conjunto de atitudes que permitem valorizar as potencialidades de cada
um>>.
Assim, para além de saber se o aluno alcançou ou não os objectivos
previstos, é importante que a avaliação permita detectar dificuldades, criar
condições de desbloqueio, estimular a progressão da aprendizagem.
Consonante com este posicionamento, avaliar pode ser então: a per
gunta que é feita quer pelo professor quer pelo aluno e a resposta obtida;
a supervisão do professor quando os alunos estão a trabalhar individual
mente ou em grupo; o ritmo com que decorre a aula; o interesse manifes
tado pela turma; as transferências para a vida exterior à escola suscitadas
pelos conteúdos ensinados; as fichas ou pequenos testes inseridos no dia
a dia escolar. . enfim, avaliar é tudo.
Esta avaliação formativa permite ao aluno ir tomando conta das suas
aprendizagens, ao mesmo tempo que melhor se compreende e, portanto,
a não ter receio do acto de avaliaçãoA avaliação formativa, na medida em
que monitoriza todo o processo de ensino aprendizagem, constítui um ins
trumento de autoconhecimento para o aluno: o estudante pode compre
ender melhor o seu estilo cognitivo, os conteúdos que adquiriu e os que pre
cisa de adquirir, a sua maneira típica de reagir às situações de facilidade/difi
culdade, sucesso/fracasso, o seu relacionamento interpessoal, reacção à
aprovação/desaprovação do professor ou colegas.
A riqueza desta avaliação contínua é sìtuar cada aluno no currículo e
favorecer uma detecção precoce das dificuldades ou das potencialidades
de cada um, permitindo, por um lado, um ensino individualizado e, por
outro, não deixar alargar demasiado o leque das diferenças de saber entre
os alunos9.
Do que fcou dito, podemos agora, claramente, diferenciar as duas
posições em jogo: testar e avaliar. Enquanto testar implica expor o aluno
a uma particular série de questões em ordem a obter um resul2ado (Salvia
e Ysseldyke, I978), avaliar, e segundo os mesmos autores, é melhor defi
nido como um processo de recolha de dados com o objectivo de uma
tomada de decisão psico educacional (Quadro I)
Quadro I . Momentos da avaliaçáo directa e contínua
(adaptado de Ysseldyke & Mirkin, I 982)
9 c
caçôes que pemiitem orientar os seus esforços na direcção adequada>>, Cortesão (op. cit.,
pág. 92).
B. A maioria dos autores aceita hoje que a avaliação educacional deve
preceder, acompanhar e encerrar o trabalho do professor A assumpção
deste princípio faz ressaltar que o acto de ensino é, acima de tudo, uma
actividade investigatória onde a observação do real, a elaboração de hipó
teses de actuação e o teste dessas hipóteses constituem as fases essenciais.
A fim de que elas possam ser desempenhadas exige se que o professor
tenha competências para:
situar rigorosamente cada aluno em termos das aprendizagens adqui
ridas e a adquirir
detectar as influências inerentes às condições concretas da sala de aula;
aferir com exactidão os resultados das intervenções
Para proceder a este tipo de avaliação o professor tem ao seu dispor
várias técnicas e instrumentos que Ihe permitem uma avaliação directa e
contínua
Comecemos pela obsewação que, segundo Pasannella, é a arma por
excelência do professor Inscrevendo se na avaliação informal, a obser
vação permite ao professor avaliar
o comportamento individual do aluno;
a dinâmica entre colegas;
a participação em situações de grupo;
as atitudes face às tarefas escolares;
a relação professor/aluno;
a estrutura e organização da sala de aula;
o tipo de métodos e de materiais de ensino utilizados e a sua ade
quabilidade à turma;
as sequências das actividades e dos comportamentos do dia de aula.
Como facilmente se notará, os objectivos deste tipo de observação são
a) descrever os comportamentos de forma objectiva e clara, reduzindo
o carácter subjectivo, e muitas vezes viciado, das interpretações do
professor;
b) clarificar os factores que influenciam o(s) comportamento(s) e deter
minada(s) sequência(s) interactiva(s).
A observação é então um meio de mediatizar o real que se pode ins
crever num contínuo que vai de uma observação espontânea a uma obser
vação mais estruturada e sistemática.
Através da observação o professor pode reduzir o risco das interpre
tações apriorísticas e obter uma melhor compreensão do contexto e da
sequência dos comportamentos. Esta atitude de observação provoca o
encontro do professor com a turma real, por oposição a uma abstracta e
fantasiada, ao mesmo tempo que facilita a construção de uma relação
professor/aluno(s) mais aprofundada.
