1 viaj am  num a carruagem  puxada por cavalos brancos de neve. Eles
parecem  tão bonitos, pintados com  spray  de prata, em  túnicas de bom  gosto brilhando com
j óias. O Distrito 1 faz itens de luxo para Capitol. Você consegue ouvir os urros da m ultidão.
Eles são sem pre favoritos.


Distrito 2 entra em  posição para segui-los. Num  piscar de olhos, estam os todos nos
aproxim ando da porta e eu consigo ver que entre o céu nublado e a tarde, a luz está ficando
cinza. Os tributos do Distrito 11 estão saindo quando Cinna aparece com  um a tocha acessa.
“Vam os lá, então,” ele diz, e antes que am bos possam os reagir ele toca fogo nas nossas capas.
Eu arfo, esperando pelo calor, m as há só um a leve sensação de cócegas. Cinna sobe perante
nós e incendeia nossas toucas. Ele solta um  suspiro de alívio. “Funciona.” Então ele gentilm ente
coloca um a m ão sob m eu queixo. “Lem brem -se, cabeças erguidas. Sorrisos. Eles vão am ar
vocês!”
Cinna pula da carruagem  e tem  um a últim a ideia. Ele grita algo para nós, m as a m úsica o
afoga.
Ele grita novam ente e gesticula.
“O que ele está dizendo?” Eu pergunto ao Peeta. Pela prim eira vez, eu olho para ele e percebo
que, incandescendo com  as cham as falsas, ele está deslum brante. E eu devo estar tam bém .
“Eu acho que ele disse para segurarm os as m ãos,” diz Peeta. Ele agarra m inha m ão direita
com  sua esquerda, e olham os para Cinna para confirm ação. Ele assente e faz um  j óia, e essa é
a últim a coisa que eu vej o antes de entrarm os na cidade.
O inicial alarm e da m ultidão quando aparecem os rapidam ente m udou para aplausos e gritos
de “Distrito Doze!” Todas as cabeças viraram  na nossa direção, puxando o foco das três
carruagens a nossa frente. De prim eira, fico congelada, m as então eu capturo-nos em  um a
enorm e tela de televisão e fico chocado por parecerm os tão estonteantes. No crepúsculo
aprofundante, a luz do fogo ilum ina nossos rostos. Parecem os estar deixando um a trilha de
fogo com  nossas capas flutuantes. Cinna estava certo sobre a m aquiagem  m ínim a, am bos
parecem os m ais atraentes, m as absolutam ente reconhecíveis.
Lem brem -se, cabeças erguidas. Sorrisos. Eles vão am ar vocês! Eu ouço a voz de Cinna em
m inha cabeça. Eu levanto m eu queixo um  pouco m ais alto, coloco m eu sorriso m ais vencedor,
e aceno com  m inha m ão livre. Estou feliz por ter Peeta agora para m e apoiar em  equilíbrio,
ele é tão firm e, sólido com o um a pedra. A m edida que eu ganho confiança, eu de verdade
sopro alguns beij os para a m ultidão. As pessoas em  Capitol estão pirando, nos m olhando com
flores, gritando nossos nom es, nossos prim eiros nom es, os quais eles se deram  ao trabalho de
encontrar no folheto. A m úsica golpeante, os aplausos, e a adm iração cavaram  seu cam inho
para o m eu coração, e eu não consigo suprim ir m inha anim ação. Cinna m e deu um a grande
vantagem . Ninguém  m e esquecerá. Não a m inha aparência, não o m eu nom e. Katniss. A
garota que estava pegando fogo.
Pela prim eira vez, eu sinto um a centelha de esperança crescendo em  m im . Certam ente deve
haver um  patrocinador disposto a m e pegar! E com  um  pouco de aj uda extra, algum a com ida,


a arm a certa, por que eu deveria m e contar fora dos Gam es?
Alguém  m e j ogou um a rosa verm elha. Eu pego-a, dou um a cheirada delicada, e sopro um
beij o de volta na direção geral da pessoa que deu. Um a centena de m ãos se esticam  para
pegar m eu beij o, com o se fosse um a coisa real e tangível.
“Katniss! Katniss!” Eu consigo ouvir m eu nom e sendo cham ado de todos os lados. Todos
querem  os m eus beij os.
Não é até eu entrar na Cidade Circular que eu percebo que eu devo ter parado com pletam ente
a circulação na m ão de Peeta. De tão apertado que eu estive segurando-a. Eu olho para baixo
para nossos dedos entrelaçados enquanto afrouxo o m eu aperto, m as ele recupera seu aperto
na m inha. “Não, não m e solte,” ele diz. A luz do fogo relam pej a em  seus olhos azuis. “Por
favor. Eu talvez caia dessa coisa.”
“Está bem ,” eu digo. Então eu continuo segurando, m as eu não consigo evitar m e sentir
estranha em  relação a m aneira com  que Cinna nos uniu. Não é realm ente j usto nos apresentar
com o um a equipe e então nos trancar em  um a arena para nos m atarm os.
As doze carruagens enchem  o labirinto da Cidade Circular. Nos prédios que circulam  a
Circular, cada j anela está cheia com  os cidadãos m ais prestigiosos de Capitol. Nossos cavalos
puxam  nossa carruagem  bem  na m ansão do Presidente Snow, e nós param os. A m úsica acaba
com  um  adorno.
O presidente, um  hom em  pequeno e m agro com  cabelo branco com o papel, dá as boas-vindas
oficiais de um  balcão acim a de nós. É tradição cortar para os rostos dos tributos durante a fala.
Mas eu consigo ver na tela que nós estam os conseguindo m uito m ais do que a nossa conta de
tem po o ar. Quanto m ais escuro fica, m ais difícil fica tirar os olhos das nossas capas flutuantes.
Quando o hino nacional toca, eles realm ente se esforçam  para cortar rapidam ente para cada
par de tributos, m as a câm era fica presa na carruagem  do Distrito 12 enquanto desfila ao redor
do círculo um a últim a vez e desaparece no Centro de Treinam ento.
As portas acabaram  de fechar atrás de nós quando som os engolfados pelos tim es de
preparação, que m al estão entendíveis enquanto tagarelam  sobre a nossa glória. Enquanto eu
olho ao redor, eu noto que um  m onte de outros tributos estão nos lançando olhares suj os, o que
confirm a o que eu tinha suspeitado, nós literalm ente brilham os m ais que todos eles.
Então Cinna e Portia estão lá, nos aj udando a descer da carruagem , cuidadosam ente
rem ovendo nossas capas flam ej antes e toucas. Portia os extingue com  algum  tipo de spray  de
um  canastrel.
Eu percebo que ainda estou colada em  Peeta e forço m eus dedos duros a se abrirem . Am bos
m assageam os nossas m ãos.


“Obrigado por ficar segurando em  m im . Eu estava ficando um  pouco trêm ulo lá,” diz Peeta.
“Não pareceu,” eu digo a ele. “Estou certa de que ninguém  notou.”
“Estou certo de que não notaram  nada além  de você. Você devia usar cham as m ais
freqüentem ente,” ele diz. “Elas com binam  com  você.” E então ele m e dá outro sorriso que
parece tão genuinam ente doce com  exatam ente o toque certo de tim idez que um a quentura
inesperada corre por m im .
Um  sinal de aviso dispara na m inha cabeça. Não sej a tão estúpida. Peeta está planej ando
com o m atar você, eu lem bro a m im  m esm a. Ele está te encantando para torná-la um a vítim a
fácil.
Quanto m ais agradável ele for, m ais m ortal ele é.
Mas porque dois podem  j ogar esse j ogo, eu fico na ponta dos pés e beij o sua bochecha. Bem
em  seu m achucado.


6
O Centro de Treinam ento tem  um a torre designada exclusivam ente para os tributos e suas
equipes. Ela será a nossa casa até os reais Gam es com eçarem . Cada distrito tem  todo um
andar. Você sim plesm ente entra num  elevador e pressiona o núm ero do seu distrito. Fácil o
bastante para lem brar.
Eu tinha entrado num  elevador um  par de vezes no Edifício da Justiça no Distrito 12. Um a vez
para receber a m edalha pela m orte do m eu pai e depois ontem  para dizer m eu adeus final
para m eus am igos e fam ília. Mas aquele era um a coisa escura e que range, que se m ove
com o um a lesm a e cheira com o leite azedo. As paredes deste elevador são feitas de cristal
assim  você pode assistir as pessoas no andar térreo encolhendo-se ao tam anho de form igas
enquanto você sobe no ar. É estim ulante e eu sou tentada a perguntar a Effie Trinket se nós
podem os andar nele de novo, m as de algum a form a isso parece infantil.
Aparentem ente, os deveres de Effie Trinket não se concluíram  na estação. Ela e Hay m itch
irão nos inspecionar até a arena. De certo m odo, isso é bom  porque pelo m enos podem os
contar com  ela para nos levar aos lugares pontualm ente enquanto que nós não tem os visto
Hay m itch desde que ele aceitou nos aj udar no trem . Provavelm ente desm aiado em  algum
lugar. Effie Trinket, por outro lado, parece estar voando alto. Nós som os a prim eira equipe que
ele j am ais escoltou que fez um  estouro nas cerim ônias de abertura. Ela é am ável não só pelos
nossos traj es m as com o nós nos dirigim os. E, para ouvi-la dizer que ela conhece todo m undo
que é alguém  em  Capitol, e que tem  falado de nós todo o dia, tentando ganhar para nós
patrocinadores.
“Eu tenho sido m uito m isteriosa, entretanto,” ela diz, seus olhos oblíquos m eio fechados.
“Porque, é claro, Hay m itch não se preocupou em  m e dizer suas estratégias. Mas eu tenho feito
o m eu m elhor com  o que eu tenho que trabalhar. Com o Katniss se sacrificou por sua irm ã.
Com o am bos vocês lutaram  com  sucesso para superar a barbaridade do distrito de vocês.”
Barbaridade? Isso é irônico vindo de um a m ulher aj udando a nos preparar para um  m assacre.
E em  quê ela está baseando o nosso sucesso? Nossas m aneiras na m esa?
“Todo m undo tem  suas reservas, naturalm ente. Vocês sendo de um  distrito de carvão. Mas eu
disse, e isso foi m uito esperto da m inha parte, eu disse, ‘Bem , se você colocar pressão o
bastante no carvão ele se torna pérolas!’” Effie sorri para nós de form a tão brilhante que não
tem os escolha a não ser responder entusiasm adam ente a sua inteligência em bora estej a
errada.
Carvão não se transform a em  pérolas. Elas crescem  em  m olusco. Possivelm ente ela quer
dizer que carvão se transform a em  diam antes, m as então não é verdade. Eu tenho escutado
que eles têm  algum  tipo de m áquina no Distrito 1 que pode transform ar grafite em  diam antes.


Mas nós não exploram os grafite no Distrito 12. Esse era o trabalho do Distrito 13 até eles serem
destruídos.
Pergunto-m e se as pessoas com  as quais ela está fazendo nossa propaganda por todo dia sabem
disso ou se im portam .
“Infelizm ente, não posso fechar acordos de patrocínios por vocês. Som ente Hay m itch pode
fazer isso,” diz Effie com  raiva. “Mas não se preocupem , eu vou levá-lo à m esa na m ira se
necessário.”
Em bora tenha carência em  m uitas áreas, Effie Trinket tem  um a certa determ inação que eu
tenho que adm irar.
Meus quartos são m aiores que nossa casa inteira. Eles são de veludo, com o no vagão do trem ,
m as, além  disso, tem  tantas m áquinas autom áticas que estou certa de que não terei tem po para
apertar todos os botões. O chuveiro sozinho tem  um  painel com  m ais de cem  opções que você
pode escolher regulando a tem peratura da água, pressão, sabonetes, xam pus, perfum es, óleos,
e esponj as para m assagem . Quando você sai em  um a pequena esteira, aquecedores aparecem
para secar seu corpo. Em  vez de lutar com  os nós no m eu cabelo m olhado, m eram ente
coloquei m inha m ão em  um a caixa que enviou um a corrente através do m eu escalpo,
desem baraçando, partindo, e secando m eu cabelo quase instantaneam ente. Ele flutua para
baixo em  torno dos m eus om bros, num a cortina brilhante.
Program o o closet por um a veste do m eu gosto. O zoom  da j anela foca em  partes da cidade ao
m eu com ando. Você precisa apenas sussurrar o tipo de com ida de um  cardápio gigantesco
num  bocal e ela aparece, quente e úm ida, ante a você em  m enos de um  m inuto. Ando ao
redor do quarto com endo fígado de ganso e um  pão inchado até que há um a batida na porta.
Effie está m e cham ando para j antar.
Bom , estou fam inta.
Peeta, Cinna, e Portia estão de pé em  um  balcão que tem  vista panorâm ica do Capitol quando
nós entram os no salão de j anta. Estou satisfeita por ver os estilistas, particularm ente depois de
eu escutar que Hay m itch se j untará a nós. Um a refeição presidida apenas por Effie e
Hay m itch é obrigada a ser um  desastre. Além  disso, j antar não é exatam ente sobre com ida, é
sobre planej ar nossas estratégias, e Cinna e Portia j á têm  provado o quão valorosos eles são.
Um  j ovem  vestido em  um a túnica branca nos oferece todos os cálices de vinho. Penso sobre
derram á-lo, m as eu nunca tinha tido vinho, exceto a coisa feita em  casa que m inha m ãe usava
para tosse, e quando vou conseguir a chance de experim entá-lo de novo? Eu tom o um  trago do
líquido seco e ácido e secretam ente penso que isso poderia ser m elhorado com  algum as
colheres de m el.
Hay m itch só aparece quando o j antar com eça a ser servido. Parece com o se ele tivesse seu


