Língua Portuguesa volume 1



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. Acesso em: 14 abr. 2016.
Os irmãos Cláudio (1916-1998), Leonardo (1918-1961) e Orlando Villas Bôas (1914-2002) foram indigenistas, ou seja, trabalharam pela integração e proteção das populações indígenas no Brasil. Começaram a se aventurar a desbravar as terras do Brasil Central em 1945 ao participarem da expedição Roncador-Xingu. O objetivo era evitar as ocupações estrangeiras, contatar e pacificar os indígenas, de acordo com os critérios do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) criado em 1910.

Com o fim da expedição em 1951, Orlando Villas Bôas iniciou uma campanha para a construção da Reserva do Alto Xingu, que desencadeou a criação do Parque Nacional do Xingu tempos depois, durante o governo de Jânio Quadros. Com isso, ganhou força a ideia, atualmente criticada, de que os indígenas deveriam ser mantidos isolados para não serem “aculturados e civilizados”. Os irmãos Villas Bôas são reconhecidos por ambientalistas e ativistas de direitos humanos. Foram indicados para vários prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Prêmio Nobel da Paz, em 1971 e 1975.

http://www.revistaforum.com.br/brasilvivo/2013/04/06/
©Wikimedia Commons/NVB

Orlando, Leonardo e Cláudio Villas Bôas (da esquerda para a direita), em 1950.



Karl von den Steinen (1855-1929) foi médico, explorador, etnólogo e antropólogo alemão. Na qualidade de pesquisador da Universidade de Berlim, em 1884, desceu pelo rio Xingu da nascente até a foz, indo de Cuiabá até o Pará com alguns auxiliares. O objetivo era explorar o Xingu, analisar a fauna, a flora e as riquezas minerais da região. Depois da investigação, o cientista e seus auxiliares voltaram para a Alemanha com o resultado das pesquisas. Steinen aventurou-se de novo pelo Xingu tempos depois e fez contato com indígenas Suiá e Bakairi, com os quais obteve diversos artefatos. A maior parte desse material foi enviada para o Museu da Sociedade de Geografia de Berlim. Essas viagens deram origem ao livro O Brasil Central, obra publicada pela editora Brasiliana, em 1942.

Pulsar Imagens/Rogério Reis

Os Yawalapiti dançam no Kuarup. Parque Indígena do Xingu, foto de 2012.
O autor

Célio Turino é historiador, escritor, idealizador e gestor de políticas públicas inovadoras, entre elas o programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura, atualmente em processo de implantação em diversos países.

©Wikimedia Commons/Miruharu



1. Volte ao título e observe que o autor emprega, entre outros, o substantivo abstrato resiliência para resumir o caráter desse povo. Essa palavra transforma-se, ao longo do texto, em adjetivo para o povo yawalapiti. Eles são resilientes, propõe o autor do texto. Leia a seguir as explicações de um dicionário para o substantivo resiliência.

resiliência: substantivo feminino

1. Rubrica: física. Propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após serem submetidos a uma deformação elástica.

INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Qual deles melhor expressa o sentido que o pesquisador Célio Turino deseja aproximar desse povo?



2. Quais parágrafos narrativos mostram o caráter resiliente das mulheres yawalapitis? Explique: em que medida elas são responsáveis pela recuperação desse povo?

3. Copie o trecho em que se explica a relação estabelecida entre o Kuarup e a capacidade de resiliência dos Yawalapiti.

  1. No relato lido, além de narrações, é possível encontrar diversos momentos descritivos. Identifique o trecho em que se descreve o lugar em que os Yawalapiti vivem atualmente.

  2. Observe que o autor, ao logo do texto, apresenta-nos algumas palavras na língua yawalapiti e conta-nos histórias antigas desse povo. Na sua opinião, o que pode justificar o emprego desses recursos?

6. Releia o segundo e o terceiro parágrafo do texto e responda:

a) Qual foi o equívoco histórico cometido na época do descobrimento?

b) Qual grave engano cometeu a expedição de Karl von den Steinen, no século XIX?

7. Segundo o texto, o ritual do Kuarup propicia o renascimento a cada ciclo de morte, mas também propicia o renascimento a partir de enormes dificuldades.

a) Quais são as dificuldades enfrentadas pelos Yawalapiti?



  1. De que forma esse povo está renascendo?

  2. Leia esta versão sintetizada da lenda do Kuarup e da organização do ritual:

Segundo a lenda que dá origem à cerimônia do Kuarup, Mavutsinim, o herói fundador, cansado de viver sozinho, cria a humanidade — ou dá origem ao povo Kamayurá, no Alto Xingu — a partir de toras de madeira (kuarup) enfeitadas por ele e fincadas no chão.

Ao se dar conta da existência da morte, Mavutsinim ressuscita os que já haviam morrido, da mesma maneira que fizera surgir os seres humanos pela primeira vez: enfeita e finca as toras na beira do lago, depois espera até o amanhecer, quando as madeiras começam a ganhar vida. Uma festa então acontece entre os animais da floresta, transformando os peixes nos aldeões mais simples e as onças em povos vizinhos. Entretanto, a desobediência de um indígena à proibição dessa cerimônia — não se poderia ter relações sexuais nessa noite — torna a ressurreição impossível, levando Mavutsinim a declarar que, desse momento em diante, o ritual seria apenas uma festa de homenagem, nunca mais os mortos voltariam à vida.

