Lira dos vinte anos



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ÍNDICE

LIRA DOS VINTE ANOS


Cantando a vida, como o cisne a morte.

BOCAGE
Dieu, amour et poésie sont les trois mots que je voudrais seuls graver sur ma pierre, si je mérite une pierre.

LAMARTINE
São os primeiros cantos de um pobre poeta. Desculpai-os. As primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de amor.

É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço.

Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas da lira interna que agitava um sonho, notas que o vento levou — como isso dou a lume essas harmonias.

São as páginas despedaçadas de um livro não lido...

E agora que despi a minha musa saudosa dos véus do mistério do meu amor e da minha solidão, agora que ela vai seminua e tímida, por entre vós, derramar em vossas almas os últimos perfumes de seu coração, ó meus amigos, recebei-a no peito e amai-a como o consolo, que foi, de uma alma esperançosa, que depunha fé na poesia e no amor — esses dois raios luminosos do coração de Deus.

À MINHA MÃE


Se a terra é adorada, a mãe não é mais

digna de veneração.



Digest of hindu law.
Como as flores de uma árvore silvestre

Se esfolham sobre a leiva que deu vida

A seus ramos sem fruto,

Ó minha doce mãe, sobre teu seio

Deixa que dessa pálida coroa

Das minhas fantasias

Eu desfolhe também, frias, sem cheiro,

Flores da minha vida, murchas flores

Que só orvalha o pranto!

PRIMEIRA PARTE

NO MAR
Les étoiles s’allument au ciel, et la brise du soir erre doucement parmi les fleurs: rêvez, chantez et soupirez.

GEORGE SAND
Era de noite: — dormias,

Do sonho nas melodias,

Ao fresco da viração,

Embalada na falua,

Ao frio clarão da lua,

Aos ais do meu coração!


Ah! que véu de palidez

Da langue face na tez!

Como teus seios revoltos

Te palpitavam sonhando!

Como eu cismava beijando

Teus negros cabelos soltos!


Sonhavas? — eu não dormia;

A minh’alma se embebia

Em tua alma pensativa!

E tremias, bela amante,

A meus beijos, semelhante

Às folhas da sensitivas!


E que noite! que luar!

E que ardentias no mar!

E que perfumes no vento!

Que vida que se bebia

Na noite que parecia

Suspirar de sentimento!


Minha rola, ó minha flor,

Ó madresilva de amor,

Como eras saudosa então!

Como pálida sorrias

E no meu peito dormias

Aos ais do meu coração!


E que noite! que luar!

Como a brisa a soluçar

Se desmaiava de amor!

Como toda evaporava

Perfumes que respirava

Nas laranjeiras em flor!


Suspiravas? que suspiro!

Ai que ainda me deliro

Entrevendo a imagem tua

Ao fresco da viração,

Aos ais do meu coração,

Embalada na falua!


Como virgem que desmaia,

Dormia a onda na praia!

Tua alma de sonhos cheia

Era tão pura, dormente,

Como a vaga transparente

Sobre seu leito de areia!


Era de noite — dormias,

Do sonho nas melodias,

Ao fresco da viração;

Embalada na falua,

Ao frio clarão da lua,

Aos ais do meu coração.


SONHANDO
Hier, la nuit d’été, que nous prêtait ses voiles,

Était digne de toi, tant elle avait d’étoiles!

VICTOR HUGO
Na praia deserta que a lua branqueia,

Que mimo! que rosa! que filha de Deus!

Tão pálida... ao vê-la meu ser devaneia,

Sufoco nos lábios os hálitos meus!

Não corras na areia,

Não corras assim!

Donzela, onde vais?

Tem pena de mim!


A praia é tão longa! e a onda bravia

As roupas de gaza te molha de escuma...

De noite, aos serenos, a areia é tão fria...

Tão úmido o vento que os ares perfuma!

És tão doentia...

Não corras assim...

Donzela, onde vais?

Tem pena de mim!


A brisa teus negros cabelos soltou,

O orvalho da face te esfria o suor,

Teus seios palpitam — a brisa os roçou,

Beijou-os, suspira, desmaia de amor!

Teu pé tropeçou...

Não corras assim...

Donzela, onde vais?

Tem pena de mim!


E o pálido mimo da minha paixão

Num longo soluço tremeu e parou,

Sentou-se na praia, sozinha no chão,

A mão regelada no colo pousou!

Que tens, coração

Que tremes assim?

Cansaste, donzela?

Tem pena de mim!


Deitou-se na areia que a vaga molhou.

Imóvel e branca na praia dormia;

Mas nem os seus olhos o sono fechou

E nem o seu colo de neve tremia...