próprio estilista porque ele está lim po e tratado e m ais sóbrio do que j am ais eu o tinha visto.
Ele não recusa a oferta de vinho, m as quando ele com eça a tom ar sua sopa, percebo que essa
é a prim eira vez que eu o tinha visto com er. Talvez ele realm ente se esforce para nos aj udar.
Cinna e Portia parecem  ter um  efeito civilizador em  Hay m itch e Effie. Ao m enos eles estão se
dirigindo um  ao outro de m aneira decente. E am bos são nada além  de elogios para o ato de
abertura dos nossos estilistas. Enquanto eles fazem  conversa fiada, concentro-m e na refeição.
Sopa de cogum elos, verduras am argas com  tom ates do tam anho de ervilhas, rosbife em  fatias
finas com o papel, m acarrão com  m olho verde, o queij o que derrete na sua língua servido com
doce de uvas azul. Os servidores, todos pessoas j ovens vestidas em  túnicas brancas com o
aquele que nos deu vinho, m ovem -se silenciosam ente de lá para cá da m esa, m antendo nossos
pratos e taças cheias.
A cerca de m etade da m inha taça de vinho m inha cabeça com eça a ficar enevoada, então
m udo para água. Não gosto da sensação e espero que vá em bora logo. Com o Hay m itch pode
suportar ficar andando por aí assim  a toda hora é um  m istério.
Tento m e focar na conversa, que tem  se direcionado à nossas vestes da entrevista, quando um a
garota coloca um  glorioso bolo na m esa e habilm ente o acende. Ela inflam a e então as cham as
vacilam  ao redor das beiras por um  m om ento até finalm ente acabar. Tenho um  m om ento de
dúvida. “O que faz queim ar? É álcool?” digo, olhando para a garota. “Essa é a últim a coisa que
eu que – oh! Eu te conheço!”
Eu não posso dizer o nom e ou tem po para o rosto da garota. Mas estou certa. O cabelo
verm elho escuro, as feições im pressionantes, a pele branca de porcelana. Mas m esm o que eu
diga as palavras, sinto m eu interior se contraindo de ansiedade e culpa a visão dela, e enquanto
eu não posso lem brar, sei que algum a m em ória ruim  está associada a ela. A expressão de
terror que cruza em  seu rosto apenas aum enta m inha confusão e intranqüilidade. Ela balança
seu rosto em  negação rapidam ente e rapidam ente se afasta da m esa.
Quando olho para trás, os quatro adultos estão m e assistindo com o gaviões.
“Não sej a ridícula, Katniss. Com o seria possível você conhecer um a Avox?” repreende Effie.
“Só em  im aginação.”
“O que é um  Avox?” pergunto estupidam ente.
“Alguém  que com eteu um  crim e. Eles cortam  sua língua, assim  ela não pode falar,” diz
Hay m itch. “Ela provavelm ente é um a traidora de algum  tipo. Não tem  com o você conhecê-
la.”
“E m esm o se conhecesse, você não é para falar com  nenhum  deles a não ser para dar um a
ordem ,” diz Effie. “É claro, você de fato não a conhece.” Mas eu realm ente a conheço. E


agora que Hay m itch tem  m encionado a palavra traidor eu lem bro de onde. A desaprovação é
tão alta que eu nunca podia adm itir. “Não, acho que não, eu só –” eu gaguej o, e o vinho não
está aj udando.
Peeta estala seus dedos. “Delly  Cartwright. Isso é que é. Continuei pensando que ela parecia
fam iliar tam bém . Então percebo que ela é desanim ada dem ais para Delly .” Dellu Cartwright
é um a garota boba de rosto pálido, com  um  cabelo am arelado, que parece tão servil para
conosco quanto um  besouro para um a borboleta. Ela pode tam bém  ser a pessoa m ais am igável
do planeta – sorri constantem ente para todo m undo na escola, até para m im . Eu nunca tinha
visto a garota de cabelos verm elhos sorrir. Mas eu agarrei a sugestão de Peeta agradecida. “É
claro, era essa em  quem  eu estava pensando. Deve ser pelo cabelo,” digo.
“Algo sobre os olhos, tam bém ,” diz Peeta.
A energia a m esa relaxa. “Oh, bem . Se isso é tudo,” diz Cinna. “E sim , o bolo tem  bebida
alcoólica, m as todo o álcool tem  queim ado. Eu o pedi especialm ente em  honra da sua estréia
brilhante.”
Nós com em os o bolo e entram os na sala de estar para assistir o replay  das cerim ônias de
abertura que está sendo transm itido. Um as poucas outras duplas fazem  um a boa im pressão,
m as nenhum a delas é capaz de m edir-se a nós. Mesm o nosso próprio partido solta um  “Ahh”
enquanto eles nos m ostram  saindo do Centro de Rem odelagem .
“De quem  foi a idéia de segurar as m ãos?” pergunta Hay m itch.
“Cinna,” diz Portia.
“Só um  perfeito toque de rebelião,” diz Hay m itch. “Muito bom .” Rebelião? Eu tenho que
pensar sobre isso por um  m om ento. Mas quando lem bro das outras duplas, perm anecendo
rigidam ente distante, nunca tocando ou reconhecendo o outro, com o se seus tributos
com panheiros não existissem , com o se os Gam es j á tivessem  com eçado, eu sei o que
Hay m itch quer dizer. Apresentando-nos não com o adversários, m as com o am igos, tem  nos
distinguido tanto quanto os traj es ardentes.
“Am anhã de m anhã é a prim eira seção de treinam ento. Encontrem -m e no café da m anhã e
direi a você exatam ente com o eu quero que vocês j oguem ,” diz Hay m itch para Peeta e eu.
“Agora vão dorm ir um  pouco enquanto os crescidos conversam .” Peeta e eu andam os j untos
pelo corredor para nossos quartos. Quando nós chegam os à m inha porta, ele se inclina contra a
estrutura, não bloqueando m inha entrada exatam ente, m as insistindo para eu prestar atenção
nele. “Então, Dally  Cartwright. Im agine encontrar sua sósia aqui.”
Ele está pedindo por um a explicação, e estou tentada a dar um a a ele. Am bos sabem os que ele
m e deu cobertura. Assim  aqui estou eu, em  débito com  ele de novo. Se disser a ele a verdade,
de algum a form a coisas podem  aparecer. Com o isso pode m achucar realm ente? Mesm o se


ele repetiu a história, não podia fazer a m im  nenhum  dano. Era apenas algo que eu
testem unhei. E
ele m entiu tanto quando eu sobre Delly  Cartwright.
Percebo que quero m uito conversar com  alguém  sobre essa garota. Alguém  que possa ser
capaz de m e aj udar a com preender sua história.
Gale seria m inha prim eira escolha, m as é im provável que eu vej a Gale novam ente. Tento
im aginar se dizer a Peeta pode dar a ele algum a possível vantagem  sobre m im , m as não vej o
com o. Talvez dividir um  segredo o fará acreditar que eu o vej o com o am igo, na verdade.
Além  disso, a idéia da garota com  sua língua m utilada m e assusta. Ela m e lem bre porque eu
estou aqui. Não para pousar com  traj es berrantes e com er coisas gostosas. Mas para ter um a
m orte sangrenta, enquanto a m ultidão encoraj a m eu assassinato.
Dizer ou não dizer? Meu cérebro ainda está devagar do vinho. Olho para o corredor vazio
com o se a decisão estivesse ali.
Peeta capta m inha hesitação. “Você j á esteve no telhado?” Eu balanço m inha cabeça. “Cinna
m e m ostrou. Você pode praticam ente ver toda a cidade. O vento é um  pouco barulhento,
entretanto.”
Eu traduzo isso com o “Ninguém  poderá nos ouvir conversar” na m inha cabeça. Você tem  a
sensação de que poderíam os estar sob vigilância aqui. “Nós podem os apenas subir?”
“Claro, venha,” diz Peeta. Sigo-o para um  lance de escadaria que vai ao telhado. Há um
pequeno côm odo em  form a de cúpula com  um a porta para fora. Quando pisam os dentro do ar
da noite fresco e ventoso, eu seguro m eu fôlego pela vista. O Capitol cintila com o um  vasto
cam po de vaga-lum es. Eletricidade no Distrito 12 vinha e ia, usualm ente nós só a tínham os por
poucas horas por dia. Freqüentem ente as noites são passadas a luz de velas. A única hora que
você pode contar com  ela é quando eles estão exibindo os Gam es ou algum a m ensagem
im portante do governo na televisão, que é obrigatório assistir. Mas aqui não existiria carência.
Nunca. Peeta e eu andam os para o parapeito nos lim ites do telhado. Eu olho para baixo ao lado
do edifício para a rua, que está zunindo de gente. Você pode ouvir seus carros, um  berro
ocasional, e um  estranho toque m etálico. No Distrito 12, nós todos estaríam os pensando na
cam a agora.
“Perguntei a Cinna porque eles nos deixam  subir aqui. Eles não estavam  preocupados que
algum  dos tributos possa decidir pular pelo lado?” diz Peeta.
“O que ele disse?” Pergunto.
“Você não pode,” diz Peeta. Ele levanta sua m ão num  espaço aparentem ente. Há um  zum bido


afiado e ele puxa a m ão de volta. “Algum  tipo de cam po elétrico te j oga de volta ao telhado.”
“Sem pre preocupados com  a nossa segurança,” digo. Em bora Cinna tenha m ostrado a Peeta o
telhado, pergunto-m e se não deveríam os estar aqui em  cim a agora, tão tarde e sozinhos. Eu
nunca tinha visto tributos no telhado do Centro de Treinam ento antes. Mas isso não significa que
nós não estam os sendo gravados. “Você acha que eles estão nos assistindo agora?”
“Talvez,” ele adm ite. “Venha ver o j ardim .”
Do outro lado da cúpula eles construíram  um  j ardim  com  canteiros de flores e árvores em
vasos. Nos ram os estão pendurados centenas de sinos de vento, que contam  pelo tinido que eu
ouvi. Aqui no j ardim , na noite ventosa, é o suficiente para abafar duas pessoas que estão
tentando não ser ouvidas. Peeta olha para m im  com  expectativa.
Eu finj o exam inar um a flor. “Nós estávam os caçando na floresta um  dia. Escondidos,
esperando pela caça,” eu sussurro.
“Você e seu pai?” ele sussurra de volta.
“Não, m eu am igo Gale. Repentinam ente todos os pássaros pararam  de cantar de um a vez.
Exceto um . Era com o se ele estivesse nos dando um a cham ada de alerta. E então nós a vim os.
Tenho certeza que era a m esm a garota. Um  garoto estava com  ela. Suas roupas estavam
esfarrapadas. Eles tinham  círculos escuros sob seus olhos de falta de sono. Eles estavam
correndo com o se suas vidas dependessem  disso,” eu digo.
Por um  m om ento eu fico em  silêncio, enquanto lem bro com o a visão desse estranho par,
claram ente não do Distrito 12, correndo através da floresta nos im obilizou. Depois, nós nos
perguntam os se nós podíam os tê-los aj udado a escapar. Talvez pudéssem os ter. Ocultá-los. Se
nós tivéssem os nos m ovido rapidam ente. Gale e eu estávam os tom ados pela surpresa, sim ,
m as am bos som os caçadores. Sabem os com o anim ais parecem  aflitos. Sabíam os que o par
estava em  problem as tão logo que nós os vim os. Mas apenas assistim os.
“O aero barco apareceu do nada,” eu continuei para Peeta. “Quero dizer, em  um  m om ento o
céu estava vazio e no outro lá estava ele. Não fez nenhum  som , m as eles o viram . Um a rede
caiu em  cim a da garota e a carregou para cim a, rápido, tão rápido com o um  elevador. Eles
atiraram  algum  tipo de arpão através do garoto. Estava am arrado a um  cabo e eles o
prenderam  e o subiram  tam bém . Mas eu estava certa que ele estava m orto. Nós escutam os a
garota gritar um a vez. O nom e do garoto, eu acho. Então ele se foi, o aero barco. Sum iu no ar.
E os pássaros com eçaram  a cantar de novo, com o se nada tivesse acontecido.”
“Eles viram  vocês?” Peeta perguntou.


“Eu não sei. Estávam os sob um a rocha,” eu replico.
Mas eu sei. Houve um  m om ento, depois da cham ada do pássaro, m as antes do aero barco, que
a garota tinha-nos visto. Ela olhou para m im  e gritou por aj uda. Mas nem  Gale ou eu tínham os
respondido.
“Você está trem endo,” diz Peeta.
O vento e a história tinha acabado com  todo o calor do m eu corpo. O grito da garota. Tinha
sido o últim o?
Peeta tira sua j aqueta e a coloca ao redor dos m eus om bros. Eu com eço a recuar, m as então
eu o deixo, decidindo por um  m om ento aceitar am bos sua j aqueta e sua gentileza. Um  am igo
faria isso, certo?
“Eles eram  daqui?” ele pergunta, e fecha um  botão no m eu pescoço.
Eu assinto. Eles tinham  aquela aparência de Capitol neles. O garoto e a garota.
“Para onde você acha que eles estavam  indo?” ele pergunta.
“Eu não sei isso,” digo. Distrito 12 é m uito com o o fim  da linha. Além  de nós, há apenas a
im ensidão. Se você não contar com  as ruínas do Distrito 13 que ainda arde lentam ente das
bom bas tóxicas. Eles m ostram  na televisão ocasionalm ente, só para nos lem brar. “Ou porque
eles partiriam  daqui.” Hay m itch tinha cham ado os Avoxes de traidores. Contra o quê? Só
poderia ser o Capitol. Mas eles tinham  tudo aqui. Sem  causa para rebeldia.
“Eu partiria daqui,” Peeta deixa escapar. Então ele olha ao redor nervosam ente. Foi alto o
bastante escutar acim a dos sinos. “Eu iria para casa agora se eles m e deixassem . Mas você
tem  que adm itir, a com ida é de prim eira.”
Ele está protegido novam ente. Se aquilo é tudo que você escutaria só iria parecer palavras de
um  tributo assustado, m as de alguém  contem plando a inquestionável bondade do Capitol.
“Está ficando frio. É m elhor entrarm os,” ele diz. Dentro da cúpula, é quente e lum inoso. Seu
tom  é Leve. “Seu am igo Gale. Ele é o que levou a sua irm ã da colheita?”
“Sim . Você o conhece?” pergunto.
“Não realm ente. Eu ouvi que as garotas falam  m uito sobre ele. Achei que ele fosse seu prim o
ou algo. Vocês aj udam  um  ao outro,” ele diz.
“Não, nós não som os parentes,” digo.
Peeta acena, ilegível. “Ele veio dizer adeus para você?”