Até hoje o ritual é celebrado para agradecer pela convivência nesta vida e liberar os mortos para viverem em outro mundo.

Samuel Casal/Arquivo da editora

Você já tinha ouvido falar nesse ritual ou em outro semelhante? Em caso afirmativo, conte à classe o que sabe.

Qual é o grande presente desse herói?

Por essa lenda se explica a origem da humanidade e se procura levar os indígenas a aceitar que situação? Em que condições?

8. A Carta do achamento, de Pero Vaz de Caminha (Texto 2), e o relato do historiador Célio Turino (Texto 3) representam visões distintas sobre os povos indígenas de que tratam. Considere o contexto discursivo de cada um desses textos (quem fala, em que momento histórico, para qual interlocutor, com que intencionalidade) e aponte as diferenças entre os dois relatos.

O ponto de vista

A identificação do ponto de vista predominante em um texto é fundamental para sua compreensão. É a partir dele que se desvendam motivações, contextos históricos, culturais e, sobretudo, o conjunto de valores mobilizados no texto em discussão. Apenas o reconhecimento desses aspectos pode indicar as significativas mudanças nas sociedades através do tempo, o que revela certa dinâmica da história por ser em parte aquilo que se conta e em parte aquilo que se compreende ou interpreta à luz de conceitos renovados ou retomados.

Na história em quadrinhos de Fernando Gonsales, é evidente o posicionamento crítico e cheio de humor do cartunista dessa espécie de sátira à Carta do achamento ao atribuir, de certa forma, alguns problemas atuais às nossas origens.

Por sua vez, a Carta de Pero Vaz de Caminha, um relato histórico fundamental sobre a chegada dos portugueses ao Brasil, apresenta, além da exuberância da nova terra, a surpresa em relação aos povos que nela viviam. A análise da terra e seus habitantes feita pelo escrivão está baseada nos costumes europeus, em um momento cultural que não leva em consideração o significado dos hábitos culturais para o grupo que os pratica.

Diferentemente de Pero Vaz de Caminha e mesmo de Fernando Gonsales, o pesquisador Célio Turino deixa transparecer em seu texto o fruto de sua experiência com a cultura indígena. Seu olhar é o de quem conviveu com o povo, de quem reconhece e respeita sua singularidade. Assim, o estudioso apresenta os Yawalapiti de forma sensível procurando mostrar ao leitor o significado, para esse povo, de seus costumes.

Você já deve ter viajado e conhecido outros lugares. Ou então deve haver algum lugar que gostaria muito de conhecer. Reflita sobre o que viu e descobriu durante uma viagem ou então pesquise para saber hábitos e costumes dos que moram no local que você gostaria de conhecer.

a) Então escreva em uma folha avulsa:

Quais são os hábitos e costumes dos moradores desse lugar?

Que diferenças e semelhanças você notou?

Um desses hábitos lhe pareceu estranho ou surpreendente? Por quê?

b) Selecione uma foto desse lugar e de sua gente, se possível mostrando os hábitos que você comentou. Ilustre seu texto com essa imagem.

c) Exponha no mural da classe seu trabalho e leia o que os colegas expuseram.

d) Conversem sobre o impacto dessas outras realidades.

Bruna Assis Brasil/Arquivo da editora
Para ler outras linguagens

Pintura e ponto de vista

A Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei dom Manuel I foi e continua sendo inspiração para muitas produções artísticas, talvez pelo interesse despertado pela situação do Brasil no tempo em que começou a ser visto por outros povos, como os portugueses. Afinal, entender o primeiro contato dos portugueses com os povos que viviam aqui é uma forma de construir (ou reconstruir) a identidade nacional e também de compreender a situação atual do país.

Mas será que a perspectiva de quem se expressa — em linguagem verbal ou em outra linguagem — é sempre a mesma ou ela muda conforme a época, a linguagem ou o ponto de vista de quem se expressa? Essa é a questão a ser discutida nesta seção.

1. Observe a seguir uma pintura do artista brasileiro Oscar Pereira da Silva, feita em 1904.

a) Em seu caderno, descreva a imagem indicando:

quem são os retratados;

quem observa quem nessa pintura;

de que modo a organização da cena favorece determinada observação.

b) Oscar Pereira da Silva (1867-1839) fez seus estudos na Academia Brasileira de Belas-Artes e em Paris. Entre seus temas preferidos, estava o retrato de fatos históricos nacionais. Sua tela reproduzida aqui foi encomendada para as comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 1922. Portanto, está inserida no contexto da República Velha (1822-


-1930), quando o poder econômico e político do país estava nas mãos da oligarquia mineira e paulista, com destaque para a produção de café no Sudeste. Iniciava-se a industrialização do Brasil, sobretudo nessa região. Ainda em 1922, um fato contribuiria para dar novos ares às artes brasileiras: a Semana de Arte Moderna, ocorrida no Teatro Municipal de São Paulo, sob organização de jovens intelectuais que propunham novas formas para o fazer artístico nacional, valorizando tudo o que representava o ser brasileiro. Em sua opinião, a tela de Oscar Pereira da Silva parece se relacionar a uma proposta renovadora, que valoriza a identidade brasileira? Explique com base em suas respostas ao item anterior.

