Jogos Vorazes



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Jogos Vorazes - Suzanne Collins (2)


particularm ente ruins.
“Bem  horrível, hein?” diz Peeta. Ele está m e observando atentam ente.
“Mais ou m enos.” Eu dou de om bros com o se não fosse nada dem ais. “Você deveria ver
algum as das pessoas que levam  pra m inha m ãe das m inas.” Eu m e abstenho de dizer com o eu
geralm ente saio da casa sem pre que ela trata de alguém  com  algo pior que um  resfriado.
Pensando nisso, eu nem  gosto m uito de ficar perto de tosses. “A prim eira coisa que se deve
fazer é lim pá-lo bem .”
E deixei Peeta de cueca porque ela não está em  m á condição e eu não quero puxá-la sobre sua
coxa inchada e, tudo bem , talvez a ideia de vê-lo pelado m e deixa desconfortável. Essa é outra
coisa sobre a m inha m ãe e a Prim . Nudez não tem  efeito sobre elas, não lhes dá m otivo algum


para envergonham ento. Ironicam ente, a esta altura dos Gam es, m inha irm ãzinha seria de
m uito m ais utilidade para Peeta do que eu sou. Eu m ovo m eu quadrado de plástico sob ele para
que possa lavar o resto dele. Com  cada garrafa que eu derram o sobre ele, pior seu ferim ento
aparece. O resto da parte inferior de seu corpo está m uito bom , só um a picada de tracker
j acker e algum as poucas queim aduras que eu trato rapidam ente. Mas o corte em  sua perna...
que diabos posso fazer com  isso?
“Por que não deixam os respirar um  pouco e então...” eu dissipo.
“E então você rem enda?” diz Peeta. Ele parece quase com  pena de m im , com o se soubesse
com o estou perdida.
“É m esm o,” eu digo. “Enquanto isso, com a isso.” Eu ponho algum as m etades de peras secas
em  sua m ão e volto para o riacho para lavar o resto de suas roupas. Quando elas estão
esticadas e secando, eu exam ino o conteúdo do kit de prim eiros socorros. São coisas bem
básicas. Bandagens, pílulas de febre, rem édios para acalm ar estôm agos.
Nada do calibre que eu preciso para tratar o Peeta.
“Terem os que experim entar alguns,” eu adm ito. Eu sei que as folhas dos tracker j acker
extraem  a infecção, então eu com eço com  elas. Dentro de m inutos pressionando o punhado de
coisas verdes m astigadas no ferim ento, pus com eça a escorrer pela lateral de sua perna. Eu
digo a m im  m esm a que isso é um a coisa boa e m ordo o interior da m inha bochecha forte
porque m eu café-da-m anhã está am eaçando fazer um a reaparição.
“Katniss?” Peeta diz. Eu encontro seus olhos, sabendo que m eu rosto deve estar de algum  tom
de verde. Ele balbucia as palavras. “E quanto aquele beij o?” Eu caio em  risada porque a coisa
toda é tão revoltante que não consigo aguentar.
“Algo errado?” ele pergunta um  tanto ingenuam ente dem ais.
“Eu... eu não sou nada boa com  isso. Eu não sou a m inha m ãe. Eu não faço ideia do que estou
fazendo e odeio pus,” eu digo. “Ui!” eu m e perm ito soltar um  resm ungo enquanto lavo a
prim eira rodada de folhas e aplico a segunda. “Uuui!”
“Com o você caça?” ele pergunta.
“Confie em  m im . Matar coisas é m uito m ais fácil que isso,” eu digo. “Apesar de que, pelo que
sei, possa estar te m atando.”
“Pode se apressar um  pouquinho?” ele pergunta.
“Não. Cala a boca e com a suas peras,” eu digo.
Após três aplicações e o que parece ser um  balde de pus, o ferim ento parece m esm o m elhor.


Agora que o inchaço abaixou-se, eu consigo ver o quão profundam ente a espada de Cato
cortou. Até o osso.
“E agora, Dra. Everdeen?” ele pergunta.
“Talvez eu coloque um  pouco da pom ada pra queim adura nisso. Eu acho que aj uda com
infecção, de qualquer j eito. E enfaixar?” eu digo. Eu faço isso e a coisa toda parece m uito
m ais controlável, coberta em  algodão branco lim po. Apesar de que, contra a bandagem  estéril,
a bainha de sua cueca parece noj enta e transbordando com  doenças contagiosas. Eu puxo a
m ochila da Rue. “Aqui, cubra-se com  isso e eu lavarei sua cueca.”
“Ah, eu não ligo se você m e ver,” diz Peeta.
“Você é exatam ente com o o resto da m inha fam ília,” eu digo. “Eu ligo, tudo bem ?” Eu viro de
costas e olho para o riacho até que a cueca chapinhe na corrente. Ele deve estar se sentindo
um  tantinho m elhor se ele consegue atirar.
“Sabe, você é m eio sensível para um a pessoa tão letal,” diz Peeta enquanto eu bato sua cueca
entre duas pedras para lim pá-la.
“Gostaria de ter deixado você dar um  banho no Hay m itch no final das contas.” Eu torço m eu
nariz para a m em ória. “O que ele te m andou até agora?”
“Nadinha,” diz Peeta. Então há um a pausa, enquanto ele se dá conta.
“Por que, você conseguiu algo?”
“Rem édio para queim adura,” eu digo quase tim idam ente. “Ah, e um  pouco de pão.”
“Eu sem pre soube que você era a favorita dele,” diz Peeta.
“Por favor, ele não suporta ficar no m esm o côm odo que eu," eu digo.
“Porque vocês são m uito parecidos,” resm unga Peeta. Eu ignoro isso, no entanto, porque essa
realm ente não é a hora de eu insultar o Hay m itch, que é m eu prim eiro im pulso.
Eu deixo Peeta cochilar enquanto suas roupas secam , m as ao final da tarde, eu não ouso
esperar ainda m ais. Eu gentilm ente balanço seu om bro. “Peeta, tem os que ir agora.”
“Ir?” Ele parece confuso. “Ir para onde?”
“Pra longe daqui. Corrente abaixo talvez. Para algum  lugar em  que possam os nos esconder até
que você estej a m ais forte,” eu digo. Eu aj udo-o a se vestir, deixando seus pés descalços para
que possam os andar na água, e puxo-o na vertical. Seu rosto é drenado de cor no m om ento que
coloca peso em  sua perna. “Vam os. Você consegue fazer isso.” Mas ele não consegue. Não
por m uito tem po, pelo m enos. Nós andam os cerca de quarenta e cinco m etros correnteza


abaixo, com  ele apoiado no m eu om bro, e eu posso afirm ar que ele vai desm aiar. Eu o sento
na ribanceira, coloco sua cabeça entre seus j oelhos, e dou tapinhas em  suas costas sem  j eito
enquanto vasculho a área. É claro, eu adoraria colocá-lo em  cim a de um a árvore, m as isso
não vai acontecer. Podia ser pior, contudo. Algum as dessas pedras form am  pequenas
estruturas parecidas com  cavernas. Eu ponho m eus olhos em  um a a cerca de dezoito m etros
acim a do riacho. Quando é capaz de ficar em  pé, eu m eio guio, m eio carrego-o até a caverna.
Na verdade, eu gostaria de procurar um  lugar m elhor, m as esse terá que servir porque m eu
aliado está ferido. Branco feito papel, arfando, e, apesar de ter com eçado agora a esfriar, ele
está trem endo.
Eu cubro o chão da caverna com  um a cam ada de folhas de pinheiro, desenrolo m eu saco de
dorm ir, e o enfio dentro dele. Eu ponho algum as pílulas e um  pouco de água dentro dele
quando ele não está notando, m as ele se recusa a com er até m esm o a fruta. Então ele
sim plesm ente fica deitado ali, seus olhos treinados no m eu rosto enquanto eu construo um  tipo
de cobertura de vinhas para esconder a boca da caverna. O resultado é insatisfatório. Um
anim al poderia não questionar isso, m as um  hum ano veria que m ãos tinham  m anufaturado isso
rápido o bastante. Eu rasgo-a em  frustração.
“Katniss,” ele diz. Eu vou até ele e tiro o cabelo de seus olhos. “Obrigado por m e encontrar.”
“Você teria m e encontrado se pudesse,” eu digo. Sua testa está queim ando. Com o se o
rem édio não está fazendo efeito algum .
De repente, do nada, fico com  m edo que ele vá m orrer.
“Sim . Olha, se eu não voltar –” ele com eça.
“Não fale assim . Eu não drenei todo esse pus por nada," eu digo.
“Eu sei. Mas só no caso de eu não –” ele tenta continuar.
“Não, Peeta, eu não quero nem  discutir isso,” eu digo, colocando m eus dedos em  seus lábios
para silenciá-lo.
“Mas eu –” ele insiste.
Im pulsivam ente, eu m e inclino para frente e beij o ele, parando suas palavras. Isso está
provavelm ente atrasado, de qualquer j eito, j á que ele está certo, nós devíam os estar
loucam ente apaixonados. É a prim eira vez que eu beij ei um  garoto, o que deveria fazer algum
tipo de im pressão, eu acho, m as tudo que consigo registrar é com o seus lábios estão
anorm alm ente quentes de febre. Eu m e separo e puxo a beirada do m eu saco de dorm ir ao
redor dele. “Você não vai m orrer. Eu proíbo isso. Está certo?”
“Está certo,” ele sussurra.


Eu saio no ar frio da noite bem  quando um  paraquedas flutua do céu. Meus dedos rapidam ente
desfazem  o nó, esperando por algum  m edicam ento real para tratar a perna de Peeta. Ao invés
disso eu encontro pote de caldo quente.
Hay m itch não podia estar m e m andando um a m ensagem  m ais clara. Um  beij o equivale a um
pote de caldo. Eu quase consigo ouvir seu resm ungo.
“Você deveria estar apaixonada, querida. O garoto está m orrendo. Me dê algo com  o que
possa trabalhar!"
E ele está certo. Se eu quero m anter Peeta vivo, eu tenho que dar à audiência algo a m ais para
se preocupar. Am antes desafortunados desesperados para chegar em  casa j untos. Dois
corações batendo com o um . Rom ance.
Nunca tendo m e apaixonado, isso será realm ente difícil. Eu penso nos m eus pais. O j eito com o
m eu pai nunca falhou em  trazer presentes para ela da floresta. O m odo com o o rosto de m inha
m ãe se ilum inava ao som  das botas dele na porta. O j eito com o ela quase tinha parado de viver
quando ele m orreu.
“Peeta!” eu digo, tentando o tom  especial que m inha m ãe usava só com  o m eu pai. Ele
cochilou novam ente, m as eu o beij o para acordá-lo, o que parece assustá-lo. Então ele sorri
com o se fosse ficar feliz em  ficar deitado ali m e olhando para sem pre. Ele é ótim o nessas
coisas.
Eu levanto o pote. “Peeta, olhe o que Hay m itch te m andou.” 20
Dar o caldo para Peeta levou um a hora de persuasão, suplicas, am eaças, e sim , beij os, m as
finalm ente, gole por gole, ele esvaziou o pote. Deixo-o dorm ir então e atendo às m inhas
próprias necessidades, engolindo um  suprim ento de ervas e raízes enquanto observo o relatório
diário no céu. Sem  novas casualidades. Mesm o assim , Peeta e eu dem os à audiência um  dia
bastante interessante. Se tiverm os sorte, os Gam em akers vão nos perm itir um a noite pacífica.
Autom aticam ente procuro ao redor um a boa árvore para m e abrigar antes de perceber que
acabou. Pelo m enos por enquanto. Não posso deixar Peeta desprotegido no chão. Eu deixo a
cena de seu últim o esconderij o na m argem  do córrego intocado – com o eu poderia ocultá-la?
– e estam os a poucos cinquenta m etros rio abaixo. Ponho m eus óculos, colocando m inhas
arm as ao alcance, e sento-m e para m e m anter em  vigilância.
A tem peratura cai rapidam ente eu logo estou trem endo até os ossos. Eventualm ente, eu sedo e
deslizo para dentro do saco de dorm ir com  Peeta. Está quente e eu m e aconchego agradecida
até perceber que está m ais do que quente, está excessivam ente quente porque o saco está
refletindo a febre dele. Verifico sua testa e encontro-a queim ando e seca. Não sei o que fazer.
Deixo-o no saco e espero que o calor excessivo term ine a febre? Tiro-o dali e espero que o ar
da noite o esfrie? Acabo apenas um edecendo um a tira de gaze e colocando-a sobre sua testa.


Parece fraco, m as tenho m edo de fazer algo drástico dem ais.
Passo a noite m eio sentada, m eio deitada ao lado de Peeta, refrescando a gaze, tentando não
pensar no fato de, j untando-m e a ele, eu m e fiz m uito m ais vulnerável do que quando estava
sozinha. Presa ao chão, de guarda, com  um a pessoa m uito doente para tom ar conta. Mas eu
sabia que ele estava m achucado. E ainda fui atrás dele. Eu só tenho de confiar que qualquer
que sej a o instinto que m e m andou encontrá-lo era bom .
Quando o céu fica róseo, noto o brilho de suor do lábio de Peeta e descubro que a febre
acabou. E não voltou ao norm al, m as a febre baixou alguns graus. Noite passada, quando eu
estava recolhendo vinhas, topei com  as bagas de Rue. Descasquei a fruta e am assei no pote de
caldo com  água fria.
Peeta se esforça para se levantar quando eu alcanço a caverna. “Eu acordei e você não estava
aqui,” ele diz. “Estava preocupado com  você.”
Tenho de rir quando eu o tranquilizo. “Você estava preocupada com igo? Você j á se olhou
ultim am ente?”
“Pensei que Cato e Clove tinham  te encontrado. Eles gostam  de caçar a noite,” diz, ainda sério.
“Clove? Quem  é essa?” Pergunto.
“A garota do Distrito Dois. Ela ainda está viva, certo?” diz.
“Sim , há apenas eles e nós, e Thresh e Foxface,” digo. “Esse é o apelido que eu dei para a
garota do Cinco. Com o você se sente?”
“Melhor do que ontem . Essa é um a enorm e m elhoria sobre a lam a,” diz. “Roupas lim pas e
rem édio e saco de dorm ir... e você.”
“Ah, certo, a coisa toda de rom ance. Estendo a m ão para tocar sua bochecha e ele a pega e
pressiona contra seus lábios. Lem bro-m e do m eu pai fazendo isso com  a m inha m ãe e
pergunto de onde Peeta pegou isso. Não tenho certeza se foi do pai dele e da bruxa.
“Sem  m ais beij os para você até que tenha com ido,” digo.
Nós conseguim os colocá-lo contra a parede e ele, obedientem ente, engole as colheradas de
m ingau de uvas que eu fiz. Ele recusa as ervas novam ente, no entanto.
“Você não dorm iu,” Peeta diz.
“Estou bem ,” digo. Mas a verdade é, estou exausta.
“Durm a agora. Vou ficar observando. Vou te acordar se algo acontecer,” diz. Eu hesito.


“Katniss, você não pode ficar acordada para sem pre.”
Ele tem  um  ponto aqui. Tenho que dorm ir eventualm ente. E provavelm ente é m elhor fazer
isso agora quando ele parece relativam ente alerta e tem os a luz do dia do nosso lado. “Tudo
bem ,” digo. “Mas só por algum as horas. Então você m e acorda.” É m uito quente para o saco
de dorm ir agora. Eu coloco-o sobre o chão da caverna e deito, um a m ão no m eu arco
carregado no caso de eu ter de atirar a qualquer m om ento. Peeta se senta ao m eu lado,
inclinando-se contra a parede, sua perna ruim  estirada ante a ele, seus olhos focados no m undo
lá fora. “Vá dorm ir,” diz suavem ente. Sua m ão afaga um a m echa do m eu cabelo sobre m inha
testa. Diferente dos beij os e das carícias encenadas até agora, esse gesto parece natural e
confortante. Não quero que ele pare e ele não para. Ele ainda está tocando m eu cabelo quando
caio no sono.
Tem po dem ais. Dorm i tem po dem ais. Sei do m om ento em  que abro m eus olhos que é de
tarde. Peeta está no m eu lado, sua posição inalterada. Sento-m e, sentindo-m e m eio defensiva,
m as m elhor do que estive em  dias.
“Peeta, você deveria m e acordar depois de algum as horas,” digo.
“Pra quê? Nada aconteceu aqui,” ele diz. “Além  disso, eu gosto de te observar dorm ir. Você
não faz cara feia. Melhora m uito sua aparência.”
Isso, é claro, m e traz um a cara feia que o faz rir. É quando percebo quão seco seus lábios
estão. Toco sua testa. Quente com o um  fogão a carvão. Ele afirm a que esteve bebendo, m as o
recipiente ainda está todo cheio para m im . Dou a ele m ais pílulas para febre e fico perto dele
enquanto ele tom a o prim eiro, e depois um  segundo quarto de água. Então olho suas feridas
m enores, as queim aduras, as picadas, que estão m ostrando m elhoras. Eu m e firm o e desato
sua perna.
Meu coração para m eu estôm ago. Está pior, m uito pior. Não há pus em  evidência, m as o
inchaço aum entou e a pele brilhante está inflam ada. Então vej o as listras verm elhas
com eçando a subir pela sua perna. Envenenam ento sanguíneo. Se não for parado, vai m atá-lo
com  certeza. Minhas folhas m astigadas e pom ada não vão pará-lo. Vam os precisar de um
forte antibiótico do Capitol. Não posso im aginar o custo de um  rem édio tão forte.
Se Hay m itch j untar toda contribuição de todos os patrocinadores, ele teria o bastante? Duvido.
Presentes sobem  em  preço à m edida que os Gam es continuam . O que com pra um a refeição
com pleta num  dia com pra um  biscoito no dia doze. E o tipo de rem édio que Peeta precisa teria
sido um  prêm io desde o início.
“Bem , há m ais inchaço, m as o pus se foi,” digo num a voz instável.
“Sei o que envenenam ento sanguíneo é, Katniss,” diz Peeta. “Mesm o que m inha m ãe não sej a
um a curandeira.”


“Você só tem  de sobreviver aos outros, Peeta. Eles vão te curar no Capitol quando nós
ganharm os,” digo.
“Sim , é um  bom  plano,” diz. Mas sinto que isso é m ais para m eu benefício.
“Você tem  que com er. Mantenha sua força para cim a. Vou fazer sua sopa,” digo.
“Não acenda o fogo,” diz. “Não vale a pena.”
“Vam os ver,” digo. Quando levo o pote para o riacho, estou abatida com  quão brutalm ente
quente está. Juro que os Gam em akers estão progressivam ente aum entando a tem peratura do
dia e dim inuindo a noite. O calor das pedras do lago m e da um a ideia, entretanto. Talvez eu
não precise acender o fogo.
Eu m e sento num a grande pedra lisa no m eio do cam inho entre o lago e a caverna. Depois de
purificar m eio pote de água, coloco-o sob luz do sol e acrescendo algum as pedras quentes do
tam anho de ovos na água. Sou a prim eira a adm itir que eu não saiba cozinhar m uito bem . Mas
visto que fazer sopa consiste basicam ente em  j ogar tudo num  pote e esperar, esse é um  dos
m eus m elhores pratos. Moo ervas até que elas quase se tornem  um a m assa e m isturo com  as
raízes de Rue. Felizm ente elas j á foram  torradas, assim  preciso apenas esquentá-las. Agora
m esm o, entre a luz do sol e as pedras, a água está quente. Coloco nela a carne e as raízes, tiro
as pedras, e vou procurar algo verde para tem perá-lo um  pouco. Em  pouco tem po, encontro
um  tufo de cebolinhas crescendo na base de algum as pedras. Perfeito. Corto-as bem  finas e
acrescento-as ao pote, trocando as pedras novam ente, colocando a tam pa, e deixando o resto
acontecer.
Vej o poucos sinais do j ogo ao redor, m as não m e sinto confortável deixando Peeta sozinho
enquanto caço, então faço m eia dúzia de arm adilhas e rezo para ter sorte. Pergunto-m e sobre
os outros tributos, com o eles estão fazendo agora que sua principal fonte de com ida explodiu.
Pelo m enos três deles, Cato, Clove, e Foxface, contavam  com  ela. Provavelm ente Thresh não,
entretanto. Tenho o pressentim ento que ele deve dividir algum  do conhecim ento de Rue de
com o se alim entar da terra. Eles estão lutando entre si? Procurando por nós? Talvez um  deles
tenha nos localizado e estej a apenas esperando pelo m om ento certo para atacar. A ideia m e
envia de volta para a caverna.
Peeta está estendido sobre o saco de dorm ir nas form as das pedras. Em bora ele tenha se
anim ado quando eu entrei, está claro que ele se sente m iserável. Ponho uns panos frios sobre
sua testa, m as eles ficam  quentes logo que tocam  sua pele.
“Você quer algo?” Pergunto.
“Não,” diz. “Obrigado. Espere, sim . Conte-m e um a história.”
“Um a história? Sobre o quê?” Digo. Não sou um a boa contadora de histórias. É com o cantar.


Mas de vez em  quando, Prim  consegue um a de m im .
“Algo feliz. Conte-m e sobre o dia m ais feliz que você pode se lem brar,” diz Peeta.
Algo entre um  suspiro e um  bufo de exasperação deixa m inha boca. Um a história feliz? Isso
requer m uito m ais esforço que a sopa. Eu esprem o m eu cérebro por boas m em órias. A
m aioria envolve Gale e eu fora caçando e de algum a form a não penso que essas iriam  ser
boas para Peeta e a audiência. Resta Prim .
“Eu j á te contei com o consegui a cabra de Prim ?” Pergunto. Peeta balança a cabeça, e olha
para m im  com  expectativa. Então eu com eço. Mas cuidadosam ente. Porque m inhas palavras
estão saindo para toda Panem . E enquanto as pessoas sem  dúvida som aram  dois m ais dois e
perceberam  que caço ilegalm ente, não quero m achucar Gale ou Greasy  Sae ou a açougueira,
ou até os Pacificadores de casa que são m eus clientes, por anunciar publicam ente que eles
quebram  a lei, tam bém .
Aqui está a verdadeira história de com o consegui dinheiro para a cabra de Prim , Lady . Era
um a tarde de sexta, o dia anterior ao décim o aniversário de Prim  no final de m aio. Logo que a
escola term inou, Gale e eu entram os na floresta, porque eu queria conseguir o bastante para
trocar por um  presente para Prim . Talvez algum  novo tecido para um  vestido ou um a escova
de cabelo. Nossas arm adilhas foram  bem  feitas e a floresta estava cheia de verduras, m as isso
realm ente era nada m ais que nossa m édia de um a noite de sexta. Estava desapontada quando
voltam os, m esm o Gale dizendo que seria m elhor no dia seguinte. Nós estávam os descansando
por um  m om ento perto do riacho quando o vim os. Um  j ovem  cervo, provavelm ente de um
ano, pelo seu tam anho. Seus chifres ainda estavam  crescendo, ainda pequenos e revestidos de
veludo. Posicionado para correr, m as inconsciente de nós, não fam iliar com  hum anos. Bonito.
Menos bonito, talvez, quando duas flechas o pegaram , um a no pescoço, outra no peito. Gale e
eu atiram os ao m esm o tem po. O cervo tentou correr, m as tropeçou, e a faca de Gale deslizou
pelo seu pescoço antes que ele soubesse o que estava acontecendo. Mom entaneam ente, senti
um a dor por m atar algo tão j ovem  e inocente. E então m eu estôm ago rugiu ao pensar naquela
carne j ovem  e inocente.
Um  veado! Gale e eu tínham os apenas pegado três no total. O prim eiro, um a corça que tinha
m achucado a perna de algum a form a, quase não contava. Mas sabíam os por experiência que
não deveríam os levar a carcaça para o Hob. Isso causou caos com  pessoas barganhando as
partes e, na verdade, tentando pegar alguns pedados para si. Greasy  Sae interferiu e m andou
nossa corça para a açougueira, m as não antes de ele ser m uito danificado, pedaços grande de
carne levados, a pele cheia de buracos. Em bora todos tenham  pagado j ustam ente, isso baixou
o preço da caça.
Dessa vez, esperam os até o anoitecer e passam os pelo buraco na cerca perto da açougueira.
Em bora conhecíam os os caçadores, não seria bom  carregar o veado de 10 quilos pelas ruas do


