ambientais antecedentes (estímulos descriminativos) e a circunstâncias am
bientais consequentes (reforço e punição)>>.
Revertendo estas explicações para o domínio da sala de aula, interessa
então compreender porque é que os estudantes aprendem o que apren
dem, ou se comportam de determinada maneira. A explicação comporta
mental refere que os padrões específicos do comportamento de detem,i
nado estudante se devem aos efeitos funcionais entre os estímulos antece
dentes (ambiente da sala de aula, tipo de matéria a aprender, actividade
em curso, interacções grupais. .) e consequentes (resposta do profe5sor
ou dos colegas a esse comportamento). É a partir desta interacçáo que
o aluno vai construir a representação que tem de si enquanto membro
daquele grupo, o que faz com que se possa afimar que todo o compor
tamento seja adaptado ou desadaptado é aprendido.
Segundo esta teoria, os comportamentos na sala de aula podem ser
explicados à luz de cinco postulados (adaptado de Wheldall and Merrett,
I 9 84)
O ensino diz respeito ao observável
Para esta teoria os professores devem preocupár se com o que o aluno
faz actualmente, isto é, centrar se no comportamento, em vez de especular
acerca das suas razões ocultas. Assim, a considerações como a Susana tra
balha bem a primeira meia hora e a partir daí fica desinteressada, um com
portamentalista dirá, na primeira meia hora a Susana faz os I 0 problemas
todos certos, enquanto na segunda meia hora só responde a dois.
Ao optar por se centrar no aspecto observável não implica que não
se reconheça que há sentimentos envolvidos, mas antes que podem ser
melhor entendidos, e posteriormente explicados, se descrevermos factual
mente o comportamento.
A maior parte dos comportamentos na classe são aprendidos
A maior parte dos comportamentos são de facto aprendidos através da
interacção com a fami1ia, os colegas, a escola e o meio envolvente Tal não
implica negar os factores genéticos, mas antes rzconhecer que enquanto pode
mos fazer muito pouco no meìo intemo da criança, podemos, pelo contrário,
oferecer Ihe meios que sejam mais fáceis para ela aprender A criança pode
ser ajudada a aprender comportamentos apropriados e novas competências.
A aprendizagem envolve mudança no comportamento
A única forma de nós sabermos se houve aprendizagem é observar
mos se houve mudanças no comportamento. Em vez de se dizer parece
me que a Marta tem agora uma atitude diferente em relação à escola, de
verá ser dito a Marta traz sempre os trabalhos de casa feitos.
O comportamento muda em resultado das suas consequências
As pessoas têm tendência a aprender e a repetir os comportamentos
que foram seguidos de consequências positivas, e a não repetir aqueles
que foram seguidos de uma punição A Análise Aplicada do Compor
tamento enfatiza a utilização das consequências positivas como estratégia
de implementação de situações de aprendizagem.
A alteração do contexto pode mudar o comportamento
Em algumas situações uns comportamentos são apropriados enquanto
noutras isso não se passa. Assim, os alunos rapidamente aprendem não só
os comportamentos que são apropriados, mas também as situações em
que se devem executar. O professor tem então que estar atento ao cená
rio de comportamento
CBpïTlILO 6
ZGIlS J0G05 E ESTftTÉGlS Il SL DE lIL
Referimos até este momento alguns aspectos da sala de aula, dos com
portamentos do professor e dos alunos e dos métodos de ensino que
poderão optimizar a aprendizagem. Resumindo, demos ênfase
ao professor como elemento chave e dinamizador de metodolo
gias activas de ensino aprendizagem adaptadas ao grupo turma e a si
próprio, capaz de observar, reflectir e inovar e, desta forma, promover
comportamentos de ensino consistentes com as situações e contextos
educativos;
ao aluno como um indivíduo que possui uma história de vida, capa
cidades e saberes que Ihe permitem ser um agente activo no processo
de ensino aprendizagem:
à sala de aula enquanto sistema global onde todos os comporta
mentos ocorrem;
à escola enquanto instituição com uma função importante de pre
venção e intervenção social.
