ordem é impossível>> Na verdade, é difícil separar na prática pedagógica os
dois processos organização e ensino , já que em qualquer comporta
mento do professor na sala ambos estão presentes.
Confirmando esta realidade existem as observações de muitos critivo, é totalmente limitada do ponto de vista pedagógico e rela
cional. A importância crescente atribuída à sala de aula enquanto cenário
onde os comportamentos de ensino aprendizagem têm lugar e, como tal,
local por excelência de compreensão e aplicação dos fenómenos de
aprendizagem, é recente Com efeito, durante muito tempo, a sala de aula
foi considerada como uma <> de que pouco se falava e de que
pouco se sabia.
Foi a partir dos anos sessenta que muitos investigadores a elegeram
como objecto de estudo e, paralelamente, passaram a atribuir aos fenóme
nos aí vividos uma importância vital no processo de ensino e de a rendiza
gemP
A sala de aula enquanto cenário pedagógico tem, segundo Doyle ( I 986),
seis características que influenciam os comportamentos do professor e dos
alunos, e que são:
Multidimensionalidade esta característica refere se à quantidade
e qualidade dos acontecimentos que se passam na dasse e entre osuais o
professor tem que decidir a resposta a optar Por exemplo, se vai qepre
ender um aluno que está a fazer barulho, ou, pelo contrário, ignorar esse
comportamento e continuar a expor a matéria; se vai explorar com o aluno
que deu uma resposta errada o porquê do erro, fazendo esperar o resto
da turma, ou se, pelo contrário, vai continuar com a sessão das perguntas e
deixar para mais tarde a explicação
Simultaneidade os acontecimentos ocorrem em simultâneo De
facto, o professor tem de estar alerta em cada momento para um conjunto
elevado de ocorrências Se está a trabalhar com um grupo terá que, por
exemplo, controlar com o olhar o trabalho dos outros grupos, orientar as
tarefas de outros estudantes, avaliar o tipo de dificuldades que estão a sen
tir e ainda perspectivar as estratégias a utilizar face aos acontecimentos im
previstos.
Imediaticidade os acontecimentos na sala não só ocorrem em si
multâneo como rapidamente. Jackson ( I 968, citado por Doyle, I 986 , a
partir de observações em várias salas de aula, mostra que os profess es
interagem com cada aluno, num dia de aula, cerca de 500 vezes (olhar,
contacto fisico, trocas verbais e não verbais). Se multiplicarmos esse número
por 25 alunos, apercebemo nos da quantidade de comportamentos que
são emitidos numa sala pelo professor e facilmente damos conta da im
possibilidade de controlar todas as interacções
Imprevisibilidade esta quarta característica diz respeito à incapaci
dade de prever o desenlace dos comportamentos Este facto faz com que
muitas das vezes os planos traçados pelo professor para determinado dia
tenham que ser revistos face à situação.
Lugar público a maior parte dos comportamentos, se não todos,
são vistos e ouvidos pela maior parte dos alunos. Assim, quando o profes
sor age de determinada maneira para com um aluno está a ser observado
pelos outros, ou seja, a ser avaliado. Se o professor permite ou pune um
determinado aluno por um comportamento, indirectamente toda a turma
vai saber quais são as regras que é necessário seguir.
Historicidade toda a dasse tem uma história Como Doyle refere, a
vivência em comum de cinco horas por dia, durante cinco dias por semana,
ao longo de vários meses e anos, faz com que se acumulem um conjunto
de experiências, rotinas, normas e modos de estar. É assim que determi
nadas situações ou comportamentos só podem ser lidos à luz do cenário
onde ocorrem, ou seja, numa sala com determinada história, fruto da dinâ
mica dos vectores atrás descritos.
As diversas dinâmicas levam a que cada sala seja única e que o mesmo
professor também se comporte de maneira diferente consoante os alunos
que estão à sua frente. Quando um novo ano se inicia, quer o professor
quer os alunos estão já na posse, na maior parte das vezes, de muitas
informações acerca uns dos outros Apesar deste conhecimento prévio ter
muitas vezes vantagens, também é em si, não raramente, impeditivo de
mudanças quer para o professor quer para os alunos. Cada um dos ele
mentos tem expectativas, condicionando desta forma os acontecimentos.