Distrito 12 à luz do dia, com o se estivéssem os esfregando-o na cara dos oficiais.
A açougueira, um a m ulher pequena e volum osa de nom e Rooba, veio para a porta de trás
quando batem os. Você não discute com  Rooba. Ela te dá um  preço, que você pega ou parte,
m as é um  preço j usto. Pegam os sua oferta do veado e j ogou dois bifes de veado que podíam os
pegar depois do abate. Mesm o com  o dinheiro dividido por dois, nem  Gale nem  eu tivem os
tanto de um a vez em  nossas vidas. Decidim os m anter em  segredo e surpreender nossas
fam ílias com  o dinheiro da carne no final do próxim o dia.
Foi daí onde tirei dinheiro para a cabra, m as contei a Peeta que vendi um  velho m edalhão de
prata da m inha m ãe. Isso não pode m achucar ninguém . Então pego a história do final da tarde
do aniversário de Prim .
Gale e eu fom os ao m ercado na praça para que eu pudesse com prar o m aterial do vestido.
Enquanto eu estava correndo m eus dedos sobre um  grosso pano azul de algodão, algo apareceu
na m inha vista. Há um  velho que m antém  um  pequeno rebanho de cabras do outro lado de
Seam . Não sei seu nom e real, todos o cham am  apenas de Hom em  da Cabra. Suas j untas são
inchadas e deform adas em  ângulos dolorosos, e ele tem  um a tosse seca que prova que ele
passou anos nas m inas. Mas ele é sortudo. Em  algum  m om ento ele j untou dinheiro suficiente
para essas cabras e agora tem  algo a fazer na sua velhice além  de m orrer de fom e.
Ele é im undo e im paciente, m as as cabras são lim pas e o leite delas é rico se você pode
bancar.
Um a das cabras, um a branca com  m anchas pretas, estava caída num a carroça. Era fácil ver o
por que. Algo, provavelm ente um  cão, bateu no seu om bro e um a infecção com eçou. Isso era
ruim , o Hom em  da Cabra tinha segurado-a para pegar seu leite. Mas eu pensei que conhecia
alguém  que podia consertar.
“Gale,” sussurrei. “Quero um a cabra para Prim .”
Possuir um a cabra pode m udar sua vida no Distrito 12. Os anim ais podem  viver à quase tudo, e
Meadow tem  a alim entação perfeita, e eles podem  dar quatro galões de leite por dia. Para
beber, fazer leite, vender. Não é nem  contra a lei.
“Ela está m uito m al,” disse Gale. “É m elhor dar um a olhada m ais de perto.” Aproxim am o-nos
e com pram os um  copo de leite para dividir, então ficam os perto da cabra com o se
estivéssem os curiosos.
“Deixem -na,” disse o hom em .
“Apenas olhando,” disse Gale.
“Bem , olhem  rápido. Ela vai pra açougueira logo. Dificilm ente alguém  vai com prar o leite


dela, então eles apenas pagam  m etade do preço,” disse o hom em .
“Quando a açougueira está dando por ela?” Perguntei.
O hom em  encolheu os om bros. “Fiquem  por aí e vej am .” Virei-m e e vi Rooba vindo pela
praça para nós. “Sorte você aparecer,” disse o Hom em  da Cabra quando ela chegou. “A
garota está de olho na sua cabra.”
“Não se ela a com prou,” digo cuidadosam ente.
Rooba olha para m im  de baixo para cim a e franze o cenho para a cabra. “Ela não é. Olhe para
aquele om bro. Aposto que m etade da carcaça estará m uito podre, até para salsicha.”
“O quê?” disse o Hom em  da Cabra. “Nós tínham os um  trato.”
“Nós tínham os um  trato com  o anim al com  poucas m arcas de dentes. Não essa coisa. Venda-a
para a garota se ela for estúpida o bastante para levá-la,” disse Rooba. Quando ela se retirava,
vi sua piscadela.
O Hom em  da Cabra estava furioso, m as ainda quis se livrar daquela cabra. Levou m eia hora
para acertar o preço. Um a boa m ultidão se j untou para dar opinião. Era um  excelente negócio
se a cabra vivesse; e um  roubo se ela m orresse. As pessoas tom avam  seus lados na discussão,
m as eu levei a cabra.
Gale se ofereceu para carregá-la. Acho que ele queria ver o rosto de Prim  tanto quanto eu.
Num  m om ento de vertigem , com prei um  laço rosa e atei no seu pescoço. Então correm os
para m inha casa.
Você deveria ter visto a reação de Prim  quando entram os com  a cabra. Lem brar-se da garota
que chorou para salvar aquele terrível gato velho, Buttercup. Ela estava tão excitada que
com eçou a chorar e rir ao m esm o tem po. Minha m ãe estava m enos anim ada, vendo o
m achucado, m as então com eçou a trabalhar neles, m oendo ervas e persuadindo a m istura a
descer pela garganta do anim al.
“Eles parecem  você,” diz Peeta. Quase esqueci que ele estava ali.
“Ah, não, Peeta. Eles trabalharam  com  m ágica. Aquela coisa não poderia m orrer m esm o se
tentasse,” digo. Mas então m ordo m inha língua, percebendo com o deve ter soado para Peeta,
que estava m orrendo, nas m inhas incom petentes m ãos.
“Não se preocupe. Não estou tentando,” ele brinca. “Term ine a história.”
“Bem , é isso. Só lem bro-m e daquela noite, Prim  insistiu em  dorm ir com  Lady  no cobertor
próxim o ao fogo. E antes de dorm irem , a cabra lam beu sua bochecha, com o se estivesse


dando a ela um  beij o de boa noite ou algo assim ,” digo. “Já era louca por ela.”
“Ainda estava usando a fita rosa?” ele pergunta.
“Acho que sim ,” digo. “Por quê?”
“Estou apenas tentando im aginar,” diz pensativam ente. “Posso ver porque esse dia te deixou
feliz.”
“Bem , eu sabia que aquela cabra seria um a pequena m ina de ouro,” digo.
“Sim , é claro que eu estava m e referindo a isso, não ao últim o presente que você deu a sua
irm ã que am a tanto que tom ou seu lugar na colheita,” diz Peeta secam ente.
“A cabra se pagou por si só. Muitas vezes,” digo num  tom  superior.
“Bem , ela não ousaria m ais nada depois de você ter salvado a vida dela,” diz Peeta. “Tenciono
fazer a m esm a coisa.”
“Sério? O que você vai m e custar de novo?” pergunto.
“Muitos problem as. Não se preocupe. Você ganhará de volta tudo,” diz.
“Você não está fazendo sentido,” digo. Testo sua testa. A febre não subiu. “Você está m ais
frio, entretanto.”
O som  de trom betas m e assusta. Fico de pé e vou até a boca da caverna rapidam ente, não
querendo perder um a sílaba. É m eu novo m elhor am igo, Claudius Tem plesm ith, e com o eu
esperava, ele está nos convidando para um  banquete. Bem , nós não estam os com  tanta fom e e,
na verdade, eu afasto sua oferta com  indiferença quando ele diz, “Agora esperem . Alguns de
vocês podem  j á estar rej eitando m inha oferta. Mas não é um  banquete ordinário. Cada um  de
vocês precisa de algo desesperadam ente.”
Eu preciso de algo desesperadam ente. Algo para curar a perna de Peeta.
“Cada um  de vocês vai encontrar esse algo num a m ochila, m arcada com  o núm ero do seu
distrito, na Cornucópia ao am anhecer. Pensem  bem  sobre recusar a aparecer. Para alguns de
vocês, essa será a últim a chance,” diz Claudius.
Não há nada m ais, apenas suas palavras pairando no ar. Pulo quando Peeta agarra m eu om bro
de trás. “Não,” ele diz. “Você não vai arriscar sua vida por m im .”
“Quem  disse que eu ia?” digo.
“Então, você não vai?” ele pergunta.


“Claro que não vou. Dê-m e algum  crédito. Você acha que vou correr direto para algum a
com petição livre contra Cato, Clove e Thresh? Não sej a estúpido,” digo, aj udando-o a se
deitar.
“Vou deixá-los lutar, e verem os quem  estará no céu am anhã de noite, e vam os planej ar daí.”
“Você é um a péssim a m entirosa, Katniss. Não sei com o você sobreviveu por tanto tem po.”
Ele com eça a m e im itar. “Eu sabia que aquela cabra seria um a pequena m ina de outro. Você
está m ais frio, entretanto. É claro que eu não vou.” Ele balança a cabeça. “Nunca j ogue
cartas. Você vai perder até sua últim a m oeda,” diz.
A raiva ruboriza m eu rosto. “Certo, eu vou, e você não pode m e parar!”
“Posso te seguir. Ao m enos m etade do cam inho. Posso não chegar à Cornucópia, m as se eu
gritar seu nom e, aposto que algo pode m e encontrar. E então vou estar m orto, com  certeza,”
ele diz.
“Você não conseguirá andar cem  m etros daqui com  essa perna” digo.
“Então vou m e arrastar,” diz Peeta. “Você vai e eu vou, tam bém .” Ele é teim oso o bastante e
talvez só forte o bastante para fazer. Vir uivando atrás de m im  na floresta. Mesm o se um
tributo não encontrá-lo, algum a coisa m ais vai. Ele não pode se defender. Provavelm ente terei
de prendê-lo na caverna para ir. E quem  sabe o que o esforço pode fazer com  ele?
“O que eu deveria fazer? Sentar aqui e ver você m orrer?” digo. Ele pode saber que não é um a
opção. Que a audiência m e odiaria. E francam ente, eu m e odiaria, tam bém , se nem  tentasse.
“Não vou m orrer. Eu prom eto. Se você prom eter não ir,” ele diz.
Estam os em  algo com o um  em pate. Sei que não posso argum entar com  ele nessa, então nem
tento. Finj o, relutante, concordar. “Então você tem  de fazer o que eu disser. Beba sua água,
acorde-m e quando eu disser, e com a cada pedaço de sopa, não im porta quão noj ento ela
sej a!” Grito para ele.
“Feito. Está pronta?” ele pergunta.
“Espere aqui,” digo. O ar ficou frio em bora o sol ainda estej a alto. Estou certa sobre os
Gam em akers bagunçando a tem peratura. Pergunto-m e se a coisa que alguém  precisa
desesperadam ente é um  bom  banquete. A sopa ainda está boa e quente no pote de ferro. E, na
verdade, não tem  um  gosto m uito ruim .
Peeta com e sem  reclam ar, até raspa o pote para m ostrar seu entusiasm o. Ele fala com o está
deliciosa, que deveria ser encoraj ador, se você não soubesse o que a febre faz às pessoas. Ele
é com o escutar Hay m itch antes que o álcool o afogue na incoerência. Dou a ele outra dose de
rem édio para febre antes dele dorm ir com pletam ente.


Quando desço até o riacho para m e lavar, tudo que posso pensar é que ele vai m orrer se eu
não for ao banquete. Vou m antê-los por um  dia ou dois, e então a infecção vai atingir seu
coração ou seu cérebro ou seus pulm ões e ele se vai. E eu estarei aqui sozinha. De novo.
Esperando pelos outros.
Estou tão perdida nos pensam entos que acho perto um  paraquedas, em bora ele flutuasse ante a
m im . Então eu m e lanço atrás dele, puxando-o da água, rasgando o tecido prateado para
recuperar o frasco. Hay m itch fez! Ele conseguiu rem édio – não sei com o, persuadiu algum as
tolas m ulheres rom ânticas para vender suas j oias – e posso salvar Peeta! É um  frasco tão
pequeno, porém . Deve ser forte o bastante para curar alguém  tanto doente com o Peeta. Um a
onda de dúvidas m e atravessa. Destam po o frasco e dou um a cheirada profunda. Minha força
cai ao doentio cheiro doce. Sem  dúvidas, é sonífero. Um  rem édio com um  no Distrito 12.
Barato, em  relação aos outros rem édios, m as m uito viciante. Quase todos têm  um a dose ou
outra. Tem os um a garrafa em  casa. Minha m ãe dá a histéricos pacientes para desacordá-los
para dar pontos num a ferida ruim  ou aquietar suas m entes ou apenas aj udar alguém  em  dor a
atravessar a noite. É apenas um  pouco. Um  frasco desse tam anho poderia desacordar Peeta
por todo um  dia, m as qual é o bom  disso? Estou tão furiosa que estou quase atirando a últim a
oferta de Hay m itch no riacho percebo. Um  dia todo? É m ais do que eu preciso.
Eu m oo um  punhado de bagas para que o gosto não sej a não notável e acrescendo folhas de
hortelã em  boa m edida. Então volto para a caverna. “Trouxe para você um  banquete. Achei
bagas um  pouco rio abaixo.”
Peeta abre sua boca para o prim eiro pedaço sem  hesitação. Ele engole e depois franze o cenho
levem ente. “Elas são m uito doces.”
“Sim , elas são bagas doces. Minha m ãe faz geleia com  eles. Você nunca as provou antes?”
digo, em purrando a próxim a colherada na sua boca.
“Não,” ele diz, quase surpreso. “Mas o gosto é fam iliar. Bagas doces?”
“Bem , você não pode consegui-las no m ercado, elas são silvestres,” digo. Outro bocado desce.
Apenas um  para ir.
“Elas são doces com o xarope,” diz, tom ando a últim a colherada. “Xarope.” Seus olhos se
am pliam  quando ele percebe a verdade. Eu pressiono m inha m ão sobre sua boca e seu nariz
fortem ente, forçando-o a engolir em  vez de cuspir. Ele tenta vom itar o m istura, m as é tarde
dem ais, ele j á está perdendo a consciência. Mesm o quando ele desacorda, posso ver em  seus
olhos que o que fiz é im perdoável.
Sento-m e sobre m eus calcanhares e olho para ele com  um a m istura de tristeza e satisfação.


Um a baga m ancha seu queij o, e eu o lim po. “Quem  não pode m entir, Peeta?” digo, em bora
ele não possa m e escutar.
Isso não im porta. O resto de Panem  pode.


21
Nas horas restantes antes do anoitecer, eu reúno pedras e faço e faço o m eu m elhor para
cam uflar a abertura da caverna. É um  processo dem orado e árduo, m as após suar m uito e
deslocar as coisas do lugar, estou bastante satisfeita com  o m eu trabalho. A caverna parece ser
agora um a parte de um a pilha m aior de pedras, com o m uitas na vizinhança. Eu ainda posso
rastej ar até o Peeta por um a pequena abertura, m as é indetectível do lado de fora. Isso é bom ,
porque eu precisarei dividir aquele saco de dorm ir novam ente hoj e à noite. E, tam bém , se eu
não voltar do banquete, Peeta ficará escondido, m as não inteiram ente aprisionado. Apesar de
eu duvidar que ele possa aguentar m uito m ais sem  rem édio. Se eu m orrer no banquete, o
Distrito 12 provavelm ente não terá um  vencedor.
Eu faço um a refeição com  o peixe m enor e m ais espinhento que habita o riacho aqui abaixo,
encho cada recipiente com  água e a purifico, e lim po m inhas arm as. Eu tenho nove flechas
restantes. Eu debato se devo deixar a faca com  Peeta para que ele tenha algum a proteção
enquanto eu estiver longe, m as realm ente não há razão. Ele estava certo sobre cam uflagem
ser sua últim a defesa final. Mas eu talvez ainda tenha uso para a faca. Quem  sabe o que
poderei encontrar?
Essas são algum as das coisas de que estou bastante certa. Que pelo m enos Cato, Clove e
Thresh estarão por perto quando o banquete com eçar. Não tenho m uita certeza sobre a
Foxface, j á que confrontação direta não é seu estilo ou ponto forte. Ela é ainda m enor do que
eu e está desarm ada, a não ser que tenha pego algum as arm as recentem ente.
Ela provavelm ente ficará em  algum  lugar por perto, vendo o que pode catar. Mas os outros
três... ficarei ocupada. Minha habilidade de m atar a distância é m inha m elhor vantagem , m as
eu sei que terei que ir até o fim  para conseguir aquela m ochila, a com  o núm ero 12 que
Claudius Tem plesm ith m encionou.
Eu observo o céu, esperando por um  oponente a m enos ao am anhecer, m as ninguém  aparece
hoj e à noite. Am anhã haverá rostos lá no alto. Banquetes sem pre resultam  em  fatalidades.
Eu engatinho até a caverna, guardo m eus óculos, e m e aconchego próxim a ao Peeta.
Felizm ente, eu tive aquele bom  e longo sono hoj e. Tenho que perm anecer acordada. Eu não
acho realm ente que alguém  atacará nossa caverna hoj e à noite, m as não posso arriscar perder
o am anhecer.
Tão fria, hoj e a noite está tão am argam ente fria. Com o se os Gam em akers tivessem  m andado
um a infusão de ar congelado na arena, o que pode ser exatam ente o que tenham  feito. Eu m e
deito próxim a ao Peeta no saco, tentando absorver cada pedacinho do calor da febre dele. É
estranho estar tão fisicam ente próxim a a alguém  que está tão distante. Peeta podia m uito bem
estar de volta em  Capitol, ou no Distrito 12, ou na lua agora, e ele não estaria m ais difícil de se


alcançar. Eu nunca m e senti m ais sozinha desde que os Gam es com eçaram .
Sim plesm ente aceite que será um a noite ruim , eu digo a m im  m esm a. Eu tento não fazê-lo,
m as não consigo evitar pensar na m inha m ãe e em  Prim , m e perguntando se elas pregarão o
olho esta noite. Nesse estágio tão avançados dos Gam es, com  um  evento im portante com o o
banquete, as aulas provavelm ente serão canceladas. Minha fam ília pode ou assistir naquela
televisão de ferro-velho cheia de estática em  casa ou se j untar à m ultidão na praça e assistir
nas telas grandes e claras. Elas terão privacidade em  casa, m as apoio na praça. As pessoas
lhes falarão coisas bondosas, lhes darão um  pouco de com ida se puderem  se dar ao luxo. Me
pergunto se o padeiro j á as procurou, especialm ente agora que Peeta e eu som os um  tim e, e
cum priu sua prom essa de m anter a barriga da m inha irm ã cheia.
Os ânim os devem  estar altos no Distrito 12. Raram ente tem os alguém  por quem  torcer nesse
estágio dos Gam es. Claro, as pessoas estão anim adas pelo Peeta e por m im , especialm ente
agora que estam os j untos. Se eu fechar m eus olhos, posso im aginar seus gritos para as telas,
nos encoraj ando. Eu vej o seus rostos – Greasy , Sae e Madge e até m esm o os Peacekeepers
que com pram  as m inhas carnes – torcendo por nós.
E Gale. Eu o conheço. Ele não estará gritando e torcendo. Mas ele estará assistindo, cada
m om ento, cada reviravolta, e desej ando que eu volte para casa. Me pergunto se ele está
torcendo para que Peeta volte tam bém . Gale não é m eu nam orado, m as seria, se eu abrisse
essa porta? Ele falou sobre nós fugirm os j untos. Isso era apenas um  cálculo prático das nossas
chances de sobrevivência longe do distrito? Ou algo m ais?
Me pergunto o que ele acha de todos esses beij os.
Através de um a rachadura nas pedras, eu observo a lua cruzar o céu. Ao que eu j ulgo serem
três antes do am anhecer, eu com eço os preparos finais. Tenho cuidados em  deixar Peeta com
água e o kit m édico bem  ao seu lado. Nada m ais será de m uito uso se eu não retornar, e até
m esm o isso iria apenas prolongar sua vida por um  curto período. Após algum  debate, eu tiro
sua j aqueta e a fecho sobre a m inha própria. Ele não precisa dela. Não agora no saco de
dorm ir com  sua febre, e durante o dia, se eu não estiver ali para rem ovê-la, ele assará nela.
Minhas m ãos j á estão duras de frio, então eu pego o par de m eias extra de Rue, corto buracos
para os m eus dedos, e coloco-as. De qualquer j eito, aj uda. Eu encho sua pequena sacola com
um  pouco de com ida, um a garrafa d’água, e bandagens, enfio a faca no m eu cinto, pego m eu
arco e flechas. Estou prestes a partir quando m e lem bro da im portância de sustentar a rotina
dos am antes desafortunados e m e inclino e dou um  beij o longo e dem orado em  Peeta.
Im agino os suspiros lacrim ej antes em anando de Capitol e finj o afastar um a lágrim a própria.
Então passo esprem ida pela abertura nas pedras para a noite.
Minha respiração form a nuvenzinhas brancas quando atinge o ar. Está tão frio quanto um a
noite de novem bro lá em  casa. Um a quando deslizei para a floresta, lanterna na m ão, para m e
j untar a Gale num  local pré-arranj ado onde nos sentaríam os agasalhados j untos, tom ando chá
de ervas de frascos de m etal, enrolados em  colchas, esperando que algum a caça passasse pelo


nosso cam inho enquanto a m anhã chegava. Ah, Gale, eu penso. Se ao m enos você m e
protegesse agora...
Me m ovo o m ais rápido que ouso. Os óculos são m uito notáveis, m as eu ainda sinto falta
solenem ente do uso do m eu ouvido esquerdo. Eu não sei o que a explosão fez, m as danificou
algo profundo e irreparável. Não im porta. Se eu chegar em  casa, serei tão rica que serei capaz
de pagar alguém  para ouvir para m im .
A floresta sem pre parece diferente de noite. Mesm o com  os óculos, tudo tem  um  ângulo
estranho. Com o se as árvores e flores e pedras diurnas tivessem  ido para cam a e tivessem
m andado versões ligeiram ente agourentas de si m esm as para tom arem  seu lugar. Não tento
nada arriscado, com o tom ar um a nova rota. Eu cam inho pelo riacho e sigo o m esm o traj eto de
volta ao esconderij o da Rue perto do lado. Ao longo do cam inho, não vej o sinal de outro
tributo, nem  um a baforada de ar, nem  um  trem or de galho. Ou sou a prim eira a chegar ou os
outros se posicionaram  na noite passada. Ainda falta m ais de um a hora, talvez duas, quando eu
m e retorço para um  arbusto e espero o sangue com eçar a fluir.
Eu m astigo algum as folhas de m enta, m eu estôm ago não aceita m uito m ais. Graças a Deus,
tenho a j aqueta de Peeta, assim  com o a m inha própria. Se não, eu seria forçada a m e m over
para perm anecer aquecida. O céu vira um  cinza nebuloso de m anhã e ainda não há sinal dos
outros tributos. Não é m uito surpreendente, na verdade. Todos se distinguiram  ou pela força ou
pela letalidade ou perspicácia. Eles supõem , eu m e pergunto, que tenho Peeta com igo? Eu
duvido que Foxface e Thresh saibam  que ele foi ferido.
Melhor ainda se acharem  que ele está cobrindo por m im  quando eu for pegar a m ochila.
Mas onde está? A arena se ilum inou o bastante para eu rem over m eus óculos. Eu consigo ouvir
os pássaros m atinais cantando. Não está na hora? Por um  segundo, entro em  pânico achando
que estou no local errado. Mas não, estou certa de que m e lem bro de Claudius Tem plesm ith
especificando a Cornucópia. E ali está. E aqui estou eu. Então onde m eu banquete?
Bem  quando o prim eiro raio de sol brilha na dourada Cornucópia, há um  distúrbio na cam pina.
O chão perante a boca da trom ba se dividi em  dois e um a m esa redonda com  um a toalha
branca-de-neve sobe na arena. Na m esa estão quatro m ochilas, duas pretas grandes com  os
núm eros 2 e 11, um a verde de tam anho m édio com  o núm ero 5, e um a laranj a m inúscula –
sério, eu podia carregá-la ao redor do m eu punho – que deve estar m arcada com  um  12.
A m esa acabou de cair no lugar quando um a figura lança-se para fora da Cornucópia, pega a
m ochila verde, e sai a toda velocidade.
Foxface! É bem  coisa dela inventar um a ideia tão esperta e arriscada! O resto de nós está
ainda aprum ado em  torno da cam pina, avaliando a situação, e ela pegou a dela. Ela nos
prendeu, tam bém , porque ninguém  quer persegui-la, não enquanto sua própria m ochila está


tão vulnerável na m esa. Foxface deve ter deixado propositadam ente as outras m ochilas,
sabendo que roubando um a sem  seu núm ero iria definitivam ente encoraj ar um  perseguidor.
Essa deveria ter sido a m inha estratégia! Na hora que superei m inhas em oções de surpresa,
adm iração, raiva, ciúm es, e frustração, observo aquela j uba de cabelos averm elhados
desaparecer nas árvores bem  longe da área de alcance. Hum . Estou sem pre tem endo os
outros, m as talvez Foxface sej a a verdadeira oponente aqui.
Ela m e custou tem po, tam bém , porque agora está claro que eu preciso ir para a m esa a seguir.
Quem  quer que chegue antes de m im  irá facilm ente pegar a m inha m ochila e ir em bora. Sem
hesitação, eu corro a toda velocidade para a tabela. Eu consigo sentir a em ergência do perigo
antes de o ver. Felizm ente, a prim eira faca vem  voando pelo m eu lado direito, então sou capaz
de ouvir e consigo desviar com  o m eu arco. Me viro, retrocedendo a corda do arco e m ando
um a flecha diretam ente no coração da Clove. Ela se vira exatam ente o suficiente para evitar
um  golpe fatal, m as a ponta perfura seu braço esquerdo. Infelizm ente, ela j oga com  o direito,
m as é o suficiente para retardá-la por alguns m om entos, tendo que puxar a flecha do seu
braço, avaliar a gravidade do ferim ento. Eu continuo m e m ovim entando, posicionam ento a
próxim a flecha autom aticam ente, com o só alguém  que caçou durante anos sabe fazer.
Estou na m esa agora, m eus dedos fechando sobre a m inúscula m ochila laranj a. Minha m ão
desliza entre as correias e eu a puxo pelo m eu braço, é realm ente pequena dem ais para caber
em  qualquer outra parte da m inha anatom ia, e eu estou m e virando novam ente para atirar
quando a segunda faca m e pega na testa. Ela corta em  cim a da m inha sobrancelha direita,
abrindo um a ferida que envia um  fluxo escorrendo pelo m eu rosto, cegando m eu olho,
enchendo m inha boca com  o gosto picante e m etálico do m eu próprio sangue. Eu cam baleio
para trás, m as ainda consigo enviar m inha flecha pronta na direção geral do m eu agressor. Eu
sei enquanto ela deixa as m inhas m ãos que vai errar. E então Clove bate em  m im , m e
deixando cair de costas, prendendo m eus om bros no chão, com  seus j oelhos.
É isso, eu penso, e espero, por Prim , que sej a rápido. Mas Clove quer saborear o m om ento.
Até m esm o sente que tem  tem po. Sem  dúvida Cato está em  algum  lugar próxim o, a
protegendo, esperando pelo Thresh e possivelm ente pelo Peeta.
"Onde está o seu nam orado, Distrito Doze? Ainda persistindo?" ela pergunta.
Bem , enquanto estiverm os falando eu estou viva. "Ele está lá fora agora. Caçando o Cato," eu
rosno para ela. Então eu grito a plenos pulm ões. "Peeta!"
Clove com prim i seu punho na m inha traqueia, m uito eficazm ente cortando a m inha voz. Mas a
cabeça dela está virando de lado a lado, e eu sei que por um  m om ento ela está pelo m enos
considerando que eu estou dizendo a verdade. Já que nenhum  Peeta aparece para m e salvar,
ela se volta para m im .