Contudo, todos sabemos bem que há situações educativas que, por
razões várias, necessitam de uma atenão especial. É o caso das crianças
que num dado momento do seu percurso desenvolvimental e escolar pre
cisam de uma ajuda individualizada. Nunca será demais referir que um dos
pressupostos base deste livro é todas as crianças podem ser ensinadas,
isto é, todas podem aprender. Tal princípio ganha maior saliência
quando se trata de crianças com dificuldades de aprendizagem específicas,
pontuais ou permanentes. Um dos problemas que os professores nos colo
cam insistentemente é como dar resposta a estas crianças numa turma de
25 ou 30 alunos com ritmos diferentes de aprendizagem e um programa
a cumprir.
Nas páginas seguintes descreveremos algumas estratégias para desen
volvimento de actividades na sala de aula, onde todos os alunos tenham
um espaço de aprendizagem e de realização pessoal. Será nossa intenção
salientar o valor que estas metolodogias, ou outras similares, adquirem
junto das crianças com dificuklades de aprendizagem.
O TRABALHO DE GRUPO
A utilização do trabalho de grupo junto de crianças com dificuldades
de aprendizagem adquire relevo pelas suas características metodológicas
Sabe se que muitas das dificuldades de aprendizagem estão associadas a
uma fraca motivação para aprender ou persistir nas tarefas académicas,
resistindo pouco às situações que envolvem frustação ou fracasso. Este
quadro pode ser acompanhado por uma <>, que em
termos comportamentais se manifesta quer numa fraca participação activa
nas actividades que envolvem desafos cognitivos quer numa recusa da
aprendizagem Podem ser exemplo disso as crianças cujos professores des
crevem como sabem umas coisas num dia e no seguinte já não sabem, ou,
fazem uma actividade correctamente quando a professora está por perto, mas
sozinhas, no teste, não são capazes
É tendo em conta estas situações que nos parece que o trabalho de
grupo pode criar um ambiente menos ansiógeno, mais descontraído, tor
nando se mais fácil suportar em conjunto do que individualmente as exi
gências escolares. Também em grupo a responsabilidade individual pelo re
sultado das tarefas é mais repartido, o que em si faz diminuir o medo do fra
casso A definição de objectivos socializadores permite ao professor repre
sentar e conhecer o aluno numa dimensão mais globalizante e não apenas
nos aspectos cognitivos. O aluno <> consegue, frequentemente,
no grupo, expressar e afirmar aspectos da sua personalidade, muitas vezes
surpreendendo o professor, os colegas e até a si próprio. Pensámos, então,
que as situações de trabalho de grupo na turma podem constituir uma expe
riência que contribui para a integração do aluno na sala e na escola.
Salgado (s/d, p. 32) considera mesmo que <
só um método de ensino efcaz como, em certa medida, um processo
terapêutico, um instrumento de integração do aluno na vida escolar, um
autêntico processo de democratização, e, ainda, um factor de adaptação
da escola à personalidade e situação dos alunos>>
Relembramos que as crianças numa linguagem mais facilitadora expli
cam umas às outras, frequentemente, de forma mais eficaz os conteúdo a
aprender. Todavia, impõe se uma supervisão cuidada do professor, pois
muitas situações podem acontecer: crianças que não estão integradas e
que estão <
> no seu canto, alunos pouco produtivos <dos>> passivamente aos grupos, ou ainda aqueles a quem o seu <
Ihes dá um comportamento agressivo ou provocador. Para isso o professor
deverá transmitir a necessidade de todos os alunos participarem e os meios
através dos quais se concretizam essas contribuições
Da mesma forma, a escolha da tarefa, composição, número de ele
mentos, homogeneidade ou heterogeneidade e duração são alguns dos
aspectos que o professor deverá reflectir e avaliar em função da integração
dos alunos com dificuldades.
Os jogos que passaremos a sugerir têm como princípio o lucro para
todos os alunos. É nosso entendimento, ao integrar estes jogos neste capí
tulo, promover situações de grupo onde o papel dos alunos com mais difi
culdades seja tão importante quanto o dos outros. Como se sabe, é por
vezes complicado lidar com os diferentes níveis de aprendizagem na sala
de aula. Com efeito, o professor fica muitas vezes com a percepção de
que ao dirigir o ensino para determinados alunos este está desadequado a
outros, sendo esse efeito cumulativo. Pensamos que, nos jogos à frente
descritos, essa situação poderá ficar minimizada, já que todos os alunos ao
possuirem o material de trabalho ficam, por isso mesmo, numa situação de
paridade de saberes sem perdas, quer para os melhores quer para os pio
res estudantes.