O seio gelou?...

Não durmas assim!

O pálida fria,

Tem pena de mim!


Dormia: — na fronte que níveo suar...

Que mão regelada no lânguido peito...

Não era mais alvo seu leito do mar,

Não era mais frio seu gélido leito!

Nem um ressonar...

Não durmas assim...

O pálida fria,

Tem pena de mim!


Aqui no meu peito vem antes sonhar

Nos longos suspiros do meu coração:

Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,

Teu colo, essas faces, e a gélida mão...

Não durmas no mar!

Não durmas assim.

Estátua sem vida,

Tem pena de mim!


E a vaga crescia seu corpo banhando,

As cândidas formas movendo de leve!

E eu vi-a suave nas águas boiando

Com soltos cabelos nas roupas de neve!

Nas vagas sonhando

Não durmas assim...

Donzela, onde vais?

Tem pena de mim!


E a imagem da virgem nas águas do mar

Brilhava tão branca no límpido véu...

Nem mais transparente luzia o luar

No ambiente sem nuvens da noite do céu!

Nas águas do mar

Não durmas assim...

Não morras, donzela,

Espera por mim!


CISMAR
Fala-me, anjo de luz! és glorioso

À minha vista na janela à noite

Como divino alado mensageiro

Ao ebrioso olhar dos frouxos olhos

Do homem, que se ajoelha para vê-lo,

Quando resvala em preguiçosas nuvens,

Ou navega no seio do ar da noite.

ROMEU
Ai! quando de noite, sozinha à janela

Co’a face na mão te vejo ao luar,

Por que, suspirando, tu sonhas, donzela?

A noite vai bela,

E a vista desmaia

Ao longe na praia

Do mar!
Por quem essa lágrima orvalha-te os dedos,

Como água da chuva cheiroso jasmim?

Na cisma que anjinho te conta segredos?

Que pálidos medos?

Suave morena,

Acaso tens pena

De mim?
Donzela sombria, na brisa não sentes

A dor que um suspiro em meus lábios tremeu?

E a noite, que inspira no seio dos entes

Os sonhos ardentes,

Não diz-te que a voz

Que fala-te a sós

Sou eu?
Acorda! Não durmas da cisma no véu!

Amemos, vivamos, que amor é sonhar!

Um beijo, donzela! Não ouves? no céu

A brisa gemeu...

As vagas murmuraram...

As folhas sussurram:

Amar!
AI JESUS!
Ai Jesus! não vês que gemo,

Que desmaio de paixão

Pelos teus olhos azuis?

Que empalideço, que tremo,

Que me expira o coração?

Ai Jesus!


Que por um olhar, donzela,

Eu poderia morrer

Dos teus olhos pela luz?

Que morte! que morte bela!

Antes seria viver!

Ai Jesus!


Que por um beijo perdido

Eu de gozo morreria

Em teus níveos seios nus?

Que no oceano dum gemido

Minh’alma se afogaria?

Ai Jesus!


ANJINHO
And from her fair and unpolluted flesch

May violets spring!

HAMLET
Não chorem... que não morreu!

Era um anjinho do céu

Que um outro anjinho chamou!

Era uma luz peregrina,

Era uma estrela divina

Que ao firmamento voou!


Pobre criança! Dormia:

A beleza reluzia

No carmim da face dela!

Tinha uns olhos que choravam,

Tinha uns risos que encantavam!...

Ai meu Deus! era tão bela.


Um anjo d’asas azuis,

Todo vestido de luz,

Sussurrou-lhe num segredo

Os mistérios doutra vida!

E a criança adormecida

Sorria de se ir tão cedo!


Tão cedo! que ainda o mundo

O lábio visguento, imundo,

Lhe não passara na roupa!

Que só o vento do céu

Batia do barco seu

As velas d’ouro da poupa!


Tão cedo! que o vestuário

Levou do anjo solitário

Que velava seu dormir!

Que lhe beijava risonho

E essa florzinha no sonho

Toda orvalhava no abrir!


Não chorem! lembro-me ainda

Como a criança era linda

No fresco da facezinha!

Com seus lábios azulados,

Com os seus olhos vidrados

Como de morta andorinha!


Pobrezinho! o que sofreu!

Como convulso tremeu

Na febre dessa agonia!

Nem gemia o anjo lindo,

Só os olhos expandindo

Olhar alguém parecia!


Era um canto de esperança

Que embalava essa criança?

Alguma estrela perdida,

Do céu c’roada donzela...

Toda a chorar-se por ela

Que a chamava doutra vida?


Não chorem... que não morreu!

Que era um anjinho do céu

Que um outro anjinho chamou!