"Mentirosa," ela diz com  um  sorriso. "Ele está quase m orto. Cato sabe onde o cortou. Você
provavelm ente está com  ele am arrado em  algum a árvore enquanto você tenta m anter seu
coração batendo. O que está na m ochilinha bonita? O rem édio para o Lover Boy ? Que pena
que ele nunca vai recebê-lo."
Clove abre sua j aqueta. Está forrada com  um  im pressionante conj unto de facas. Ela seleciona
cuidadosam ente um a de aparência quase delicada com  um a lâm ina cruel e curvada. "Eu
prom eti ao Cato que se ele m e deixasse ter você, eu daria ao público um  bom  espetáculo."
Luto agora em  um  esforço para rem ovê-la, m as não adianta.
Ela é m uito pesada e seu aperto em  m im  é m uito firm e.
"Esqueça, Distrito Doze. Nós vam os te m atar. Bem  com o nós m atam os sua aliadinha patética...
qual era o nom e dela? Aquela que pulava nas árvores? Rue? Bem , Rue prim eiro, depois você, e
então eu acho que nós vam os sim plesm ente deixar a natureza cuidar do Lover Boy . Com o isso
soa?" Clove pergunta. "Agora, por onde com eçar?"
Ela descuidadam ente retira o sangue da m inha ferida com  a m anga da sua j aqueta. Por um
m om ento, ela analisa m eu rosto, inclinando-o de lado a lado com o se fosse um  bloco de
m adeira e ela estivesse decidindo exatam ente que padrão esculpir nele. Eu tento m order sua
m ão, m as ela pega o cabelo no alto da m inha cabeça, m e forçando de volta ao chão. "Eu
acho..." ela quase ronrona. "Eu acho que vam os com eçar com  a sua boca." Eu aperto os m eus
dentes j untos enquanto ela traça provocativam ente o contorno dos m eus lábios com  a ponta da
lâm ina.
Eu não fecho m eus olhos. O com entário sobre Rue m e encheu de fúria, fúria o suficiente que
eu penso em  m orrer com  algum a dignidade. Com o o m eu últim o ato de rebeldia, vou encará-
la enquanto conseguir enxergar, o que provavelm ente não será um  período de tem po
prolongado, m as eu vou encará-la, eu não vou gritar. Eu vou m orrer, de m eu próprio j eitinho,
invicta.
"Sim , eu não acho que você vai ter m uito m ais uso para os seus lábios. Quer soprar para o
Lover Boy  um  últim o beij o?" ela pergunta, eu j unto um  bocado de sangue e saliva e cuspo no
rosto dela. Ela fica verm elha de raiva. "Muito bem . Vam os com eçar."
Eu m e preparo para a agonia que certam ente se seguirá. Mas enquanto sinto a ponta abrir o
prim eiro corte em  m eu lábio, algum a form a grande arranca Clove do m eu corpo e então ela
grita. Fico m uito estupefata de prim eira, incapaz dem ais de processar o que aconteceu. O
Peeta, de algum a form a, veio ao m eu resgate? Os Gam em akers soltaram  algum  anim al
selvagem  para aum entar a diversão? Um  aerobarco inexplicavelm ente a puxou pelo ar?
Mas quando eu m e levanto com  m eus braços dorm entes, vej o que não é nenhum a das


alternativas acim a. Clove está balançando a trinta centím etros do chão, presa nos braços de
Thresh. Solto um  suspiro, vendo-o assim , elevando-se sobre m im , segurando Clove com o um a
boneca de pano. Me lem bro dele grande, m as ele parece m ais m aciço, m ais poderoso do que
eu m e lem brava. Aliás, ele parece ter ganho peso na arena. Ele vira a Clove e a arrem essa no
chão.
Quando ele berra, eu pulo, nunca tendo ouvido-o falar acim a de um  m urm úrio. "O que você
fez para aquela m enininha? Você a m atou?"
Clove está lutando para trás de quatro, com o um  inseto frenético, chocada dem ais até m esm o
para cham ar por Cato. "Não! Não, não fui eu!"
"Você disse o nom e dela. Eu ouvi você. Você a m atou?" Outro pensam ento traz um a onda
fresca de raiva a seus traços. "Você a cortou com o você ia cortar esta m enina aqui?"
"Não! Não, eu –" Clove vê a pedra, cerca do tam anho de um  pequeno pedaço de pão na m ão
de Thresh e perde a cabeça. "Cato!" ela chia. "Cato!"
"Clove!" eu ouvi a resposta de Cato, m as ele está m uito longe, posso afirm ar isso, para aj udá-
la. O que ele estava fazendo? Tentando conseguir a Foxface ou o Peeta? Ou ele estivera
deitado esperando por Thresh e sim plesm ente tinha j ulgado m al a localização dele?
Thresh desce a pedra com  força contra a têm pora de Clove.
Não está sangrando, m as consigo ver o am asso em  seu crânio e sei que ela é um  caso perdido.
Ainda há vida nela agora, contudo, na rápida ascensão e queda de seu peito, no baixo gem ido
escapando de seus lábios.
Quando Thresh gira para m im , a pedra levantada, eu sei que não há propósito em  correr. E
m eu arco está vazio, a últim a flecha arm ada tinha ido parar na direção de Clove. Estou presa
no brilho dos seus estranhos olhos castanhos dourados. "O que ela quis dizer? Sobre Rue ser sua
aliada?"
"Eu – eu – nós nos unim os. Explodim os os suprim entos. Eu tentei salvá-la, eu tentei. Mas ele
chegou lá prim eiro. Distrito 1," eu digo. Talvez se ele souber que eu aj udei a Rue, ele não
escolherá algum  fim  lento e sádico para m im .
"E você o m atou?" ele exige.
"Sim . Eu m atei ele. E a enterrei em  flores," eu digo. "E eu cantei para ela até dorm ir."
Lágrim as brotam  dos m eus olhos. A tensão e a luta saem  de m im  com  a lem brança. E fico
oprim ida pela Rue, e pela dor na m inha cabeça, e pelo m eu m edo de Thresh, e pelo gem ido da


m enina m orrendo a alguns m etros de distância.
"Até dorm ir?" Thresh diz rispidam ente.
"Até m orrer. Eu cantei até que ela m orresse," eu digo. "O seu distrito... eles m e m andaram
pão." Minha m ão levanta-se, m as não para pegar um a flecha que eu sei que nunca vou
alcançar. Só para enxugar m eu nariz. "Faça isso rápido, está bem , Thresh?"
Em oções conflitantes cruzam  o rosto de Thresh. Ele abaixa a pedra e aponta para m im , quase
acusadoram ente. "Só dessa vez, eu te deixarei ir. Pela garotinha. Você e eu, estam os quites.
Não se deve m ais nada. Entendeu?"
Aceno porque entendo m esm o. Sobre se dever. Sobre odiar isso. Entendo que se Thresh
ganhar, ele terá que voltar e enfrentar um  distrito que j á quebrou todas as regras para m e
agradecer, e ele está quebrando as regras por m e agradecer tam bém . E eu entendo que, no
m om ento, Thresh não vai esm agar o m eu crânio.
"Clove!" a voz de Cato está m uito m ais perto agora. Eu posso afirm ar pela dor nela que ele a
vê no chão.
"É m elhor você correr agora, Garota do Fogo," diz Thresh.
Não precisa m e dizer duas vezes. Eu m e reviro e m eus pés m ergulham  na terra batida
enquanto eu fuj o de Thresh e Clove e do som  da voz de Cato. Só quando eu alcanço a floresta
eu m e viro por um  instante. Thresh e am bas as m ochilas grandes estão desaparecendo pela
beirada da cam pina até a área que eu nunca vi. Cato se aj oelha ao lado da Clove, lança na
m ão, im plorando para ela ficar com  ele. Em  um  instante, ele perceberá que é fútil, ela não
pode ser salva. Eu bato contra as árvores, repetidam ente afastando o sangue que está vertendo
em  m eus olhos, fugindo com o a criatura selvagem  e ferida que sou. Após alguns m inutos, ouço
o canhão e sei que Clove m orreu, que Cato ficará atrás dos rastros de um  de nós. Ou do Thresh
ou do m eu. Estou dom inada com  terror, fraca por causa do m eu ferim ento na cabeça,
trem endo. Eu carrego um a flecha, m as Cato consegue j ogar a lança quase tão longe quanto eu
consigo atirar.
Só um a coisa m e acalm a. Thresh está com  a m ochila de Cato contendo o negócio que ele
precisa desesperadam ente. Se eu tivesse que apostar, Cato se dirigiu atrás de Thresh, não de
m im . Ainda assim , não retardo quando chego na água. Eu m ergulho diretam ente, as botas
ainda calçadas, e m e debato correnteza abaixo. Eu tiro as m eias de Rue que estive usando
com o luvas e as pressiono na m inha testa, tentando estancar o fluxo de sangue, m as elas ficam
encharcadas em  m inutos.
De algum a form a eu volto para a caverna. Eu m e aperto para passar pelas pedras. À luz
m anchada, eu puxo a pequena m ochila laranj a do m eu braço, abro o fecho, e despej o o
conteúdo no chão. Um a caixa m agra contendo um a agulha hipodérm ica.


Sem  hesitar, eu aperto a agulha no braço do Peeta e pressiono lentam ente o êm bolo.
Minhas m ãos vão até a m inha cabeça e então caem  no m eu colo, escorregadias de sangue.
A últim a coisa que m e lem bro é de um a m ariposa verde-e-prata prim orosam ente bela
pousando na curva do m eu pulso.


22
O som  de chuva batendo contra o teto de nossa casa gentilm ente m e puxa para consciência.
Luto para retornar ao sono, entretanto, enrolada num  quente bolo de cobertores, segura em
casa. Vagam ente estou consciente de que m inha cabeça dói. Possivelm ente eu tenho gripe e é
por isso que posso ficar na cam a, em bora possa dizer que dorm i por m uito tem po. A m ão da
m inha m ãe acaricia m inha bochecha e não a afasto com o eu faria se estivesse totalm ente
acordada, nunca querendo que ela saiba o quanto desej o aquele toque gentil. O quando eu senti
a sua falta em bora ainda não confiasse nela. Então há um a voz, um a voz errada, não da m inha
m ãe, e estou com  m edo.
“Katniss,” diz. “Katniss, você pode m e ouvir?”
Meus olhos se abrem  e a sensação de segurança desaparece. Não estou em  casa, não com
m inha m ãe. Estou num a caverna escura e fria, m eus pés nus congelando apesar do cobertor, o
ar m aculado com  o claro cheiro de sangue. O rosto pálido e cansado de um  garoto entra na
m inha visão, e depois de um  inicial golpe de alarm e, sinto-m e m elhor. “Peeta.”
“Hey ,” ele diz. “Bom  ver seus olhos novam ente.”
“Por quanto tem po estive apagada?” pergunto.
“Não tenho certeza. Acordei ontem  de m anhã e você estava deitada ao m eu lado num a poça
de sangue assustadora,” ele diz. “Acho que finalm ente parou, m as eu não m e sentaria nem
nada.”
Eu cuidadosam ente levanto m inha m ão para m inha cabeça e encontro-a enfaixada. Esse
sim ples gesto m e deixa fraca e tonta. Peeta segura um a garrafa nos m eus lábios e bebo com
sede.
“Você está m elhor,” digo.
“Muito m elhor. O que quer que você inj etou no m eu braço fez um  truque,” diz. “Essa m anhã,
quase todo o inchaço da m inha perna tinha sum ido.”
Ele não parecia zangado por eu tê-lo enganado, drogado, e corrido para o banquete. Talvez eu
estej a apenas batida dem ais e vou escutar depois quando estiver m ais forte. Mas por enquanto,
ele é toda gentileza.
“Você com eu?” pergunto.
“Sinto m uito por dizer que engoli três pedaços daquelas ervas antes de perceber que elas
deveriam  durar m ais. Não se preocupe, estou de volta à dieta rígida,” diz.


“Não, é bom . Você precisa com er. Vou caçar em  breve,” digo.
“Não tão em  breve, certo?” ele diz. “Você só tem  de m e deixar tom ar conta de você por ora.”
Eu realm ente não pareço ter m uita escolha. Peeta m e alim enta com  pedaços de ervas e uvas
secas e m e faz beber m uita água. Ele esfrega m eus pés para aquecê-los e os enrola em  sua
j aqueta antes de enfiar o saco de dorm ir de volta ao redor do m eu queixo.
“Suas botas e m eias ainda estão m olhadas e o tem po não está aj udando m uito,” ele diz. Há um
ruído de um  trovão, e vej o a eletricidade ilum inando o céu através da abertura das pedras. A
chuva gotej a pelos vários buracos do teto, m as Peeta construiu um  tipo de cobertura sobre
m inha cabeça e a parte superior do m eu corpo, prendendo um  pedaço de plástico na pedra
acim a de m im .
“O que provocou essa tem pestade? Quero dizer, quem  é o alvo?” diz Peeta.
“Cato e Thresh,” digo sem  pensar. “Foxface está em  seu esconderij o em  algum  lugar, e
Clove...
ela m e cortou e então...” Minha voz falha.
“Sei que Clove está m orta. Vi no céu noite passada,” diz. “Você a m atou?”
“Não. Thresh quebrou sua cabeça com  um a pedra,” digo.
“Sorte que ele não te pegou, tam bém ,” diz Peeta.
A m em ória do banquete retorna com  força total e m e sinto doente. “Ele m e pegou. Mas m e
deixou.” Então, é claro, tenho de contar a ele. Sobre coisas que m antive para m im  m esm a,
porque ele estava tão doente para perguntar e eu não estava pronta para reviver, de qualquer
m odo. Com o a explosão e m eu ouvido e Rue m orrendo e o garoto do Distrito 1 e o pão. Tudo
que leva ao que aconteceu com  Thresh e com o ele estava pagando um a dívida de sorte.
“Ele te deixou porque não queria dever a você nada?” pergunta Peeta com  descrença.
“Sim . Não espero que você entenda. Você sem pre teve o suficiente. Mas se você vivesse em
Seam , eu não teria de explicar,” digo.
“E não tente. Obviam ente sou m uito turvo para com preender.”
“É com o o pão. Com o eu nunca pareço pargar a dívida com  você por aquilo,” digo.
“O pão? O quê? De quando éram os crianças?” diz. “Acho que podem os deixar isso. Quero
dizer, você só m e trouxe de volta da m orte.”
“Mas você não m e conhecia. Nós nunca tínham os nos falado. Além  disso, é o prim eiro
presente que é sem pre o m ais difícil de pagar. Eu não estaria nem  ao m enos aqui se você não


tivesse m e aj udado então,” digo. “Por que você fez, de qualquer m aneira?”
“Por quê? Você sabe o porquê,” Peeta diz. Dou com  m inha cabeça um  leve e doloroso agito.
“Hay m itch disse que dem oraria bastante para te convencer.”
“Hay m itch?” pergunto. “O que ele tem  a ver com  isso?”
“Nada,” Peeta diz. “Então, Cato e Thresh, huh? Acho que é esperar dem ais que eles se
destruam  sim ultaneam ente?”
Mas o pensam ento apenas m e irrita. “Acho que nós gostaríam os de Thresh. Acho que ele seria
nosso am igo no Distrito Doze,” digo.
“Estão vam os esperar que Cato m ate Thresh, assim  não terem os de fazer isso,” diz Peeta
cruelm ente.
Não quero nem  um  pouco que Cato m ate Thresh. Não quero que ninguém  m ais m orra. Mas
essa não é absolutam ente o tipo de coisa que vencedores dizem  na arena. Apesar dos m eus
esforços, posso sentir as lágrim as se acum ulando nos m eus olhos.
Peeta olha para m im  com  preocupação. “O que é? Você está sentindo m uita dor?” Dou a ele
outra resposta, porque é igualm ente verdadeira, m as pode ser levada com o um  breve
m om ento de fraqueza em  vez de um a fraqueza term inal. “Quero ir para casa, Peeta,” digo
queixosam ente, com o um a criança pequena.
“Você vai. Prom eto,” ele diz, e se inclina para m e dar um  beij o.
“Quero ir para casa agora,” digo.
“Não m e diga. Volte a dorm ir e sonhe com  casa. E você vai estar lá de verdade antes que
você saiba,” ele diz. “Ok?”
“Ok,” sussurro. “Acorde-m e se m e precisar para vigiar.”
“Estou bem  e descansado, graças a você e a Hay m itch. Além  disso, quem  sabe quando isso
vai durar?” diz.
O que ele quer dizer? A tem pestade? A breve trégua que ela trás para nós? Os próprios Gam es?
Não sei, m as estou m uito triste e cansada para perguntar.
É de tarde quando Peeta m e acorda. A chuva se tornou torrencial, m andando fluxos de água
através do nosso teto, onde houve apenas goteiras. Peeta colocou o pote de caldo sob a pior e
reposicionou o plástico para desviar a m aior parte de m im . Sinto-m e um  pouco m elhor, capaz
de sentar sem  ficar tão tonta, e estou absolutam ente fam inta. Assim  está Peeta. Está claro que
ele esperou eu acordar para com er e está ávido para com eçar.


Há pouco restou m uito. Dois pedaços de ervas, um a pequena m istura de raízes, e um  punhado
de frutas secas.
“Deverias racionar?” Peeta pergunta.
“Não, vam os acabá-lo. As ervas estão ficando velhas, de qualquer j eito, e a últim a coisa que
precisam os é ficar doente por causa de com ida estragada,” digo, dividindo a com ida em  duas
pilhas iguais. Tentam os com er devagar, m as am bos estam os com  tanta fom e que term inam os
em  dois m inutos. Meu estôm ago não está satisfeito. “Am anhã é dia de caçar,” digo.
“Eu não vou ser de m uita aj uda nisso,” Peeta diz. “Nunca cacei antes.”
“Eu m ato e você cozinha,” digo. “E você pode sem pre colher.”
“Queria que existisse algum  arbusto de pão por aí,” diz Peeta.
“O pão que m e m andaram  do Distrito 11 ainda estava quente,” digo com  um  suspiro. “Aqui,
com a esses.” Dou a ele duas folhas de hortelã e coloco algum as na m inha boca.
É difícil até para ver a proj eção no céu, m as é claro o suficiente para saber que não houve
m ais m ortes hoj e. Então Cato e Thresh não saíram  ainda.
“Para onde Thresh foi? Quero dizer, o que há do outro lado do círculo?” Pergunto a Peeta.
“Um  cam po. Até o ponto que você pode ver é cheio de ervas tão altas quanto m eus om bros.
Não sei, talvez algum as delas tenham  sem entes. Há partes de diferentes cores. Mas não há
trilhas,” diz Peeta.
“Aposto que algum as delas têm  sem entes. Aposto que Thresh sabe quais, tam bém ,” digo.
“Você foi lá?”
“Não. Ninguém  realm ente queria seguir Thresh naquelas ervas. Tem  um a sensação sinistra lá.
Toda vez que olho para o cam po, tudo em  que consigo pensar são coisas escondidas. Cobras,
anim ais raivosos, e areia m ovediça,” Peeta diz. “Pode haver qualquer coisa lá.” Não digo a
Peeta, m as suas palavras m e lem bram  das advertências que dão a nós sobre não ir além  da
cerca no Distrio 12. Não posso evitar, por um  m om ento, com pará-lo a Gale, que veria aquele
cam po com o um a potencial fonte de com ida tanto quanto um a am eaça. Thresh certam ente
viu. Não é que Peeta sej a frágil, exatam ente, ele provou que não é covarde. Mas há coisa que
você não questiona tanto, acho, quando sua casa sem pre cheira com o um a fornada de pães,
enquanto que Gale questiona tudo. O que Peeta pensaria das brincadeiras irreverentes que
passam  entre nós quando quebram os a lei todo dia? Iria chocá-lo? As coisas que dissem os
sobre Panem ? As desgraças de Gale contra o Capitol?


“Talvez haj a um  arbusto de pão naquele cam po,” digo. “Talvez sej a por isso que Thresh
pareça m elhor alim entado agora do que quando com eçam os os Gam es.”
“Ou isso ou ele tem  generosos patrocinadores,” diz Peeta. “Pergunto-m e o que nós teríam os de
fazer para conseguir que Hay m itch nos m ande algum  pão.” Levanto m inhas sobrancelhas
antes de m e lem brar que ele não sabe sobre a m ensagem  que Hay m itch nos enviou há duas
noites. Um  beij o igual a um  pote de caldo. Não é o tipo de coisa que posso deixar escapar,
tam pouco. Dizer m eus pensam entos em  voz alta seria confessar para a audiência que esse
rom ance foi fabricado para brincar com  suas sim patias e isso resultaria em  nenhum a com ida.
De algum a form a aceitável, eu tenho de com eçar tudo de volta no cam inho certo. Algo
sim ples para com eçar. Estendo a m ão e tom o a dele.
“Bem , ele provavelm ente usou m uito recurso aj udando-m e a te desacordar,” digo de form a
travessa.
“Sim , sobre aquilo,” diz Peeta, entrelaçando seus dedos nos m eus. “Não tente algo com o aquilo
novam ente.”
“Ou o quê?” pergunto.
“Ou... ou...” Ele não pode pensar em  nada bom . “Só m e dê um  m inuto.”
“Qual é o problem a?” digo com  um  sorriso.
“O problem a é que nós dois estam os vivos. O que apenas reforça a ideia na sua cabeça de que
você fez a coisa certa,” diz Peeta.
“Eu fiz a coisa certa,” digo.
“Não! Só não, Katniss!” Seu aperto fica m ais forte, m achucando m inha m ão, e há raiva real
em  sua voz. “Não m orra por m im . Você não vai m e fazer qualquer favor. Certo?” Estou
assustada com  sua intensidade, m as reconheço um a excelente oportunidade de conseguir
com ida, então eu tento continuar. “Talvez eu tenha feito por m im  m esm a, Peeta, você j á
pensou nisso? Talvez você não sej a o único que... que se preocupe com ... o que seria se...”
Eu m e atrapalho. Não sou tão boa com  as palavras com o Peeta. E enquanto estou
conversando, a ideia de perder Peeta de verdade m e atinge novam ente e percebo o quanto não
quero que ele m orra. E não é sobre os patrocinadores. E não é sobre o que vai acontecer em
casa. E não é só porque eu queira ficar sozinha. É ele. Eu não quero perder o garoto com  o
pão.
“Se o quê, Katniss?” ele diz suavem ente.
Eu gostaria de fechar as persianas, bloquear esse m om ento dos olhos curiosos de Panem .