“Sim ,” eu digo, observando-o cuidadosam ente. “E seu pai tam bém . Ele m e trouxe biscoitos.”
Peeta levanta suas sobrancelhas com o se fosse novidade. Mas depois de vê-lo m entindo tão
facilm ente, eu não dou m uito crédito. “Verdade? Bem , ele gosta de você e da sua irm ã. Acho
que ele queria ter tido um a filha em  vez de um a casa cheia de garotos.” A idéia de que eu
poderia ter sido discutida, na m esa de j anta, no fogo da padaria, apenas de passagem  na casa
de Peeta m e dá um  sobressalto. Deveria ter sido quando a m ãe estava fora do côm odo.
“Ele conhecia sua m ãe quando eles eram  crianças,” diz Peeta.
Outra surpresa. Mas provavelm ente verdade. “Oh, sim . Ela cresceu na cidade,” eu digo. Não
parece ser educado dizer que ela nunca m encionou o padeiro exceto para elogiar o seu pão.
Nós estam os na m inha porta. Eu devolvo a j aqueta dele. “Vej o você de m anhã, então.”
“Até,” ele diz, e anda pelo corredor.
Quando abro m inha porta, a garota de cabelo verm elho está recolhendo m eu m acacão colado
e m inhas botas de onde eu os deixei no chão antes do banho. Eu quero m e desculpar por
possivelm ente colocá-la em  problem as m ais cedo. Mas eu lem bro que não é para eu falar
com  ela a m enos para dar um a ordem .
“Oh, desculpe,” digo. “Eu deveria ter devolvido isso para Cinna. Desculpe. Você pode levá-los
para ele?”
Ela foge dos m eus olhos, dá um  pequeno aceno, e segue para porta.
Eu com eçaria a dizer a ela que eu sinto m uito pelo j antar. Mas sei que m inhas desculpas
ficariam  m ais profundas. Que eu estava envergonhada por nunca ter tentado aj udá-la na
floresta. Que eu deixei o Capitol m atar o garoto e m utilá-la sem  levantar o dedo.
Justo com o eu era assistindo os Gam es.
Eu chuto m eus sapatos e subo sob os cobertores em  m inhas roupas. O trem or não parou.
Talvez a garota nem  se lem bre de m im . Mas eu sei que ela lem bra. Você não esquece a face
da pessoa que era sua últim a esperança. Eu puxei os cobertores acim a da m inha cabeça com o
se isso fosse m e proteger da garota de cabelos verm elhos que não pode falar. Mas eu posso
sentir seus olhos m e assistindo, perfurando através das paredes e portas e cobertas.
Pergunto-m e se ela gostará de m e assistir m orrer.


7
Meu repouso é cheio de sonhos perturbadores. O rosto da garota ruiva entrelaça-se com
im agens ensanguentadas de Hunger Gam es anteriores, com  a m inha m ãe longe e
inalcançável, com  a m agreza e o terror de Prim . Eu m e levanto gritando por m eu pai correr
enquanto a m ina explode em  m ilhões de pedacinhos m ortíferos de luz.
O sol está nascendo pelas j anelas. O Capitol tem  um  ar nebuloso e assom brado. Minha cabeça
dói e eu devo ter m ordido a lateral da m inha bochecha de noite. Minha língua investiga a carne
áspera e eu sinto gosto de sangue.
Lentam ente, eu m e arrasto para fora da cam a e para o chuveiro. Eu arbitrariam ente soco
botões no painel de controle e acabo pulando de pé em  pé enquanto j atos alternados de água
gélida e pelando de quente m e acertam . Então eu sou inundada em  espum a de lim ão que eu
tenho que retirar com  um a forte escova eriçada. Ah, bem . Pelo m enos m eu sangue está
fluindo.
Agora que estou seca e hidratada com  loção, eu acho um a veste que foi deixada para m im  na
frente do arm ário. Calça preta apertada, um a túnica cor de vinho de m angas longas, e sapatos
de couro. Eu deixo m eu cabelo em  um a trança única pelas m inhas costas. Essa é a prim eira
vez desde a m anhã da colheita que eu pareço com igo m esm a. Nada de cabelo e roupas
chiques, nada de capas flutuantes. Sim plesm ente eu. Parecendo com o se eu pudesse estar indo
para a floresta. Isso m e acalm a.
Hay m itch não nos deu um  tem po exato para nos encontrar para o café da m anhã e ninguém
m e contatou essa m anhã, m as eu estou com  tanta fom e que eu m e dirigi para a sala de j antar,
esperando que tenha com ida. Não fico decepcionada. Enquanto a m esa está vazia, em  um a
com prida tábua do lado foram  colocados pelo m enos vinte pratos. Um  j ovem , um  Avox, está
de pé por perto prestando atenção. Quando eu pergunto se posso m e servir, ele concorda
assentindo. Eu sirvo um  prato com  ovos, salsichas, panquecas cobertas com  com potas de
laranj as grossas, fatias de m elão roxo claro. Enquanto eu m e em panturro, eu observo o sol
nascer por Capitol. Eu pego um  segundo prato de grãos quentes encobertos por cozido de bife.
Finalm ente, eu encho um  prato com  pãezinhos e sento na m esa, quebrando pedacinhos untados
e m ergulhando-os em  chocolate quente, do j eito que Peeta fizera no trem .
Minha m ente vaga até m inha m ãe e Prim . Elas devem  estar acordadas. Minha m ãe
preparando o m ingau do café da m anhã delas. Prim  ordenhando sua cabra antes da escola. Há
apenas duas m anhãs, eu estava em  casa. Isso podia estar certo? Sim , só duas. E agora com o a
casa parecia vazia, m esm o a distância. O que elas disseram  ontem  a noite após a m inha estréia
poderosa nos Gam es? Isso lhes deu esperança, ou sim plesm ente som ou ao seu horror, quando
elas viram  a realidade de vinte e quatro tributos circulados j untos, sabendo que apenas um
poderia viver?


Hay m itch e Peeta entram , desej am -m e bom  dia, enchem  seus pratos. Me deixa irritada Peeta
estar usando exatam ente a m esm a veste que eu. Eu preciso dizer algo para Cinna. Essa
atuação de gêm eos vai explodir nas nossas caras assim  que os Gam es com eçarem . Claro, eles
devem  saber disso. Então eu m e lem bro de Hay m itch m e dizendo para fazer exatam ente o
que os estilistas m e dizem  para fazer. Se fosse qualquer outro que não Cinna, eu poderia ter
tentado ignorá-lo. Mas após o triunfo da noite passada, eu não tenho m uito espaço para criticar
as escolhas dele.
Eu estou nervosa quanto ao treinam ento. Haverá três dias nos quais todos os tributos praticam
j untos. Na últim a tarde, cada um  terá um a chance de se apresentar em  particular perante os
Gam em akers*. Pensar em  conhecer os outros tributos cara-a-cara m e deixa enj oada. Eu viro
o pãozinho que eu acabei de pegar da cesta continuam ente em  m inhas m ãos, m as m eu apetite
se foi.
Quando Hay m itch term ina diversos pratos de cozido, ele em purra seu prato com  um  suspiro.
Ele tira um  frasco de seu bolso e dá um a longa tragada nela e inclina seus cotovelos na m esa.
“Então, vam os direto aos negócios. Treinam ento. Prim eiro de tudo, se preferirem , eu os
treinarei separadam ente. Decidam  agora.”
“Por que você nos treinaria separadam ente?” Eu pergunto.
“Digam os que você tenha um a habilidade secreta que talvez não queira que o outro saiba,” diz
Hay m itch.
Eu troco um  olhar com  Peeta. “Eu não tenho nenhum a habilidade secreta,” ele diz. “E eu j á
sei qual a sua é, certo? Quero dizer, j á com i bastante esquilos seus.” Eu nunca tinha pensado
em  Peeta com endo os esquilos que eu tinha m atado. De algum  m odo, eu sem pre im aginei o
padeiro se afastando silenciosam ente e fritando-os para si. Não de gula.
Mas porque fam ílias da cidade geralm ente com em  carne de açougue caras. Bife e frango e
cavalo.
“Pode nos treinar j untos,” eu digo a Hay m itch. Peeta concorda.
“Tudo bem , então m e dêem  um a ideia do que conseguem  fazer,” diz Hay m itch.
“Eu não consigo fazer nada,” diz Peeta. “A não ser que conta assar pão.”
“Desculpa, não conta. Katniss. Já sei que é habilidosa com  um a faca,” diz Hay m itch.
“Na verdade não. Mas consigo caçar,” eu digo. “Com  arco e flecha.”
“E você é boa?” pergunta Hay m itch.


* Ao pé da letra, seria algo com o "criadores/fazedores de j ogo".
Eu tenho que pensar nisso. Eu vinha colocando com ida na m esa por quatro anos. Isso não é
um a tarefa pequena. Eu não sou tão boa quanto m eu pai era, m as ele tinha tido m ais treino.
Eu tinha m ira m elhor do que Gale, m as eu tinha tido m ais treino. Ele é um  gênio com
arm adilhas e ciladas. “Eu sou m ais ou m enos,” eu digo.
“Ela é excelente," diz Peeta. “Meu pai com pra os esquilos dela. Ele sem pre com enta com o as
flechas nunca penetram  o corpo. Ele acerta todos no olho. É o m esm o com  os coelhos que ela
vende ao açougueiro. Ela consegue até m esm o derrubar veados.” Essa avaliação do Peeta das
m inhas habilidades m e tom a por com pleto de surpresa. Prim eiro, que ele tenha notado.
Segundo, que ele está m e prom ovendo. “O que você está fazendo?” Eu pergunto a ele em
suspeita.
“O que você está fazendo? Se ele vai nos aj udar, ele tem  que saber do que você é capaz. Não
se subestim e,” diz Peeta.
Eu não sei por que, m as isso não m e desce bem . “E quanto a você? Eu te vi no m ercado. Você
consegue levantar sacos de farinha de quarenta e cinco quilos,” eu retruco para ele. “Diga isso
a ele. Isso não é nada.”
“Sim , e estou certo de que a arena estará cheia de sacos de farinha para m im  atirar nas
pessoas. Não é com o ser capaz de usar um a arm a. Você sabe que não é,” ele atira de volta.
“Ele consegue lutar,” eu digo a Hay m itch. “Ele ficou em  segundo na com petição da nossa
escola ano passado, depois só do seu irm ão.”
“Qual o uso disso? Quantas vezes você viu alguém  lutar com  outro até a m orte?” diz Peeta com
noj o.
“Há sem pre com bate corpo-a-corpo. Tudo o que você precisa é arranj ar um a faca, e você
pelo m enos terá um a chance. Se eu for surpresa, estou m orta!” Eu consigo ouvir m inha voz
subindo de raiva.
“Mas você não será surpresa! Você estará vivendo em  algum a árvore com endo esquilos crus
e alvej ando as pessoas com  flechas. Você sabe o que a m inha m ãe disse para m im  quando ela
veio dizer adeus, com o se para m e anim ar, ela diz que talvez o Distrito Doze finalm ente tenha
um  cam peão. Então eu percebi, ela não quis dizer eu, ela quis dizer você!" esbravej a Peeta.
“Ah, ela quis dizer você,” eu digo com  um  aceno de rej eição.
“Ela disse, ‘Ela é um a sobrevivente, aquela.’ Ela é,” diz Peeta.
Isso m e faz parar abruptam ente. A m ãe dele realm ente disse isso de m im ? Ela m e j ulgava


acim a de seu filho? Eu vej o a dor nos olhos de Peeta e sei que ele não está m entindo.
De repente eu estou atrás da padaria e eu consigo sentir o frio da chuva escorrendo pelas
m inhas costas, o vazio da m inha barriga. Eu sôo com o se tivesse onze anos quando eu digo.
“Mas só porque alguém  m e aj udou.”
Os olhos de Peeta rolam  para o pãozinho nas m inhas m ãos, e eu sei que ele se lem bra daquele
dia tam bém . Mas ele só dá de om bros. “As pessoas irão te aj udar na arena. Elas estarão se
estapeando para patrocinar você."
“Não m ais do que para patrocinar você,” eu digo.
Peeta gira seus olhos para Hay m itch. “Ela não faz ideia. Do efeito que ela pode ter.” Ele corre
suas unhas pelo grão de m adeira na m esa, se recusando a olhar para m im .
O que diabos ele quer dizer? Pessoas irão m e aj udar? Quando estávam os m orrendo de fom e,
ninguém  m e aj udou! Ninguém  exceto Peeta. Um a vez que eu tinha algo pelo qual fazer
escam bo, as coisas m udaram . Eu sou um a com erciante durona. Sou? Que efeito eu tenho?
Que eu sou fraca e necessitada? Ele está sugerindo que eu consigo bons negócios porque as
pessoas tem  pena de m im ? Eu tento pensar se isso é verdade. Talvez alguns dos m ercadores
fossem  um  pouco generosos em  suas trocas, m as eu sem pre atribui isso a seus
relacionam entos de longa duração com  m eu pai. Além  do m ais, m inha caça é de prim eira
qualidade. Ninguém  tinha pena de m im !
Eu olho feio para o pãozinho, certa de que ele quis m e insultar.
Após talvez um  m inuto disso, Hay m itch diz, “Bom , então. Bom , bom , bom . Katniss, não há
garantias de que haverá arcos e flechas na arena, m as durante sua sessão particular com  os
Gam em akers, m ostre a eles o que sabe fazer. Até lá, fique longe do arqueirism o. Você é boa
em  arm adilhas?”
“Eu conheço algum as ciladas básicas,” eu m urm uro.
“Isso pode ser significante em  term os de com ida,” diz Hay m itch. “E Peeta, ela está certa,
nunca subestim e força na arena. Muito freqüentem ente, força física dá vantagem  para um
j ogador. No Centro de Treinam ento, eles terão pesos, m as não revele quanto você consegue
levantar na frente dos outros tributos. O plano é o m esm o para am bos. Vocês vão para o
treinam ento em  grupo. Passem  o dia tentando aprender algo que não saibam . Jogar um a lança.
Girar um  cetro. Aprender a dar um  nó decente. Guardem  m ostrar o que sabem  m elhor até
suas sessões particulares. Estam os entendidos?” diz Hay m itch. Peeta e eu concordam os.
“Um a últim a coisa. Em  público, eu quero vocês ao lado do outro toda hora,” diz Hay m itch.