Era uma luz peregrina,

Era uma estrela divina

Que ao firmamento voou!


Era uma alma que dormia

Da noite na ventania

E que uma fada acordou!

Era uma flor de palmeira

Na sua manhã primeira

Que um céu d’inverno murchou!


Não chorem! abandonada

Pela rosa perfumada,

Tendo no lábio um sorriso,

Ela se foi mergulhar

— Como pérola no mar —

Nos sonhos do paraíso!


Não chorem! chora o jardim

Quando marchado o jasmim

Sobre o seio lhe pendeu?

E pranteia a noite bela

Pelo astro ou a donzela

Mortos na terra ou no céu?


Choram as flores no afã

Quando a ave da manhã

Estremece, cai, esfria?

Chora a onda quando vê

A boiar um irerê

Morta ao sol do meio-dia?


Não chorem!... que não morreu!

Era um anjinho do céu

Que um outro anjinho chamou!

Era uma luz peregrina,

Era uma estrela divina

Que ao firmamento voou!


ANJOS DO MAR
As ondas são anjos que dormem no mar,

Que tremem, palpitam, banhados de luz...

São anjos que dormem, a rir e sonhar

E em leito d’escuma revolvem-se nus!


E quando, de noite, vem pálida a lua

Seus raios incertos tremer, pratear...

E a trança luzente da nuvem flutua...

As ondas são anjos que dormem no mar!


Que dormem, que sonham... e o vento dos céus

Vem tépido, à noite, nos seios beijar!...

São meigos anjinhos, são filhos de Deus,

Que ao fresco se embalam do seio do mar!


E quando nas águas os ventos suspiram,

São puros fervores de ventos e mar...

São beijos que queimam... e as noites deliram

E os pobres anjinhos estão a chorar!


Ai! quando tu sentes dos mares na flor

Os ventos e vagas gemer, palpitar...

Por que não consentes, num beijo de amor,

Que eu diga-te os sonhos dos anjos do mar?

I

Tenho um seio que delira



Como as tuas harmonias!

Que treme quando suspira,

Que geme como gemias!
II

Tenho músicas ardentes,

Ais do meu amor insano,

Que palpitam mais dormentes

Do que os sons do teu piano!
III

Tenho cordas argentinas

Que a noite faz acordar,

Como as nuvens peregrinas

Das gaivotas do alto mar!
IV

Como a teus dedos lindinhos

O teu piano gemer,

Vibra-me o seio aos dedinhos

Dos anjos louros do céu!
V

Vibra à noite no mistério

Se o banha o frouxo luar,

Se passa teu rosto aéreo

No vaporoso sonhar!
VI

Como tremem teus dedinhos

O saudoso piano teu,

Vibram-me n’alma os anjinhos,

Os anjos loiros do céu!
A CANTIGA DO SERTANEJO
Love me, and leave me not.

SHAKESPEARE, Merch. Of Venice
Donzela! Se tu quiseras

Ser a flor das primaveras

Que tenho no coração:

E se ouviras o desejo

Do amoroso sertanejo

Que descora de paixão!...


Se tu viesses comigo

Das serras ao desabrigo

Aprender o que é amar...

— Ouvi-lo no frio vento,

Das aves no sentimento,

Nas águas e no luar!...


Ouvi-lo nessa viola,

Onde a modinha espanhola

Sabe carpir e gemer!...

Que pelas horas perdidas

Tem cantigas doloridas,

Muito amor, muito doer...


Pobre amor! o sertanejo

Tem apenas seu desejo

E as noites belas do val!...

Só o ponche adamascado,

O trabuco prateado

E o ferro de seu punhal!...


E tem as lendas antigas

E as desmaiadas cantigas

Que fazem de amor gemer!...

E nas noites indolentes

Bebe cânticos ardentes

Que fazem estremecer!...


Tem mais... na selva sombria

Das florestas a harmonia,

Onde passa a voz de Deus,

E nos relentos da serra

Pernoita na sua terra,

No leito dos sonhos seus!


Se tu viesses, donzela,

Verias que a vida é bela

No deserto do sertão:

Lá têm mais aroma as flores

E mais amor os amores

Que falam do coração!


Se viesses inocente

Adormecer docemente

À noite no peito meu!...

E se quisesses comigo

Vir sonhar no desabrigo

Com os anjinhos do céu!


É doce na minha terra

Andar, cismando, na serra

Cheia de aroma e de luz,

Sentindo todas as flores,

Bebendo amor nos amores

Das borboletas azuis!


Os veados da campina

Na lagoa, entre a neblina,

São tão lindos a beber!...