Mesm o que isso signifique perder com ida. O que quer que eu estej a sentindo, não é problem a
de ninguém  além  de m im .
“Esse é exatam ente o tipo de tópico que Hay m itch m e disse para m e afastar,” digo
evasivam ente, em bora Hay m itch nunca tenha dito nada do tipo. De fato, ele provavelm ente
está m e am aldiçoando agora m esm o por deixar a bola cair durante tal m udança em ocional.
Mas Peeta de algum  m odo percebe.
“Então tenho apenas de preencher os vazios eu m esm o,” diz, e se m ove para m im .
Esse é o prim eiro beij o em  que am bos estam os totalm ente conscientes. Nenhum  de nós m anco
por doença ou dor ou sim plesm ente inconsciente. Nossos lábios nem  queim ando de febre ou
gelados. Esse é o prim eiro beij o com  o qual sinto um a agitação dentro do m eu peito.
Quente e curiosa. Esse é o prim eiro beij o que m e faz querer outro.
Mas eu não consigo. Bem , eu consigo um  segundo beij o, m as é apenas um  suave na ponta do
m eu nariz, porque Peeta está distraído. “Acho que seu m achucado está sangrando de novo.
Venha, deite-se, é hora de se deitar, de qualquer m aneira,” diz.
Minhas m eias estão secas o bastante para usá-las agora. Faço Peeta colocar sua j aqueta de
volta. O frio úm ido parece m e cortar até m eus ossos, então ele deve estar m eio congelado.
Insisto em  ficar na prim eira vigia, tam bém , em bora nenhum  de nós pense que alguém  virá
nesse tem po. Mas ele não vai aceitar a m enos que eu estej a com  o saco, tam bém , e estou com
tantos calafrios que é inútil discutir.
Em  contraste com  duas noites atrás, quando sentia que Peeta estava a m ilhões de m ilhas de
distância, estou im pressionada com  seu im ediatism o agora. Quando nos assentam os, ele puxa
m inha cabeça para usar seu braço com o travesseiro, e o outro fica sobre m im  protetoram ente
m esm o quando ele vai dorm ir. Ninguém  m e segurou dessa form a por um  longo tem po. Desde
que m eu pai m orreu e eu parei de confiar na m inha m ãe, os braços de ninguém  m e fizeram
sentir segurança.
Com  a aj uda dos óculos, observo as cotas de água batendo no chão da caverna. Rítm ica e
tranquila. Várias vezes, eu cochilo brevem ente e então acordo de repente, culpada e furiosa
com igo m esm a. Depois de três ou quatro horas, não posso evitar, tenho de acordar Peeta
porque não posso m anter m eus olhos abertos. Ele não parece se im portar.
“Am anhã, quando estiver seco, vam os encontrar um  lugar tão alto nas árvores em  que am bos
possam os dorm ir em  paz,” prom eto enquanto caio no sono.
Mas am anhã não é m elhor em  term os de tem po. O dilúvio continua com o se os Gam em akers


tencionassem  nos lavar. O trovão é tão poderoso que parece trem er o chão. Peeta está
considerando sair da caverna para procurar por com ida, m as digo a ele que nessa tem pestade
seria inútil. Ele não será capaz de ver um  m etro ante seus olhos e apenas conseguirá ficar
m olhado até os ossos. Ele sabe que estou certa, m as a m ordida nos nossos estôm agos está se
tornando dolorosa.
O dia se transform a em  noite e não há pausa no tem po. Hay m itch é nossa única esperança,
m as nada é im inente, ou por falta de dinheiro – tudo vai custar um a quantia exorbitante – ou
porque ele está insatisfeito com  nossa perform ance. Provavelm ente o últim o. Eu seria a
prim eira a adm itir que não estam os exatam ente fascinantes hoj e. Privados de com ida, fracos
de ferim entos, tentando não reabrir as feridas. Estam os sentados aconchegados um  no outro no
saco de dorm ir, sim , m as principalm ente para nos m anter quentes. A coisa m ais excitante que
fazem os é cochilar.
Não estou m uito certa de com o aum entar o rom ance. O beij o na noite passada foi ótim o, m as
trabalhar para outro vai levar algum a prem editação. Há garotas no Seam , algum as garotas
com erciantes, tam bém , tam bém , que navegam  nessas águas facilm ente. Mas nunca tive m uito
tem po ou uso para isso. De qualquer form a, só um  beij o não é m ais suficiente, porque se fosse
nós teríam os com ida noite passada. Meus instintos m e dizem  que Hay m itch não está
procurando apenas afeição física, ele quer algo m ais pessoal. O tipo de coisa que ele estava
tentando conseguir que eu contasse sobre m im  quando estávam os praticando para a entrevista.
Sou podre nisso, m as Peeta não é. Talvez a m elhor aproxim ação sej a fazer com  que ele fale.
“Peeta,” digo suavem ente. “Você disse na entrevista que tinha um a queda por m im  desde
sem pre. Quando o sem pre com eçou?”
“Ah, vam os ver. Acho que no prim eiro dia na escola. Tínham os cinco anos. Você usava um
vestido de lã verm elho e seu cabelo... estava em  duas tranças em  vez de um a. Meu pai apontou
para você quando estávam os esperando para o alinham ento,” Peeta diz.
“Seu pai? Por quê?” pergunto.
“Ele disse, ‘Vê aquela garota? Quis casar com  a m ãe dela, m as ela fugiu de m im  com  um
m ineiro de carvão’,” Peeta diz.
“O quê? Você está brincando!” exclam o.
“Não, verdade,” Peeta diz. “E eu disse, ‘Um  m ineiro de carvão? Porque ela quis um  m ineiro
de carvão se poderia ter você?’ E ele disse, ‘Porque quando ele canta... até os pássaros param
para escutar’.”
“Isso é verdade. Eles param . Quero dizer, eles paravam ,” digo. Estou im pressionada e
surpreendentem ente m ovida, pensando no padeiro dizendo isso a Peeta. Golpeia em  m im
m inha própria relutância em  cantar, m inha própria dem issão de m úsica pode não ser porque


eu pensava que era um a perda de tem po. Pode ser porque m e lem bra tanto m eu pai.
“Então naquele dia, na assem bléia m usical, a professora perguntou quem  sabia a canção do
vale. Sua m ão subiu logo no ar. Ela te levantou no banco e você cantou para nós. E j uro, todos
os pássaros do lado de fora da j anela ficaram  em  silêncio,” Peeta diz.
“Ah, por favor,” digo, rindo.
“Não, aconteceu. E logo quando sua m úsica term inou, eu soube – bem  com o sua m ãe – que eu
estava perdido,” Peeta diz. “Então, pelos próxim os onze anos, tentei criar coragem  para falar
com  você.”
“Sem  sucesso,” acrescento.
“Sem  sucesso. Então, de algum  m odo, m eu nom e sendo escolhido na colheita foi um a sorte,”
diz Peeta.
Por um  m om ento, estou quase estupidam ente feliz e depois confusão m e varre. Porque nós
deveríam os estar fazendo isso, fingir estarm os apaixonados não é estarm os apaixonados. Mas a
história de Peeta tem  um  fundo de verdade. Essa parte sobre m eu pai e os pássaros. E eu
cantei no prim eiro dia na escola, em bora não m e lem bre da m úsica. E o vestido de lã
verm elho... havia um , passado para Prim  depois da m orte do m eu pai.
Isso explicaria outra coisa, tam bém . Por que Peeta apanhou para m e dar o pão naquele dia
terrível. Então, se todos aqueles detalhes são verdade... poderia ser tudo verdade?
“Você tem  um a... m em ória fora do com um ,” digo hesitante.
“Eu m e lem bro de tudo sobre você,” diz Peeta, colocando um a m echa solta do m eu cabelo
atrás do m eu ouvido. “Era você quem  não prestava atenção.”
“Estou prestando agora,” digo.
“Bem , não tenho m uita concorrência aqui,” ele diz.
Quero m e afastar, fechar as portas outra vez, m as sei que não posso. É com o se eu ouvisse
Hay m itch sussurrando no m eu ouvido. “Diga! Diga!”
Engulo com  força e as palavras saem . “Você não teve m uita concorrência em  qualquer
lugar.” E dessa vez, sou eu quem  se inclina.
Nossos lábios m al se tocam  quando um  som  m etálico do lado de fora nos faz pular. Meu arco
sobe, a flecha j á preparada para voar, m as não há outro som . Peeta espreita através das
pedras, e então dá um  berro. Antes que eu possa pará-lo, ele se abaixa na chuva, então estende
algo para m im . Um  paraquedas prateado am arrado a um a cesta. Abro-a de um a vez e o que


há dentro é um  banquete – pães, queij o de cabra, m açãs, e o m elhor de tudo, um a terrina com
um  ensopado de cordeiro j unto com  arroz. O prato que eu disse a Caesar Flickerm an que era a
coisa m ais im pressionante que o Capitol tinha a oferecer.
Peeta volta para dentro, seu rosto ilum inado com o o sol. “Acho que Hay m itch finalm ente
ficou cansado de nos observar m orrer de fom e.”
“Tam bém  acho,” respondo.
Mas na m inha cabeça posso ouvir as palavras presunçosas, senão levem ente exasperadas,
“Sim , isso é o que eu estava procurando, querida.”


23
Cada célula do m eu corpo quer que eu m ergulhe no cozido e com a até m e satisfazer, j ogando
punhado atrás de punhado em  m inha boca. Mas a voz de Peeta m e para. "É m elhor irm os com
calm a nesse cozido. Lem bra-se da prim eira noite no trem ? A com ida farta m e deixou doente e
eu não estava nem  m esm o m orrendo de fom e, então."
"Você está certo. E eu poderia sim plesm ente inalar o negócio todo!" eu digo
arrependidam ente. Mas não o faço. Estam os m uito sensíveis. Cada um  de nós pega um  rolinho,
m etade de um a m açã, e um a porção do tam anho de um  ovo de cozido e arroz. Eu m e forço a
com er o cozido em  pequeninas colheradas – eles nós m andaram  até m esm o talheres e pratos –
saboreando cada m ordida. Quando term inam os, eu encaro ansiosam ente o prato. "Eu quero
m ais."
"Eu tam bém . Te digo um a coisa. Esperam os um a hora, se continuar desse j eito, então nós nos
servim os de novo," diz Peeta.
"Acertado," eu digo. "Vai ser um a longa hora."
"Talvez não tanto," diz Peeta. "O que foi que você estava dizendo logo antes da com ida chegar?
Algo sobre m im ... nenhum a com petição... m elhor coisa que j á aconteceu com  você..."
"Eu não m e lem bro dessa últim a parte," eu digo, esperando que estej a m uito turvo aqui para as
câm eras captarem  m eu rubor.
"Ah, está certo. Isso era o que eu estava pensando," diz ele. "Chega m ais, eu estou congelando."
Eu abro espaço para ele no saco de dorm ir. Nós nos encostam os contra a parede da caverna, a
m inha cabeça em  seu om bro, seus braços em  volta de m im . Eu posso sentir Hay m itch m e
cutucando para continuar com  o ato. "Então, desde que tínham os cinco, você nunca nem  notou
outras garotas?" Eu lhe pergunto.
"Não, eu notei quase todas as garotas, m as nenhum a delas deixou um a im pressão duradoura,
só você," ele diz.
"Tenho certeza de que seus pais ficariam  anim ados, você gostando de um a garota de Seam ,"
eu digo.
"Dificilm ente. Mas eu não poderia m e im portar m enos. De qualquer form a, se voltarm os,
você não será um a garota de Seam , você será um a garota da Vila dos Vitoriosos," ele diz.
Está certo. Se vencerm os, cada um  irá ganhar um a casa na parte da cidade reservada para os
vitoriosos do Hunger Gam es. Há m uito tem po, quando os Gam es com eçaram , o Capitol
construíra um a dúzia de casas chiques em  cada distrito. É claro, no nosso apenas um a está


ocupada. A m aioria das outras nunca teve m oradores.
Um  pensam ento perturbador m e atinge. "Mas então, o nosso único vizinho será Hay m itch!"
"Ah, isso vai ser bom ," diz Peeta, apertando seus braços ao m eu redor. "Você e eu e
Hay m itch.
Muito acolhedor. Piqueniques, aniversários, longas noites de inverno ao redor da fogueira
recontando velhos contos do Hunger Gam es."
"Eu te disse, ele m e odeia!" eu digo, m as não posso deixar de rir com  a im agem  de Hay m itch
se tornando m eu novo am igo.
"Só às vezes. Quando ele está sóbrio, eu nunca o ouvi dizer um a coisa negativa sobre você," diz
Peeta.
"Ele nunca está sóbrio!" eu protesto.
"Está certo. Em  quem  estou pensando? Ah, sei. É Cinna quem  gosta de você. Mas isso é
principalm ente porque você não tentou fugir quando ele botou fogo em  você," diz Peeta. "Por
outro lado, Hay m itch... bem , se eu fosse você, eu evitaria Hay m itch com pletam ente. Ele te
odeia."
"Eu pensei que você tinha dito que eu era a sua favorita," eu digo.
"Ele m e odeia m ais," diz Peeta. "Eu não acho que as pessoas, de um  m odo geral, sej am  suas
coisas favoritas."
Eu sei que o público apreciará nós nos divertindo às custas de Hay m itch. Ele tem  estado por
perto há tanto tem po, ele é praticam ente um  velho am igo de alguns deles. E depois de seu
m ergulho de cabeça para fora do palco na colheita, todo m undo o conhece. A esta altura, eles
terão arrastado-o para fora da sala de controle para entrevistas sobre nós. Não há com o prever
que tipo de m entiras ele inventou. Ele tem  um a espécie de desvantagem  porque a m aioria dos
m entores tem  um  parceiro, um  outro vencedor para aj udá-lo, enquanto que Hay m itch tem
que estar pronto para entrar em  ação a qualquer m om ento. Meio que com o eu quando estava
sozinha na arena. Eu m e pergunto com o ele está aguentando, com  a bebida, a atenção, e o
stress de tentar nos m anter vivos.
É engraçado. Hay m itch e eu não nos dam os bem  em  pessoa, m as talvez Peeta estej a certo
sobre nós serm os parecidos, porque ele parece ser capaz de se com unicar com igo pelo
sincronism o dos seus presentes.
Com o eu saber que tinha que estar perto de água quando ele a negou e com o eu sabia que o
xarope do sono não era apenas algo para aliviar a dor de Peeta e com o agora eu sei que eu
tenho que bancar o rom ance. Ele não fez m uito esforço para se conectar com  Peeta, na


verdade. Talvez ele ache que um a tigela de caldo de carne seria apenas um a tigela de caldo de
carne para Peeta, enquanto eu veria as restrições que viriam  com  ela.
Um  pensam ento m e atinge, e eu estou espantada que a pergunta tenha levado tanto tem po para
aparecer. Talvez sej a porque só recentem ente com ecei a ver Hay m itch com  um  grau de
curiosidade. "Com o você acha que ele fez isso?"
"Quem ? Fez o quê?" Peeta pergunta.
"Hay m itch. Com o você acha que ele ganhou os Gam es?" eu digo.
Peeta considera isto por um  bom  tem po antes de responder. Hay m itch é m uito robusto, m as
não tem  um  físico de se adm irar com o Cato ou Thresh. Ele não é particularm ente bonito. Não
da m aneira que faz com  que patrocinadores façam  chover presentes para você. E ele é tão
grosseiro, é difícil im aginar alguém  unindo-se a ele. Há apenas um a m aneira de Hay m itch
poder ter vencido, e Peeta diz bem  quando eu m esm a estou chegando a essa conclusão.
"Ele foi m ais esperto que os outros," diz Peeta.
Aceno, então deixo a conversa acabar. Mas secretam ente estou m e perguntando se Hay m itch
ficou sóbrio o suficiente para aj udar Peeta e eu porque achou que poderíam os ter a
inteligência para sobreviver.
Talvez ele nem  sem pre tenha sido um  bêbado. Talvez, no com eço, ele tentou aj udar os
tributos. Mas depois ficou insuportável. Deve ser um  inferno ser m entor de duas crianças e
depois vê-las m orrer. Ano após ano após ano. Percebo que se eu sair daqui, isso se tornará o
m eu trabalho. Ser a m entora da m enina do Distrito 12. A ideia é tão repelente, eu a em purro
da m inha m ente.
Cerca de m eia hora se passa antes de decidir que tenho que com er de novo. O próprio Peeta
está com  m uita fom e para discutir.
Enquanto eu estou servindo m ais duas pequenas porções de cozido de carneiro e arroz, nós
ouvim os o hino com eçar a tocar. Peeta pressiona seus olhos contra um a fenda na rocha para
ver o céu.
"Não haverá nada para ver hoj e à noite," eu digo, m uito m ais interessada no cozido do que o
céu. "Nada aconteceu ou nós teríam os ouvido um  canhão."
"Katniss," Peeta diz calm am ente.
"O quê? Devem os dividir outro rolinho, tam bém ?" Eu pergunto.
"Katniss," ele repete, m as eu m e encontro querendo ignorá-lo.


"Eu vou dividir um . Mas eu vou poupar o queij o para am anhã," eu digo. Vej o Peeta olhando
para m im . "O quê?"
"Thresh está m orto," diz Peeta.
"Ele não pode estar," eu digo.
"Eles devem  ter disparado o canhão durante o trovão e nós perdem os," diz Peeta.
"Você tem  certeza? Quer dizer, está chovendo canivetes lá fora. Eu não sei com o você
consegue ver algum a coisa," eu digo. Eu o afasto das rochas e esprem o m eus olhos para o céu
escuro e chuvoso. Por cerca de dez segundos, eu vislum bro um a im agem  distorcida de Thresh
e então ele se vai. Bem  assim .
Eu desm orono pelas rochas, esquecendo m om entaneam ente da tarefa às m ãos. Thresh está
m orto. Eu deveria estar feliz, certo?
Menos um  tributo a encarar. E um  poderoso tam bém . Mas eu não estou feliz. Tudo em  que
posso pensar é em  Thresh m e deixando ir, deixando-m e correr por causa da Rue, que m orreu
com  aquela lança em  seu estôm ago...
"Você está bem ?" pergunta Peeta.
Eu dou de om bros evasivam ente e seguro m eus cotovelos com  as m inhas m ãos, abraçando-os
perto do m eu corpo. Eu tenho que enterrar a dor verdadeira, porque quem  vai apostar em  um
tributo que fica choram ingando a m orte de seus adversários? Rue era um a coisa. Éram os
aliadas. Ela era tão j ovem . Mas ninguém  vai entender a m inha tristeza pelo assassinato de
Thresh. A palavra m e para bruscam ente. Assassinato! Felizm ente, eu não disse em  voz alta.
Isso não vai m e ganhar nenhum  ponto na arena. O que eu digo é, "É só que... se não
ganhássem os... Eu queria que Thresh ganhasse. Porque ele m e deixou ir. E por causa da Rue."
"Sim , eu sei," diz Peeta. "Mas isso significa que estam os um  passo m ais perto do Distrito Doze."
Ele em purra um  prato de com ida nas m inhas m ãos. "Com a. Ainda está quente."
Eu dou um a m ordida no cozido para m ostrar que eu realm ente não m e im porto, m as é com o
cola na m inha boca e é um  grande esforço engolir. "Significa tam bém  que Cato vai voltar a
nos caçar."
"E ele tem  suprim entos de novo," diz Peeta.
"Ele estará ferido, eu aposto," eu digo.
"O que te faz dizer isso?" Peeta pergunta.
"Porque Thresh nunca teria sucum bido sem  um a luta. Ele é tão forte, quero dizer, ele era. E


eles estavam  em  seu território," eu digo.
"Que bom ," diz Peeta. "Quanto m ais Cato estiver ferido, m elhor. Eu m e pergunto com o a
Foxface está se virando."
"Oh, ela está bem a," eu digo irritada. Eu ainda estou com  raiva que ela pensou em  se esconder
na Cornucópia e eu não. "Provavelm ente será m ais fácil pegar Cato do que ela."
"Talvez eles irão se pegar nós poderem os sim plesm ente ir para casa," diz Peeta. "Mas é
m elhor term os cuidado extra com  as vigilâncias. Eu cochilei algum as vezes."
"Eu tam bém ," eu adm ito. "Mas não hoj e."
Nós term inam os nossa com ida em  silêncio e depois Peeta se oferece para ficar com  a
prim eira vigilância. Eu m e enterro profundam ente no saco de dorm ir ao lado dele, puxando
m eu capuz sobre o m eu rosto para escondê-lo das câm eras. Eu só preciso de alguns m om entos
de privacidade onde eu posso deixar qualquer em oção cruzar o m eu rosto sem  ser vista. Sob o
capuz, eu silenciosam ente digo adeus ao Thresh e agradeço-lhe pela m inha vida. Eu prom eto
m e lem brar dele e, se eu puder, fazer algo para aj udar sua fam ília e a de Rue, se eu ganhar.
Então eu escapo para o sono, confortável por um a barriga cheia e o calor constante de Peeta
ao m eu lado.
Quando Peeta m e acorda m ais tarde, a prim eira coisa que eu registro é o cheiro de queij o de
cabra. Ele está segurando m etade de um  rolinho aberto com  o negócio branco crem oso e
coberto com  fatias de m açã. "Não fique brava," diz ele. "Eu tive que com er de novo. Aqui está
a sua m etade."
"Oh, bom ,” eu disse, im ediatam ente dando um a m ordida enorm e. O queij o gordo e forte tem
gosto daqueles que a Prim  faz, as m açãs são doces e crocantes. "Hm m ."
"Fazem os um a torta de queij o de cabra e m açã na padaria," diz ele.
"Aposto que é caro," eu digo.
“Caro dem ais para a m inha fam ília com er. A não ser que tenha ficado m uito estragado. É
claro, praticam ente tudo o que com em os é estragado," diz Peeta, puxando o saco de dorm ir
em  torno dele. Em  m enos de um  m inuto, ele está roncando.
Hum . Eu sem pre assum i que os loj istas tinham  um a vida m ole.
E é verdade, Peeta sem pre teve o suficiente para com er. Mas é m eio deprim ente ter que viver
sua vida de pão dorm ido, das fornadas duras e secas que ninguém  m ais queria. Um a coisa
sobre nós, j á que trago a nossa com ida para casa diariam ente, é que a m aioria está tão fresca
que você tem  que se certificar de que ela não vai fugir.


Em  algum  m om ento durante o m eu turno, a chuva para, não gradualm ente, m as de um a vez
só. O aguaceiro acaba e há apenas os gotej am entos residuais de água dos galhos, a pressa do
córrego agora transbordando abaixo de nós. Um a linda lua cheia em erge, e m esm o sem  os
óculos eu posso ver o lado de fora. Eu não consigo decidir se a lua é real ou apenas um a
proj eção dos Gam em akers. Eu sei que estava cheia pouco antes de sair de casa. Gale e eu
assistim o-a subir à m edida que caçavam os nas horas tardias.
Quanto tem po eu estive fora? Suponho que se passaram  cerca de duas sem anas na arena, e
houve aquela sem ana de preparação em  Capitol. Talvez a lua tenha com pletado seu ciclo.
Por algum a razão, eu quero m uito que sej a a m inha lua, a m esm a que eu vej o da floresta em
torno do Distrito 12. Isso m e daria algo para m e agarrar no m undo surreal da arena onde a
autenticidade de tudo deve ser duvidada.
Quatro de nós restantes.
Pela prim eira vez, perm ito-m e realm ente pensar na possibilidade de que poderia voltar para
casa. Para a fam a. Para a riqueza. Para m inha própria casa na Vila dos Vitoriosos. Minha m ãe
e Prim  viveriam  lá com igo. Nada m ais de m edo da fom e. Um  novo tipo de liberdade. Mas
então... o quê? Com o seria a m inha vida diária? A m aior parte dela foi consum ida com  a
aquisição de com ida. Tire isso e eu não tenho m uita certeza sobre quem  eu realm ente sou, qual
é a m inha identidade. A ideia m e assusta um  pouco. Penso em  Hay m itch com  todo o seu
dinheiro. O que sua vida se tornou? Ele vive sozinho, sem  esposa ou filhos, a m aior parte de
seus horas despertas ele está bêbado. Eu não quero acabar assim .
"Mas você não estará sozinha," eu sussurro para m im  m esm a. Eu tenho m inha m ãe e Prim .
Bem , por enquanto. E depois... eu não quero pensar no depois, quando Prim  tiver crescido,
m inha m ãe falecido. Eu sei que nunca vou m e casar, nunca arriscarei trazer um a criança ao
m undo. Porque se há um a coisa que ser um  vitorioso não garante, é a segurança de seus filhos.
Os nom es dos m eus filhos iriam  direto para as bolas de colheita com o os de todo m undo. E eu
j uro que nunca vou deixar que isso aconteça.
O sol eventualm ente nasce, sua luz deslizando pelas fendas e ilum inando o rosto de Peeta. Em
quem  ele vai se transform ar se voltarm os para casa? O garoto desconcertante e de bom
caráter que pode prolongas m entiras tão convincentes que toda a Panem  acredita que ele é
perdidam ente apaixonado por m im , e, adm ito, há m om entos em  que ele m e faz acreditar
nisso? Pelo m enos, serem os am igos, eu penso. Nada m udará o fato de que salvam os as vidas
uns dos outros aqui. E além  disso, ele será sem pre o m enino com  o pão. Bons am igos.
Qualquer coisa além  disso, contudo... e sinto os olhos cinzentos de Gale observando eu observar
Peeta, lá no Distrito 12.
Desconforto m e faz m over. Eu m e aproxim o m ais e chacoalho o om bro de Peeta. Seus olhos


se abrem  sonolentam ente e quando se concentram  em  m im , ele m e puxa para um  longo beij o.
"Estam os perdendo tem po de caça," eu digo quando finalm ente rom po o beij o.
"Eu não cham aria isso de desperdício," diz ele se esticando bastante enquanto se senta. "Então
caçam os de estôm ago vazio para nos dar um a vantagem ?"
"Nós não," eu digo. "Nós nos entupim os para nos dar poder de resistência."
"Conte com igo," diz Peeta. Mas posso ver que ele fica surpreso quando divido o resto do cozido
e do arroz e dou-lhe um  prato com pleto. "Tudo isso?"
"Nós ganharem os isso de volta hoj e," eu digo, e am bos avançam os em  nossos pratos. Mesm o
frio, é um a das m elhores coisas que eu j á provei. Eu abandono o m eu garfo e raspo os últim os
punhados de m olho com  o m eu dedo. "Eu posso sentir Effie Trinket estrem ecendo com  a
m inha educação."
"Ei, Effie, vej a isso!" diz Peeta. Ele j oga seu garfo por cim a do om bro e literalm ente lam be o
prato até ficar lim po com  a língua, fazendo sons altos de satisfação. Então ele sopra um  beij o
pra ela e grita, "Nós sentim os sua falta, Effie!"
Eu cubro a boca com  a m ão, m as estou rindo. "Pare! Cato pode estar logo do lado de fora de
nossa caverna."
Ele pega a m inha m ão. "O que m e im porta? Eu tenho você para m e proteger agora," diz Peeta,
puxando-m e para ele.
"Vam os," eu digo exasperada, desem baraçando-m e do seu aperto, m as não antes que ele
receba outro beij o.
Um a vez que em balam os tudo e estam os do lado de fora de nossa caverna, o nosso hum or
m uda para um  sério. É com o se, pelos últim os dias, protegidos pelas rochas e da chuva e da
preocupação de Cato com  Thresh, nos foi dado um a pausa, um a espécie de férias. Agora,
em bora o dia estej a ensolarado e quente, am bos sentim os que estam os realm ente de volta nos
Gam es. Eu entrego m inha faca para Peeta, j á que quaisquer arm as que ele j á possuíra se
foram  há m uito, e ele desliza-as para seu cinto. Minhas últim as sete flechas - das doze eu
sacrifiquei três na explosão, duas no banquete - chocalham  um  pouco perdidas na alj ava. Eu
não posso m e dar ao luxo de perder m ais.
"Ele estará nos caçando agora," diz Peeta. "Cato não é um  de esperar sua presa passar por
perto."
"Se ele estiver ferido-" eu com eço.
"Não im portará," Peeta interrom pe. "Se ele puder se m over, ele está vindo."