Não é raro ouvirmos aos alunos: aquele professor é muito exigente, ou
aquele é muito permissivo, e, claro está, os alunos vão frequentemente
testar a validade das suas expectativas
Este entendimerito da sala de aula facilita nos a compreensão da comple
xidade do processo de ensino aprendizagem. Estas características tecem,
pois, o pano de fundo onde as aprendizagens e não aprendizagens, os com
portamentos adaptados e não adaptados, as motivações e não motivações
devem ser referenciadas.
Para Emmer ( I 985), a organização da sala de aula inclui o conjunto de
comportamentos e de actividades do professor que estão primariamente
direccionados para obter a cooperação e envolvimento activo dos estu
dantes nas tarefas escolares. Constituem exemplo disso o tipo de arranjo
do espaço físico da sala, os procedimentos para manter as regras, a orga
nização das rotinas e das transições entre actividades, estratégias para
manter a atenção dos estudantes..., ou seja, todo o conjunto de activi
dades que irão permitir que o ensino ocorra.
A pergunta que se coloca é então a de saber quais os critérios para
avaliar a eficácia de uma determinada organização da sala Contudo, a res
posta a esta questão passa pela resposta a uma outra: <
volvidos activamente, isto é, produtivamente, nas actividades da sala?>>
Realmente para que a aprendizagem ocorra não basta que o ensino acon
teça condição necessária, mas não suficiente , torna se necessário
que os alunos estejam com atenção. Ora, a investigação tem sido pródiga
em demonstrar a relação positiva entre uma organização eficaz da sala, a
atenção dos estudantes (tempo na tarefa) e os resultados académicos. Esta
noção de organização efcaz está associada aos comportamentos proac
tivos do professor mais do que aos reactivos
Situam se na primeira categoria os comportamentos de preparação
das aulas, de organização espacial em função da actividade que vai ser pro
posta, os comportamentos que se irão utilizar para motivar os alunos,
a forma como as transições e as rotinas são implementadas São, assim,
considerados comportamentos proactivos aqueles em que o professor é
capaz de antecipar as situações que vão acontecer, ao mesmo tempo que
prevê estratégias para as possíveis disfunções, evitando assim perdas de
tempo associadas às transições. Contrariamente, aos professores cujos com
portamentos são maioritariamente reactivos, as situações impõem se
Ihes, sendo dominados pelas ocorrências momentâneas e acidentais, gas
tando uma grande quantidade de tempo e de energia a organizar a classe
de forma a criar as oportunidades para que o ensino ocorra
As actividades de ensino são, desse modo, entrecortadas pelas situa
ções de estabelecimento da ordem, longas transições para mudança de
actividade, quebrando assim o ritmo da aula, ao mesmo tempo que faz os
alunos prenderem se a aspectos superficiais.
Não é, pois, de admirar que vários estudos tenham demonstrado que
a diferença entre professores mais ou menos eficazes se situa na capaci
dade de evitar os comportamentos perturbadores do funcionamento das
actividades e na capacidade de estruturar as situações de ensino aprendi
zagem em função das necessidades de todos os estudantes.
São exemplo disso os estudos de Brophy e Good ( I 986) que, a partir
de uma revisão de investigações realizadas em 4 I classes do 2o ano e 54
do 5o ano, constatam <
classes onde os professores são bons organizadores, maximizam o tempo
atribuído ao ensino e minimizam o tempo dedicado à preparação, procedi
mento e disciplina>> Esta pesquisa vai de encontro ao trabalho de )ones
( I 979). Este autor, a partir de observações feitas em várias escolas primá
rias dos Estados Unidos, põe em relevo o pouco envolvimento dos estu
dantes nas actividades, referindo que <
buído ao ensino pelo professor é perdido devido aos comportamentos de
desatenção dos alunos>>. A resultados similares chegam Whedall e Glynn
( I 989) em Inglaterra. Em Portugal, se bem que não conheçamos nenhum
estudo sistemático sobre o assunto, estamos em crer que a realidade seja
muito próxima desta, significando isso que o dia de aula fica bastante mais
curto.