Am bos com eçam os a nos opor, m as Hay m itch bate sua m ão na m esa. “Toda hora! Não está
aberto a discussão! Vocês concordaram  em  fazer o que eu disser! Vocês ficarão j untos, vocês
parecerão am áveis um  com  o outro. Agora caiam  fora. Encontrem  Effie no elevador às dez
para o treinam ento.”
Eu m ordo m eu lábio e ando altivam ente de volta para m eu quarto, certificando-m e de que
Peeta consiga ouvir a porta bater. Eu sento na cam a, odiando Hay m itch, odiando Peeta,
odiando a m im  m esm a por m encionar aquele dia há tanto tem po na chuva.
É um a piada! Peeta e eu concordando em  fingir que som os am igos! Prom ovendo as forças
um  do outro, insistindo que o outro receba crédito por suas habilidades. Porque, de fato, em
algum  ponto, terem os que parar com  isso e aceitar que som os adversários ferozes. O que eu
estaria preparada para fazer agora m esm o se não fosse pela estúpida instrução do Hay m itch
de que ficássem os j untos no treinam ento. É m inha própria culpa, eu suponho, dizendo a ele que
ele não tinha que nos treinar separadam ente. Mas isso não significava que eu queria fazer tudo
com  o Peeta. Que, a propósito, claram ente não quer ficar de parceria com igo, tam pouco.
Eu ouço a voz de Peeta em  m inha cabeça. Ela não faz ideia. Do efeito que ela pode ter.
Obviam ente dito para m e depreciar. Certo? m as um a pequenina parte de m im  se pergunta se
isso foi um  elogio. Que ele quis dizer que eu era cativante de algum a m aneira. Era estranho, o
quanto ele tinha m e notado. Com o a atenção que ele tinha prestado a m inha caçada. E
aparentem ente, eu não estive alheia a ele com o eu im aginava, tam pouco. A farinha. A luta. Eu
tinha ficado de olho no garoto do pão.
São quase dez horas. Eu escovo m eus dentes e penteio m eu cabelo novam ente. A raiva
tem porariam ente bloqueada por causa do m eu nervosism o em  conhecer os outro tributos, m as
agora eu consigo sentir m inha ansiedade crescendo novam ente. Na hora em  que eu encontro
Effie e Peeta no elevador, eu m e pego roendo m inhas unhas. Eu paro im ediatam ente.
As salas de treinam ento ficam  abaixo do nível térreo do nosso prédio. Com  esses elevadores, a
corrida é m enos de um  m inuto. As portas são abertas para um  enorm e ginásio cheio de várias
arm as e cam inhos de obstáculos. Apesar de não serem  dez horas ainda, nós som os os últim os a
chegar. Os outros tributos estão reunidos em  um  círculo tenso. Cada um  tem  um  pedaço
quadrado de pano com  o núm ero de seu distrito preso com  alfinetes em  suas cam isetas.
Enquanto alguém  alfineta o núm ero 12 nas m inhas costas, eu faço um a rápida avaliação.
Peeta e eu som os os únicos vestidos iguais.
Assim  que nos j untam os ao círculo, a treinadora principal, um a m ulher alta e atlética cham ada
Atala vai à frente e com eça a explicar o cronogram a de treinam ento. Especialistas de cada
habilidade vão ficar em  suas estações. Ficarem os livres para viaj ar de área para área
conform e desej arm os, conform e as instruções de nossos m entores. Algum as das estações


ensinam  técnicas de sobrevivências, outras técnicas de luta. Estam os proibidos de nos envolver
em  qualquer exercício de com bate com  outro tributo. Há assistentes por perto se quiserm os
praticar com  um  parceiro.
Quando Atala com eça a ler a lista de estações de habilidades, m eus olhos não conseguem
evitar esvoaçar para os outros tributos. É a prim eira vez que estam os reunidos, nos m esm os
term os, com  roupas sim ples. Meu coração afunda. Quase todos os garotos e pelo m enos
m etade das garotas são m aiores do que eu, apesar de m uitos dos tributos nunca terem  sido
alim entados apropriadam ente. Você consegue ver isso em  seus ossos, em  suas peles, no olhar
vazio em  seus olhos. Eu posso ser m enos naturalm ente, m as de m odo geral as habilidades da
m inha fam ília tinham  m e dado um a vantagem  nessa área. Eu fico de pé reta, e em bora eu
sej a m agra, eu sou forte. A carne e as plantas da floresta com binadas com  o esforço que foi
preciso para consegui-los m e deram  um  corpo m ais saudável do que a m aioria que eu vej o
por aqui.
As exceções são os garotos dos distritos m ais ricos, os voluntários, aqueles que foram
alim entados e treinados por toda a sua vida para esse m om ento. Os tributos do 1, 2 e 4
tradicionalm ente tem  esse aspecto neles. É tecnicam ente contra as regras treinar tributos antes
que eles cheguem  no Capitol, m as acontece todo ano. No Distrito 12, nós os cham am os de
Tributos Profissionais, ou sim plesm ente os Profissionais. E goste ou não, o cam peão será um
deles.
A ligeira vantagem  que eu tenho no Centro de Treinam ento, m inha entrada feroz ontem  a
noite, parece sum ir na presença da m inha com petição. Os outros tributos tinham  invej a de nós,
m as não porque éram os sensacionais, porque os nossos estilistas eram . Agora eu não vej o nada
além  de desprezo nos olhares dos Tributos Profissionais. Cada um  deve ter de vinte e dois a
quarenta e cinco quilos a m ais que eu. Eles proj etam  arrogância e brutalidade. Quando Atala
nos libera, eles se dirigem  diretam ente para as arm as com  aspecto m ais m ortífero no ginásio e
as m anuseiam  com  facilidade.
Eu estou pensando que é um a sorte eu ser um a rápida corredora quando Peeta cutuca o m eu
braço e eu pulo. Ele ainda está ao m eu lado, de acordo com  as instruções de Hay m itch. Sua
expressão está sóbria. “Onde gostaria de com eçar?”
Eu olho ao redor para os Tributos Profissionais que estão se exibindo, claram ente tentando
intim idar o cam po. Então para os outros, os subnutridos, os incom petentes, trem ulam ente tendo
suas prim eiras lições com  um a faca ou um  m achado.
“Suponho que devam os dar alguns nós,” eu digo.
“Está certíssim a,” diz Peeta. Cruzam os para um a estação vazia onde o treinador parece
satisfeito por ter alunos. Você tem  o pressentim ento de que a aula de atar nós não é o ponto
quente do Hunger Gam es. Quando ele percebe que eu sei um  pouco sobre ciladas, ele nos


m ostra um a arm adilha sim ples e excelente que deixará um  com petidor hum ano pendurado
por um a perna em  um a árvore. Nós nos concentram os nessa habilidade por um a hora até
am bos term os dom inado-a. Então m udam os para cam uflagem . Peeta genuinam ente parece
gostar dessa estação, espalhando um a com binação de lam a e argila e suco de baga ao redor da
sua pele pálida, tecendo disfarces de vinhas e folhas. O treinador que com anda a estação de
cam uflagem  está cheio de entusiasm o por seu trabalho.
“Eu faço os bolos,” ele adm ite para m im .
“Os bolos?” eu pergunto. Eu estivera preocupada em  observar o garoto do Distrito 2 m andar
um a lança pelo coração de um  boneco de treze m etros. “Que bolos?”
“Em  casa. Os de pasta am ericana, para a padaria,” ele diz.
Ele quer dizer aqueles que eles colocam  nas j anelas. Bolos chiques com  flores e coisas bonitas
pintadas com  crosta de açúcar cristalizada. Eles são para aniversários e Réveillons. Quando
estam os na praça, Prim  sem pre m e arrasta para adm irá-los, apesar de nunca serm os capazes
de com prar um . Há pouca beleza no Distrito 12, contudo, então eu não consigo negar isso a ela.
Eu olho m ais criticam ente para o desenho no braço do Peeta. O padrão alternado de luz e
escuridão sugerem  a luz solar caindo por sobre as folhas na floresta. Eu m e pergunto com o ele
conhece isso, j á que eu duvido que ele j á esteve além  da cerca. Ele fora capaz de aprender
isso só com  aquela velha m acieira m agricela em  seu quintal? De algum  m odo o negócio todo –
sua habilidade, aqueles bolos inacessíveis, o elogio do especialista em  cam uflagem  – m e
irritam .
“É adorável. Se ao m enos você pudesse cobrir alguém  de açúcar cristalizado até a m orte,” eu
digo.
“Não sej a tão superior. Nunca se pode supor o que você encontrará na arena. Digam os que é
realm ente um  bolo gigante –” com eça Peeta.
“Digam os que vam os para o próxim o assunto,” eu interrom po.
Então os próxim os três dias passam  com  Peeta e eu indo silenciosam ente de estação para
estação. Nós realm ente aprendem os algum as habilidades valiosas, de acender fogueiras, até
atirar facas, até fazer abrigos. Apesar da ordem  de Hay m itch de aparecer m edíocre, Peeta se
sobressai em  com bate corpo-a-corpo, e eu arraso no teste de plantas com estíveis sem  piscar
um  olho. Nós ficam os longe de arqueirism o e levantam ento de peso, contudo, querendo
guardar esses para as nossas sessões particulares.
Os Gam ekeepers aparecem  cedo no prim eiro dia. Mais ou m enos vinte hom ens e m ulheres
vestidos em  robes roxos escuros. Eles se sentam  em  estrados elevados que cercam  o ginásio,
as vezes peram bulando nos arredores para nos observar, rabiscando anotações, outras vezes
com endo no banquete infinito que foi preparado para eles, ignorando-nos. Mas eles realm ente


parecem  estar de olho nos tributos do Distrito 12. Várias vezes eu olhei para cim a e descobri
um  fixo em  m im . Eles se consultam  com  os treinadores durante as nossas refeições, tam bém .
Nós vem os eles todos reunidos j untos quando voltam os.
O café da m anhã e o j antar são servidos no chão, m as no alm oço, nós vinte e quatro com em os
em  um a sala de j antar fora do ginásio. A com ida é arrum ada em  carrinhos ao redor da sala e
você se serve. Os Tributos Profissionais tendem  a se reunir brutalm ente ao redor de um a
m esa, com o se para provar sua superioridade, que eles não tem  m edo um  do outro e
consideram  o resto de nós indignos de serm os notados. A m aioria dos outros tributos senta
sozinho, com o ovelhas perdidas. Ninguém  diz um a palavra para nós. Peeta e eu com em os
j unto, e j á que Hay m itch fica nos evitando sobre isso, tentam os m anter um a conversa
am igável durante as refeições.
Não é fácil achar um  tópico. Falar de casa é doloroso. Falar do presente é insuportável. Um
dia, Peeta esvazia nossa cesta de pães e aponta com o eles foram  cuidadosos em  incluir os tipos
dos distritos j unto com  o pão refinado do Capitol. O pão de form a em  form ato de peixe pintado
de verde com  algas do Distrito 4. O pãozinho de lua crescente pontilhado com  sem entes do
Distrito 11. De algum  m odo, apesar de ser feito do m esm o negócio, parece um  bocado m ais
apetitoso do que as feias gotas e biscoitos que são a com ida padrão em  casa.
“E aí está,” diz Peeta, cavoucando os pães de volta na cesta.
“Você certam ente sabe um  m onte,” eu digo.
“Só sobre pães," ele diz. “Está bem , agora ria com o se eu tivesse dito algo engraçado.” Am bos
dam os um  tipo de risada convincente e ignoram os as encaradas ao redor da sala.
“Está certo, eu ficarei sorrindo alegrem ente e você fala,” diz Peeta. Está cansando nós dois, a
instrução de Hay m itch para ser am igável. Porque desde que eu bati a m inha porta, há um  frio
no ar entre nós. Mas tem os nossas ordens.
“Já te contei de quando fui perseguida por um  urso?” Eu pergunto.
“Não, m as parece fascinante,” diz Peeta.
Eu tento e anim o m eu rosto enquanto relem bro do evento, um a história verdadeira, na qual eu
tolam ente desafiei um  urso negro sobre os direitos de um a colm éia. Peeta ri e faz perguntas
exatam ente no m om ento certo. Ele é m uito m elhor nisso do que eu sou.
No segundo dia, enquanto estam os j ogando um a lança, ele sussurra para m im . “Acho que
tem os um a som bra.”
Eu j ogo m inha lança, na qual eu não sou tão ruim , na verdade, se eu não tiver que j ogar de
m uito longe, e vej o a garotinha do Distrito 11 de pé um  pouco para trás, observando-nos. Ela é
a de doze anos, aquela que m e lem brou bastante de Prim  na estatura. De perto ela parece ter


dez. Ela tem  olhos brilhantes e escuros e pele m arrom  acetinada e fica inclinada na ponta do
pé com  seus braços ligeiram ente estendidos de lado, com o se pronta para levantar vôo ao m ais
leve som . É im possível não pensar em  um  pássaro.
Eu pego outra lança enquanto Peeta j oga. “Eu acho que o nom e dela é Rue,” ele diz
suavem ente.
Eu m ordo m eu lábio. Rue é um a pequena flor am arela que cresce na Clareira. Rue. Prim rose.
Nenhum a das duas conseguiria fazer a balança atingir trinta e um  quilos m esm o ensopadas.
“O que podem os fazer quanto a isso?” Eu pergunto a ele, m ais duram ente do que eu pretendia.
“Não há nada a fazer,” ele diz de volta. “Só conversando.” Agora que eu sei que ela está ali, é
difícil ignorar a criança. Ela desliza e se j unta a nós em  estações diferentes. Com o eu, ela é
esperta com  plantas, escala com  ligeireza, e tem  boa m ira.
Ela consegue atingir o alvo todas as vezes com  o estilingue. Mas o que é um  estilingue contra
um  m acho de 100 quilos com  um a espada?
De volta no andar do Distrito 12, Hay m itch e Effie nos interrogam  durante o café da m anhã e
o j antar sobre cada m om ento do dia. O que fizem os, quem  nos observou, com o os outros
tributos nos avaliam . Cinna e Portia não estão por perto, então não há ninguém  para
acrescentar sanidade às refeições. Não que Hay m itch e Effie estej am  brigando m ais. Ao
invés, eles parecem  ser um a só m ente, determ inada a nos colocar em  form a. Cheios de
direções sem  fim  sobre o que devem os fazer e não fazer no treinam ento. Peeta é m ais
paciente, m as eu fico cheia e de m al hum or.
Quando finalm ente escapam os para cam a na segunda noite, Peeta m urm ura, “Alguém
deveria dar um a bebida a Hay m itch.”
Eu faço um  som  que está entre um a bufada e um a risada. Então m e paro. Está m exendo m uito
com  a m inha m ente, tentar ter noção de quando supostam ente som os am igos e quando não
som os. Pelo m enos quando form os para a arena, eu saberei em  que pé estam os. “Não. Não
finj am os quando não há ninguém  por perto.”
“Tudo bem , Katniss,” ele diz cansadam ente. Depois disso, só falam os na frente das pessoas.
No terceiro dia de treinam ento, eles com eçam  a nos cham ar do alm oço para nossas sessões
particulares com  os Gam em akers. Distrito por distrito, prim eiro o garoto, então a garota tributo.
Com o sem pre, o Distrito 12 é condenado a ser o últim o. Nós nos tardam os na sala de j antar,
não certos de onde m ais ir. Ninguém  volta um a vez que tenham  partido. Enquanto a sala se
esvazia, a pressão para parecer am igável se alivia. Na hora que cham am  Rue, som os deixados
sozinhos. Nós nos sentam os em  silêncio até que eles evocam  Peeta. Ele se levanta.