Com  toda a chuva, o córrego invadiu suas m argens em  vários m etros de cada lado. Param os lá
para repor a nossa água. Eu verifico as arm adilhas que m ontei dias atrás e fico sem  nada. Não
é de se estranhar com  esse tem po. Além  do m ais, eu não vi m uitos anim ais ou sinais deles
nesta área.
"Se querem os com ida, é m elhor voltarm os ao m eu antigo território de caça," eu digo.
"Você que m anda. Apenas m e diga o que você precisa que eu faça," diz Peeta.
"Fique de olho," eu digo. "Fica nas pedras o tanto quanto possível, não há sentido em  deixar-lhe
pistas para seguir. E ouça por nós dois." Está claro, a este ponto, que a explosão destruiu a
audição na m inha orelha esquerda de vez.
Eu andaria na água para cobrir as nossas pistas com pletam ente, m as não tenho certeza se a
perna do Peeta poderia aguentar a corrente. Em bora os rem édios tenham  apagado a infecção,
ele ainda está m uito fraco. Minha testa dói ao longo do corte da faca, m as depois de três dias o
sangram ento parou. Eu uso um a bandagem  em  volta da m inha cabeça, contudo, apenas no
caso do esforço físico fazer ela voltar.
À m edida enquanto nos dirigim os ao lado do córrego, passam os pelo lugar onde eu encontrei
Peeta cam uflado nas ervas daninhas e lam a. Um a coisa boa, entre a chuva e as m argens
inundadas, é que todos os sinais de seu esconderij o foram  elim inados. Isso significa que, se for
necessário, podem os voltar à nossa caverna. Caso contrário, eu não arriscaria com  Cato atrás
de nós.
Os pedregulhos dim inuem  para rochas que eventualm ente viram  pedrinhas, e então, para m eu
alívio, estam os de volta para folhas de pinheiro e a inclinação gentil do chão da floresta. Pela
prim eira vez, percebo que tem os um  problem a. Navegando pelo terreno rochoso com  um a
perna ruim  - bem , você naturalm ente irá fazer algum  ruído. Mas m esm o na cam a lisa de
folhas, Peeta é barulhento. E eu quero dizer barulhento barulhento, com o se ele estivesse
pisando forte ou algo assim . Eu m e viro e olho para ele.
"O quê?" ele pergunta.
"Você tem  que m over-se m ais silenciosam ente,” eu digo. "Esqueça o Cato, você está
espantando cada coelho em  um  raio de dezesseis quilôm etros."
"Sério?" ele diz. "Desculpe, eu não sabia."
Então, com eçam os de novo e ele está um  pouquinhozinho m elhor, m as m esm o com  apenas
um a orelha funcionando, ele está m e fazendo pular.
"Você pode tirar as suas botas?" eu sugiro.
"Aqui?" ele pergunta ele incrédulo, com o se eu tivesse lhe pedido para andar descalço sobre


brasas ou algo assim . Eu tenho que m e lem brar que ele ainda não está acostum ado com  a
floresta que é o lugar assustador e proibido para além  das cercas do Distrito 12. Eu penso em
Gale, com  seu piso de veludo. É assom broso o quão pouco som  ele produz, m esm o quando as
folhas caíram  e é um  desafio m over-se sem  espantar a caça. Tenho certeza de que ele está
rindo lá em  casa.
"Sim ," eu disse pacientem ente. "Eu tam bém  tirarei. Dessa form a, nós dois vam os ficar m ais
silenciosos." Com o se eu estivesse fazendo barulho. Assim  am bos nos livram os de nossas botas
e m eias e, enquanto há algum a m elhora, eu poderia j urar que ele está fazendo um  esforço
para quebrar cada ram os que encontram os.
Não é preciso dizer que, em bora tenham  se passado várias horas para chegar ao m eu antigo
acam pam ento com  a Rue, eu não atirei em  nada. Se a corrente se acalm asse, peixes poderiam
ser um a opção, m as a correnteza ainda é m uito forte. Enquanto param os para descansar e
beber água, eu tento encontrar um a solução. Idealm ente, eu despej aria Peeta agora com
algum a tarefa sim ples de coletar raízes e iria caçar, m as então ele ficaria com  apenas um a
faca para se defender contra as lanças e a força superior de Cato. Então o que eu realm ente
gostaria é tentar escondê-lo num  lugar seguro, então ir caçar e voltar e recolhê-lo.
Mas tenho a sensação de que seu ego não vai aceitar essa sugestão.
"Katniss," diz ele. "Nós precisam os nos dividir. Eu sei que estou espantando a caça."
"Só porque sua perna está m achucada," eu digo com  generosidade, porque, realm ente, dá pra
dizer que isso é apenas um a pequena parte do problem a.
"Eu sei," ele diz. "Então, por que você não segue em  frente? Mostre-m e algum as plantas para
coletar e dessa m aneira am bos serem os úteis."
“Não se o Cato vier e te m atar." Eu tentei dizer isso de um a m aneira agradável, m as ainda soa
com o se eu achasse que ele é fraco.
Surpreendentem ente, ele apenas ri. "Olha, eu posso lidar com  o Cato. Lutei com  ele antes, não
lutei?"
É, e isso deu m uito certo. Você acabou m orrendo em  um a orla de lam a. É o que eu quero
dizer, m as não posso. Ele realm ente salvou m inha vida ao lutar contra o Cato, afinal. Eu tento
outra tática. "E se você subir em  um a árvore e agisse com o vigia enquanto eu caço?" eu digo,
tentando fazer isso soar com o um  trabalho m uito im portante.
"E se você m e m ostrar o que é com estível por aqui e ir nos buscar um  pouco de carne?" diz
ele, im itando m eu tom . "Só não vá longe, no caso de precisar de aj uda."
Eu suspiro e m ostro-lhe algum as raízes para cavar. Nós precisam os m esm o de alim entos, sem
dúvida. Um a m açã, dois rolinhos, e um  pedaço de queij o do tam anho de um a am eixa não vão


durar m uito. Vou sim plesm enter cam inhar por um a curta distância e esperar que Cato estej a
longe.
Ensino-lhe um  assobio de pássaro - não um a m elodia com o o da Rue, m as um  assobio sim ples
de duas notas - que podem os usar para nos com unicarm os que estam os bem . Felizm ente, ele é
bom  nisso. Deixando-o com  a m ochila, eu saio.
Eu sinto que tenho onze novam ente, presa não à segurança da cerca, m as a Peeta, perm itindo-
m e dezoito, talvez vinte e sete m etros de espaço para caçar. Longe dele, porém , a floresta fica
viva com  sons de anim ais. Tranquilizada por seus assobios periódicos, perm ito-m e derivar para
m ais longe, e logo tenho dois coelhos e um  esquilo gordo para exibir. Eu decido que é o
suficiente. Eu posso colocar arm adilhas e talvez conseguir alguns peixes. Com  as raízes de
Peeta, isto será o suficiente por hora.
Enquanto eu volto a curta distância, percebo que trocam os sinais faz um  tem po. Quando o m eu
assobio não recebe nenhum a respostas, eu corro. Rapidam ente, eu encontro a m ochila, um
arrum ado m onte de raízes ao lado. A folha de plástico foi colocada no terreno onde o sol pode
atingir a única cam ada de bagas que ela cobre. Mas onde está ele?
"Peeta!" eu cham o em  pânico. "Peeta!" Eu m e viro para o farfalhar de folhas e quase m ando
um a flecha por ele. Felizm ente, eu puxo m eu arco no últim o segundo e fica preso em  um
tronco de carvalho a sua esquerda. Ele salta para trás, atirando um  punhado de bagas na
folhagem .
Meu m edo sai com o raiva. "O que você está fazendo? Você deveria estar aqui, não correndo
pela floresta!"
"Eu encontrei algum as bagas correnteza abaixo," diz ele, claram ente confuso com  a m inha
explosão.
"Eu assobiei. Por que você não assobiou de volta?" eu repreendo-o.
"Eu não ouvi. A água está m uito alta, acho," diz ele. Ele cruza e coloca suas m ãos sobre m eus
om bros. É quando sinto que estou trem endo.
"Eu pensei que Cato tinha te m atado!" eu quase grito.
"Não, eu estou bem ." Peeta envolve seus braços em  volta de m im , m as eu não respondo.
"Katniss?"
Eu em purro, tentando entender m eus sentim entos. "Se duas pessoas concordam  em  um  sinal,
elas ficam  por perto. Porque se um  deles não responde, eles estão em  apuros, está certo?"
"Está certo!" ele diz.


"Está certo. Porque foi isso que aconteceu com  a Rue, e eu assisti ela m orrer!" eu digo. Viro-
m e para longe dele, vou até a m ochila e abro um a garrafa de água fresca, apesar de ainda ter
um  pouco na m inha. Mas não estou pronto para perdoá-lo. Eu observo a com ida. Os rolinhos e
as m açãs estão intocados, m as alguém  pegou definitivam ente parte do queij o. "E você com eu
sem  m im !" Eu realm ente não m e im porto, eu só quero algo pelo que ficar brava.
"O quê? Não, eu não com i," diz Peeta.
"Ah, e suponho que as m açãs com eram  o queij o," eu digo.
"Eu não sei o que com eu o queij o," Peeta diz devagar e claram ente, com o se estivesse
tentando não perder a paciência, "m as não foi eu. Eu estive correnteza abaixo coletando bagas.
Você gostaria de algum as?"
Eu quero, na verdade, m as eu não quero ceder tão cedo. Mas eu ando até lá e olho para elas.
Eu nunca vi esse tipo antes.
Não, j á vi. Mas não na arena. Estas não são as bagas da Rue, em bora elas se pareçam .
Tam bém  não são iguais as que eu aprendi sobre no treinam ento. Eu m e inclino e apanho
algum as, rolando-as entre m eus dedos.
A voz de m eu pai volta para m im . "Estas não, Katniss. Nunca estas. Elas são nightlock* . Você
estará m orta antes que atinj am  o seu estôm ago."
* a palavra ‘nightlock’ foi criada pela autora, usando a j unção dos nom es ‘nightshade’
(j urubeba) + ‘hem lock’ (pinheiro do Canadá), am bas plantas extrem am ente venenosas.
Bem  então, o canhão dispara. Eu m e viro bruscam ente, esperando que Peeta colapse no chão,
m as ele apenas levanta suas sobrancelhas. O aerobarco aparece a noventa m etros, m ais ou
m enos, de distância. O que sobrou do corpo em agrecido de Foxface é levantado no ar. Eu
posso ver o brilho verm elho dos seus cabelos ao sol.
Eu deveria ter sabido no m om ento em  que vi o queij o desaparecido...
Peeta pegou-m e pelo braço, em purrando-m e na direção de um a árvore. "Escale. Ele estará
aqui em  um  segundo. Terem os um a m elhor chance lutando contra ele de cim a."
Eu o paro, de repente calm a. "Não, Peeta, ela foi m atança sua, não do Cato.”
"O quê? Eu nem  sequer a vi desde o prim eiro dia," diz ele. "Com o eu poderia tê-la m atado?"
Em  resposta, seguro as bagas.


24
Leva algum  tem po para explicar a situação para Peeta. Com o Foxface roubou a com ida da
pilha de suprim entos antes de eu explodi-la, com o ela tentou tirar o bastante para ficar viva,
m as não o suficiente para alguém  notar, com o ela não questionaria a natureza das bagas se nós
estivéssem os preparando-nos para com ê-las.
“Pergunto-m e com o ela nos encontrou,” diz Peeta. “Minha culpa, eu acho, se eu estava tão
barulhento com o você diz.”
Estávam os tão difíceis de seguir quanto um  rebanho de gado, m as tento ser gentil. “E ela é
esperta, Peeta. Bem , ela era. Até você superá-la.”
“Não de propósito. Não parece j usto de form a algum a. Quero dizer, nós estaríam os m ortos,
tam bém , se ela não tivesse com ido as bagas antes.” Ele se corrige. “Não, claro, não
estaríam os. Você as reconheceria, não?”
Assinto. “Nós as cham am os de fechos da noite.”
“Até o nom e soa m ortal,” diz. “Sinto m uito, Katniss. Eu realm ente pensei que elas pareciam  as
m esm as que você j untou.”
“Não se desculpe. Isso significa que estam os um  passo m ais perto de casa, certo?” pergunto.
“Vam os acabar com  o resto,” Peeta diz. Ele recolhe um a folha de plástico azul,
cuidadosam ente colocando as bagas dentro, e vai j ogá-las na floresta.
“Espera!” grito. Encontro a bolsa de couro que pertencia ao garoto de Distrito 1 e encho-a com
punhados de bagas do plástico. “Se elas enganaram  Foxface, talvez possam  enganar Cato
tam bém . Se ele estiver nos caçando ou algo assim , podem os agir com o se acidentalm ente
derrubam os a bolsa, e se ele as com er –”
“Então olá Distrito Doze,” Diz Peeta.
“Isso,” digo, prendendo a bolsa no m eu cinto.
“Ele vai saber onde estam os agora,” diz Peeta. “Se ele estava em  algum  lugar por perto e viu o
aerobarco, vai saber que nós a m atam os e virá atrás de nós.” Peeta está certo. Essa pode ser a
oportunidade que Cato esteve esperando. Mas m esm o se correm os agora, há carne para
cozinhar e nosso fogo vai ser outro sinal da nossa localização.
“Vam os fazer fogo. Agora.” Com eço a j untar ram os e galhos.
“Você está pronta para encará-lo?” Peeta pergunta.
“Estou pronta para com er. Melhor cozinhar nossa com ida enquanto tem os chance. Se ele


souber que estam os aqui, ele sabe. Mas ele tam bém  sabe que há dois de nós e provavelm ente
assum a que estam os caçando Foxface. Isso significa que você se recuperou. E o fogo significa
que não estam os nos escondendo, estam os convidando-o. Você se m ostraria?” pergunto.
“Talvez não,” ele diz.
Peeta é um  diabo com  o fogo, tentando trazer cham a da m adeira úm ida. Num  piscar de olhos,
tenho coelhos e esquilos torrando, as raízes, m isturadas com  folhas, cozinhando na brasa.
Tom am os turnos de j untar verduras e vigiar por causa de Cato, m as com o eu antecipei, ele
não aparece.
Quando a com ida está pronta, eu guardo a m aior parte, deixando para nós a perna do coelho
para com erm os enquanto cam inham os.
Quero ir m ais alto na floresta, subir um a boa árvore, e fazer acam pam ento para a noite, m as
Peeta resiste. “Não posso subir com o você, Katniss, especialm ente com  m inha perna, e não
acho que poderia dorm ir a quinze m etros do chão.”
“Não é seguro ficar em  aberto, Peeta,” digo.
“Não podem os voltar para a caverna?” ele pergunta. “É perto da água e fácil para se
defender.”
Suspiro. Várias horas m ais de cam inhada – ou deveria dizer estrondo – através da floresta para
chegar até a área que tivem os de deixar de m anhã para caçar. Mas Peeta não pede por m uito.
Ele seguiu m inhas instruções todo dia e tenho certeza de que, se fosse o contrário, ele não m e
faria passar a noite num a árvore. Percebo que não fui m uito boa com  Peeta hoj e. Im plicando
com  quão barulhento ele era, gritando com  ele sobre desaparecer. O rom ance divertido que
sustentam os na caverna desapareceu no aberto, sob o sol quente, com  a am eaça de Cato sobre
nós. Hay m itch deve estar irritado com igo. E quanto à audiência...
Eu m e estico e dou a ele um  beij o. “Claro. Vam os voltar para a caverna.” Ele parece satisfeito
e aliviado. “Bem , essa foi fácil.” Tiro m inha flecha do carvalho, com  cuidado para não
danificar a ponta. Essas flehas são a com ida, segurança, e vida por si só agora.
Jogam os um  pouco m ais de m adeira no fogo. Isso deve lançar fum aça por m ais algum as
horas, em bora eu duvide que Cato assum a algum a coisa a esse ponto. Quando chegam os ao
riacho, vej o que a água tem  dim inuído consideravelm ente e que se m ove num  ritm o lento,
então voltam os para ele. Peeta está feliz pelo favor e, visto que ele é m uito m ais silencioso na
água que na terra, é um a boa idéia. É um a longa cam inhada para a caverna, entretanto,
m esm o descendo, m esm o com  o coelho dos dando im pulso. Am bos estam os exaustos pela
m archa de hoj e e ainda m al alim entados. Mantenho m eu arco carregado, am bos para Cato e
qualquer peixe que possa ver, m as o riacho para estranham ente vazio de criaturas.


Quando alcançam os nosso destino, nossos pés estão pesados e o sol desce no horizonte.
Enchem os nossas garrafas de água e subim os a pequena inclinação para nosso esconderij o.
Não é m uito, m as fora daqui é um a im ensidão, e isso é a coisa m ais próxim a que tem os de
um a casa. Será m ais quente que um a árvore, tam bém , porque provê algum  abrigo do vento
que com eçou a vir continuam ente do oeste. Coloco um  bom  j antar, m as Peeta m eio que
com eça a cochilar. Depois de dias de inércia, a caçada tom ou seu pedágio. Mando-o ir para o
saco de dorm ir e guardo o resto da sua com ida para quando ele acordar. Ele dorm e
im ediatam ente. Puxo o saco de dorm ir até seu queixo e beij o sua testa, não para a audiência,
m as para m im . Porque estou tão grata de ele ainda estar aqui, não m orto no rio com o eu
pensei. Tão grata por não ter de encarar Cato sozinha.
O brutal e sanguinário Caro, que pode quebrar um  pescoço com  o giro de seu braço, que tem  o
poder de superar Thresh, que se destacou para m im  desde o início. Ele provavelm ente tem  um
ódio especial por m im  desde quando o superei no treinam ento. Um  garoto com o Peeta iria
apenas encolher os om bros por isso. Mas tenho a sensação de que Cato levou a distração. O
que não é difícil. Peno na sua ridícula reação ao encontrar os suprim entos explodidos. Os
outros estavam  irritados, é claro, m as ele estava com pletam ente louco. Pergunto-m e agora se
Cato não é inteiram ente são.
O céu se ilum ina com  o selo, e observo Foxface brilhar no céu e então desaparecer do m undo
para sem pre. Ele não disse, m as não acho que Peeta se sentiu bem  a m atando, m esm o sendo
essencial. Não posso fingir que sinto falta dela, m as tenho de adm irá-la. Acho que, se eles
tivessem  nos dado algum  tipo de teste, ela teria sido a m ais esperta de todos os tributos. Se, de
fato, nós tivéssem os colocado um a arm adilha para ela, aposto que ela teria percebido e fugido
das bagas. Foi a própria ignorância de Peeta que a trouxe para baixo. Passou m uito tem po
tendo certeza de subestim ar m eus oponentes que esqueci que superestim á-los é tão perigoso
quanto.
O que m e trás de volta para Cato. Mas enquanto penso que com preendo Foxface, quem  ela era
e com o ela operava, ele é um  pouco m ais escorregadio. Poderoso, bem  treinado, m as espeto?
Não sei. Não com o ela era. E totalm ente sem  a falta de controle que Foxface dem onstrava.
Acredito que Cato pode facilm ente perder seu j ulgam ento com  o aj uste de tem peratura. Não
que eu m e sinta superior nesse ponto. Penso no m om ento em  que m andei a flecha voando até
a m açã na boca do porco quando estava tão irada. Talvez eu entenda Cato m elhor do que
penso.
Apesar da fadiga no m eu corpo, m inha m ente está alerta, então deixo Peeta dorm ir m ais que o
usual. De fato, um  suave dia cinzento com eça quando balanço seu om bro. Ele olha, quase em
alarm e. “Eu dorm i a noite toda. Isso não é j usto, Katniss, você deveria ter m e acordado.” Eu
m e estico e entro na bolsa. “Vou dorm ir agora. Acorde-m e se algo interessante acontecer.”
Aparentem ente nada acontece, porque quando abro m eus olhos, a luz gente e brilhante da


tarde atravessa as pedras. “Nenhum  sinal do nosso am igo?” pergunto.
Peeta balança a cabeça. “Não, ele está m antendo um  preocupante perfil baixo.”
“Quando tem po você pensa que terem os antes que os Gam em akers nos una?” pergunto.
“Bem , Foxface m orreu há quase um  dia, então há deu tem po para a audiência fazer suas
apostas e ficar entediada. Acho que pode acontecer a qualquer m om ento,” diz Peeta.
“Sim , tenho o pressentim ento de que hoj e é o dia,” digo. Sento-m e e olho para o terreno
pacífico. “Pergunto-m e com o eles vão fazer.”
Peeta perm anece em  silêncio. “Não há nenhum a boa resposta.
“Bem , até eles fazerem , não tem  sentido perder tem po caçando hoj e. Mas provavelm ente
iram os com er o que puderm os para o caso de acontecer problem as,” digo.
Peeta guarda nossas ferram entas enquanto preparo um a grande refeição. O resto dos coelhos,
raízes, verduras, e pedaços com  o últim o pedaço de queij o. A única coisa que deixo de reserva
é o esquilo e a m açã.
Quando term inam os, tudo que resta é um a pilha de ossos do coelho. Minhas m ãos estão
engorduradas, o que faz crescer m inha sensação de im undice. Talvez nós não tem os banho
diariam ente em  Seam , m as nos m antem os m ais lim pas do que isso. Exceto pelos m eus pés,
que andaram  no riacho, estou coberta de um a cam ada de suj eira.
Deixar a caverna dá um a sensação de finalização. Não acho que haverá outra noite na arena
de m odo algum . De um  m odo ou outro, m orta ou vida, tenho o pressentim ento de que vou
escapar hoj e. Dou as rochas um  tapinha de adeus, e vam os para o rio para nos lavar. Posso
sentir m inha pele, com ichando com  a água fria. Posso fazer m eu cabelo e fazer um a trança.
Estou m e perguntando se devem os ser capaz de dar num a rápida esfregada nas nossas roupas
quando chegam os ao riacho. Ou o que costum ava ser um  riacho. Agora há apenas um a cam a
de ossos secos. Toco o chão para senti-lo.
“Nem  m esm o um  pouco úm ido. Eles devem  ter drenado-o enquanto dorm íam os.” Digo. Um
m edo de língua rachada, corpo dolorido e m ente confusa trazida pela m inha desidratação
passada desliza na m inha consciência. Nossas garrafas e peles estão bem  cheias, m as com  dois
goles e nesse sol quente não vai levar m uito tem po para acabá-las.
“A lagoa,” diz Peeta. “É para onde querem  que nós nos dirij am os.”
“Talvez os lagos ainda tenham  algum a água,” digo esperançosam ente.
“Podem os verificar,” diz, m as ele está apenas m e anim ando. Estou tentando m e anim ar,


porque sei o que encontrarei quando retornarm os para o lago onde m olhei m inha perna. A
boca aberta e em poeirada de um  buraco. Mas fazem os a viagem  de qualquer j eito, apenas
para confirm ar o que nós j á sabem os.
“Você está certo. Eles estão nos dirigindo para a lagoa,” digo. Onde não há cobertura. Onde
eles garantiram  um a luta sangrenta até a m orte, com o nada para bloquear sua visão. “Você
quer direto ou esperar até a água acabar?”
“Vam os agora, enquanto tem os com ida e estam os descansados. Vam os logo term inar com
isso,” ele diz.
Assinto. É divertido. Quase sinto com o se fosse o prim eiro dia dos Gam es novam ente. Que eu
estou na m esm a posição. Vinte e um  tributos estão m ortos, m as ainda tenho de m atar Cato. E
realm ente, ele não era aquele a m atar? Agora parece que os outros tributos foram  apenas
pequenos obstáculos, distrações, afastando-nos da real batalha dos Gam es. Cato e eu.
Mas não, há um  garoto esperando ao m eu lado. Sinto seus braços ao m eu redor.
“Dois contra um . Deve ser m oleza,” diz.
“Na próxim a vez que com erm os, será em  Capitol,” respondo.
“Pode apostar que sim ,” diz.
Ficam os ali por um  m om ento, presos num  abraço, sentindo um  ao outro, a luz do sol, o
farfalhar das folhas aos nossos pés. Então sem  um a palavra, nos separam os e cam inham os
para a lagoa.
Não m e im porto agora que os passos de Peeta façam  os roedores correrem , os pássaros
voarem . Tem os de lutar contra Cato e eu faria isso aqui ou na planície. Mas duvido que eu
tenha escolha. Se os Gam em akers nos querem  no aberto, então no aberto estarem os.
Param os para descansar por uns m om entos sob um a árvore onde os profissionais m e
em boscaram . A casca do ninho de tracker j acker, batida até a polpa pela chuva e secada pelo
sol, confirm a a localização. Toco-o com  a ponta da bota, e ela se dissolve em  poeira que é
rapidam ente carregada pela brisa. Não posso evitar olhar para as árvores onde Rue
secretam ente estava, esperando para salvar m inha vida. Tracker j ackers. O corpo inchado de
Glim m er. As terríveis alucinações...
“Vam os,” digo, esperando escapar da escuridão que rodeia esse lugar. Peeta não discute.
Dado ao nosso início atrasado do dia, quando chegam os à planície j á está no início da noite.
Não há sinal de Cato. Nenhum  sinal de nada, exceto a Corpucópia dourada brilhando nos raios


de sol oblíquos. Só para garantir que Cato decidiu em purrar Foxface contra nós, circulam os a
Cornucópia para ter certeza de que ela está vazia. Então obedientem ente, com o se seguindo
instruções, andam os até a lagoa e enchem os nossos recipientes de água.
Franzo as sobrancelhas ao sol recuando. “Não querem os brigar com  ele depois de escurecer.
Há apenas um  par de óculos.”
Peeta cuidadosam ente coloca gotas de iodo na água. “Talvez sej a isso que ele estej a
esperando. O que você quer fazer? Voltar para a caverna?”
“Isso ou encontrar um a árvore. Mas vam os dar a ele m ais m eia hora. Então vam os recuar,”
respondo.
Sentam os perto da lagoa, à vista. Não há com o se esconder agora. Nas árvores no lim ite da
planície, posso ver os m ockingj ay s se m ovim entando. Jogando m elodias de volta e adiante
entre eles, com o brilhantes bolas coloridas. Posso senti-los parar curiosos ao som  da m inha voz,
escutando m ais. Repito as notas no silêncio. Prim eiro um  m ockingj ay  garganteia a canção de
volta, e depois outro. Então todo o m undo se torna vivo com  o som .
“Bem  com o sei pai,” diz Peeta.
Meus dedos encontram  o alfinete na m inha cam isa. “É a m úsica de Rue,” digo. “Acho que
eles se lem bram .”
A m úsica cresce e eu reconheço o esplendor disso. Enquanto as notas se sobrepõem , um a
com plem entando a outra, form ando um a harm onia linda e m isteriosa. Esse era o som , então,
graças a Rue, que m andava os trabalhadores do Distrito 11 para casa cada noite. Alguém  vai
com eçá-la na parada, pergunto-m e, agora que ela está m orta?
Por um  m om ento, apenas fecho m eus olhos e escuto, hipnotizada com  a beleza da m úsica.
Então algo com eça a atrapalhar a canção. Executa cortes irregulares, linhas im perfeitas. Notas
dissonantes intercalam  com  a m elodia. As vozes dos m ockingj ay s se elevam  num  grito de
alarm e.
Estam os de pé, Peeta em punhando sua faca, eu posicionada para atirar, quando Cato aparece
pelas árvores e corre até nós. Ele não tem  nenhum a lança. De fato, suas m ãos estão vazias,
em bora ele corra direto para nós. Minha prim eira flecha atinge seu peito e inexplicavelm ente
cai de lado.
“Ele tem  algum  tipo de arm adura!” grito para Peeta.
Bem  a tem po, tam bém , porque Cato está sobre nós. Eu m e abraço, m as ele corre entre nós
sem  dim inuir a velocidade. Posso dizer pela sua respiração ofegante, o suor escorrendo de seu


rosto purpúreo, que ele esteve correndo m uito por um  longo tem po. Não em  nossa direção.
De algo. Mas o quê?
Meus olhos exam inam  a floresta bem  na hora de ver a prim eira criatura entrando na planície.
Quando estou m e virando, vej o outra m eia dúzia se reunindo. Então estou tropeçando
cegam ente atrás de Cato com  nenhum  pensam ento exceto m e salvar.