Da torrente nas coroas

Ao deslizar das canoas

É tão doce adormecer!...


Ah! Se viesses, donzela,

Verias que a vida é bela

No silêncio do sertão!

Ah!... morena, se quiseras

Ser a flor das primaveras

Que tenho no coração!


Junto às águas da torrente

Sonharias indolente

Como num seio d’irmã!...

— Sobre o leito de verduras

O beijo das criaturas

Suspira com mais afã!


E da noitinha as aragens

Bebem nas flores selvagens

Efluviosa fresquidão!...

Os olhos têm mais ternura

E os ais da formosura

Se embebem no coração!...


E na caverna sombria

Tem um ai mais harmonia

E mais fogo o suspirar!...

Mais fervoroso o desejo

Vai sobre os lábios num beijo

Enlouquecer, desmaiar!...


E da noite nas ternuras

A paixão tem mais venturas

E fala com mais ardor!...

E os perfumes, o luar,

E as aves a suspirar,

Tudo canta e diz — amor!


Ah! vem! amemos! vivamos!

O enlevo do amor bebamos

Nos perfumes do serão!

Ah! Virgem, se tu quiseras

Ser a flor das primaveras

Que tenho no coração!...


Dreams! dreams! dreams!

W. COWPER
Quando, à noite, no leito perfumado

Lânguida fronte no sonhar reclinas,

No vapor da ilusão por que te orvalha

Pranto de amor as pálpebras divinas?


E, quando eu te contemplo adormecida

Solto o cabelo no suave leito,

Por que um suspiro tépido ressona

E desmaia suavíssimo em teu peito?


Virgem do meu amor, o beijo a furto

Que pouso em tua face adormecida

Não te lembra do peito os meus amores

E a febre do sonhar de minha vida?


Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncio

O meu peito se afoga de ternura...

E sinto que o porvir não vale um beijo

E o céu um teu suspiro de ventura!


Um beijo divinal que acende as veias,

Que de encantos os olhos ilumina,

Colhido a medo, como flor da noite,

Do teu lábio na rosa purpurina...


E um volver de teus olhos transparentes,

Um olhar dessa pálpebra sombria

Talvez pudessem reviver-me n’alma

As santas ilusões de que eu vivia!


O POETA
Un souvenir heureux est peut-être sur terre

Plus vrai que le bonheur.

A. DE MUSSET
Era uma noite: — eu dormia...

E nos meus sonhos revia

As ilusões que sonhei!

E no meu lado senti...

Meu Deus! por que não morri?

Por que no sono acordei?


No meu leito adormecida,

Palpitante e abatida,

A amante de meu amor,

Os cabelos recendendo

Nas minhas faces correndo,

Como o luar numa flor!


Senti-lhe o colo cheiroso

Arquejando sequioso

E nos lábios, que entreabria

Lânguida respiração,

Um sonho do coração

Que suspirando morria!


Não era um sonho mentido:

Meu coração iludido

O sentiu e não sonhou...

E sentiu que se perdia

Numa dor que não sabia...

Nem ao menos a beijou!


Soluçou o peito ardente,

Sentiu que a alma demente

Lhe desmaiava a tremer,

Embriagou-se de enleio,

No sono daquele seio

Pensou que ele ia morrer!


Que divino pensamento,

Que vida num só momento

Dentro do peito sentiu...

Não sei!... Dorme no passado

Meu pobre sonho doirado...

Esperança que mentiu...


Sabem as noites do céu

E as luas brancas sem véu

Os prantos que derramei!

Contem do vale as florinhas

Esse amor das noite minhas!

Elas sim... que eu não direi!


E se eu tremendo, senhora,

Viesse pálido agora

Lembrar-vos o sonho meu,

Com a fronte descorada

E com a voz sufocada

Dizer-vos baixo: — Sou eu!


Sou eu! que não esqueci

A noite que não dormi,

Que não foi uma ilusão!

Sou eu que sinto morrer

A esperança de viver...

Que o sinto no coração!


Riríeis das esperanças,

Das minhas loucas lembranças,

Que me desmaiam assim?

Ou então, de noite, a medo

Choraríeis em segredo

Uma lágrima por mim!

Dorme, meu coração! Em paz esquece

Tudo, tudo que amaste neste mundo!

Sonho falaz de tímida esperança

Não interrompa teu dormir profundo!

Tradução do Dr. Octaviano
Fui um douto em sonhar tantos amores...

Que loucura, meu Deus!

Em expandir-lhe aos pés, pobre insensato,

Todos os sonhos meus!


E ela, triste mulher, ela tão bela,

Dos seus anos na flor,

Por que havia de sagrar pelos meus sonhos

Um suspiro de amor?