“Lem bre-se o que Hay m itch disse sobre ter certeza de j ogar os pesos.” As palavras saem  da
m inha boca sem  perm issão.
“”Obrigado. Eu irei,” ele diz. “Você... atire diretam ente.” Eu concordo. Eu não sei por que eu
disse algo. Apesar de que, se eu for perder, eu prefiro que Peeta vença do que os outros. É
m elhor para o nosso distrito, para m inha m ãe e Prim .
Após cerca de quinze m inutos, eles cham am  o m eu nom e. Eu aliso m eu cabelo, coloco m eus
om bros para trás, e entro no ginásio. Instantaneam ente, eu sei que estou encrencada. Eles estão
aqui há m uito tem po, os Gam em akers. Estiveram  sentados por outras vinte e três
dem onstrações. Tom aram  m uito vinho, a m aioria deles. Querem  m ais do que tudo ir para
casa.
Não há nada que eu possa fazer a não ser continuar com  o plano. Eu ando até a estação de
arqueirism o. Ah, as arm as! Eu estava louca para colocar m inhas m ãos nelas há dias! Arcos
feitos de m adeira e plástico e m etal e m aterial que eu nem  m esm o sei o nom e. Flechas com
penas cortadas em  linhas uniform es perfeitas. Eu escolho um  arco, penduro-o, e am arro o
coldre de flechas com binando por sobre o m eu om bro. Há um a linha de tiro, m as é por dem ais
lim itada. O centro de um  círculo padrão e silhuetas hum anas. Eu ando até o centro do ginásio e
escolho m eu prim eiro alvo. O boneco usado para prática de faca. Mesm o quando recuo com  o
arco, eu sei que algo está errado. A corda é m ais apertada do que a que eu uso em  casa. A
flecha é m ais rígida.
Eu erro o boneco por alguns poucos centím etros e perco o pouco de atenção que eu havia
conseguido. Por um  instante, fico hum ilhada, então eu m e dirij o de volta para o centro do
círculo. Eu atiro novam ente e novam ente até eu m e acostum ar com  essas novas arm as.
De volta ao centro do ginásio, eu tom o m inha posição inicial e espeto o boneco bem  no
coração. Então eu desfaço a corda que segura o saco de areia de boxe, e o saco se abre
enquanto cai com  tudo no chão. Sem  parar, eu rolo de om bros para frente, levanto-m e com
um  j oelho, e m ando um a flecha em  um a das luzes penduradas acim a do chão do ginásio. Um a
chuva de faíscas estoura do ornam ento.
É um  tiro excelente. Eu m e viro para os Gam em akers. Alguns estão acenando em  aprovação,
m as a m aioria deles está fixada em  um  porco assado que acabou de chegar em  sua m esa do
banquete.
De repente eu fico furiosa, que com  a m inha vida em  risco, eles nem  m esm o tem  a decência
de prestar atenção em  m im . Que um  porco m orto está roubando a m inha cena. Meu coração
com eça a m artelar, eu consigo sentir o m eu rosto queim ando. Sem  pensar, eu puxo um a
flecha do m eu coldre e m ando-a diretam ente para a m esa dos Gam em akers. Eu ouço gritos de
am edrontam ento enquanto as pessoas recuam . A flecha espeta a m açã na boca do porco e a
alfineta na parede atrás dele. Todos m e encaram  em  descrença.


“Obrigada pela sua atenção,” eu digo. Então eu dou um a ligeira saudação e ando diretam ente
na direção da saída sem  ser dispensada.


8
Enquanto eu passo em  direção ao elevador, arrem esso m eu arco para um  lado e m eu coldre
para o outro. Eu passo esbarrando pelos Avoxes boquiabertos que guardam  os elevadores e
bato no botão doze com  m eu punho. As portas deslizam  j untas e eu m e m ovo rapidam ente
para cim a. Eu na verdade o faço voltar para o chão antes que m inhas lágrim as com ecem  a
correr pelas m inhas bochechas. Posso ouvir os outros m e cham ando da sala de estar, m as eu
vou voando pelo hall em  direção ao m eu quarto, abro a porta, e m e j ogo na cam a. Então eu
realm ente com eço a soluçar.
Agora eu fiz! Agora eu realm ente arruinei tudo! Se eu tinha m esm o um  fantasm a de chance,
sum iu quando eu m andei aquela flecha voando para os Gam em akers. O que eles farão com igo
agora? Prender-m e? Executar-m e? Cortar a m inha língua e m e tornar um a Avox, assim  eu
posso esperar pelos futuros tributos de Panem ? O que eu estava pensando, atirando nos
Gam em akers? É claro, eu não estava pensando, eu estava atirando na m açã porque eu estava
m uito irritada por ser ignorada. Eu não estava tentando m atar nenhum  deles. Se eu estivesse,
eles estariam  m ortos!
Oh, o que im porta? Não é com o se eu fosse ganhar os Gam es de qualquer form a. Quem  se
im porta com  o que eles fazem  com igo? O que m e assusta de verdade é o que eles podem  fazer
com  a m inha m ãe e Prim , com o m inha fam ília pode sofrer agora por causa da m inha
im pulsividade. Eles vão tom ar seus poucos pertences, ou m andar a m inha m ãe para prisão e
Prim  para a casa com unitária, ou m atá-las? Eles não a m atariam , m atariam ? Por que não? O
que im porta a eles?
Eu devia ter ficado e m e desculpado. Ou rido, com o se fosse um a grande brincadeira. Então
talvez eu achasse algum a indulgência. Mas em  vez disso que corri daquele lugar da m aneira
m ais desrespeitosa possível.
Hay m itch e Effie estão batendo na m inha porta. Eu grito para eles irem  em bora e
eventualm ente eles vão. É preciso pelo m enos um a hora para eu chorar tudo para fora. Então
eu só fico deitada encolhida na cam a, afagando os lençóis de seda, assistindo ao pôr-do-sol
acim a do doce e artificial Capitol.
Inicialm ente, eu espero os guardas virem  m e buscar. Mas à m edida que o tem po passa, parece
m enos possível. Eu m e acalm o. Eles ainda precisam  de um a garota tributo do Distrito 12, não
precisam ? Se os Gam em akers querem  m e punir, eles podem  fazê-lo publicam ente. Esperar
até eu estar na arena e atiçar anim ais selvagens fam intos em  m im . Pode apostar que eles terão
certeza que eu não tenho um  arco e um a fecha para m e defender.
Antes disso, eles m e darão um a pontuação tão baixa, que ninguém  em  j uízo certo iria m e
patrocinar. Isso é o que vai acontecer hoj e à noite. Visto que o treinam ento não é aberto a
observadores, os Gam em akers anunciam  um a pontuação para cada j ogador. Dá a audiência


um  ponto de partida para as apostas que continuarão através do Gam es. O núm ero, que é entre
um  e doze, um  sendo irrem ediavelm ente ruim  e doze sendo alta de form a inalcançável,
anuncia a prom essa de um  tributo. A m arca não é um a garantia de que a pessoa ganhará. É
apenas um a indicação do potencial que o tributo m ostrou no treino. Freqüentem ente, por causa
das variáveis na real arena, tributos com  alta pontuação caem  quase im ediatam ente. E
há poucos anos, um  garoto que ganhou os Gam es recebeu apenas um  três. Ainda assim , os
pontos podem  aj udar ou prej udicar um  tributo individualm ente em  term os de patrocínio. Eu
estava esperando que m inhas habilidades em  atirar pudessem  m e conseguir um  seis ou sete,
m esm o se eu não sou particularm ente poderosa. Agora tenho certeza que terei a pontuação
m ais baixa dos vinte e quatro. Se ninguém  m e patrocinar, m inhas chances de ficar viva
dim inuem  para quase zero.
Quando Effie bate na porta para m e cham ar para o j antar, decido que posso ir tam bém . As
pontuações serão televisionadas hoj e à noite. Não é com o se eu pudesse esconder o que
aconteceu para sem pre. Eu vou para o banheiro e lavo m inha face, m as ainda está verm elha e
m anchada.
Todos estão esperando na m esa, até Cinna e Portia. Eu queria que os estilistas não tivessem
aparecido porque, por algum a razão, eu não gosto da idéia de desapontá-los. É com o se eu
tivesse j ogado fora todo o bom  trabalho que eles fizeram  nas cerim ônias de abertura sem
pensar. Evito olhar para todo m undo enquanto tom o um a pequena colherada da sopa de peixe.
O salgado m e lem bra as m inhas lágrim as.
Os adultos com eçam  a j ogar conversa fora sobre a previsão do tem po, e eu deixo os m eus
olhos encontrar os de Peeta. Ele levanta as sobrancelhas. Um a pergunta. O que aconteceu? Eu
só balanço um  pouco a m inha cabeça. Então, enquanto eles estão servindo o prato principal, eu
ouço Hay m itch dizer, “Ok, chega de conversa fiada, só o quão ruim  vocês foram  hoj e?” Peeta
tem  um  sobressalto. “Eu não sei se isso im porta. Até o m om ento que eu apareci, ninguém  nem
se im portou em  olhar para m im . Eles estavam  cantando algum  tipo de canção de bebida, eu
acho. Então, eu atirei alguns obj etos pesados até que eles m e disseram  que eu podia ir.”
Isso m e faz sentir um  pouquinho m elhor. Não é com o se Peeta tivesse atacado os
Gam em akers, m as ao m enos ele estava provocando, tam bém .
“E você, querida?” diz Hay m itch.
De algum a form a Hay m itch m e cham ando de querida m e m arca o suficiente para que eu
pelo m enos sej a capaz de falar. “Eu atirei um a flecha nos Gam em akers.” Todo m undo pára
de com er. “Você o quê?” O horror na voz de Effie confirm a m inhas piores suspeitas.
“Eu atirei um a flecha neles. Não exatam ente neles. Na direção deles. Com o Peeta disse, eu
estava atirando e eles estavam  m e ignorando e eu só... eu só perdi a m inha cabeça, então atirei


na m açã da boca daquele estúpido porco assado deles!” eu disse audaciosam ente.
“E o que eles disseram ?” diz Cinna cuidadosam ente.
“Nada. Ou eu não sei. Eu saí depois disso,” digo.
“Sem  ser dispensada?” arfa Effie.
“Eu m e dispensei,” digo. Lem bro de com o prom eti a Prim  que eu tentaria de verdade ganhar
e senti com o se um a tonelada de carvão tivesse caído sobre m im .
“Bem , é isso,” diz Hay m itch. Então ele passa m anteiga no pão.
“Você acha que eles m e prenderão?” pergunto. “Duvido. Seria um  saco te substituir a esse
ponto,” diz Hay m itch.
“E a m inha fam ília?” digo. “Elas serão punidas?”
“Não acho. Não faria m uito sentido. Vej a, eles teriam  que revelar o que aconteceu no Centro
de Treinam ento para ter um  efeito que valha a pena na população. Pessoas saberiam  o que
você fez. Mas eles não podem  visto que é um  segredo, portanto seria um a perda de tem po.”
Diz Hay m itch. “É m ais provável que eles tornem  sua vida um  inferno na arena.”
“Bem , eles j á prom eteram  fazer isso conosco de qualquer form a,” diz Peeta.
“Verdade,” diz Hay m itch. E eu percebo que o im possível tem  acontecido. Eles estão de fato
m e anim ando. Hay m itch pega um a costela de porco com  seus dedos, o que faz Effie congelar,
e em bebeda no seu vinho. Ele arranca um  pedaço de carne e com eça a rir. “Com o foram  as
caras deles?”
Posso sentir as beiras da m inha boca subindo. “Chocados. Terrificados. Uh, ridículos, alguns
deles.” Um a im agem  estoura dentro da m inha cabeça. “Um  hom em  j ogou para trás um a
tigela de ponche.”
Hay m itch gargalha e todos nós com eçam os a rir exceto Effie, em bora até ela estej a abafando
um  sorriso. “Bem , eles m ereceram . É trabalho deles prestar atenção em  você. E só porque
você vem  do Distrito Doze não é desculpa para te ignorarem .” Então seus olhos olham  ao
redor com o se ela tivesse dito algo escandaloso. “Sinto m uito, m as é assim  que eu penso,” ela
diz para ninguém  em  particular.
“Eu vou conseguir um a pontuação m uito ruim ,” digo.
“Pontuações apenas im portam  se eles são m uito bons, ninguém  presta m uita atenção em
pontuações ruins ou m edíocres. Pelo o que eles sabem , você podia estar escondendo seus
talentos para conseguir um a pontuação baixa de propósito. Pessoas usam  essa estratégia,” disse