25
Mutações. Sem  dúvidas sobre isso. Eu nunca tinha visto esses cães, m as eles não são anim ais
nascidos naturalm ente. Eles lem bram  lobos enorm es, m as lobos se equilibram  sobre as patas
traseiras? Lobos acenam  para o resto do bando com  a pata dianteira com o se tivesse um  pulso?
Essas coisas eu posso ver a distância. De perto, tenho certeza de que m ais atributos
am eaçadores serão revelados.
Cato correu em  linha direta para a Cornucópia, e sem  perguntas eu o segui. Se ele pensa que é
o lugar m ais seguro, que sou eu para discutir? Além  disso, m esm o que eu conseguia correr
para a floresta, seria im possível para Peeta fazer esse cam inho com  aquela perna – Peeta!
Minhas m ãos tinham  acabado de tocar o m etal da cauda pontuda da Cornucópia quando eu m e
lem bro de que sou parte de um  tim e. Ele está uns quinze m etros atrás de m im , coxeando o
m ais rápido que consegue, m as os cães estão se aproxim ando rapidam ente. Atirei um a flecha
no bando e um  cai, m as há m uitos outros para tom ar seu lugar.
Peeta está acenando para eu subir o chifre, “Vá, Katniss! Vá!” Ele está certo. Não posso
proteger nenhum  de nós no chão. Com eço a subir, escalando a Conucópia com  m inhas m ãos e
m eus pés. A superfície de ouro puro foi desenhada para lem bra o chifre curvado que nós
enchem os na colheita, então há pequenas pontas e fendas para conseguir se agarrar de
m aneira decente. Mas depois de um  dia sob o sol da arena, o m etal está quente o bastante para
queim ar m inhas m ãos.
Cato está deitado no topo do chifre, sete m etros acim a do chão, lutando para recuperar o
fôlego enquanto ele vom ita sobre a ponta. Agora é a m inha chance de acabar com  ele. Paro
no m eio do cam inho para cim a do chifre e carrego outra flecha, m as quando estou quase
deixando-a voar, ouço Peeta gritar. Eu m e viro e vej o que ele acabou de alcançar a cauda, e
os cães estão logo em  sua cola.
“Suba!” grito. Peeta com eça a subir atrasado não apenas pela sua perna, m as pela faca na sua
m ão. Atiro um a flecha na garganta do prim eiro m utante que chega ao m etal. Enquanto m orre
a criatura ataca, descuidosam ente abrindo cortes em  alguns de seus com panheiros. É quando
eu olho para as garras. Dez centím etros e claram ente bem  afiadas.
Peeta alcança m eus pés e eu agarro seu braço e o puxo para cim a. Então eu m e lem bro de
Cato esperando no topo e m e viro, m as ele está dobrado com  câim bras e m ais preocupado
com  os cães do que conosco. Ele fala algo ininteligível. O som  de aspiração e rosnados vindo
dos cães não está aj udando.
“O quê?!” Grito para ele.
“Ele disse, ‘Eles podem  subir?’” responde Peeta, levando a m inha atenção de volta para a base
do chifre.


Os cães estão com eçando a se reunir. Enquanto eles se j untam , eles se levantam  novam ente
para facilm ente ficar de pé sobre suas patas traseiras, dando a eles um  aspecto
assustadoram ente hum ano. Cada um  tem  um a pele grossa, alguns com  o pelo liso, outros
ondulados, e as cores variam  de preto até o que posso descrever com o loiro. Há algo neles,
algo que faz os cabelos na m inha nuca se arrepiarem , m as não posso dizer o quê.
Eles colocam  seus focinhos no chifre, cheirando e provando o m etal, colocando as patas sobre
a superfície e fazendo sons agudos com  a outra. Deve ser assim  com o eles se com unicam ,
porque o bando recua com o se aguardasse. Então um  deles, um  cão de bom  tam anho com
pelos loiros m acios e ondulados com eça a com er e pula no chifre. As patas traseiras devem
ser incrivelm ente poderosas, porque elas chegam  a m eros três m etros abaixo de nós, seus
lábios rosados se repuxando para um  ranger de dentes. Por um  m om ento a coisa fica lá, e
naquele m om ento percebo que o que m e deixa incom odada nesses cães. Os olhos verdes
brilhando para m im  não são de nenhum  cão ou lobo, nenhum  canino que eu tenha visto.
Eles não inconfundivelm ente hum anos. E essa revelação m al é registrada quando percebo a
coleira com  o núm ero 1 incrustado com  j óias e o horror daquilo m e atinge. O cabelo loiro, os
olhos verdes, o núm ero... é Glim m er.
Um  som  agudo escapa dos m eus lábios e tenho problem as para segurar a flecha no lugar. Eu
estive esperando por fogo, apenas consciente dem ais do m eu suprim ento dim inuído de flechas.
Esperando ver se as criaturas podiam , de fato, subir. Mas agora, m esm o quando o cão
com eçou a deslizar para trás, incapaz de encontrar algum  apoio no m etal, m esm o quando eu
posso ouvir o lento rangido das garras com o unhas no quadro, eu atiro em  sua garganta. O seu
corpo se debate e cai no chão com  um a pancada.
“Katniss?” Posso sentir o aperto de Peeta no m eu braço.
“É ela!” grito.
“Quem ?” pergunta Peeta.
Minha cabeça gira de lado a lado enquanto exam ino o bando, tom ando os vários tam anhos e
cores. O pequeno com  pele verm elha e olhos cor de âm bar... Foxface! E ali, o cabelo pálido e
olhos castanho-esverdeados do garoto do Distrito 9 que m orreu quando nós lutam os pela
m ochila! E, pior o tudo, o m enor cão, com  pelo preto lustroso, grandes olhos castanhos e um a
coleira onde se lê 11 entalhado. Mostrando os dentes com  ódio. Rue...
“O que é, Katniss?” Peeta balança m eu om bro.
“São eles. Todos eles. Os outros. Rue e Foxface e... todos os outros tributos,” eu sufoco.
Ouço Peeta arfar em  reconhecim ento. “O que eles fizeram  a eles?Você não acha... que esses
podem  ser os olhos deles de verdade?”


Os olhos deles são o que m enos m e preocupa. E os cérebros deles? Eles têm  algum a m em ória
dos tributos reais? Eles foram  program ados para odiar nossos rostos particularm ente porque
nós sobrevivem os e eles foram  insensivelm ente assassinados? E os que nós m atam os de
verdade... eles acreditam  que estarão vingando suas m ortes?
Antes que eu consiga pensa nisso, os cães com eçam  um  novo assalto ao chifre. Eles se
dividiram  em  dois grupos nos lados no chifre e estão usando aquelas traseiras poderosas para
subirem . Um  par de dentes de fecham  a centím etros da m inha m ão e então ouço Peeta gritar,
sinto o balanço do seu corpo, o peso pesado do garoto e cão puxando-m e para o lado. Se não
fosse pelo suporte do m eu braço, ele estaria no chão, m as enquanto a coisa está aqui em  cim a,
tom a toda a m inha força para nos m anter na curva de trás do chifre. E m ais tributos estão
vindo.
“Mate, Peeta! Mate!” Estou gritando, e em bora não possa ver exatam ente o que está
acontecendo, sei que ele deve ter escaqueado a coisa porque o aperto fica m ais leve. Sou
capaz de puxá-lo de volta para o chifre onde nós nos agarram os em  direção ao topo, onde nos
aguarda dois m ales m enores.
Cato ainda não está de pé, m as sua respiração está m ais lenta e sei que em  breve ele vai se
recobrar o bastante para vir atrás de nós, para nos lançar para a m orte. Eu arm o m eu arco,
m as a flecha acaba indo para um  cão que só pode ser Thresh. Quem  m ais pularia não talto?
Sinto um  m om ento de alívio porque finalm ente estam os acim a da linha dos cães e eu acabo de
m e virar para encarar Cato quando Peeta dá um  solavanco ao m eu lado. Tenho a certeza de
que o bando o pegou quando seu sangue respinga no m eu rosto.
Cato está na m inha frente, quase no extrem o do chifre, segurando Peeta com  um a gravata,
cortando seu ar. Peeta está arranhando o braço de Cato, m as fracam ente, com o se estivesse
confuso sobre se é m ais im portante respirar ou tentar conter o j orro de sangue que sai do
buraco que um  cão deixou na sua panturilha.
Eu m iro um  das m inhas duas últim as flechas na cabeça de Cato, sabendo que não teria
nenhum  efeito se fosse no seu tronco ou nos m em bros, que posso ver agora que estão cobertos
por um  piro de roupa, um a m alha cor de carne. Algum a arm adura de ótim a qualidade do
Capitol. Era isso que estava no seu saco no banquete? Arm adura para se defender contra
m inhas flechas? Bem , eles se esqueceram  de m andar um a proteção para o rosto.
Cato apenas ri. “Atire em  m im  e ele cai com igo.”
Ele está certo. Se eu atirar nele e ele cair sobre os cães, é certo que Peeta vai m orrer com  ele.
Chegam os a um  beco sem  saída. Não posso atirar em  Cato sem  m atar Peeta, tam bém . Ele não
pode m atar Peeta sem  a garantia de um a flecha no seu cérebro. Ficam os parados com o
estátuas, procurando por um a saída.


Meus m úsculos estão tão tensos que parecem  que vão se quebrar a qualquer m om ento. Meus
dentes estão cerrados duram ente. Os cães ficaram  quietos e a única coisa que posso ouvir é o
sangue batendo no m eu ouvido bom .
Os lábios de Peeta estão ficando azuis. Se eu não fizer algo rapidam ente, ele vai m orrer de
asfixia e então eu o perderei e Cato provavelm ente vai usar seu corpo com o um a arm a contra
m im . Na verdade, tenho certeza de que esse sej a o plano de Cato, porque quando ele pára de
rir, seus lábios form am  um  sorriso triunfante.
Com o se fosse seu últim o esforço, Peeta levanta seus dedos, pingando sangue de sua perna, até
o braço de Cato. Em  vez de tentar se livrar do aperto, seus dedos m udam  de direção e fazem
um  deliberado X sobre a parte de trás da m ão de Cato. Cato percebe o que isso significa
exatam ente um  segundo depois de m im . Posso dizer pelo m odo com o seu sorriso desapareceu
de seus lábios. Mas é um  segundo tarde dem ais porque, nessa hora, m inha flecha está
perfurando sua m ão. Ele grita e por reflexo liberta Peeta, que bate contra ele. Por um
m om ento terrível, penso que os dois vão cair. Eu corro para agarrar Peeta enquanto Cato
perde o equilíbrio no chifre úm ido de sangue e cai no chão.
Nós o ouvim os cair, o ar deixando seu corpo com  o im pacto, e então os cães o atacam . Peeta e
eu nos abraçam os, esperando pelo canhão, esperando que a com petição acabe, esperando
serm os libertados. Mas isso não acontece. Não ainda. Porque esse é o clím ax dos Hunger
Gam es, e a audiência espera um  show.
Eu não assisto, m as posso ouvir o ranger dos dentes, os rosnados, os uivos de dor tanto hum ano
quanto de besta enquanto Cato avança sobre o bando de cães. Não posso entender com o ele
pode estar sobrevivendo até que m e lem bro da arm adura o protegendo dos tornozelos até o
pescoço e percebe com o a noite pode ser longa. Cato deve ter um a faca ou um a espada ou
algum a coisa, tam bém , algum a coisa que ele tenha escondido nas suas roupas, porque de vez
em  quando há um  grito de m orte de um  cão ou o som  de m etal quando lâm inas colidem  com  o
chifre de ouro. O com bate continua ao lado da Cornucópia, e sei que Cato deve estar tentando
fazer um a m anobra que pode salvar a sua vida – voltar para a cauda do chifre e se reunir a
nós. Mas no final, apesar das suas força e habilidade notáveis, ele é sim plesm ente derrotado.
Não sei quando tem po se passa, talvez um a hora ou m ais, quando Cato cai no chão e ouvis os
cães o agarrando, levando-o para dentro da Cornucópia. Agora vão acabar com  ele, penso.
Mas ainda não há nenhum  canhão.
Cai a noite e o hino toca e não há nenhum a im agem  de Cato no céu, apenas os gem idos fracos
vindo do m etal debaixo de nós. O ar gelado soprando pela planície m e lem bra de que os
Gam es não acabaram  e podem  não acabar por sabe-se lá quanto tem po, e ainda não há
garantia de vitória.
Viro m inha atenção a Peeta e percebo que a perna dele está sangrando pior que nunca. Todos


os nossos suprim entos, nossas m ochilas, perm aneceram  em baixo perto do lago, onde nós os
abandonam os quando correm os dos cães. Não tenho bandagens, nada para parar o fluxo de
sangue da sua panturrilha. Em bora eu estej a trem endo com  o vento cortante, tiro m inha
j aqueta, rem ovo m inha blusa, e fecho m inha j aqueta o m ais rápido possível. Aquela prevê
exposição faz com  que m eus dentes trem am  além  do m eu controle.
O rosto de Peeta está pálido sob a luz da lua. Eu o faço deitar-se antes de sondar sua ferida.
Sangue escorregadio e quente corre pelos m eus dedos. Um a bandagem  não é suficiente. Eu vi
m inha m ãe am arrar um  torniquete um  punhado de vezes e tento replicá-lo. Corto um a m anga
da m inha cam isa, enrolo duas vezes ao redor da sua perna bem  debaixo do seu j oelho, e faço
um  nó. Eu não tenho um a vareta, então pego m eu arco e insiro no nó, girando-o o m ais
apertado que ouso. É um  negócio arriscado – Peeta pode acabar perdendo sua perna – m as
quando eu peso isso com  perder sua vida, que alternativa eu tenho? Eu enfaixo sua ferida com
o resto da m inha cam isa e m e deito ao seu lado.
“Não durm a,” digo a ele. Não tenho certeza se isso é exatam ente um  protocolo m édico, m as
tenho m edo de que, se ele durm a, ele nunca irá acordar novam ente.
“Você está com  frio?” ele pergunta. Ele abre o zíper da sua j aqueta e m e pressiono contra ele
quando ele o fecha ao m eu redor. É um  pouco m ais quente, dividir o calor dos nossos corpos
dentro da m inha dupla cam ada de j aquetas, m as é noite é um a criança. A tem peratura vai
continuar a cair.
Mesm o agora posso sentir a Cornucópia, que queim ava quando eu subi pela prim eira vez,
lentam ente virando gelo.
“Cato pode ganhar essa coisa ainda,” sussurro para Peeta.
“Não acredite nisso,” ele diz, puxando m eu corpo, m as ele está trem endo m ais do que eu.
As horas seguintes são as piores da m inha vida, o que se você pensar bem  significa m uita
coisa.
O frio pode torturar o bastante, m as o pesadelo real é escutar Cato, gem endo, im plorando, e
finalm ente apenas choram ingando enquanto os cães trabalhavam  nele. Depois de m uito pouco
tem po, eu não m e im porto m ais com  quem  ele é ou o que ele fez, tudo que quero é que ele
pare de sofrer.
“Por que eles apenas não o m atam ?” pergunto a Peeta.
“Você sabe por que,” diz, e m e puxa m ais para perto.
E eu sei. Nenhum  telespectador daria as costas para o show agora. Do ponto de vista dos
Gam em akers, essa é a últim a palavra em  entretenim ento.


E continua e continua e eventualm ente consum e com pletam ente a m inha m ente, bloqueando
m em órias e esperanças de um  am anhã, apagando tudo além  do presente, que com eço a
acreditar que nunca vai m udar. Nunca haverá nada além  de frio, m edo e os sons agonizantes
do garoto m orrendo no chifre.
Peeta com eça a dorm ir agora, e em  cada vez que faz, eu m e encontro gritando seu nom e cada
vez m ais alto, porque se ele m orrer agora, sei que provavelm ente vou ficar com pletam ente
insana. Ele está lutando, provavelm ente m ais por m im  do que por ele, e é difícil porque
inconsciência seria um a form a própria de escapar. Mas a adrenalina que palpita pelo m eu
corpo nunca iria m e perm itir segui-lo, então não posso deixá-lo. Eu apenas não posso.
A única indicação da passagem  do tem po estava no céu, o sutil m ovim ento da lua. Então Peeta
com eça a apontá-lo para m im , insistindo que sei seu progresso e às vezes, por um  m om ento,
sinto um  brilho de esperança antes que a agonia da noite m e engula novam ente.
Finalm ente, ouço-o sussurrar que o sol está subindo. Abro m eus olhos e encontro estrelas
desaparecendo na luz pálida do am anhecer. Posso ver, tam bém , com o o rosto de Peeta se
tornou pálido. Com o o pouco o tem po que ele tem . E sei que tenho de levá-lo de volta para o
Capitol.
Ainda assim , o canhão não atira. Pressiono m eu ouvi bom  contra o chifre e posso ouvir a voz
dele.
“Acho que ele está m ais perto agora. Katniss, você pode atirar nele?” Peeta pergunta.
Se ele estiver perto da boca, posso ser capaz. Seria um  ato de m isericórdia a esse ponto.
“Minha últim a flecha está no seu torniquete,” digo.
“Faça-o valer,” diz Peeta, abrindo o zíper da sua j aqueta, deixando-m e livre.
Então eu tiro a flecha, tentando colocar o torniquete de volta o m ais apertado que m eus dedos
congelados são capazes. Esfrego m inhas m ãos, tentando ganhar circulação. Quando eu rastej o
até o extrem o do chifre e fico na ponta, sinto as m ãos de Peeta m e dando suporte.
Leva alguns m om entos para encontrar Cato na luz turva, no sangue. Então a m assa de carne
crua que costum ava ser nosso inim igo faz um  som , e sei onde sua boca está. E acho que o que
ele está tentando dizer é por favor.
Pena, não vingança, m anda a flecha até seu crânio. Peeta m e puxa de volta, arco na m ão,
bainha vazia.
“Você conseguiu?” ele sussurra.
O tiro do canhão é a resposta.


“Então ganham os, Katniss,” ele diz de form a vazia.
“Viva para nós,” solto, m as não há o prazer de vitória na m inha voz.
Um  buraco se abre na planície com o se fosse com binado, o restante dos cães entram  nele,
desaparecendo com o se a terra se fechasse acim a deles.
Nós esperam os pelo aerobarco para tom ar os restos de Cato, pelas trom betas da vitória que
deveriam  se seguir, m as nada acontece.
“Hey !” grito para o ar. “O que está acontecendo?” a única resposta é a vibração dos pássaros
acordando.
“Talvez sej a o corpo. Talvez tenham os de nos distanciar,” diz Peeta.
Tento m e lem brar. Você tem  de se distanciar do tributo m orto na m orte final? Meu cérebro
está m uito confuso para ter certeza, m as qual seria a outra razão para a dem ora?
“Ok. Acha que pode conseguir chegar até o lago?” pergunto.
“Acho que é m elhor tentar,” diz Peeta. Descem os pela causa do chifre e caím os no chão. Se a
rigidez dos m eus m em bros é assim  ruim , com o Peeta pode se m over? Eu m e levanto prim eiro,
balançando e curvando m eus braços e pernas até que acho que posso aj udá-lo a se levantar.
De algum a form a, nós chegam os ao lago. Eu dou um  punhado de água gelada para Peeta e
tragoo o segundo para m im .
Um  m ockingj ay  dá um  assobio longo e baixo, e lágrim as de alívio enchem  m eus olhos quando
o aerobarco aparece e leva o corpo de Cato. Agora eles vão no levar. Agora podem os ir para
casa.
Mas novam ente não há nenhum a resposta.
“O que eles estão esperando?” diz Peeta fracam ente. Entre a perda do torniquete e o esforço
de andar até o lago, sua ferida se abriu novam ente.
“Eu não sei,” digo. Sej a o que for, não posso vê-lo perder m ais sangue. Eu m e levanto para
encontrar um  pedaço de pau, m as quase im ediatam ente encontro a flecha que ricocheteou na
arm adura de Cato. Isso acontece com  a outra flecha. Quando eu m e inclino para pegá-las, a
voz de Claudius Tem plesm ith explode na arena.
“Saudações aos finalistas do septuagésim o quarto Hunger Gam es. A m udança anterior foi
revogada. Um a análise m ais atenta às regras revelou que apenas um  vencedor está
autorizado,” diz. “Boa sorte e que as chances estej am  em  seu favor.” Há um  pequeno barulho
de estática e então nada m ais. Eu fito Peeta com  descrença enquanto a verdade com eça a


fazer sentido. Eles nunca tiveram  a intenção de deixar nós dois vivos. Isso tudo foi planej ado
pelos Gam em akers para garantir o confronto m ais dram ático da história. E
com o um a tola, caí nessa.
“Se você pensar bem , isso não é um a surpresa,” ele diz suavem ente. Observo com o ele
dolorosam ente consegue ficar de pé. Então ele está andando na m inha direção, com o se fosse
em  câm era lenta, sua m ão está puxando a faca do seu cinto –
Antes que eu estej a consciente das m inhas ações, m eu arco está carregado com  a flecha
apontada para o seu coração. Peeta levanta suas sobrancelhas e vej o que a faca j á não está
m ais em  sua m ão, e sim  caiu na água. Deixo m inha arm a cair e dou um  passo para trás, m eu
rosto queim ando em  o que só pode ser vergonha.
“Não,” diz. “Faça.” Peeta m anca em  m inha direção e coloca a arm a de volta às m inhas m ãos.
“Não posso,” digo. “Não vou.”
“Faça. Antes que eles m andem  aqueles m utantes de volta ou algo do tipo. Não quero m orrer
com o Cato,” ele diz.
“Então você atira em  m im ,” digo furiosa, em purrando a arm a de volta para ele. “Você atira
em  m im  e vai para casa e viva com  isso” E quando eu digo, sei que a m orte agora m esm o
seria m ais fácil que viver com  isso.
“Você sabe que eu não posso,” Peeta diz, j ogando fora a arm a. “Ótim o, vou prim eiro, de
qualquer form a.” Ele se inclina para baixo e retira sua bandagem , elim inando a barreira final
entre seu sangue e a terra.
“Não, você não pode se m atar,” digo. Estou de j oelhos, cobrindo desesperadam ente a
bandagem  sobre sua ferida.
“Katniss,” ele diz. “É o que eu quero.”
“Você não vai m e deixar aqui sozinha,” digo. Porque se ele m orrer, eu nunca irei para casa,
nunca realm ente. Vou passar o resto da m inha vida nessa arena tentando pensar na m inha
saída.
“Escute,” ele diz m e puxando para eu ficar de pé. “Nós dois sabem os que eles precisam  ter
um  vencedor. E só pode ser um  de nós. Por favor, faça isso. Por m im .” E ele com eça a falar o
quanto m e am a, o que a vida seria sem  m im , m as eu parei de escutar porque suas palavras
anteriores estão presas na m inha cabeça, girando desesperadam ente.
Nós dois sabem os que eles precisam  ter um  vencedor.