Um beijo — um beijo só! eu não pedia

Senão um beijo seu

E nas horas do amor e do silêncio

Juntá-la ao peito meu!


_____
Foi mais uma ilusão! de minha fronte

Rosa que desbotou

Uma estrela de vida e de futuro

Que riu... e desmaiou!


Meu triste coração, é tempo, dorme,

Dorme no peito meu!

Do último sonho despertei e n’alma

Tudo! tudo morreu!


Meus Deus! por que sonhei e assim por ela

Perdi a noite ardente...

Se devia acordar dessa esperança,

E o sonho era demente?...


Eu nada lhe pedi: ousei apenas

Junto dela, à noitinha,

Nos meus delírios apertar tremendo

A sua mão na minha!


Adeus, pobre mulher! no meu silêncio

Sinto que morrerei...

Se rias desse amor que te votava,

Deus sabe se te amei!


Se te amei! se minha alma só queria

Pela tua viver,

No silêncio do amor e da ventura

Nos teus lábios morrer!


Mas vota ao menos no lembrar saudoso

Um ai ao sonhador...

Deus sabe se te amei!... Não te maldigo,

Maldigo o meu amor!...


Mas não... inda uma vez... Não posso ainda

Dizer o eterno adeus

E a sangue frio renegar dos sonhos

E blasfemar de Deus!


Oh! Fala-me de amor!... — eu quero crer-te

Um momento sequer...

E esperar na ventura e nos amores,

Num olhar de mulher!



Só um olhar por compaixão te peço,

Um olhar.... mas bem lânguido, bem terno...

...........................................................................

Quero um olhar que me arrebate o siso,

Me queime o sangue, m’escureça os olhos,

Me torne delirante!

ALMEIDA FREITAS
Sur votre main jamais votre front ne se pose,

Brûlant, chargé d’ennuis, ne pouvant soutenir

Le poids d’un douloureux et cruel souvenir;

Votre coeur virginal en lui-même repose.

Th. Gautier
Ricorditi di me...............

DANTE, Purgatório
Quando falo contigo, no meu peito

Esquece-me esta dor que me consome:

Talvez corre o prazer nas fibras d’alma:

E eu ouso ainda murmurar teu nome!


Que existência, mulher! se tu souberas

A dor de coração do teu amante,

E os ais que pela noite, no silêncio,

Arquejam no seu peito delirante!


E quando sofre e padeceu... e a febre

Como seus lábios desbotou na vida...

E sua alma cansou na dor convulsa

E adormeceu na cinza consumida!


Talvez terias dó da mágoa insana

Que minh’alma votou ao desalento...

E consentirás, ó virgem dos amores,

Descansar-me no seio um só momento!


Sou um doudo talvez de assim amar-te,

De murchar minha vida no delírio...

Se nos sonhos de amor nunca tremeste,

Sonhando meu amor e meu martírio...


E não pude, febril e de joelhos,

Com a mente abrasada e consumida,

Contar-te as esperanças do meu peito

E as doces ilusões de minha vida!


Oh! quando eu te fitei, sedento e louco,

Teu olhar que meus sonhos alumia,

Eu não sei se era vida o que minh’alma

Enlevava de amor e adormecia!


Oh! nunca em fogo teu ardente seio

A meu peito juntei que amor definha!

A furto apenas eu senti medrosa

Tua gélida mão tremer na minha!...


Tem pena, anjo de Deus! deixa que eu sinta

Num beijo esta minh’alma enlouquecer

E que eu viva de amor nos teus joelhos

E morra no teu seio o meu viver!


Sou um doudo, meu Deus! mas no meu peito

Tu sabes se uma dor, se uma lembrança

Não queria calar-se a um beijo dela,

Nos seios dessa pálida criança!


Se num lânguido olhar no véu de gozo

Os olhos de Espanhola a furto abrindo

Eu não tremia... o coração ardente

No peito exausto remoçar sentindo!


Se no momento efêmero e divino

Em que a virgem pranteia desmaiando

E a c’roa virginal a noiva esfolha,

Eu queria a seus pés morrer chorando!


Adeus! Rasgou-se a página saudosa

Que teu porvir de amor no meu fundia,

Gelou-se no meu sangue moribundo

Essa gota final de que eu vivia!


Adeus, anjo de amor! tu não mentiste!

Foi minha essa ilusão e o sonho ardente:

Sinto que morrerei... tu, dorme e sonha

No amor dos anjos, pálido inocente!


Mas um dia... se a nódoa da existência

Murchar teu cálix orvalhoso e cheio,

Flor que respirei, que amei sonhando,


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