Portia.
“Eu espero que sej a assim  que as pessoas interpretem  o quatro que eu provavelm ente
conseguirei,” diz Peeta. “E olhe lá. Sério, não há nada m enos im pressionante que assistir um a
pessoa pegar um a bola pesada e j ogá-la alguns m etros. Um a quase caiu no m eu pé.” Eu dei
um a risada para ele e percebi que estava fam inta. Corto um  pedaço do porco, passo no purê de
batatas, e com eço a com er. Está ok. Minha fam ília está salva. E se eles estão salvos, nenhum
dano real foi feito.
Depois da j anta, nós nos sentam os na sala de estar para assistir o anunciam ento das pontuações
na televisão. Prim eiro eles m ostram  um a foto do tributo, então m ostram  suas pontuações
abaixo. Os Tributos Profissionais naturalm ente conseguem  notas de oito a dez. A m aioria dos
outros j ogadores tem  m édia cinco. Surpreendentem ente, a pequena Rue vem  com  um  sete. Eu
não sei o que ela m ostrou aos j urados, m as ela é tão pequena que deve ter sido im pressionante.
Distrito 12 vem  por últim o, com o o usual. Peeta consegue um  oito do, no m ínim o, par de
Gam em akers que deviam  tê-lo assistido. Eu em purro m inhas unhas contra m inhas palm as
enquanto m eu rosto aparece, esperando o pior. Então eles m ostram  o núm ero onze na tela.
Onze!
Effie Trinket solta um  berro, e todo m undo está batendo nas m inhas costas e m e anim ando e
m e parabenizando. Mas isso não parece real.
“Deve ter sido um  engano. Com o... com o isso pôde acontecer?” eu pergunto a Hay m itch.
“Acho que eles gostaram  do seu tem peram ento,” ele diz. “Eles tem  um  show para carregar.
Eles precisam  de alguns j ogadores esquentadinhos.”
“Katniss, a garota que estava em  cham as,” diz Cinna e m e dá um  abraço. “Oh, espere até
você ver seu vestido para a entrevista.”
“Mais cham as?” eu pergunto.
“De um a espécie,” ele diz de form a travessa.
Peeta e eu parabenizam os um  ao outro, outro m om ento estranho. Am bos fizem os bem , m as o
que isso significa para o outro? Eu escapo para o m eu quarto o m ais rápido possível e entro sob
os cobertores. O estresse do dia, particularm ente o choro, m e esgotou. Eu divago, suavizada,
aliviada, e com  o núm ero onze ainda brilhando atrás das m inhas pálpebras.
No am anhecer, eu deito na cam a por um  m om ento, assistindo o sol aparecer num a bela
m anhã. É dom ingo. Um  dia fora de casa. Pergunto-m e se Gale j á está na floresta. Usualm ente
nós devotam os todo o Dom ingo para estocar para toda a sem ana. Levantando cedo, caçando e


colhendo, então negociando no Hob. Penso em  Gale sem  m im . Am bos podem os caçar
sozinhos, m as som os m elhor com o um  par. Particularm ente se estam os tentando pegar um a
caça sozinhos. Mas tam bém  nas pequenas coisas, ter um  par suaviza a carga, poderia m esm o
fazer a árdua tarefa de preencher a m esa da m inha fam ília divertida.
Eu estava lutando sozinha por uns seis m eses quando eu pela prim eira vez vi Gale na floresta.
Era um  Dom ingo de Outubro, o ar frio e pungente com o coisas m ortas. Eu tinha passado a
m anhã com petindo com  os esquilos por nozes e a tarde suavem ente quente vadeando em
lagoas rasas colhendo katniss. A única com ida que eu tinha pegado era um  esquilo que tinha
praticam ente corrido por sobre m eus dedos dos pés em  busca de bolotas, m as os anim ais ainda
estariam  em  ação quando a neve queim asse m inhas outras fontes de com ida. Tendo desviado
m ais longe do que o habitual, eu estava voltando apressada para casa, arrastando seu saco de
tecido grosso quando eu percebi um  coelho m orto. Ele estava pendurado pelo seu pescoço por
um  fino fio uns trinta centím etros acim a da m inha cabeça. Uns quinze m etros m ais longe
estava outro.
Eu reconheci a arm adilha porque m eu pai as tinha usado. Quando a presa é pega, ela é puxada
para o ar fora do alcance de anim ais fam intos. Eu tinha tentando usar arm adilhas todo o verão
sem  sucesso, então eu não podia evitar deixar cair m eu saco para exam iná-la. Meus dedos
estavam  quase no fio acim a dos coelhos quando um a voz cham ou. “Isso é perigoso.” Eu pulei
para trás quando Gale se m aterializava de trás de um a árvore. Ele devia estar m e assistindo o
tem po todo. Ele tinha apenas quatorze, m as tinha claram ente 1,80m  e era tão adulto para m im .
Eu o tinha visto por aí em  Seam  e na escola. E um a outra vez. Ele tinha perdido o pai na
m esm a explosão que m atou o m eu. Em  Janeiro, eu tinha ficado do lado enquanto ele recebia
sua m edalha de coragem  do Edifício da Justiça, outro filho m ais velho sem  pai. Lem brei de
seus dois irm ãos pequenos agarrando sua m ãe, um a m ulher cuj a barriga inchada anunciava
que ela estava apenas há alguns dias de dar a luz.
“Qual é o seu nom e?” ele disse, aproxim ando-se e soltando o coelho da arm adilha. Ele tinha
outros três pendurados no seu cinto.
“Katniss,” disse, m al audível.
“Bem , Catnip, a punição por roubar é a m orte, ou você não tinha ouvido?” ele disse.
“Katniss,” eu disse m ais alto. “E eu não estava roubando. Eu só queria ver sua arm adilha. As
m inhas nunca pegam  nada.”
Ele fez um a cara feia para m im , não convencido. “Então de onde você conseguiu o esquilo?”
“Eu atiro.” Puxei m eu arco do m eu om bro. Eu ainda estava usando a versão pequena que m eu
pai tinha feito para m im , m as eu estava praticando com  o m aior quando podia. Estava
esperando que com  a prim avera eu pudesse ser capaz de derrubar um a caça m aior.


Os olhos de Gale se fixaram  no arco. “Posso vê-lo?” eu entreguei a ele. “Só lem bre-se, a
punição por roubar é a m orte.”
Aquela foi a prim eira vez que eu o vi sorrir. Transform ava-o de alguém  am eaçador para
alguém  que você desej aria conhecer. Mas levou alguns m eses para eu retornar esse sorriso.
Nós conversam os sobre caçada, então. Eu contei a ele que eu podia ser capaz de conseguir
para ele um  arco se ele tinha algo para negociar. Não com ida. Eu queria conhecim ento. Eu
queria preparar m inhas próprias em boscadas que pegassem  um a correia de coelhos gordos
em  um  dia. Ele concordou que algo podia ser trabalhado. Enquanto as estações passavam , nós
rancorosam ente com eçam os a dividir nosso conhecim ento, nossas arm as, nossos lugares
secretos que eram  cheios de am eixas selvagens ou perus. Ele m e ensinou a capturar com  a
arm adilha e a pescar. Eu m ostrei a ele quais as plantas para com er e eventualm ente dei a ele
um  dos nossos preciosos arcos. E então um  dia, sem  nenhum  de nós dizê-lo, tornam o-nos um
tim e. Dividindo o trabalho e as presas. Tendo certeza que am bas nossas fam ílias tinham
com ida.
Gale m e dava um a sensação de segurança que eu tinha carência desde a m orte do m eu pai.
Seu com panheirism o substituiu as longas horas solitárias na floresta. Eu m e tornei m uito
m elhor em  caçar quando não tinha que olhar por sobre m eu om bro constantem ente, quando
alguém  estava assistindo m inhas costas. Mas ele se tornou m uito m ais do que um  com panheiro
de caçada. Ele se tornou m eu confidente, alguém  com  quem  eu podia dividir os pensam entos
que eu nunca podia dar voz dentro do m uro. Em  troca, ele confiou em  m im .
Estar fora na floresta com  Gale... às vezes eu era feliz de verdade.
Eu o cham ei de am igo, m as no últim o ano parecia um a palavra m uito casual para o que Gale
era para m im . Um a pontada de saudades dispara pelo m eu peito. Se ele só tivesse aqui com igo
agora! Mas, claro, eu não quero isso. Eu não o quero na arena onde ele estaria m orto em
poucos dias. Eu só... eu só sentia a falta dele. E odeio estar tão sozinha. Ele sente m inha falta?
Ele deve.
Penso no onze brilhando sob m eu nom e na últim a noite. Sei exatam ente o que ele diria para
m im . “Bem , há algum  espaço para m elhorias ali.” E então ele m e daria um  sorriso e eu o
retornaria sem  hesitação agora.
Não posso evitar com parar o que eu tenho com  Gale com  o que eu finj o que tenho com  Peeta.
Com o eu nunca questiono os m otivos de Gale quando eu não faço nada m ais que duvidar do
últim o. Não é um a com paração j usta, de fato. Gale e eu estávam os j ogando j untos pela
necessidade m útua de sobreviver. Peeta e eu sabem os que a sobrevivência do outro significa a
própria m orte. Com o se iludir com  isso?


Effie está batendo na porta, lem brando-m e que há outro “grande, grande, grande dia!” pela
frente. Am anhã a noite será nossa entrevista na televisão. Acho que toda a equipe terá suas
m ãos cheias nos preparando para isso.
Eu m e levanto e tom o um  banho rápido, sendo um  pouco m ais cuidadosa com  os botões em
que eu bato, e sigo em  direção ao salão de j anta. Peeta, Effie, e Hay m itch estão reunidos ao
redor da m esa conversando em  vozes baixas. Isso parece estranho, m as a fom e vence m inha
curiosidade e eu carrego m eu prato com  o café da m anhã antes de m e j untar a eles.
O cozido é feito com  pedaços de cordeiro e am eixas secas hoj e. Perfeito no fundo de arroz
selvagem . Eu despej o aproxim adam ente m eio m onte quando noto que ninguém  está falando.
Tom o um  grande gole de suco de laranj a e seco m inha boca. “Então, o que está acontecendo?
Você está m e treinando para as entrevistas hoj e, certo?”
“Certo,” diz Hay m itch.
“Você não tem  que esperar até eu term inar. Eu posso escutar e com er ao m esm o tem po,”
digo.
“Bem , houve algum a m udança de planos. Sobre nossa atual abordagem ,” diz Hay m itch.
“O que é?” pergunto. Não estou certa sobre qual é a nossa atual abordagem . Tentando parecer
m edíocre na frente dos outros tributos é o últim o pedaço de estratégia que eu lem bro.
Hay m itch encolhe os om bros. “Peeta m e pediu para ser treinado separadam ente.” 9
Traição. Essa é a prim eira coisa que eu sinto, o que é ridículo. Para que houvesse traição,
deveria ter havido confiança antes.
Entre Peeta e eu. E confiança não fizera parte do acordo. Som os tributos. Mas o garoto que
tinha arriscado levar um a surra para m e dar pão, aquele que m e acalm ou na carruagem , que
m e cobriu no caso da Avox ruiva, que insistiu para que Hay m itch conhecesse m inhas
habilidades de caça... havia algum a parte de m im  que não conseguia evitar confiar nele?
Por outro lado, estou aliviada por poderm os parar com  o fingim ento de serm os am igos.
Obviam ente, qualquer tênue conexão que tínham os tolam ente form ado tinha se partido. E
bem  na hora, tam bém .
Os Gam es com eçam  em  dois dias, e confiança só será um a fraqueza. O que quer que tenha
ativado a decisão do Peeta – e eu suspeito que tenha a ver com igo ter sido m elhor que ele no
treinam ento – eu deveria sim plesm ente estar grata por isso. Talvez ele finalm ente tenha
aceitado o fato de que quanto m ais cedo nós reconhecerm os abertam ente que som os inim igos,


m elhor.
“Ótim o,” eu digo. “Então qual o cronogram a?”
“Cada um  de vocês terá quatro horas com  a Effie para a apresentação e quatro com igo para
conteúdo,” diz Hay m itch. “Você com eça com  a Effie, Katniss.” Eu não consigo im aginar o
que Effie pode m e ensinar que levará quatro horas, m as ela m e põe para trabalhar até o últim o
m inuto. Vam os para o m eu quarto e ela m e coloca em  um  vestido com prido e sapatos de salto
alto, não os que eu estarei usando para a entrevista verdadeira, e m e instrui a andar. Os sapatos
são a pior parte. Eu nunca usei salto alto e eu não consigo m e acostum ar a basicam ente ficar
balançando nas pontas dos pés.
Mas Effie corre em  cim a deles o tem po todo, e eu estou determ inada que se ela consegue
fazer isso, eu tam bém  consigo. O vestido oferece outro problem a.
Fica enrolando ao redor dos m eus sapatos, então, é claro, eu o puxo para cim a, e então Effie
lança-se sobre m im  com o um  falcão, batendo nas m inhas m ãos e gritando, “Não acim a do
tornozelo!” Quando eu finalm ente conquisto andar, há ainda sentar, postura – aparentem ente
eu tenho um a tendência de abaixar a m inha cabeça – com tato visual, gestos da m ão, e sorrir.
Sorrir é quase todo sobre sorrir m ais. Effie m e faz dizer um a centena de frases banais
com eçando com  um  sorriso, enquanto sorrio, ou term inando com  um  sorriso. Na hora do
alm oço, os m úsculos nas m inhas bochechas estão contorcendo-se por uso exagerado.
“Bem , esse é o m elhor que eu consigo,” Effie diz com  um  suspiro. “Lem bre-se, Katniss, você
quer que a audiência goste de você.”
“E você não acha que eles gostarão?” Eu pergunto.
“Não se você olhar feio para eles o tem po todo. Por que você não guarda isso para a arena?
Ao invés, pense que você está entre am igos,” diz Effie.
“Eles estão apostando quanto tem po eu viverei!” Eu estouro. “Eles não são m eus am igos!”
“Bem , tente e finj a!” retruca Effie. Então ela se recom põe e sorri radiantem ente para m im .
“Viu, assim . Eu estou sorrindo para você m esm o que você estej a m e irritando.”
“Sim , parece m uito convincente,” eu digo. “Eu vou com er.” Eu tiro m eus saltos e piso
pesadam ente até a sala de j antar, subindo m inha saia até as m inhas coxas.
Peeta e Hay m itch parecem  estar de m uito bom  hum or, então eu acho que a sessão de
conteúdo deve ser um a m elhora dessa m anhã. Eu não podia estar m ais errada. Após o alm oço,
Hay m itch m e leva para a sala de estar, m e direciona para o sofá, e então só franze a testa
para m im  por um  tem po.