A obsewação naturalista constitui, muitas das vezes, a primeira fase
do processo observacional e que vai servir para detectar algumas situações
problemáticas. É já um olhar intencional sobre a classe, onde o professor
pretende encontrar o fio condutor que rege as acções naquela sala Desen
rolando este fio condutor, o docente vai dar se conta de que determinadas
sequências de comportamento ocon em tendencialmente em determinados
alunos e em determinadas situações. Ao tomar consciência do carácter
repetitivo funcional ou disfuncional destas sequências, o professor
começa a questionar o porquê dessas ocorrências e sente, então, necessi
dade de instrumentos mais estruturados de análise
Não raro, os professores descobrem, através desta observação natura
lista, que determinado aluno fala frequentemente para o lado, levanta se
sob vários pretextos imensas vezes da carteira, sarrabisca o cademo
ou passa o tempo a olhar para a janela. Várias hipóteses, que necessitam
de ser confirmadas, se podem então colocac será que ele tem todos os dias
algum desses comportamentos?; estará ele a azer desenhos quando eu estou
a ensinar m.atemática e por isso está a ter difìculdades?; será que se eu
for para perto dele o aluno passa a prestar mais atenção?. Estas são algumas
das questões que certamente já todos os profissionais colocaram a si
próprios. As tentativas de resposta podem ser encontradas pelos profes
sores através de técnicas como o registo de frequência, de duração ou
intervalar.
O registo de frequência é uma técnica que se utiliza quando se pre
tende saber o número de vezes de ocorrência de determinado comporta
mento Regista se então numa grelha, que deve conter o cenário de ocor
rência (por exemplo, Matemática) e o tempo da observação (das I 0 às I 2
horas), a frequência do comportamento. A importância deste tipo de re
gisto advém da necessidade de ponderar a gravidade do comportamento e
avaliar a pertinência de uma intervenção específica para essa conduta. Uma
vez feito o registo, podemos então dizer quantas vezes e em que con
textos é que o aluno emitiu alguns desses comportamentos de desatenção:
durante a manhã de segunda feira olhou I 5 vezes para a janela enquanto
nos outros dias da semana só olhou 8 vezes; durante o tempo de expo
sição de matéria nova falou para o lado 7 vezes, ou ainda, quando estava a
realizar individualmente uma ficha no lugar levantou se 5 vezes Este tipo
de registo pode possibilitar uma pista interpretativa e de intervenção. De
facto, face à não aprendizagem do aluno em Matemática deverá o pro
fessor interrogar se até que ponto levantar se tantas vezes do lugar não
é a causa primordial da difculdade. A resposta a este questionar é essencial
para direccionar a intervenção, já que se for este o caso, então a inter
venção situar se á ao nível da organização da sala de aula de foma a con
trolar o comportamento do aluno (conseguir que ele esteja com atenção
aos momentos importantes do ensino) e não ao nível do ensino da ma
téria (por exemplo, dividir o conteúdo a ensinar em passos mais simples).
Contudo, nem sempre os dados recolhidos neste tipo de registo são
suficientes para a compreensão do problema ou para tomar
decisões.
Ainda neste exemplo, o registo de frequência permitiu nos avaliar o
número de vezes que um aluno ou alunos emitiam determinados compor
tamentos impeditivos de aprendizagem Podemos, no entanto, imaginar
uma situação em que o registo de frequência nos diz que o António José
olhou uma vez para a janela e a Sandra 7 vezes No entanto, enquanto o
primeiro esteve 5 minutos seguidos a Sandra perdeu somente 2 minutos
(apesar de ter olhado para a janela 7 vezes) no mesmo comportamento
Assim, o professor que fez o registo porque estava preocupado com esta
aluna descobriu com surpresa que o António José, comparativamente,
perdia mais tempo de ensino. Face a este dado, o professor poderá agora
interrogar se qual dos comportamentos observados é mais prejudicial do
ponto de vista da aprendizagem. São situações como estas, tão vulgares no
quotidiano de uma sala, que tornam necessário muitas vezes optar ou com
plementar o registo de frequência com o registo de duração. Nesta úl
tima técnica, o docente anotará durante quanto tempo o comportamento
ocorreu, começando a registar quando este se inicia e quando termina.
Este mesmo professor, contente com os resultados obtidos na inter
venção que a anterior observação Ihe facultou, decidiu agora aplicar um
outro registo a um aluno que o estava deveras a preocupar. O Francisco
era um daqueles alunos que nunca parava quieto, que estava sempre a
mexer se ou a mexer em alguma coisa, incomodando os colegas. O pro
fessor não sabia por onde começar a intervir, pois parecia Ihe que aquele
aluno nunca estava com atenção. Para estas situações, o registo mais ade
quado é o registo intervalar onde a anotação se faz de 5 em 5 segundos
ou, no máximo, de I 0 em I 0 segundos. Por essa razão é que esta técnica
permite apreender a duração e a frequência do comportamento. De facto,
se um determinado comportamento ocorre em tão curtos períodos de
observação (5 segundos), podemos facilmente aceitar que esteve presente
durante esse intervalo de tempo. Como consequência, o professor pode
afirmar que o aluno, durante os I 0 minutos que durou a observação ( I 20
intervalos de 5 segundos), esteve 70% do tempo, isto é 7 minutos (84 inter
valos de tempo) a emitir comportamentos de fora da tarefa
Estamos conscientes que este tipo de registo não é facilmente utilizável
pelo professor, dado as inúmeras solicitações que uma sala coloca. Apesar
disso, há sítuações, como a anteriormente descrita, que o podem justificar,
senão mesmo exigir. No caso de alunos como o Francisco, que daramente
necessitam num primeiro momento de um projecto educativo indivi
dual, um registo preciso de tempo é indispensável Só conhecendo quanto
tempo é que ele actualmente consegue estar com atenção linha de
base do comportamento é que o professor pode, com sucesso, ela
borar um programa para aumentar progressivamente o tempo na tarefa
deste aluno.