Pretendemos, desta forma, intervir nas auto representações e nas re
presentações grupais.
Estas técnicas ' ' poderão ser utilizadas e adaptadas a diferentes conteú
dos curriculares, a diferentes objectivos cognitivos e afectivo relacionais.
O Carrocel
Distribuem se os alunos em dois grupos que vão sentar se em dois cír
culos concêntricos, um exterior e outro interior.
i Na Bibliografia são indicados alguns livros onde o professor poderá quer aprofundar a me
todologia de dinâmica de grupo quer ter acesso a sugestões concretas de jogos e técnicas
de trabalho de grupo, adaptadas à sala de aula.
Os alunos sentados no círculo exterior, por exemplo, possuem cada
um uma pergunta que irão fazer ao aluno que está à sua frente. Esse aluno,
que possui um conjunto de respostas terá que responder procurando a res
posta adequada. Logo que a pergunta for respondida o aluno da roda de
fora muda para o lugar seguinte à direita (o tempo deverá ser marcado
pelo professor; batendo por exemplo uma palma). Este processo ocorre
em simultâneo para todos, isto é todos os estudantes do círculo exterior
avançam uma cadeira, até completarem a volta
O professor poderá, para tomar a actividade mais atractiva, dar as per
guntas e as respostas escritas em pequenos cartões de cartolina.
Esta técnica poderá ser utilizada com diferentes propósitos:
a) Como forma interessante de fazer a revisão de matérias considera
das indispensáveis, implicando no processo os alunos que já sabem e os
que ainda não sabem <>.
Neste caso o professor prepara as perguntas para a roda exterior, uma
por aluno Prepara também as respostas para os alunos da roda interior.
Assim, cada aluno tem um conjunto de todas as respostas.
b) Outro procedimento possível será professores e alunos prepararem
previamente as perguntas e as respostas em pequeno grupo ou em grupo
alargado.
Esta modalidade satìsfaz mais na aprendizagem de matérias novas ou
numa revisão de conhecimentos, motivando os alunos com mais dificuldades
Contrato pedagógico
Os contratos pedagógicos podem inserir se numa pedagogia de con
trato inscrita no currículo ou constituírem uma estratégia a utilizar em mo
mentos específcos do ensino aprendizagem. Um dos seus objectivos é o de
motivar os estudantes para completar mais tarefas e aprender mais com
petências com maior efcácia e desenvolver comportamentos mais sociali
zados. Neste processo o aluno sente se sujeito implicado na sua própria
gestão de autonomia A utilização mais ou menos sistemática, mas sempre
intencional, de contratos na turma favorece um clima de <
sável>> Um dos atractivos desta estratégia é poder ser utilizada em dife
rentes pedagogias e organizações de sala de aula.
De facto, nas salas com pedagogias menos directivas o contrato poderá
contribuir para a sua estruturação, enquanto nas salas com pedagogias mais
directivas poderá contribuir para um trabalho mais autónomo dos alunos
Mas, então, como fazer um contrato?
O contrato deve ser
I . Debatido, entendido e acordado. O contrato deve ser a síntese de
um debate aprofundado, onde os diversos pontos de vista dos elementos
implicados devem ser tomados em conta com vista à melhoria de uma
situação ou de resolução de um problema.
2. Justo, honesto e positivo A justiça e a honestidade são dois valores a
estar presentes na elaboração de um contrato Com efeito, não raro se
assiste a contratos onde a criança é manipulada pelo adulto, ou em que o
<> é exagerado, por vezes mesmo insuportável. Sendo assim, ao
enunciar os comportamentos a implementar, deve o adulto tomar atenção
à sua exequibilidade, isto é, que sejam passíveis de ser realizados com
sucesso. O contrato deverá ser formulado pela positiva, devendo nele
estar inscrito o comportamento desejável, isto é, aquele que se acordou
com a criança para substituir o comportamento indesejável.
3. Específico e flexível. Quando se redige o contrato um cuidado espe
cial terá que ser colocado na sua elaboração de forma a que, na sua leitura,
o grau de ambiguidade seja mínimo. Para isso, os deveres é os direitos de
cada um dos elementos devem ser claramente enunciados de forma a que
possam ser entendidos O contrato terá que especificar, pelo menos, o
comportamento, a situação ou situações da sua ocorrência, e a duração.