“O quê?” Eu finalm ente pergunto.
“Estou tentando descobrir o que fazer com  você,” ele diz. “Com o vam os apresentá-la. Você
vai ser charm osa? Arredia? Feroz? Até agora, você está brilhando com o um a estrela. Você se
voluntariou para salvar sua irm ã. Cinna te fez parecer inesquecível. Você tirou a m aior nota do
treinam ento. As pessoas estão intrigadas, m as ninguém  sabe quem  você é. A im pressão que
você causar am anhã decidirá exatam ente o que eu conseguirei para você em  term os de
patrocinadores,” diz Hay m itch.
Tendo observado as entrevistas dos tributos a m inha vida toda, eu sei que há um a verdade no
que ele está dizendo. Se você conquistar a m ultidão, sendo ou hum orística ou brutal ou
excêntrica, você ganha boas graças.
“Qual a abordagem  do Peeta? Ou eu não posso perguntar?” Eu digo.
“Am igável. Ele tem  um  tipo de hum or auto-depreciativo natural,” diz Hay m itch. “Enquanto
que quando você abre sua boca, você parece m ais m al-hum orada e hostil.”
“Não pareço!” Eu digo.
“Por favor. Eu não sei de onde você puxou aquela garota alegre e acenadora de antes na
carruagem , m as eu não a vi antes ou desde então,” diz Hay m itch.
“E você m e deu tantas razões para ser alegre,” eu contrapus.
“Mas você não tem  que m e agradar. Eu não vou te patrocinar. Então finj a que eu sou a
audiência,” diz Hay m itch. “Me fascine.”
“Ótim o!” Eu rosno. Hay m itch tom a o papel de entrevistador e eu tento responder suas
perguntas de um a m aneira vencedora. Mas eu não consigo. Eu estou nervosa dem ais com
Hay m itch pelo que ele disse e que eu ainda tenho que responder as perguntas. Tudo em  que
consigo pensar é em  com o o negócio todo é inj usto, o Hunger Gam es. Por que eu estou
pulando de um  lado para o outro com o algum  cão treinado tentando agradar pessoas que eu
odeio?
Quanto m ais a entrevista prolonga-se, m ais a m inha fúria parece subir à superfície, até que eu
literalm ente estou cuspindo respostas para ele.
“Está certo, chega,” ele disse. “Tem os que encontrar outro ângulo. Não só você é hostil, com o
eu não sei nada sobre você. Eu te fiz cinqüenta perguntas e ainda não faço ideia da sua vida, a
sua fam ília, do que você gosta. Eles querem  saber sobre você, Katniss.”
“Mas eu não quero que eles saibam ! Eles j á estão tom ando o m eu futuro! Eles não podem  ter
as coisas que eram  im portantes para m im  no passado!” Eu digo.


“Então m inta! Invente algum a coisa!” diz Hay m itch.
“Não sou boa m entindo,” eu digo.
“Bem , é m elhor você aprender rápido. Você tem  tanto charm e quanto um a lesm a m orta,” diz
Hay m itch.
Ai. Isso m achuca. Até m esm o Hay m itch deve saber que ele foi duro dem ais, porque sua voz
suaviza. “Tenho um a ideia. Tente agir hum ilde.”
“Hum ilde,” eu ecoo.
“Que você não consegue acreditar que um a m enininha do Distrito Doze se deu tão bem . O
negócio todo foi m ais do que você poderia ter sonhado. Fale sobre as roupas do Cinna. Com o as
pessoas são legais. Com o a cidade te fascina. Se você não vai falar sobre sim , pelo m enos
elogie a audiência. Sim plesm ente fique virando de volta, está bem . Entusiasm e-se.” As
próxim as horas são agonizantes. De um a só vez, fica claro que eu não consigo m e entusiasm ar.
Nós tentam os eu m etida, m as eu sim plesm ente não tenho a arrogância.
Aparentem ente, eu sou “vulnerável” dem ais para ferocidade. Eu não sou vivaz. Engraçada.
Sexy . Ou m isteriosa.
Ao final da sessão, eu não sou ninguém . Hay m itch com eçou a beber por volta do vivaz, e um a
beirada m aldosa arrastou-se para sua voz. “Eu desisto, querida. Só responda as perguntas e
tente não deixar a audiência ver o quanto você os despreza abertam ente.” Eu j anto naquela
noite no m eu quarto, pedindo um  núm ero escandaloso de iguarias, com endo até passar m al, e
então descontando m inha raiva do Hay m itch, dos Hunger Gam es, de cada ser vivo em  Capitol
ao quebrar pratos pelo m eu quarto. Quando a garota do cabelo verm elho vem  para arrum ar
m inha cam a, seus olhos se arregalam  com  a bagunça. “Só deixa!” Eu grito para ela. “Só deixa
isso em  paz!”
Eu a odeio, tam bém , com  seus sabidos olhos reprovadores que m e cham am  de covarde, de
m onstro, de fantoche de Capitol, tanto agora quanto antes. Para ela, a j ustiça deve finalm ente
estar acontecendo. Por fim  m inha m orte aj udará a pagar pela vida do garoto na floresta.
Mas ao invés de fugir da sala, a garota fecha a porta atrás de si e vai para o banheiro. Ela volta
com  um  pano úm ido e lim pa m eu rosto gentilm ente, então lim pa o sangue de um  prato
quebrado das m inhas m ãos. Por que ela está fazendo isso? Por que eu estou deixando-a?
“Eu devia ter tentando salvá-la,” eu sussurro.
Ela balança sua cabeça. Isso significa que estávam os certos ao ficar parados? Que ela m e
perdoou?


“Não, foi errado,” eu digo.
Ela bate em  seus lábios com  seus dedos e então aponta para o m eu peito. Eu acho que ela quer
dizer que eu sim plesm ente teria acabado um a Avox, tam bém . Provavelm ente teria. Um a
Avox ou m orta.
Eu passo a próxim a hora aj udando a garota ruiva lim par o quarto. Quando todo o lixo foi
j ogado no dispositivo de coleta e tratam ento de lixo e a com ida fora lim pada, ela arrum a a
m inha cam a. Eu engatinho entre os lençóis com o um a m enina de cinco anos e deixo-a m e
aj eitar. Então ela se vai. Eu quero que ela fique até eu pegar no sono. Estar lá quando eu
acordar. Eu quero a proteção dessa garota, m esm o que ela nunca tenha tido a m inha.
De m anhã, não é a garota, m as sim  m eu tim e de preparação que está sobre m im . Minhas
lições com  Effie e Hay m itch acabaram . Esse dia pertence ao Cinna. Ele é m inha últim a
esperança. Talvez ele possa m e fazer parecer tão m aravilhosa que ninguém  ligará para o que
saia da m inha boca.
O tim e trabalha em  m im  até o fim  da tarde, transform ando a m inha pele em  um  cetim
resplandecente, gravando padrões nos m eus braços, pintando desenhos de cham as nas m inhas
vinte unhas perfeitas. Então Venia trabalha no m eu cabelo, entrelaçando tranças de verm elho
em  um  padrão que com eça no m eu ouvido esquerdo, se enrola ao redor da m inha cabeça, e
então cai em  um a trança pelo m eu om bro direito. Eles lim pam  o m eu rosto com  um a cam ada
de m aquiagem  pálida e desenham  m eus traços de volta. Enorm es olhos negros, lábios
verm elhos cheios, cílios que desviam  um  pouco de luz quando eu pisco. Finalm ente, eles
cobrem  o m eu corpo inteiro com  um  pó que m e faz brilhar em  poeira dourada.
Então Cinna entra com  o que eu presum o ser m eu vestido, m as eu não consigo realm ente ver,
porque está coberto. “Feche seus olhos,” ele ordena.
Eu consigo sentir a seda interior enquanto eles o deslizam  pelo m eu corpo nu, então o peso.
Deve ser uns dezoito quilos. Eu aperto a m ão da Octavia enquanto eu cegam ente coloco m eus
sapatos, feliz por descobrir que eles são pelo m enos cinco centím etros m ais baixos do que o par
que a Effie m e fez praticar. Há algum  aj uste e m anuseio. Então silêncio.
“Posso abrir m eus olhos?” Eu pergunto.
“Sim ,” diz Cinna. “Abra-os.”
A criatura de pé perante a m im  no espelho inteiro veio de outro m undo. Onde peles brilham  e
olhos relam pej am  e aparentem ente eles fazem  suas roupas de j óias. Porque o m eu vestido, ah,
o m eu vestido é inteiram ente coberto em  pedras preciosas reflexivas, verm elhas e am arelas e
brancas com  um  pouquinho de azul que acentua as pontas do desenho de cham as.
O m ovim ento m ais leve dá a im pressão que eu sou engolfada por línguas de fogo.


Eu não estou bonita. Eu não estou linda. Eu estou tão radiante quanto o sol.
Por um  tem po, sim plesm ente m e encaram os. “Ah, Cinna,” eu finalm ente sussurro.
“Obrigada.”
“Gire para m im ,” ele diz. Eu estico m eus braços e giro em  um  círculo. O tim e de preparação
grita em  adm iração.
Cinna dispensa o tim e e m e faz m over com  o vestido e os sapatos, que são infinitam ente m ais
m anej áveis que os da Effie. O vestido paira de tal j eito que eu não tenho que levantar a saia
quando ando, deixando-m e com  m enos um a coisa com  a qual m e preocupar.
“Então, todo prontos para a entrevista então?” pergunta Cinna. Eu consigo ver por sua
expressão que ele está falando com  Hay m itch. Que ele sabe o quanto eu sou terrível.
“Eu sou horrível. Hay m itch m e cham ou de lesm a m orta. Não im porta o que tentássem os, eu
não conseguia. Eu sim plesm ente não consigo ser um a dessas pessoas que ele quer que eu
sej a,” eu digo.
Cinna pensa nisso por um  m om ento. “Por que você sim plesm ente não é você m esm a?”
“Eu m esm a? Isso não é nada bom , tam bém . Hay m itch diz que eu sou m al hum orada e hostil,”
eu digo.
“Bem , você é... perto do Hay m itch,” diz Cinna com  um  sorriso irônico. “Eu não te acho isso. O
tim e de preparação te adora. Você até m esm o conquistou os Gam em akers. E quanto aos
cidadãos de Capitol, bem , eles não conseguem  parar de falar sobre você. Ninguém  consegue
evitar adm irar o seu espírito.”
Meu espírito. Esse é um  novo pensam ento. Eu não tenho certeza do que exatam ente isso
significa, m as sugere que eu sou um a lutadora. De um  j eito m eio coraj oso. Não é com o se eu
nunca fosse am igável. Está bem , talvez eu não saia por aí am ando todo m undo que eu
conheço, talvez m eus sorrisos sej am  difíceis de aparecer, m as eu realm ente gosto de algum as
pessoas.
Cinna tom a m inhas m ãos geladas nas suas quentes. “Suponha, quando você responder as
perguntas, que você acha que está se dirigindo a um  am igo lá em  casa. Quem  seria seu m elhor
am igo?” pergunta Cinna.
“Gale,” eu digo instantaneam ente. “Só que não faz m uito sentido, Cinna. Eu nunca diria essas
coisas sobre m im  ao Gale. Ele j á as conhece.”
“E quanto a m im ? Você consegue pensar em  m im  com o um  am igo?” pergunta Cinna.