Outra técnica de avaliação informal, de carácter mais académico, é a aná
lise dos produtos permanentes. Esta técnica diz respeito ao aprovei
tamento para localizar <> que o professor pode retirar dos tra
balhos desenvolvidos pelos alunos na sala de aula, tal como fichas, dese
nhos, textos livres e cópias Tal análise permite detectar se determinado
erro ortográfico é frequente e então poderemos estar perante um caso
de desconhecimento gramatical, por exemplo na utilização do som comum
ao C, 5, SS e Ç Assim, uma contabilização simples dos erros não permitiria
detectar a qualidade da dificuldade, pois poderíamos pensar que a aluna
dava geralmente muitos erros quando, de facto, a aluna dava muitos erros,
mas eram sempre nos mesmos casos. A vantagem da análise dos produtos
permanentes é possibilitar avaliar se determinada estratégia ou método de
ensino implementado está ou não a ser eficaz.
Testes referidos a critérios Esta técnica assemelha se às provas de
carácter um pouco mais formal que os docentes fazem para toda a turma
com o objectivo de avaliar as aquisições em determinada unidade curri
cular. Contudo, estas provas podem para o professor ser indicadores do
aproveitamento global da classe e, subsequentemente, do ritmo que ele
deverá imprimir ao ensino. Por exemplo, se ao analisar os resultados de
todos os alunos o professor detecta que 50% deles erravam sistematica
mente determinada pergunta, isso poderá ser interpretado como a neces
sidade de rever esse assunto. No entanto, se esse mesmo erro é só pro
duzido por três ou quatro alunos, provavelmente a decisão já será outra,
como reensinar a matéria a esses estudantes.
Num ou noutro caso trata se de analisar o erro e o porquê, podendo
o professor para isso seguir alguns passos:
examinar o erro (quantidade e qualidade) e estabelecimento de hipó
teses;
questionar o aluno acerca do erro, se necessário;
seleccionar estratégias de ensino que permitam ultrapassar o erro;
avaliar o aluno em diferentes provas que induam erros similares para
ver se este foi ultrapassado.
Lista de comportamentos, escalas tipo ratingi. Estas técnicas
de avaliação podem ser utilizadas com o objectivo de detectar possíveis
problemas vividos pelos alunos. Estes instrumentos podem constituir para
o professor uma primeira lente de identificação de situações que possibi
litem levar, quando necessário, a um olhar a aula com lentes mais finas
Nas listas de comportamento, o professor vai assinalar a presença ou
ausência de determinado comportamento incluído no inventário, enquanto
que nas escalas tipo <> o professor terá que avaliar o aluno numa
escala progressiva (de um a cinco, ou de raramente a frequentemente, ou
de mau a muitó bom...)
Estes instrumentos 'o podem ser utilizados para detecção de compor
o Estes instrumentos podem ser construídos pelo professor ou recorrer se a listas já divulgadas.
tamentos que podem ser indicadores de dificuldades auditivas ou visuais,
atitudes face ao trabalho, relações com os colegas, etc. Não pretendem,
pois, classificar os alunos, mas antes chamar a atenção do professor acerca
de determinados comportamentos que podem ser impeditivos de aprendi
zagem, ou, pelo menos, reveladores de futuras dificuldades.
Estes mesmos recursos existem para avaliar o cenário educativo e o
clima vivencial. São exemplo disso as listas abrangendo o tipo do mobiliá
rio, de espaços diferenciados de ensino, de organização temporal das acti
vidades, de regras, rituais e interacções dentro e fora da aula, etc.
Na sala de aula, dada a rapidez e a simultaneidade com que os aconteci
mentos ocorrem, o professor, muitas vezes, centraliza a sua atenção no pro
blema, não o perspectivando enquanto acto final de determinada sequência
interaccional. Muitas destas situações geram conflitos relacionais que pode
riam ser evitados se detectados precocemente. Esperamos que este capí
tulo possa dar pistas que permitam antecipar e gerir alguns desses compor
tamentos Sabemos, no entanto, que há situações que devido à sua comple
xidade necessitam de uma intervenção mais sistemática e intencionalizada.
INTERVENÇÃO
Talvez seja fácil compreendermos a situação vivida por alguns alunos
se reflectirmos na nossa história de vida e na quantidade de vezes que