Contudo, este grau de especificação não deve ser lido como uma regidifi
cação do contrato. Este deve ser passível de reformulações já que, frequen
temente, é na sua concretização que se compreende o que está implícito e
se vivenciam ãs suas potencialidades e dificuldades.
4. Escrito e assinado. Decorrente do anteriormente dito fica a necessi
dade de o contrato ser redigido por escrito (evitando, assim, os esqueci
mentos. . .), tendo cada um a sua cópia assinada. O formalismo empresta o
mágico e o cerimonial a esta estratégia de interacção
5. Supervisionado/avaliado. O elemento avaliação não deve também
aqui ser esquecido. Com efeito, quando se opta por esta ou outra técnica
mais estruturada de intervenção, é porque se acredita que o seu cumpri
mento alimenta a mudança. Um contrato contém em si um grau de dificul
dade que quando dominado implica um esforço pelo qual os elementos
devem ser gratifcados No entanto, o contrato foi elaborado para ser
cumprido, não como um fim em si mesmo, mas como um meio de modi
ficar uma interacção Assim, o seu não cumprimento não deverá ser apro
veitado para cristalizar ainda mais os problemas que deram origem à pro
cura do contrato. A supervisão e a avaliação contínua, realizada pelos impli
cados, será mais para reformular os contratos ou compreender melhor o
seu não cumprimento do que para sancionar as falhas.
Os tutores na sala de aula
Uma estratégia que propicia um clima motivador na sala, bem como um
apoio individualizado às necessidades sentidas pae indivíduo ou grupo, é o
sistema tutorial. Nesta metodologia os alunos fazem de <
, ensi
nando uns aos outros uma tarefa Basicamente pode descrever se esta
técnica como criadora de situações em que há uma reciprocidade entre os
alunos nas tarefas de aprendizagem Para que resulte, importa que alguns
cuidados sejam considerados:
Criação de um clima de partilha de saber: antes de iniciar o processo
tutorial o professor deverá dinamizar um clima onde a partilha do saber é
um valor a fomentar todos têm coisas a aprender e a ensinar e onde a
turma é representada como um grupo de pertença numa identidade em cons
trução. Para isso, importa que não seja sempre o mesmo aluno o tutor e um
outro o objecto da tutoria, ou que se não caia em concorrência interalunos.
Definição e demonstração da actividade tutorial: a realização por parte
dos alunos desta técnica deve ser, num primeiro momento, objecto de
ensino e treino. Após a explicação do que é ser tutor e tutorando, cabe ao
professor o papel de modelo na exemplificação de actividades de tutoria.
Assim, este deve ensaiar com um estudante, na presença de toda a turma, o
papel de tutor, seguindo se uma representação dos alunos em pares com
supervisão do docente até este considerar que adquiriram esta técnica.
Implementação da actividade tutorial: se, na fase anterior, já foram
explorados alguns aspectos que permitem a compreensão do que é a tuto
ria, cabe agora uma explicitação mais cuidada dos procedimentos desta
actividade e do seu enquadramento na organização geral das actividades
Esta definição comporta aspectos como:
o tempo: em que momento do dia, quanto tempo e durante quantos
dias é que os alunos vão trabalhar nesta modalidade;
o espaço: os alunos devem responsabilizar se pela organização do
espaço adequado às exigências desta actividade, ou seja, controlo do
barulho de forma a não perturbar o grupo ao lado, o que implica uma
certa distância entre os pares;
a tarefa: o professor deve em função das necessidades do elemento
do par que vai ser <> organizar a tarefa de forma a que o ele
mento <
saiba o que vai fazer quais os conteúdos a adquirir,
as estratégias a utilizar (modalidade oral, escrita, pergunta resposta,
exercícios de aplicação, leitura. . );
o registo: o aluno professor em conjunto com o colega deve registar
as respostas correctas e incorrectas, assim como outras difculdades ou
facilidades observadas
Avaliação: considerando que um dos objectivos deste procedimento é
rentabilizar a relação tempo/aprendizagem, compreende se que um dos
aspectos importantes seja a avaliação, feita pelo professor, do desenrolar da
actividade e das aquisições obtidas. Assim, compete ao professor avaliar, de
forma a introduzir mudanças quando necessário. Se um ou vários pares
não atingiram os objectivos o professor poderá interrogar se acerca do
porquê: será que aquele par foi bem escolhido?, terão percebido mal a técnica