2. Agora observe outra pintura que recria esse mesmo momento histórico. Essa obra foi pintada pelo artista brasileiro Cândido Portinari, em 1956. Seu título é Descobrimento, pois ela também representa o momento da chegada dos portugueses narrado por Pero Vaz de Caminha em sua carta.

Observe a tela e seus elementos: personagens, cenário, formas e cores. Reflita e responda no caderno às questões propostas a seguir sobre ela.

a) Os indígenas estão agrupados à direita da tela e no primeiro plano na parte de baixo da tela. Para onde todos eles parecem olhar?

b) Que tons de cor predominam no quadro, aparecendo em primeiro plano? Em que elementos do quadro essas cores são usadas?


c) Observe a postura dos personagens, sobretudo dos braços e das mãos. Por esses detalhes, que impressão se tem da atitude e das características deles?

Oscar Pereira da Silva/Museu Paulista, São Paulo



Cândido Portinari. Descobrimento, 1956. Óleo sobre tela. Dimensões: 199 cm × 170 cm.

Cândido Portinari/Coleção Banco Central do Brasil, Brasília

Olham para as três caravelas que chegam por mar.

3. Observe o ponto de vista que o artista escolheu retratar ao mostrar a cena do descobrimento.

a) Portinari retrata o momento histórico sob o ponto de vista de quem está a bordo das naus ou de quem está em terra?




  1. É o mesmo ponto de vista da carta de Caminha? Explique sua resposta.


4. Portinari (1903-1962) pertenceu ao grupo de intelectuais e artistas brasileiros das décadas de 1930 e 1940 que optaram por desenvolver uma temática social em suas obras. Além disso, sua pintura apresenta um caráter vanguardista, distante das convenções acadêmicas.

a) Observe o solo sobre o qual estão os indígenas. Qual é a cor? Qual é a forma?




  1. Observe os corpos dos indígenas e suas pinturas. Estão em harmonia com esse tratamento dado ao solo? Explique.


5. Compare a pintura de Portinari com a de Oscar Pereira da Silva, reproduzidas nesta seção. Além da técnica artística de vanguarda, Portinari inova em relação a que aspecto?

E por falar em...



Cultura indígena

No Brasil, há algumas áreas em que diferentes povos indígenas podem prosseguir com seus hábitos, manter suas tradições, sua cultura. Esses grupos têm assegurada a possibilidade de viver onde sempre viveram e isso garante a eles o sentido de preservação, de pertencimento. Entretanto, isso está longe de ser a realidade de todos os povos indígenas do país.

Você lerá trecho de uma entrevista concedida ao site UOL pelo professor e antropólogo Tonico Benites, em que ele trata da possibilidade de haver um deslocamento de diversas aldeias do Mato Grosso do Sul para reservas determinadas pelo governo.

Antes, porém, leia o texto a seguir para ter uma ideia do que são legalmente as denominadas Terras Indígenas.


O que são Terras Indígenas (TIs)

No Brasil, quando se fala em Terras Indígenas, há que se ter em mente, em primeiro lugar, a definição e alguns conceitos jurídicos materializados na Constituição Federal de 1988 e também na legislação específica, em especial no chamado Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), que está sendo revisto pelo Congresso Nacional.

A Constituição de 1988 consagrou o princípio de que os índios são os primeiros e naturais senhores da terra. Esta é a fonte primária de seu direito, que é anterior a qualquer outro. Consequentemente, o direito dos índios a uma terra determinada independe de reconhecimento formal.

A definição de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios encontra-se no parágrafo primeiro do artigo 231 da Constituição Federal: são aquelas “por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”.

No artigo 20 está estabelecido que essas terras são bens da União, sendo reconhecidos aos índios a posse permanente e o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.

Não obstante, também por força da Constituição, o Poder Público está obrigado a promover tal reconhecimento. Sempre que uma comunidade indígena ocupar determinada área nos moldes do artigo 231, o Estado terá que delimitá-la e realizar a demarcação física dos seus limites. A própria Constituição estabeleceu um prazo para a demarcação de todas as Terras Indígenas (TIs): 5 de outubro de 1993. Contudo, isso não ocorreu, e as TIs no Brasil encontram-se em diferentes situações jurídicas.

Grande parte das Terras Indígenas no Brasil sofre invasões de mineradores, pescadores, caçadores, madeireiras e posseiros. Outras são cortadas por estradas, ferrovias, linhas de transmissão ou têm porções inundadas por usinas hidrelétricas. Frequentemente, os índios colhem resultados perversos do que acontece mesmo fora de suas terras, nas regiões que as cercam: poluição de rios por agrotóxicos, desmatamentos etc.

O QUE são Terras Indígenas. Disponível em:


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