Sim , eles precisam  ter um  vencedor. Sem  um  vencedor, toda a coisa seria j ogada na cara dos
Gam em akers. Eles teriam  falhado com  o Capitol. Possivelm ente seriam  executados, lenta e
dolorosam ente, enquanto as câm eras exibiriam  cara im agem  em  todo o país.
Se Peera e eu m orrêssem os, eu eles pensassem  que iríam os m orrer...
Meus dedos se atrapalham  com  a bolsa no m eu cinto, soltando-a. Peeta vê e suas m ãos
agarram  m eu pulso. “Não, não vou te deixar.”
“Confie em  m im ,” sussurro. Ele segura m eu olhar por um  longo tem po antes de m e solta. Eu
solto a parte superior da bolsa e coloco um  punhado de bagas na sua m ão. Então encho a
m inha. “No três?”
Peeta se inclina para baixo e m e beij a um a vez, m uito gentilm ente. “No três,” diz.
Ficam os de pé, costas contra costas, nossas m ãos vazias apertando um a a do outro.
“Mostre-os. Quero que todos vej am ,” diz.
Eu entendo m eus dedos, e as bagas escuras brilham  ao sol. Dou um  últim o aperto na m ão de
Peeta com o um  sinal, ou um  adeus, e com eçam os a contar. “Um .” Talvez eu estej a errada.
“Dois.” Talvez eles não se im portem  se nós m orrêssem os. “Três!” É tarde dem ais para m udar
de idéia. Levanto m inha m ão para m inha boca, lançando um  últim o olhar para o m undo. AS
bagas acabam  de passar pelos m eus lábios quando as trom betas com eçam  a tocar.
A voz frenética de Claudius Tem plesm ith grita acim a delas. “Parem ! Parem ! Dam as e
cavalheiros, tenho o prazer de apresentar os vencedores dos septuagésim o quarto Hunger
Gam es, Katniss Everdeen e Peeta Mellark! Dou-lhes – os tributos do Distrito Doze!” 26
Eu cuspi as pagas da m inha boca, lim pando m inha língua com  a ponta da m inha cam isa para
ter certeza de que nenhum  suco perm aneça. Peeta m e puxa para o lago onde nós dois
lim pam os nossas bocas com  água, e então caím os um  nos braços do outro.
“Você não engoliu nada?” pergunto a ele.
Ele balança a cabeça. “Você?”
“Acho que estaria m orta agora se tivesse,” digo. Posso ver seus lábios se m ovendo em
resposta, m as não posso escutá-lo acim a do rugido da m ultidão no Capitol que está tocando ao
vivo pelos autofalantes.
O aerobarco se m aterializa acim a de nossas cabeças e duas escadas caem , só que não há
chance de eu deixar Peeta. Eu m antenho um  braço ao redor dele enquanto o aj udo a subir, e
nós dois colocam os um  pé no prim eiro degrau da escada. A corrente elétrica nos congela no


lugar, e dessa vez estou satisfeita porque não tenho certeza de que Peeta pode subir o resto da
escada. E visto que m eus olhos estão olhando para baixo, posso ver que enquanto nossos
m úsculos estão im óveis, nada está im pedindo que o sangue sej a drenado da perna de Peeta.
Com o previsto, no m inuto em  que a porta se fecha atrás de nós e a corrente pára, ele cai no
chão inconsciente.
Meus dedos ainda estão agarrando a parte de trás de sua j aqueta são fortem ente que quando o
levam  fica um  punhado de tecido preto na m inha m ão. Médicos num  branco estéril, com
m áscaras e luvas, j á preparados para operar, entram  em  ação. Peeta está tão pálido e im óvel
na m esa de prata, tubos e fios brotam  dele de todas as m aneiras, e por um  m om ento m e
esqueço de que estam os foram  dos Gam es e vej o os m édicos com o m ais um a am eaça, m ais
um  grupo de m utts designados a m atá-lo. Petrificada, eu corro até ele, m as sou pega e j ogada
em  outro quarto, e um a porta de vidro se fecha entre nós. Eu bato o vidro, gritando. Todos m e
ignoram  exceto um  atendente do Capitol que aparece atrás de m im  e m e oferece um a bebida.
Eu caio no chão, m eu rosto contra a porta, encarando sem  com preender a taça na m inha m ão.
Suco gelado de laranj a, com  um  canudo enfeitado. Quão errado parece na m inha m ão suj a e
cheia de sangue com  unhas im undas e cicatrizes. Fico com  água na boca com  o cheiro, m as o
coloco cuidadosam ente no chão, não confiando em  algo tão lim po e bonito.
Através do vidro, vej o os m édicos trabalhando com  ardor em  Peeta, suas rostos vincados em
concentração. Vej o o fluxo de líquidos, extraídos pelos tubos, observo a parede de indicadores
e luzes que significam  nada para m im . Não estou certa, m as acho que o coração dele parou
duas vezes.
É com o estar em  casa de novo, quando eles trazem  um a pessoal irrem ediavelm ente m utilada
de um a explosão da m ina, ou um a m ulher em  seu terceiro dia de trabalho de parto, ou um a
criança fam inta lutando contra a pneum onia e m inha m ãe e Prim , elas usam  essa m esm a
expressão em  seus rostos. Agora é a hora de correr para a floresta, para se esconder nos
bosques até que o paciente tenha se ido há algum  tem po e em  outra parte de Seam  os
carpinteiros fazem  o caixão. Mas estou presa aqui tanto pelas paredes do aero-barco com o
pela m esm a força que m antém  os entes queridos da m orte. Quantas vezes eu os vi, andando ao
redor da nossa m esa da cozinha e eu pensava, Por que eles não vão em bora? Por que eles
ficam  para assistir?
E agora eu sei. É porque você não tem  escolha.
Eu m e assusto quando pego alguém  m e encarando a apenas alguns centím etros de distância e
então percebe que é m eu próprio rosto sendo refletido pelo vidro. Olhos selvagens, bochechas
encovadas, m eu cabelo em aranhado. Violenta. Selvagem . Louca. Sem  dúvidas todos estão a
um a distância segura de m im .


A próxim a coisa que sei é que estam os pousando no teto do Centro de Treinam ento e eles estão
levando Peeta, m as m e deixando atrás da porta. Eu com eço a m e atirar contra o vidro,
gritando e eu acho que pego um  relance se um  cabelo rosa – deve ser Effie, tem  de ser Effie
vindo m e resgatar – quando sou picada por um a agulha pelas costas.
Quando acordo, tem o m e m over a princípio. Todo o teto brilha com  um a luz am arela suave,
perm itindo que eu vej a que estou num  quanto que contem  apenas m inha cam a. Sem  portas,
sem  j anelas visíveis. O ar tem  um  odor de algum  picante e anti-séptico. Meu braço direito tem
alguns tubos que se estendem  através da parede atrás de m im . Estou nua, m as as roupas de
cam a são suaves contra m inha pele. Eu tem porariam ente levanto m inha m ão esquerda acim a
da coberta. Não foi apenas lim pa, m inhas unhas estão perfeitam ente ovais, as cicatrizes de
queim aduras estão m enos proem inentes. Toco m inha bochecha, m eus lábios, a cicatriz
enrugada acim a da m inha sobrancelha, e estou apenas correndo m eus dedos através do m eu
cabelo sedoso quando congelo. Com  apreensão, despenteio o cabelo acim a de m eu ouvido
esquerdo. Não, não foi um a ilusão. Posso ouvir novam ente.
Tento m e sentar, m as algum  tipo de larga tira de retenção ao redor da m inha cintura m e
im pede de m e levantar m ais que alguns centím etros. O confinam ento físico m e deixa em
pânico e tento m e levantar e livrar m eus quadris através da tira quando um a porção de parede
se abre e entra a Avox ruiva carregando um a bandej a. Vê-la m e acalm a e paro de tentar
escapar. Quero fazer a ela um  Milão de perguntas, m as tem o que algum a fam iliaridade cause
algum  dano a ela. Obviam ente estou sendo m onitorada de perto. Ela coloca a bandej a sobre
m inhas coxas e pressiona algo que m e eleva para a posição sentada. Enquanto ela aj usta m eus
travesseiros, arisco um a pergunta. Digo alto, tão claro quando m inha voz enferruj ada perm ita,
assim  nada pareça ser um  código. “Peeta conseguiu?” Ela assente para m im , e quando desliza
um a colher na m inha m ão, sinto um a pressão de am izade.
Acho que ela não queria que eu m orresse, apesar de tudo. E Peeta conseguiu. Claro que
conseguiu. Com  todos esses equipam entos caros aqui. Ainda assim , não tinha certeza até agora.
Quando a Avoz sai, a porta se fecha silenciosam ente atrás dela e m e viro fam inta para a
bandej a. Um a tigela de caldo, um a pequena porção de m açã, e um  copo de água. É isso?
Penso, irritada. Meu j antar de retorno a casa não deveria ser um  pouco m ais espetacular? Mas
descubro que é um  esforço term inar a refeição ante a m im . Meu estôm ago parece ter um a
contração do tam anho de um  cavalo, e tenho de im aginar quanto tem po estive fora, porque
não tive problem as em  com er um  café da m anhã de um  tam anho razoável naquela últim a
m anhã na arena. Há geralm ente um  intervalo de poucos dias entre o fim  da com petição e a
apresentação do vencedor, para que eles possam  colocar a pessoa fam inta, ferida e acabada
de volta ao norm al. Em  algum  lugar, Cinna e Portia estarão criando nossas vestes para as
aparições públicas. Hay m itch e Effie estarão arranj ando o banquete para nossos
patrocinadores, revisando as perguntas para nossa entrevista final. De volta a casa, o Distrito 12
provavelm ente está um  caos enquanto eles tentam  organizar celebrações de boas vindas para
m im  e para Peeta, dado que a últim a celebração desse tipo foi há quase trinta anos.


Casa! Prim  e m inha m ãe! Gale! Até a lem brança do gato velho e im undo de Prim  m e trás um
sorriso. Em  bree estarei em  casa!
Quero sair dessa cam a. Para ver Peeta e Cinna, para descobrir m ais sobre o que está
acontecendo. E por que eu não deveria? Estou bem . Mas quando eu tento com eçar m eu
cam inho fora da tira, sinto um  líquido frio entrando na m inha veia de um  dos tubos e quase
im ediatam ente perco a consciência.
Isso continua a acontecer por um a quantia indeterm inada de tem po. Eu acordando, com endo,
e, em bora resista ao im pulso de tentar escapar da cam a, sendo nocauteada novam ente.
Pareço estar num  crepúsculo contínuo e estranho. Registrando apenas algum as coisas. A Avox
ruiva que não retornou desde a alim entação, m inhas cicatrizes desaparecendo, e eu estou
im aginando? Ou realm ente ouço a voz de um  hom em  gritando Não com  o sotaque de Capitol,
m as com  o ritm o áspero de casa. E não posso evitar ter um a vaga e confortante sensação de
que alguém  está cuidando de m im .
Então finalm ente, a hora chega quando eu acordo e não há nada enviado no m eu braço direito.
A restrição ao redor da m inha cintura foi retirada e estou livre para m e m over. Com eço a m e
sentar, m as estou presa pela visão das m inhas m ãos. A perfeição da pele, m acia e brilhante.
Não só as cicatrizes da arena se foram , com o tam bém  aquelas que foram  acum uladas ao
longo dos anos caçando tinham  sum ido sem  deixar rastro. Minha testa parecia cetim , e quando
tento encontrar a queim adura na m inha panturrilha, não há nada.
Deslizo m inhas pernas para fora da cam a, nervosa por não saber se elas iriam  suportar m eu
peso, m as elas estão portes e firm es. Situado ao pé da cam a há um  traj e que m e faz hesitar. É
o que todos nós, tributos, usam os na arena. Olho para ele com o se ele tivesse dentes até eu m e
lem brar de que, é claro, isso é o que vou usar para cum prim entar m inha equipe.
Estou vestida em  m enos de um  m inuto e inquieta defronte para a parede onde sei que há um a
porta, m esm o que eu não possa vê-la, quando de repente ela se abre. Entro num  corredor
am plo e deserto que não parecia ter portas. Mas deve ter. E atrás de um a delas deve estar
Peeta. Agora que estou consciente e m e m ovendo, fico m ais e m ais ansiosa por causa dele.
Ele deve estar bem  ou então a Avox não teria dito aquilo. Mas preciso vê-lo por m im  m esm a.
“Peeta!” grito, j á que não há ninguém  para perguntar. Ouço m eu nom e em  resposta, m as não
é a voz dele. É um a voz que m e provoca prim eiro irritação e depois entusiasm o. Effie.
Eu m e viro e vej o todos eles esperando num a grande sala ao fim  do corredor – Effie,
Hay m itch, e Cinna. Meus pés se m ovem  sem  hesitação. Talvez um  vencedor deveria m ostrar
m ais m oderação, m ais superioridade, especialm ente quando ela sabe que isso estará na
gravação, m as não m e im porto. Corro para eles e m e surpreendo quando m e lanço nos braços
do Hay m itch prim eiro. Quando ele sussurra no m eu ouvido, “Bom  trabalho, querida,” não soa


sarcástico. Effie está a beira das lágrim as e fica tocando no m eu cabelo e falando sobre com o
ela disse para todos que nós éram os pérolas. Cinna apenas m e abraça com  força e não fiz
nada. Então percebo que Portia está ausente e sento um  m ai pressentim ento.
“Onde está Portia? Ela está com  Peeta? Ele está bem , não está? Quero dizer, ele está vivo?” Eu
falo sem  pensar.
“Ele está ótim o. Só que elas querem  que vocês se encontrem  apenas na cerim ônia,” diz
Hay m itch.
“Ah. É isso,” digo. O m om ento terrível pensando na m orte de Peeta passa. “Acho que queria
vê-lo por m im  m esm a.”
“Vá com  Cinna. Ele tem  de te deixar pronta,” diz Hay m itch.
É um  alívio estar sozinha com  Cinna, sentir m eu braço protetor ao redor dos m eus om bros
quando ele m e leva para longe das câm eras, por algum as passagens e para um  elevador que
vai até o corredor do Centro de Treinam ento. O hospital é m uito m ais abaixo, até abaixo do
ginásio onde os tributos praticaram  am arrando cordas e atirando lanças. As j anelas do
corredor estão escuras, e um  punhado de guardas está em  serviço. Ninguém  m ais está lá para
nos ver entrar no elevador dos tributos. Nossos passos ecoam  no vazio. E quando subim os para
o décim o segundo andar, os rosto de todos os tributos que nunca retornarão passam  pela m inha
cabeça e há um  peso no m eu peito.
Quando as portas do elevador se abrem , Venia, Flavius e Octavia m e engolem , falando tão
rapidam ente e com  êxtase que não posso acom panhar suas palavras. O sentim ento está claro,
porém . Eles estão verdadeiram ente excitados por m e ver e estou feliz por vê-los, tam bém ,
em bora não com o eu estava quando vi Cinna. É m ais na form a com o alguém  ficaria feliz de
ver um  trio de anim aizinhos ao fim  de um  dia particularm ente difícil.
Eles m e levaram  a um a sala de j antar e tive um a refeição de verdade – bife assado, ervilhas e
pãezinhos – em bora m inhas porções ainda estivessem  sendo bem  controladas. Porque quando
eu pedi o segundo prato, levei um  não.
“Não, não, não. Eles não querem  que você vom ite tudo no palco,” diz Octavia, m as
secretam ente ela desliza um  pãozinho extra sob a m esa para eu saber que ela estava do m eu
lado.
Voltam os para o m eu quarto e Cinna desaparece por um  m om ento enquanto a equipe m e
deixa pronta.
“Ah, eles cuidaram  do seu corpo inteiro,” diz Flavius com  invej a. “Nem  um a falha foi deixada
na sua pele.”
Mas quando olho para m eu corpo nu refletido no espelho, tudo que posso ver é o quão m agra


estou. Quero dizer, tenho certeza de que eu estava pior quando saí da arena, m as posso
facilm ente contar m inhas costelas.
Eles cuidam  das configurações do chuveiro para m im , e vão trabalhar no m eu cabelo, unhas e
m aquiagem  quando eu term ino o banho. Eles tagarelam  tão continuam ente que quase não
tenho de responder, o que é bom , visto que não sou m uito faladora. É divertido, porque em bora
eles estej am  falando sobre os Gam es, é só sobre onde eles estavam  ou o que eles estavam
fazendo ou com o eles se sentiram  quando um  evento específico aconteceu. “Eu ainda estava
na cam a!” “Eu tinha acabado de pintar o m eu cabelo!” “Juro que eu quase desm aiei!” Tudo é
sobre eles, não sobre garotos e garotas m orrendo na arena.
Nós não chafurdam os em  torno dos Gam es dessa m aneira no Distrito 12. Nós cerram os nossos
dentes e assistim os porque devem os e tentam os voltar para nosso trabalho logo que eles
acabam . Para não odiar a m inha equipe, eu ignoro a m aioria das coisas que eles dizem .
Cinna volta com  o que parece ser um  despretensioso vestido am arelo nos braços.
“Você desistiu de toda aquela coisa de ‘garota em  cham as’?” pergunto.
“De fato,” ele diz, e o desliza pela m inha cabeça. Im ediatam ente percebo o enchim ento sobre
m eus seios, acrescentando curvas que a fom e roubou do m eu corpo. Minhas m ãos vão ao m eu
peito e eu franzo as sobrancelhas.
“Eu sei,” diz Cinna antes que eu possa falar algo. “Mas os Gam em akers queriam  alterar você
cirurgicam ente. Hay m itch fez um a grande briga para evitar isso. Isso foi o prom etido.” Ele
m e para antes que eu olhe para m eu reflexo. “Espere, não se esqueça dos sapatos.” Venia m e
aj uda a colocar um  par de sandálias de couro baixas e m e viro para o espelho.
Eu ainda sou a “garota em  cham as”. O tecido brilha suavem ente. Até o m ovim ento de ar m ais
leve ondula pelo m eu corpo. Em  com paração, o traj e da carruagem  parece extravagante, o
vestido da entrevista m uito artificial. Nesse vestido, dou a ilusão de estar vestida à luz de velas.
“O que você acha?” pergunta Cinna.
“Acho que é m elhor,” digo. Quando conseguido tirar m eus olhos do tecido brilhante, tenho um
choque. Meu cabelo está frouxo, preso num  sim ples elástico. A m aquiagem  arredonda e
preenche os ângulos m agros do m eu rosto. Um  esm alte claro sobre m inhas unhas. O vestido
sem  m angas se agarra às m inhas costelas, e não à m inha cintura, elim inando em  grande
quantidade a necessidade de enchim ento no m eu corpo. A bainha cai até m eus j oelhos. Sem
saltos, você pode ser m inha estatura. Eu pareço m uito sim ples, com o um a garota. Um a garota
j ovem . Quatorze anos, no m áxim o. Inocente. Inofensiva. Sim , é um  choque que Cinna tenha
im aginado isso quando você se lem bra de que eu acabei de ganhar os Gam es.
Essa é um a aparência bem  calculada. Nada que Cinna desenha é arbitrário. Mordo m eu lábio
tentando im aginar sua m otivação.


“Pensei que seria algo m ais... sofisticado,” digo.
“Eu achei que Peeta gostaria m ais disso,” ele responde cuidadosam ente.
Peeta? Isso não tem  nada a ver com  Peeta. Tem  a ver com  o Capitol, os Gam em akers e a
audiência. Em bora eu ainda não tenha entendido a idéia de Cinna, é um  lem brete de que os
Gam es ainda não term inaram . E debaixo da sua resposta agradável, sinto um  aviso. De algo
que ele não pode nem  m encionar em  frente a nossa própria equipe.
Tom am os o elevador para o nível onde fom os treinados. É costum eiro o vencedor e seu tim e
de suporte subir de debaixo do palco. Prim eiro a equipe, seguida pela escolta, o estilista, o
m entor, e finalm ente o vencedor. Apenas nesse ano, com  dois vencedores que dividem  a
m esm a escolta e o m esm o m entor, toda a coisa tem  de ser repensada. Eu m e encontro num a
área pouco ilum inada debaixo do palco. Um a nova placa de m etal foi instalada para nos levar
para cim a. Você ainda pode ver pequenas pilhas de serragem , cheirar a pintura fresca. Cinna
e a equipe vestem  seus próprios traj es e tom am  suas posições, deixando-m e sozinha. Na
escuridão, vej o um a parece im provisada a uns dez m etros e assum o que Peeta está do outro
lado.
O barulho da m ultidão é alto, por isso não percebo Hay m itch até ele m e tocar no om bro. Dou
um  pulo, assustada, ainda m eio na arena, acho.
“Calm a, sou só eu. Deixe-m e dar um a olhada em  você,” Hay m itch diz. Estendo m eus braços
e dou um a volta. “Bom  o bastante.”
Isso não é m uito um  elogio. “Mas o quê?” digo.
Hay m itch olha em  volta do espaço m ofado, e parece tom ar um a decisão. “Mas nada. Que tal
um  abraço para dar sorte?”
Ok, esse é um  pedido estranho para Hay m itch, m as, depois de tudo, som os vencedores. Talvez
um  abraço para dar sorte sej a regular. Mas, quando coloco m eus braços ao redor do seu
pescoço, encontro-m e em boscada em  seu abraço. Ele com eça a falar, m uito rápido, bem
baixinho no m eu ouvido, m eu cabelo ocultando seus lábios.
“Escute. Vocês estão com  problem as. Dizem  que o Capitol está furioso por vocês se exibirem
na arena. A única coisa que eles não podem  suportar é ser alvo de piada por toda a Panem ,”
diz Hay m itch.
Sinto m edo m e percorrer, m as dou um a risada com o se Hay m itch estivesse dizendo algo
com pletam ente deleitoso porque nada está cobrindo m inha boca. “E agora?”
“A única defesa de vocês é que vocês estavam  com pletam ente apaixonados e não eram
responsáveis pelos seus atos.” Hay m itch se afasta e aj usta m inha liga de cabelo. “Entendeu,
querida?” Ele poderia estar falando sobre qualquer coisa agora.


“Sim ,” digo. “Você disse isso a Peeta?”
“Eu não tenho de dizer,” diz Hay m itch. “Ele j á está.”
“Mas você acha que eu não estou?” digo, tom ando a oportunidade para aj ustar a brilhante
gravata verm elha que Cinna deve tê-lo forçado a usar.
“Desde quando im porta o que eu acho?” diz Hay m itch. “Melhor tom ar nossos lugares.” Ele
m e leva até o círculo m etálico. “Essa é a sua noite, querida. Aproveite.” Ele beij a m inha testa
e desaparece na escuridão.
Agarro m inha saia, querendo que ela sej a m ais longa, querendo que ela cubra o trem or do
m eu j oelho. Então percebo que é inútil. Todo o m eu corpo está trem endo com o um a folha.
Esperançosam ente, deve ser por causa da m inha excitação. Afinal, essa é a m inha noite.
O cheiro úm ido e m ofado am eaça m e sufocar debaixo do palco. Um  suor frio e pegaj oso
brota da m inha pele e não posso evitar sentir que as tábuas acim a da m inha cabeça vão
desabar, enterrar-m e viva sob o entulho. Quando deixei a arena, quando as trom betas tocaram ,
eu deveria estar salva. A partir de então. Pelo resto da m inha vida.
Mas se o que Hay m itch falou é verdade, e ele não tem  razão para m entir, eu nunca estive em
um  lugar tão perigoso na m inha vida.
É bem  pior que ser caçada na arena. Ali, eu poderia apenas m orrer. Fim  da história. Mas aqui
fora, Prim , m inha m ãe, Gale, as pessoas do Distrito 12, todo m undo com  que eu m e im porto
poderiam  ser punidas se eu não conseguisse fingir ser a garota-com pletam ente-apaixonada
que Hay m icth sugeriu.
Então eu ainda tenho um a chance, entretanto. Engraçado, na arena, quando eu peguei aquelas
bagas, eu estava apenas pensando em  enganar os Gam em akers, não em  com o m inhas ações
iriam  refletir no Capitol. Mas os Hunger Gam es são a arm a deles e você não deveria ser capaz
de derrotá-la. Então agora o Capitol vai agir com o se estivesse no controle o tem po todo.
Com o se eles tivessem  orquestrado todo o evento, até o suicídio duplo. Mas isso só vai
funcionar se eu fingir com  eles.
E Peeta... Peeta vai sofrer, tam bém , se isso sair errado. Mas o que Hay m itch disse quando eu
perguntei se ele tinha contato a Peeta a situação? Que ele tinha de fingir que estava
desesperadam ente apaixonado?
“Não tenho de dizer. Ele j á está.”
Já pensando antes de m im  nos Gam es novam ente e consciente do perigo que correm os? Ou...


j á desesperadam ente apaixonado? Não sei. Eu nem  com ecei a analisar m eus sentim entos por
Peeta. É m uito com plicado. O que eu fiz era parte dos Gam es. Com o oposição ao que eu fiz
por raiva do Capitol. Ou por causa do que seria visto no Distrito 12. Ou porque, sim plesm ente,
era a única coisa decente a ser feita. Ou o que eu fiz porque m e im portava com  ele.
Há questões a serem  solucionadas quando voltar para casa, na paz e quietude da floresta,
quando ninguém  está observando. Não aqui com o todos os olhos sobre m im . Mas não vou ter
esse luxo por sabe-se lá quanto tem po. E agora, a parte m ais perigosa dos Hunger Gam es está
para com eçar.