Face a estes resultádos podemos então assumir a definição de Kounin
( I 970), segundo o qual uma organização de sala bem sucedida é aque
la que <
um alto nível de envolvimento na tarefa>>. Através da análise de vídeos de
classes de alunos dos cinco aos onze anos o autor pode observar alguns
comportamentos dos professores que aumentavam o envolvimento dos
estudantes e subsequente rendimento Assim:
¨ Os professores comunicavam à classe, através do seu comportamento,
que sabiam o que cada um estava a fazer Conseguiam também fazer vá
rias coisas ao mesmo tempo.
¨ Os professores conseguiam dar resposta a dois acontecimentos em si
multâneo. Não precisavam de interromper o que estavam a fazer (ouvir,
por exemplo a leitura de um aluno) enquanto se dirigiam a um outro estu
dante desatento.
¨ Os professores com uma organização eficaz providenciam estratégias
para ajudar as crianças com difculdades de aprendizagem colocam
nas num espaço onde é mais fácil supervisionar o comportamento, con
trolam a todo o tempo se estão a fazer o trabalho correctamente ou
se estão com dificuldades, e escrevem o que pretendem que se faça para
que estes alunos não se percam durante a tarefa (Brophy e Everston,
I976). Uma outra característica associada aos professores com uma boa
organização de sala de aula é a flexibilidade e a clareza nas tarefas, isto é,
cada criança pode trabalhar num exercício que esteja de acordo com
o seu nível de conhecimento, tendo compreendido bem as instruções da
tarefa.
Todas estas estratégias fazem com que o professor não precise de
gastar tanto tempo a chamar à atenção dos alunos, ficando mais dispo
nível para o ensino. O clima relacional da sala fica aliviado porque é menos
admoestador Ao contrário do que se poderia supor numa primeira leitura,
o ambiente nestas classes não é de autoritarismo, vivendo se antes num
clima agradável de prazer (Anderson, Everston e Emmer, I 980).
Foram referenciadas, até este momento, algumas estratégias que estão
associadas a uma organização eficaz quer para os alunos quer para o pro
fessor. Veremos de seguida uma organização possível de um dia de aula
Muitos professores referem a importâncìa que tem o ínicio do trabalho
nos seus aspectos simbólicos e reais A chegada à escola necessita de um
espaço de passagem, que prepare o aluno para as actividades do dia.
Deverá ser entendido como o <>, o espaço para desper
tar e que marca a transição entre o exterior casa, rua e o interior
as tarefas escolares. Assim, uma canção, uma história, o espaço das
novidades ou um jogo que promova a convivialidade e a coesão do grupo
são certamente algumas das formas agradáveis de receber os alunos A
nossa experiência com professores tem nos mostrado que os docentes
com menos problemas de comportamento e de aprendizagem começam
as activìdades comunicando, de várias maneiras, aos alunos como é bom
estarem juntos a trabalhar
O que vai ser ensinado e aprendido em cada dia deve ter sido objecto
de uma preparação prévia, isto é, o professor deverá ter um guião, não
abstracto, mas pensado em função do que ele conhece daqueles alunos
e do currículo Não propomos, evidentemente, que essa planificação seja
rígida Pretende se, antes, que ela possua uma margem de flexibilidade
capaz de a tornar sensível aos acontecimentos significativos, permitindo
assim, que o professor os possa aproveitar como material de trabalho.
Consideramos, aliás, que é mais fácil esse reaproveitamento quando há
uma estrutura base organizadora do processo Momentos há em que toda
a planificação para aquele dia deve ser abandonada, porque o importante
está a acontecer espontaneamente e não pode ser perdido.
Dessa planificação poderão fazer parte actividades onde os conheci
mentos são estruturados e transmitidos pelo professor e actividades onde
os conhecimentos são estruturados e/ou produzidos pelos alunos.