De todas as pessoas que eu conheci desde que eu deixei m inha casa, Cinna é de longe a m inha
favorita. Eu gostei dele de cara e ele não m e decepcionou ainda. “Eu acho que sim , m as –”
“Eu vou estar sentado na plataform a principal com  os outros estilistas. Você será capaz de
olhar diretam ente para m im . Quando te fizerem  um a pergunta, m e encontre, e responda-a o
m ais honestam ente possível,” diz Cinna.
“Mesm o se o que eu pensar for horrível?” Eu pergunto. Porque pode ser, sério.
“Especialm ente se o que você acha é horrível,” diz Cinna. “Você tentará?” Eu aceno. É um
plano. Ou pelo m enos algo a que se agarrar.
Cedo dem ais é hora de ir. A entrevista se dá em  um  palco construído na frente do Centro de
Treinam ento. Um a vez que eu deixo o m eu quarto, serão só m inutos até eu estar na frente da
m ultidão, das câm eras, de toda Panem .
Enquanto Cinna vira a m açaneta, eu paro sua m ão. “Cina...” Eu estou com pletam ente tom ada
pelo m edo de palco.
“Lem bre-se, eles j á te am am ,” ele diz gentilm ente. “Só sej a você m esm a.” Nós nos
encontram os com  o resto do povo do Distrito 12 no elevador. Portia e sua gangue tinham
trabalhado arduam ente. Peeta parece form idável em  um  terno preto com  ênfases de cham a.
Enquanto parecem os bem  j untos, é um  alívio não estar vestida identicam ente.
Hay m itch e Effie estão todos arrum ados para a ocasião. Eu evito Hay m itch, m as aceito os
elogios de Effie. Effie pode ser cansativa e tola, m as ela não é destrutiva com o o Hay m itch.
Quando o elevador abre, os outros tributos estão sendo alinhados para tom ar o palco. Todos nós
vinte e quatro sentam os em  um  grande arco durante as entrevistas. Eu serei a últim a, ou a
penúltim a, j á que a m enina tributo precede o garoto de cada distrito. Com o eu gostaria de ser a
prim eira e acabar com  esse negócio todo!
Agora eu terei que ouvir com o todos os outros são vivazes, engraçados, hum ildes, ferozes, e
charm osos antes de eu ir. Além  disso, a audiência vai com eçar a ficar entediante, exatam ente
com o os Gam em akers ficaram . E eu não posso exatam ente atirar um a flecha na m ultidão
para cham ar sua atenção.
Logo antes de desfilarm os até o palco, Hay m itch aparece atrás de Peeta e eu e rosna,
“Lem bre-se, vocês ainda são um  casal feliz. Então aj am  de acordo.” O quê? Eu achei que
tínham os abandonado isso quando Peeta pediu um  treinam ento separado. Mas acho que esse
era um  negócio particular, não público. De qualquer j eito, não há m uita chance de interação
agora, enquanto andam os em  fila indiana até nossos assentos e tom am os nossos lugares.
Sim plesm ente pisar no palco deixa m inha respiração rápida e superficial. Eu consigo sentir


m inha pulsação em  m inhas têm poras. É um  alívio ir até a m inha cadeira, porque com  os saltos
e as m inhas pernas trem endo, eu tenho m edo de tropeçar. Apesar da noite estar caindo, a
Cidade Circular é m ais clara que um  dia de verão. Um a unidade de assentos elevados foi
organizada para os convidados de prestígio, com  os estilistas com andando a fileira da frente.
As câm eras irão se virar para eles quando a m ultidão estiver reagindo ao seu trabalho. Um a
enorm e sacada de um a construção lateral foi reservada para os Gam em akers. Equipes de
televisão reinvindicaram  a m aioria das outras sacadas. Mas a Cidade Circular e as avenidas
que a alim entam  estão com pletam ente lotadas de pessoas. Um a sala só para espectadores. Nas
casas e salões com unitários pelo país, cada televisão está ligada. Cada cidadão de Panem  está
atento. Não haverá apagões hoj e.
Caesar Flickerm an, o hom em  que faz as entrevistas por m ais de quarenta anos, saltita pelo
palco. É um  pouco assustador, porque sua aparência perm aneceu virtualm ente im utável
durante todo esse tem po. Mesm o rosto debaixo de um a cam ada de m aquiagem  branca pura.
Mesm o penteado que ele tinge de um a cor diferente para cada Hunger Gam es. Mesm o terno
de cerim ônia, azul escuro pingado com  m il m inúsculos bulbos elétricos que piscam  com o
estrelas.
Eles fazem  cirurgia em  Capitol, para fazer as pessoas parecerem  m ais j ovens e m ais m agras.
No Distrito 12, parecer velho é m eio que um a realização, j á que tantas pessoas m orrem  cedo.
Você vê um a pessoa idosa e quer parabenizá-la por sua longevidade, perguntar o segredo da
sobrevivência. Um a pessoa rechonchuda é invej ada porque ela não está apenas sobrevivendo
dia a dia com o a m aioridade de nós. Mas aqui é diferente. Rugas não são desej áveis. Um a
barriga redonda não é um  sinal de sucesso.
Esse ano, o cabelo de Caesar é azul acinzentado e suas pálpebras e lábios estão cobertos com  a
m esm a m atiz. Ele parece bizarro, m as m enos assustador do que no ano passado, quando sua
cor fora carm esim  e ele parecera estar sangrando. Caesar conta algum as piadas para aquecer
a audiência, m as então parte para os negócios.
A garota tributo do Distrito 1, parecendo provocadora em  um  vestido dourado transparente,
anda até o centro do palco para se j untar a Caesar para sua entrevista. Você consegue afirm ar
que seu m entor não teve problem a algum  em  bolar um  ângulo para ela. Com  aquele cabelo
loiro flutuante, olhos verde esm eralda, seu corpo alto e exuberante... ela é totalm ente sexy .
Cada entrevista dura apenas três m inutos. Então um a cam painha soa e é a vez do próxim o
tributo. Eu digo isso do Caesar, ele realm ente faz seu m elhor para deixar os tributos brilharem .
Ele á am igável, tenta deixar os nervosos à vontade, ri de um as piadas podres, e consegue
transform ar um a resposta fraca em  um a m em orável som ente pelo j eito com  que ele reage.
Eu sento com o um a dam a, do j eito que Effie m e m ostrou, enquanto os distritos deslizam . 2, 3,


4. Todos parecem  estar j ogando de algum  ângulo.
O garoto m onstruoso do Distrito 2 é um a m áquina de m atar cruel. A garota de rosto de raposa
do Distrito 5 é dissim ulada e elusiva, Eu avistei Cinna assim  que ele tom ou seu lugar, m as até
m esm o sua presença não conseguiu m e relaxar. 8, 9, 10. O garoto aleij ado do 10 é bem  quieto.
Minhas palm as estão suando adoidadas, m as o vestido encravado de j óias não é absorvente e
elas derrapam  diretam ente por ele se eu tento secá-las. 11.
Rue, que está vestida em  um  vestido diáfano com pleto com  asas, flutua até Caesar. Um
silêncio cai sobre a m ultidão ao sinal m ágico dessa pequena e delicada tributo. Caesar é m uito
doce com  ela, elogiando o seu sete no treinam ento, um a nota excelente para alguém  tão
pequeno. Quando ele pergunta a ela qual sua m aior habilidade na arena será, ela não hesita.
“Eu sou m uito difícil de se capturar,” ela diz em  um a voz trêm ula. “E se eles não puderem  m e
pegar, eles não podem  m e m atar. Então não descarte.”
“Eu não iria em  um  m ilhão de anos,” diz Caesar encoraj adoram ente.
O garoto tributo do Distrito 11, Thresh, tem  a m esm a pele negra de Rue, m as as sem elhanças
param  ali. Ele é um  dos gigantes, provavelm ente um  m etro e noventa e cinco e o porte de um
boi, m as eu notei que ele rej eitou os convites dos Tributos Profissionais de j untar a seu grupo.
Ao invés, ele tem  estado bastante solitário, falando com  ninguém , m ostrando pouco interesse
no treinam ento. Mesm o assim , ele conseguiu um  dez e não é difícil de im aginar que ele
im pressionou os Gam em akers. Ele ignora as tentativas de Caesar de brincadeira e responde
com  um  sim  ou não sim plesm ente perm anecendo em  silêncio.
Se eu ao m enos fosse do tam anho dele, eu podia m e safar sendo m al hum orada e hostil e
ficaria tudo bem ! Eu aposto que m etade dos patrocinadores estão pelo m enos considerando-o.
Se eu tivesse algum  dinheiro, eu m esm a apostaria nele.
E então eles estão cham ando Katniss Everdeen, e eu m e sinto, com o se em  um  sonho, levantar
e andar até o centro do palco. Eu aperto a m ão esticada de Caesar, e ele tem  os bons m odos de
não lim par im ediatam ente a sua m ão em  seu terno.
“Então, Katniss, Capitol deve ser um a m udança e tanto do Distrito Doze. O que m ais te
im pressionou desde que você chegou aqui?” pergunta Caesar.
O quê? O que ele disse? É com o se as palavras não fizessem  sentido algum .
Minha boca ficou seca com o serragem . Eu desesperadam ente encontro Cinna na m ultidão e
travo m eus olhos com  ele. Eu im agino as palavras saindo de seus lábios. “O que m ais te
im pressionou desde que você chegou aqui?” Eu vasculho m eu cérebro por algo que m e fez
feliz aqui. Sej a honesta, eu penso. Sej a honesta.


“O cozido de cordeiro,” eu saio.
Caesar ri, e eu vagam ente percebo que parte da audiência se j untou a ele.
“Aquela com  as am eixas secas?” pergunta Caesar. Eu aceno. “Ah, eu o com o de m onte.” Ele
se vira de lateral para audiência com  terror, a m ão em  seu estôm ago. “É notável, não é?” Eles
gritam  reassegurações de volta a ele e aplaudem . Isso é o que eu quis dizer sobre Caesar. Ele
tenta te aj udar.
“Agora, Katniss,” ele diz confiantem ente, “Quando você saiu na cerim ônia de abertura, m eu
coração realm ente parou. O que você achou daquele traj e?” Cinna levanta um a sobrancelha
para m im . Sej a honesta. “Você quer dizer depois de eu ter superado m eu m edo de ser
queim ada viva?” Eu pergunto.
Um a risada alta. Um a real da audiência.
“Sim . Com ece aí,” diz Caesar.
Cinna, m eu am igo, eu deveria dizer a ele de qualquer j eito. "Eu achei que Cinna foi brilhante e
foi o traj e m ais lindo que eu j á vi e eu não consegui acreditar que estava usando ele. Eu não
consigo acreditar que estou usando isso, tam pouco.” Eu levanto m inha saia para espalhá-la.
“Quero dizer, olhe para ela!”
Enquanto a audiência faz oohs e aahs, eu vej o Cinna fazer o m enor m ovim ento circular com
seu dedo. Mas eu sei o que ele está dizendo.
Gire para m im .
Eu rodo em  um a círculo um a vez e a reação é im ediata.
“Ah, faça isso novam ente!” diz Ceaser, e então eu levanto m eus braços e rodopio ao redor
sem  parar, deixando a saia voar para cim a, deixando o vestido m e engolfar em  cham as. A
audiência com eça a aplaudir. Quando eu paro, eu aperto o braço de Caesar.
“Não pare!” ele diz.
“Eu preciso, estou tonta!” Eu tam bém  estou dando risinhos, o que eu acho que nunca fiz em
m inha vida. Mas o nervosism o e os rodopios ganharam  de m im .
Caesar envolve um  braço protetor ao m eu redor. “Não se preocupe, estou com  você. Não
posso fazê-la seguir os passos do seu m entor.”
Todos estão vaiando enquanto as câm eras acham  Hay m itch, que agora j á é fam oso por seu
m ergulho de cabeça na colheita, e ele acena para ele de um  j eito bom  hum orado e aponta de
volta para m im .


“Está tudo bem ,” Caesar assegura à m ultidão. “Ela está segura com igo. Então, e quanto a nota
do treinam ento. On-ze. Dê-nos um a dica do que aconteceu lá.” Eu olho para os Gam em akers
na sacada e m ordo m eu lábio.
“Hm ... tudo que eu posso dizer é que acho que foi inédito.” As câm eras estão bem  nos
Gam em akers, que estão rindo e assentindo.
“Você está nos m atando,” diz Caesar com o se estivesse com  um a dor real. “Detalhes.
Detalhes.”
Eu m e dirij o a sacada. “Não devo falar sobre isso, certo?” O Gam em aker que caiu na tigela de
ponche grita, “Ela não deve!”
“Obrigada,” eu digo. “Desculpa. Meus lábios estão selados.”
“Vam os voltar então para o m om ento que cham am  o nom e da sua irm ã na colheita,” diz
Caesar. Seu hum or está m ais silencioso agora.
“E você se voluntariou. Pode nos falar sobre ela?”
Não. Não, não para todos vocês. Mas talvez para Cinna. Eu não acho que estou im aginando a
tristeza em  seu rosto. “Seu nom e é Prim . Ela só tem  doze anos. E eu a am o m ais que tudo.”
Você conseguia ouvir um  alfinete cair na Cidade Circular agora.
“O que ela disse para você; Depois da colheita?” Caesar pergunta.
Sej a honesta. Sej a honesta. Eu engulo em  seco. “Ela m e pediu para tentar arduam ente
ganhar.” A audiência está congelada, segurando-se em  cada palavra m inha.
“E o que você disse?” Caesar estim ulou gentilm ente.
Mas ao invés de calor, eu sinto um a gelada rigidez tom ar conta do m eu corpo. Meus m úsculos
ficam  tensos com o quando antes de um a m atança. Quando eu falo, m inha voz parece ter caído
um a oitava. “Eu j urei que iria.”
“Aposto que sim ,” diz Caesar, dando-m e um  apertão. A cam painha soa. “Desculpa, nosso
tem po acabou. Muita sorte, Katniss Everdeen, tributo do Distrito Doze.” Os aplausos continuam
por m uito tem po depois de eu estar sentada. Eu olho para Cinna para tranquilização. Ele m e dá
um  j óia sutil.
Eu ainda estou m aravilhada na prim eira parte da entrevista de Peeta. Ele conquista a audiência
de cara, contudo; eu os ouço rindo, gritando. Ele j oga com  o negócio de filho do padeiro,
com parando os tributos com  os pães de seus distritos. Então tem  um a anedota engraçada sobre
os riscos dos chuveiros de Capitol.


“Diga-m e, eu cheiro a rosas?” ele pergunta a Caesar, e então há toda um a cena onde eles se
revezam  cheirando um  ao outro, o que traz a casa abaixo.
Eu estou voltando a prestar atenção quando Caesar pergunta a ele se ele tem  um a nam orada
em  casa.
Peeta hesita, então dá um a sacudidade não convincente de sua cabeça.
“Um  rapaz bonito com o você. Deve haver um a garota especial. Vam os, qual o nom e dela?”
diz Caesar.
Peeta suspira. “Bem , tem  essa garota. Eu tenho um a queda por ela desde que consigo m e
lem brar. Mas tenho bastante certeza de que ela nem  m esm o sabia que eu estava vivo até a
colheita.”
Sons de sim patia da m ultidão. Eles encontram  ligação com  am or platônico.
“Ela tem  outro cara?” pergunta Caesar.
“Eu não sei, m as m uitos outros garotos gostam  dela,” diz Peeta.
“Então, faça o seguinte. Ganhe, volte para casa. Ela não pode te recusar então, hein?” diz
Caesar encoraj adoram ente.
“Eu não acho que vai funcionar. Ganhar... não vai aj udar no m eu caso,” diz Peeta.
“Por que não?” diz Caesar, perplexo.
Peeta cora um  tom  de beterraba e gaguej a. “Porque... porque... ela veio aqui com igo.”
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