27
O hino retum ba em  m eus ouvidos, e ouço Caesar Flickerm an saudando o público. Será que ele
sabe o quanto é crucial escolher as palavras certas de agora em  diante? Ele deveria saber. Ele
vai querer nos aj udar. A m ultidão irrom pe em  aplausos quando a equipe de preparação é
apresentada. Im agino Flaviu, Venia e Octavia gingando em  direção ao palco e recebendo as
m ais ridículas m esuras. É líquido e certo que eles não fazem  a m enor ideia. Então, Effie é
apresentada. Quanto tem po ela não esperou por esse m om ento. Espero que sej a capaz de
aproveitar bastante porque por m ais que Effie sej a m al orientada, ela possui um  instinto bem
certeiro para certas coisas e deve, pelo m enos, estar suspeitando de que estam os em  apuros.
Portia e Cinna recebem  im ensas dem onstrações de entusiasm o, é claro. Eles foram  brilhantes,
fizeram  um a estreia esplendorosa. Agora com preendo o vestido que Cinna escolheu para eu
usar essa noite. Vou precisar parecer m ais ingênua e inocente do que nunca. A aparição de
Hay m itch proporciona um a rodada de efusivos aplausos que dura pelo m enos cinco m inutos.
Bem , ele conseguiu um  feito inédito. Manteve não só um , m as dois tributos vivos. E se ele não
tivesse m e alertado em  tem po hábil. Será que eu agiria de m aneira diferente? Será que eu os
ostentaria o episódio das am oras e esfregaria na cara da Capitol? Não, acho que não. Mas eu
poderia facilm ente m e portar de m odo m uito m enos convincente do que preciso agora. Neste
exato m om ento. Porque estou com eçando a sentir a placa de m etal m e erguendo até o palco.
Luzes ofuscantes. O bram ido ensurdecedor sacode o m etal abaixo de m im . Então, vej o Peeta
a apenas alguns m etros de distância. Ele parece tão lím pido, saudável e belo, que m al o
reconheço. Mas seu sorriso é o m esm o, sej a na lam a, sej a na Capitol e, quando o vej o, dou
três passos e m e lanço em  seus braços. Ele cam baleia para trás, quase perdendo o equilíbrio, e
é então que percebo que o equipam ento de m etal fininho em  sua m ão é um a espécie de
bengala.
Ele endireita a postura e nós grudam os um  no outro enquanto o público entra em  estado de
ebulição. Ele está m e beij ando e o tem po todo estou pensando, Você sabe? Você sabe o quanto
estam os correndo perigo? Depois de m ais ou m enos dez m inutos disso, Caesar Flickerm an dá
um  tapinha em  seu om bro para que o show possa prosseguir, e Peeta sim plesm ente o em purra
para o lado sem  nem  m esm o olhar para ele. O público enlouquece.
Ciente ou não da história, Peeta está, com o de hábito, desem penhando o seu papel com  m uito
talento.
Por fim , Hay m itch nos interrom pe e nos dá um  em purrãozinho bem -intencionado na direção
da cadeira do vitorioso. Norm alm ente, é um a única e bela cadeira de onde o tributo vencedor
assiste a um  film e com  os m elhores m om entos dos Jogos, m as com o há dois vencedores, os
Gam em akers dos Gam es providenciaram  um  elegante sofá de veludo verm elho. Tão pequena
que m inha m ãe o cham aria de sofá do am or, eu acho. Sento-m e tão perto de Peeta que
praticam ente estou no seu colo, m as um a olhadinha na direção de Hay m itch m e diz que isso


não é suficiente. Chutando as sandálias, ponho os pés ao lado e encosto a cabeça no om bro de
Peeta. Seu braço m e envolve autom aticam ente e tenho a sensação de estar de vota à caverna,
enroscada nele, tentando m e m anter aquecida. Sua cam isa é feita do m esm o m aterial am arelo
que m eu vestido, m as Portia o colocou em  calças com pridas pretas. Em  vez de sandálias, está
usando um  par de robustas botas pretas. Em  que ele m antém  solidam ente plantadas no chão do
palco. Gostaria que Cinna tivesse m e dado um  traj e sim ilar, sinto-m e m uito vulnerável nesse
vestido diáfano. Mas im agino que essa era exatam ente a proposta.
Caesar Flickerm an faz m ais algum as piadas e então chega a hora do show. Vai durar
exatam ente três horas e todas as pessoas de Panem  devem  assistir. À m edida que as luzes
com eçam  a dim inuir de intensidade e a insígnia aparece na tela, percebo que estou
despreparada para tudo isso. Não quero assistir a m orte dos m eus vinte e dois colegas tributos.
Vi m ortes suficientes ao vivo. Meu coração com eça a bater com  força e sinto um  im pulso
m uito forte para sair correndo dali. Com o os outros vitoriosos encaram  isso sozinhos?
Durante os m elhores m om entos, eles m ostram  de tem pos em  tem pos a reação do vencedor
num  quadradinho no canto da tela. Recordo-m e de anos anteriores... alguns são triunfantes,
socando o ar, batendo no peito. A m aioria parece sim plesm ente atônita. Tudo o que sei é que a
única coisa que está m e m antendo nesse sofá do am or é Peeta – seu braço em  m eu om bro,
sua outra m ão segura pelas m inhas duas. É claro que os vitoriosos anteriores não tinham  em
seu encalço a Capitol em  busca de um a m aneira de destruí-los.
Condensar várias sem anas em  três horas é um  feito im pressionante, principalm ente se
considerarm os a quantidade de câm eras que estavam  sendo usadas de um a vez. Quem  quer
que sej a o responsável pela edição dos m elhores m om entos tem  de escolher que tipo de
história desej a privilegiar. Esse ano, pela prim eira vez, eles estão contando um a história de
am or. Sei que Peeta e eu vencem os, m as um a quantidade de tem po desproporcional de tem po
foi gasta conosco, desde o início. Mas estou contente, porque isso acaba apoiando toda aquela
coisa dos loucam ente apaixonados que é a m inha defesa por haver desafiado a Capitol, e ainda
por cim a significa que nós não terem os m uito tem po para sentir rem orso pelas m ortes.
A prim eira hora fora focaliza os eventos que antecederam  a entrada na arena, a colheita, a
viagem  de carruagem  pela Capitol, nossas notas no treinam ento e nossas entrevistas. Há um a
espécie de trilha sonora enaltecedora am parando as im agens que as torna duplam ente
horríveis porque, é claro, quase todos que aparecem  na tela j á estão m ortos.
Assim  que chegam os à arena, há um a cobertura detalhada do banho de sangue e então os
diretores basicam ente alternam  entre tom adas dos tributos m orrendo e tom adas de nós dois.
A m aioria de Peeta, na verdade, é inegável que ele carregou nos om bros o negócio do
rom ance. Agora vej o o que o público viu, com o ele enganou os Profissionais a m eu respeito,
perm aneceu acordado a noite inteira em baixo da árvore das teleguiadas, lutou com  Cato para
que eu escapasse e, m esm o enquanto estava deitado na lam a, sussurou m eu nom e durante o
sono. Com parada a ele, eu pareço um a desalm ada – lançando bolas de fogo, deixando cair


ninhos de vespas e explodindo suprim entos – até com eçar a rastrear Rue. Eles m ostram  sua
m orte intelgram ente, o arrem esso da lança, m inha fracassada tentativa de resgate, m inha
flecha atravessando a garganta do garoto do Distrito 1, os últim os suspiros de Rue em  m eus
braços. E a canção. Apareço cantando todas as notas da canção. Algo dentro de m im  se fecha
e fico insensível a tudo. É com o assistir a pessoas totalm ente estranhas em  outra edição dos
Jogos Vorazes. Mas reparo que eles om item  a parte em  que cubro de flores.
Certo. Porque até isso tem  cheiro de rebelião.
As coisas m elhoram  para m im  no m om ento em  que eles anunciam  que dois tributos do
m esm o distrito podem  ficar vivos e grito o nom e de Peeta, e depois tapo a boca com  a m ão. Se
pareci indiferente a ele antes, com penso agora, encontrando-o, cuidando para que ele volte a
ter saúde, indo ao ágape em  busca de m edicam entos e sendo bastante liberal com  os m eus
beij os.
Obj etivam ente, consigo ver que as bestas e a m orte de Cato são tão hediondas agora quanto
antes, m as, ainda sim , é com o se tudo isso estivesse acontecendo com  pessoas que nunca vi na
vida.
Então, chega o episódio das am oras. Posso ouvir o público pedindo silêncio, disposto a não
perder nada. Um a onda de gratidão aos diretores do film e tom a conta de m im  quando vej o
que eles term inam  não com  o anúncio de nossa vitória, m as com igo dando socos na porta de
vidro do aerodeslizador, berrando por Peeta enquanto eles tentam  ressuscitá-lo.
Se tom arm os com o base os critérios que garantirão m inha sobrevivência a partir de agora,
esse é o m eu m elhor m om ento em  toda a noite.
O hino está sendo tocado novam ente e nós nos levantam os quando o Presidente Snow em
pessoa sobe ao palco seguido de um a garotinha carregando um a alm ofada onde se vê um a
coroa. Só há um a coroa, entretanto, e dá para ouvir a perplexidade da m ultidão – qual das
cabeças receberá a coroa? – até que o Presidente Snow torce o obj eto, separando-o em  duas
m etades. Ele coloca a prim eira m etade na testa de Peeta com  um  sorriso. Ele ainda sorrindo
quando coloca a segunda m etade em  m inha cabeça, m as seus olhos, apenas alguns
centím etros distantes dos m eus, estão tão im placáveis quanto os de um a serpente.
É ai que percebo que, m uito em bora nós dois tivéssem os a intenção de com er am oras, sou eu a
culpada por ter tido a idieia. Eu sou a instigadora. Sou eu que m erece a punição.
Muitas m esuras e saudações entusiasm adas se seguem . Meu braço está a ponto de cair de tanto
acenar para a m ultidão quando Caesar Flickerm an finalm ente dá o boa-noite ao público,
lem brando a todos que sintonizem  am anhã para acom panhar as últim as entrevistas. Com o se
houvesse alternativa.
Peeta e eu som os conduzidos até a m ansão do Presidente para o Banquete da Vitória, onde


tem os m uito pouco tem po para com er, j á que funcionários da Capitol e patrocionadores
particularm ente generosos acotovelam -se no cam inho tentando tirar fotos conosco. Rostos e
m ais rostos resplandecentes despontam  de todos os lados, cada vez m ais em briagados à
m edida que a noite avança. Ocasionalm ente, vislum bro Hay m itch, o que é reconfortante, ou o
Presidente Snow, o que é aterrorizante, m as continuo rindo e agradecendo as pessoas e
sorrindo para as fotos. A única coisa que nunca faço é soltar a m ão de Peeta.
O sol está com eçando a surgir no horizonte quando nos dispersam os de volta ao décim o
segundo andar do Centro de Treinam ento. Im agino que agora vou poder finalm ente conversar
a sós com  Peeta, m as Hay m itch o m anda ir com  Portia arrum ar algum a coisa apropriada
para a entrevista e m e acom panha pessoalm ente até os m eus aposentos.
“Por que não posso falar com  ele,” pergunto.
“Vai ter tem po de sobra pra falar com  ele quando a gente chegar em  casa,” diz Hay m itch.
“Vai dorm ir, você vai estar no ar às duas.”
Apesar da interferência apressada de Hay m itch, estou determ inada a ver Peeta privadam ente.
Depois de virar e revisar na cam a por algum as horas, vou até o corredor. Meu prim eiro
pensam ento é verificar o telhado, m as está vazio. Mesm o as ruas da cidade bem  abaixo estão
desertas após a celebração da noite de ontem . Volto para a cam a por um  tem po e então decido
ir diretam ente ao quarto dele, m as quando tento girar a m açaneta, descubro que a porta do
m eu quarto foi trancada pelo lado de fora. Suspeito de Hay m itch, a princípio, m as sinto um
tem or m uito m ais insidioso de que a Capitol possa estar nos m onitorando e nos confinando.
Estou im possibilitada de escapar desde qué e os Jogos Vorazes com eçaram , m as isso aqui é
diferente, m uito m ais pessoal. Isso aqui m e dá a sensação de que fui aprisionada por um  crim e
e que estou aguardando a sentença.
Volto rapidam ente para a cam a e finj o dorm ir até que Effie Trinket aparece para m e alertar
para o com eço de m ais um  ”grande, grande, grande dia!”.
Tenho m ais ou m enos cinco m inutos para com er um a tij ela de grãos refogados antes da
chegada da equipe de preparação. Tudo o que tenho de dizer é: “A m ultidão adorou vocês!” e
é desnecessário falar pelas próxim as horas. Quando Cinna aparece, ele dispensa todo m undo e
m e dá um  vestido branco bem  extravagante e sapatos cor-de-rosa. Em  seguida, aj usta
pessoalm ente m inha m aquiagem  até parecer que estou irradiando um  brilho suave e rosado.
Ficam os conversando, m as estou com  m edo de perguntar a ele algum a coisa realm ente
im portante porque, depois do incidente da porta, não posso m e livrar da sensação de estar
sendo constantem ente observada.
A entrevista acontece na sala de estar ao fim  do corredor. Um  espaço foi reservado e o sofá
do am or está agora em  outra posição e cercado de vasos com  flores verm elhas e rosas. Só há


um  punhado de câm eras para registrar o evento. Pelo m enos não há plateia no local.
Caesar Flickerm an m e dá um  abraço afetuoso quando adentro o local. “Congratulações,
Katniss. Com o está?”
“Bem . Nervosa com  a entrevista,” respondo.
“Não fique. Será um a experiência agradabilíssim a,” diz ele, dando um  tapinha encoraj ador
em  m inha bochecha.
“Não sou m uito boa em  falar sobre m im  m esm a,” digo.
“Você não com eterá nenhum  deslize,” ele diz.
E penso, Oh, Caesar, se ao m enos isso fosse verdade. A verdade é que o Presidente Snow deve
estar preparando algum a espécie de “acidente” para m im  enquanto estiverm os conversando.
Então, Peeta aparece, vistoso em  verm elho e branco, puxando-m e para o lado. “Quase não
consigo te ver. Hay m itch parece em penhado em  m anter a gente afastado.” Hay m itch, na
verdade, está em prenhado em  nos m anter vivos, m as há ouvidos dem ais nos escutando, de
m odo que digo apenas, “É m esm o, ele tem  estado m uito responsável ultim am ente.”
“Bem , só falta essa entrevista e voltam os pra casa. Aí ele não m ais poder ficar vigiando a
gente o tem po todo” ele diz.
Sinto um a espécie de arrepio percorrendo-m e o corpo e não disponho de tem po para analisar o
m otivo, porque eles j á estão à nossa espera. Nós nos sentam os no sofá do am or com  um a certa
form alidade, m as Caesar diz, “Ah, vam os lá, pode se enroscar nele se quiser. Fica m uito
bonitinho.” Então, levanto os pés e Peeta m e puxa para perto dele.
Alguém  faz a contagem  regressiva e, num  átim o, nós estam os sendo transm itidos ao vivo para
todo o país. Caesar Flickerm an é m aravilhoso, im plica, faz piada, se engasga quando a ocasião
é propícia. Ele e Peeta j á possuem  a cum plicidade que estabeleceram  naquela noite da
prim eira entrevista, aquele estado de espírito alegre, então, eu apenas sorrio bastante e tento
falar o m enos possível. Enfim , tenho de falar um  pouco, m as, sem pre que posso, redireciono a
conversa para Peeta.
Mas chega um  m om ento em  que Caesar com eça a colocar questões que dem andam  respostas
com pletas. “Bem , Peeta, sabem os, pelos dias que passam os naquela caverna, que foi am or à
prim eira vista de sua parte desde quando, os cinco anos de idade?” pergunta Caesar.
“Desde o m om ento que pus os olhos nela pela prim eira vez,” diz Peeta.
“Mas, Katniss, que coisa, hein? Im agino que a parte m ais excitante para o público tenha sido
assistir a você cedendo ao encantos dele. Quando você se deu conta de que estava apaixonada


por ele?” pergunta Caesar.
“Hum , essa é difícil...” Dou um  risinho leve e olho para as m inhas m ãos. Socorro.
“Bem , eu sei quando a coisa m e tocou. Na noite em  que você gritou o nom e dele daquela
árvore,” diz Caesar.
Obrigada Caesar!, penso com igo m esm a, e desenvolvo a idéia.
“Foi m esm o, acho que foi lá. É o seguinte, até aquele m om ento, sim plesm ente tentava não
pensar quais poderiam  ser os m eus sentim entos, falando com  toda honestidade, porque a coisa
toda era m uito confusa e im aginar que eu realm ente sentia algum a coisa por ele só pioraria
tudo ainda m ais. Mas aí, naquela árvore, tudo m udou.”
“Por que você acha que isso aconteceu?” dem anda Caesar.
“Talvez... porque pela prim eira vez... haveria um a chance de eu ficar perto dele,” digo.
Atrás do cam eram an, vej o Hay m itch dando um a espécie de rosnado de alívio e sei que fiz a
coisa certa. Caesar pega um  lenço e precisa de um  tem po porque está em ocionado dem ais.
Sinto Peeta pressionando a testa na m inha têm pora e em  seguida perguntando, “Então, agora
que estou perto de você, o que é que você vai fazer com igo?
Volto-m e para ele e digo, “Vou te colocar em  algum  lugar onde você não possa se
m achucar.” E, quando ele m e beij a, as pessoas da sala dão um  suspiro.
Para Caesar, esse é o m om ento natural para engatar a conversa com  todas as form as de
ferim entos de que fom os vítim as na arena, queim aduras, ferroadas e perfurações as m ais
diversas. Mas só esqueço que estou na frente das câm eras quando o assunto passa a ser as
bestas. E quando Caesar pergunta a Peeta com o sua “nova perna” está funcionando.
“Nova perna?” E não consigo evitar levantar a barra da calça de Peeta. Oh, não,” sussurro,
tocando o equipam ento de m etal e plástico que subtituiu a carne.
“Ninguém  contou pra você?” pergunta Caesar, delicadam ente. Balanço a cabeça.
“Eu não tive oportunidade,” diz Peeta, dando ligeiram ente de om bros.
“É m inha culpa,” digo. “Porque usei aquele torniquete.”
“Sim , é culpa sua eu estar vivo,” diz Peeta.
“Ele tem  razão,” diz Caesar. “Ele certam ente teria sangrado até m orrer se não fosse por isso.”
Im agino que isso sej a verdade, m as não consigo deixar de m e sentir chateada com  relação a
isso, a ponto de sentir vontade de chorar, m as aí lem bro que todo o país está m e assistindo,


então, sim plesm ente enterro m eu rosto na cam isa de Peeta. Eles levam  alguns m inutos para
m e convencer a tirar o rosto da cam isa porque lá é bem  m ais confortável, ninguém  pode m e
ver. E quando reapareço, Caesar para um  pouco de m e fazer perguntas para que eu tenha
tem po de m e recuperar. Na realidade, ele m e deixa em  paz até o episódio das am oras.
“Katniss, sei que você acabou de ter um  choque, m as sou obrigado a perguntar. No m om ento
em  que você pegou aquelas am oras, o que se passava em  sua cabeça?” ele diz.
Faço um a longa pausa antes de responder, tentando organizar m eus pensam entos. Esse é o
m om ento crucial, que decidirá se desafiei m esm o a Capitol ou fiquei tão louca com  a
perspectiva de perder Peeta que não posso ser responsabilizada por m inhas ações. O incidente
parece clam ar por um  grande e dram ático discurso, m as tudo o que sai da m inha boca é um a
frase quase inaudível, “Não sei, eu sim plesm ente... não consegui suportar a ideia de... viver
sem  ele”
“Peeta? Algum a coisa a acrescentar?” pergunta Caesar.
“Não, acho que isso serve para nós dois,” diz.
Caesar faz um  sinal e a entrevista se encerra. Todos estão rindo e chorando e se abraçando,
m as ainda não tenho certeza até alcançar Hay m itch. “Foi bom ?” sussurro.
“Perfeito,” responde ele.
Volto ao quarto para pegar algum as coisas e descubro que não há nada a ser pego a não ser o
broche com  o tordo que Madge m e deu. Alguém  o devolveu em  m eu quarto depois dos
Gam es. Eles nos conduzem  pelas ruas em  um  carro de j anelas escuras, e o trem  está
esperando por nós. Quase não tem os tem po de nos despedir de Cinna e Portia, m as terem os de
nos encontrar daqui a alguns m eses, quando farem os a turnê pelos distritos para participarm os
de várias cerim ônias de com em oração pela vitória. É a m aneira de a Capitol lem brar às
pessoas que os Hunger Gam es nunca se encerram  de fato.
Nós recebem os várias m edalhas inúteis e todos terão de fingir que nos am am .
O trem  com eça a se m over e nós m ergulham os na noite até ultrapassarm os o túnel, quando
consigo respirar livrem ente pela prim eira vez desde a colheita. Effie está nos acom panhando,
assim  com o Hay m itch, é claro. Nós com eçam os um  farto j antar e nos sentam os em  silêncio
em  frente à televisão para assistir à reprise da entrevista. Com  a Capitol a cada segundo m ais
distante de nós, com eço a pensar na m inha casa. Em  Prim  e em  m inha m ãe. Em  Gale. Peço
licença para trocar o vestido por um a calça e um a cam isa sim ples. À m edida que retiro lenta e
cuidadosam ente m inha m aquiagem  do rosto e prendo os cabelos, com eço a m e transform ar
novam ente em  m im  m esm a. Katniss Everdeen. Um a garota que m ora na Costura. Caça na
Floresta. Negocia no Hob. Miro o espelho enquanto tento lem brar quem  sou e quem  não sou.
Quando reencontro, a pressão do braço de Peeta em  m eus om bros j á parece bem  distante de


m im .
Quando o trem  faz um a breve parada para reabastecer, nos é perm itido sair para tom ar um
pouco de ar fresco. Não há m ais nenhum a necessidade de serm os vigiados. Peeta e eu
cam inham os ao longo do trilho, de m ãos dadas, e não consigo achar nada para dizer, agora que
estam os sozinhos. Ele para para colher um  m aço de flores silvestres para m im . Quando ele m e
entrega, faço um  grande esforço para parecer satisfeita. Porque ele não tem  com o saber que
as flores rosas e brancas são a cobertura das cebolas selvagens e só m e fazem  lem brar das
horas que passei colhendo-as na com panhia de Gale.
Gale. A perspectiva de encontrar Gale em  questão de horas faz m eu estôm ago revirar. Mas
por quê? Não consigo enquadrar bem  a coisa em  m inha m ente. Só sei que é com o se estivesse
m entindo para alguém  que confia em  m im . Ou m ais precisam ente, para duas pessoas. Estive
m e esquivando disso até agora por causa dos Gam es. Mas lá em  casa não haverá Gam es atrás
dos quais poderei m e esconder.
“Algum  problem a?” pergunta Peeta.
“Nada,” respondo. Nós continuam os a cam inhada até o fim  do trem , até onde tenho certeza
quase absoluta de que não há nenhum a câm era escondida nos arbustros rasteiros que
m argeiam  o trilho. Ainda assim  nenhum a palavra m e escapa da boca.
Hay m itch m e assusta ao colocar a m ão em  m inhas costas. Até agora, no m eio do nada, ele
m antém  o tom  de voz baixo. “Excelente trabalho, vocês dois. Basta m anter o ritm o no distrito
até que as câm eras desapareçam . A gente vai se dar bem .” Observo-o retornar ao trem ,
evitando os olhos de Peeta.
“O que ele quis dizer?,” pergunta Peeta.
“É a Capitol. Eles não gostaram  da nossa arm ação com  as am oras,” solto.
“O quê? Do que você está falando?” pergunta ele.
“A coisa pareceu rebelde dem ais. Aí Hay m itch tem  m e orientado nos últim os dias para eu não
piorar tudo,” digo.
“Orientado você? Mas não a m im ,” diz ele.
“Ele sabia que você era suficientem ente esperto para proceder da m aneira correta,” digo.
“Eu não sabia que havia algum  m otivo pra proceder de m aneira correta,” diz Peeta. “Então, o
que você está dizendo é que, nesses últim os dias e tam bém  eu acho que... lá na arena... aquilo
não passou de um a estratégia que vocês dois bolaram ?”
“Não, eu nem  conseguia conversar com  ele na arena, não lem bra?” insisto.


“Não você sabia o que ele queria que você fizesse, não sabia?” diz Peeta. Mordo o lábio.
“Katniss?” Ele solta a m inha m ão e eu dou um  passo à frente, com o se estivesse tentando m e
equilibrar. “As suas atitudes foram  todas em  função dos Gam es,” diz Peeta.
“Nem  todas,” retruco, segurando m inha flores com  força.
“Então quais foram  e quais não foram ? Não, não. Esquece isso. Aposto que a verdadeira
questão é o que vai sobrar quando a gente chegar em  casa,” diz Peeta.
“Não sei. Quanto m ais a gente se aproxim a do Distrito 12, m ais confusa eu fico.” Ele espera
m ais algum a explicação, m as nada acontece.
“Bem , m e avisa quando você tiver algum a resposta,” diz ele, e a dor em  sua voz é perceptível.
Sei que m eus ouvidos estão curados porque, m esm o com  o barulho do m otor, consigo escutar
todos os passos que ele dá de volta ao trem . No m om ento em  que subo a bordo, Peeta j á está
em  seu quarto para passar a noite. Tam bém  não o vej o na m anhã seguinte. Na realidade, ele
só reaparece quando estam os entrando no Distrito 12. Ele m e acena com  a cabeça, o rosto
inexpressivo.
Quero dizer a ele que sua atitude não é j usta. Que nós éram os estranhos. Que fiz o que era
preciso para perm anecer viva, para que nós dois perm anecêssem os vivos na arena. Que não
tenho com o explicar com o são as coisas com  Gale porque não conheço nem  a m im  m esm a.
Que não é um a boa ideia m e am ar porque nunca vou m e casar m esm o e ele ia acabar m e
odiando m ais cedo ou m ais tarde. Que não im porta se tenho algum  sentim ento por ele, porque
j am ais serei capaz de proporcionar o tipo de am or que se transform a em  um a fam ília, em
filhos. E com o ele será capaz? Com o ele será capaz depois de tudo o que passam os naquela
arena?
Tam bém  quero dizer a ele o quanto j á estou sentindo a sua falta. Mas isso não seria j usto de
m inha parte.
Então, apenas ficam os parados em  silêncio, observando nossa pequena e encardida estação
crescer à nossa volta. Pela j anela, vej o que a plataform a está repleto de câm eras. Todos
devem  estar assistindo ansiosam ente à nossa volta para casa.
Com  o canto do olho, vej o Peeta estender a m ão. Olho para ele, sem  m uita certeza. “Um a
últim a vez? Para o público?” diz ele. Sua voz não está zangada, o que é pior. O garoto do pão j á
está m e escapando.
Pego sua m ão, segurando com  firm eza, preparando-m e para as câm eras e abom inando o
m om ento que finalm ente terei de soltá-la.


-
FIM DO LIVRO UM

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