Uma actividade escolar, quer no início quer no fim, levanta frequen
temente problemas de aprendizagem e de disciplina: de aprendizagem,
porque para alguns alunos é difícil a passagem de um tipo de conteúdo
para outro, ou mesmo de uma metodologia para outra; de disciplina,
porque muitas vezes os alunos não percebem as instruções, ou porque
não foram claramente enunciadas, ou porque elas variam de dia para dia,
não havendo rotinas constituídas.
A importância das rotinas está claramente demonstrada pois consti
tuem momentos estruturantes das actividades e dos comportamentos dos
alunos Muito do tempo perdido numa sala, do cansaço do professor e dos
alunos, ocorre na mudança de actividades. Vários professores dizem nos
que não mudam de tipo de estratégia, por exemplo, pôr os alunos a tra
balhar em grupo, porque a confusão é muita Outros referem nos que os
momentos mais difíceis de gerir são os de mudança de conteúdo, por
exemplo, de Matemática para Português Perdem, dizem eles, tanto tempo
aí que é por isso que depois não ficam com tempo para trabalhar com os
alunos a expressão plástica ou a educação física. O que se passa nessas salas
é a inexistência de regras de funcionamento, o que leva a um subsequente
aproveitamento dessas alturas pelos estudantes para se libertarem dos
constrangimentos das actividades estruturadas. Assistimos, sem dúvida, a
uma má estruturação do tempo, já que não foram previstos espaços reais
de descanso e a confusão existente acaba por ter efeitos contrários,
cansando e irritando professor e alunos e constituindo muitas vezes as
alturas em que occorrem o maior número reprimendas.
ALGUMAS VARIåVEIS ECOLGICAS QUE INFLUENCIAM
O COMPORTAMENTO DO PROFESSOR NA SALA
A posição espacial dos alunos na sala de aula tem sido uma variável
muito investigada em Educação. Os primeiros trabalhos que a abordam
datam de I 92 I , com Griffith, e de I 934, com Dawe Nessas pesquisas
foram estabelecidas relações entre ocupação espacial dos alunos e me
didas de realização académica
É assim que Whelddall e Gllyn ( I 989), a partir de uma revisão bibilio
gráfica sobre os efeitos da disposição espacial dos alunos, salientam que
esta é uma das variáveis ecológicas que exerce maior influência no com
portamento dos estudantes e do próprio professor
Estes estudos têm demonstrado que quando se compara a disposição
das carteiras em filas com a disposição em círculo é na primeira situação
que os alunos estão mais tempo na tarefa. Algumas das razões explicativas
para tal resultado prendem se com a menor distractibilidade que esta
situação implicaria. Na disposição em círculo, os estudantes têm muito
maior contacto ocular e corporal uns com os outros, o que implica um
maior número de interacções entre si A situação em filas proporciona um
menor número de interacções dos estudantes entre si e um maior controlo
da atenção por parte do professor.
Contudo, mesmo na disposição em filas, o lugar onde os alunos se
encontram não é indiferente ao seu comportamento de atenção na sala ou
ao comportamento do professor Ainda acerca da localização dos alunos
na sala, Stires ( I 980) refere que <
atenção em qualquer lugar da sala, algumas localizações facilitam esse acto,
enquanto outras o tornam difícil>>. É que a atenção do professor poderá
localizar se preferencialmente em determinadas zonas da sala. Tal circuns
tância ditaria que os alunos inseridos nessas zonas tivessem mais proba
bilidade de serem observados ou interrogados. A pressão a que estarão
sujeitos levá los ia a envolverem se com maior intensidade nas actividades
académicas (Sanches Ferreira, I 99 I ).
Com efeito, Adams ( I 968), através da observação de turmas no pri
mário e secundário, notou que a zona fronta central da sala era o espaço
que concentrava as maiores interacções verbais entre professores e alunos.
Delefes e )ackson ( I 972) referem que na sua amostra os sujeitos sentados
nas últimas filas eram menos solicitados pelos professores. Como o tempo