diferentemente-segundo-idiomas-ouvidos-na-infancia.shtml>. Acesso em: 15 mar. 2016.
1. Quem você imagina ser o leitor dessa seção do jornal?
2. O que você observa na página? Você percebe alguma intenção no modo como ela está organizada?
3. Ao escrever e ilustrar uma seção de ciência de um jornal, os redatores e os ilustradores certamente pressupõem as expectativas e os conhecimentos prévios de seus leitores. Após analisar o maior número possível de informações dessa seção, indique se ela é dirigida a conhecedores de ciência ou ao público leigo (não especializado no assunto). Que elementos da página comprovam sua resposta?
4. Em sua opinião, há diferença entre escrever artigos de divulgação científica para cientistas e escrever textos de divulgação científica para pessoas que desconhecem o assunto? Se houver, qual seria essa diferença?
Texto 1
Você lerá, a seguir, um texto jornalístico de divulgação científica escrito por Marcelo Gleiser, físico e articulista da seção de ciência de um jornal. Em uma primeira leitura, procure identificar as características do leitor ao qual o articulista se dirige (qual pode ser seu conhecimento de mundo, seu interesse científico ou literário, etc.). Reflita, depois, sobre a forma como o autor organizou seu texto para atingir esse leitor.
O céu de Ulisses
Se os deuses podiam apagar o Sol por minutos, poderiam fazê-lo para sempre
Marcelo Gleiser
Houve uma época em que os homens viviam bem mais próximos do céu. E o céu dos homens. Imagine um mundo sem luz elétrica, esparsamente povoado, um mundo praticamente sem tecnologia, fora os arados dos campos e os metais das ferramentas e das espadas. Nesse mundo, os céus tinham um significado muito diferente do que têm hoje. A sobrevivência das pessoas dependia de sua regularidade e clemência.
Olhar para os céus e aprender os seus ciclos era o único modo de marcar a passagem do tempo. Logo ficou claro que os céus tinham dois temperamentos: um, bem comportado, repetitivo, como o nascer e o pôr do sol a cada dia, as quatro fases da Lua e as quatro estações do ano. Outro, imprevisível, rebelde e destruidor, o senhor das tempestades e furacões, dos estranhos cometas que atravessam lentamente os céus com sua luz fantasmagórica e dos eclipses totais do Sol, quando dia virava noite e as estrelas e os planetas faziam-se visíveis e o Sol tingia-se de um negro profundo.
Os céus eram mágicos, a morada dos deuses. O significado da vida e da morte, a previsão do futuro, o destino dos homens, tanto o dos líderes quanto o de seus súditos, estavam escritos nos astros. Fenômenos celestes inesperados eram profundamente temidos.
Dentre eles, os eclipses eram dos piores: se os deuses podiam apagar o Sol por alguns minutos, certamente poderiam fazê-lo permanentemente. Eclipses eram uma amostra do fim dos tempos.
No mês passado, dois astrônomos publicaram um estudo no prestigioso jornal acadêmico americano PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) em que argumentam que o famoso poema épico de Homero, a Odisseia, faz referência a um eclipse que ocorreu de fato no mar Egeu no dia 16 de abril de 1178 a.C. [Ciência, 24/6/08]. A ideia não é nova, tendo sido proposta cem anos atrás por astrônomos interessados em datar o saque de Troia e o retorno do herói Odisseu (Ulisses para os romanos) para sua adorada (e extremamente paciente) Penélope, que esperou por muitos anos. A novidade do novo trabalho é a confluência de outros eventos astronômicos que dão apoio à tese de que Homero tinha o eclipse em mente quando escreveu as famosas linhas: “O Sol sumiu do céu e uma escuridão funesta cobriu tudo!”.
Vasculhando o texto do misterioso bardo cego, os astrônomos encontraram referências à lua nova, condição básica para um eclipse total, às estrelas usadas por Odisseu para se orientar no retorno à casa e à aparição de Vênus na madrugada logo antes da chegada em Ítaca.
O mais fascinante da descoberta é que Homero supostamente escreveu a Odisseia no final do século 8 a.C., mais de 400 anos após o evento. Não existem quaisquer relatos de eclipses datando de antes do século 8 a.C. (Se existiram, foram perdidos.) O fato de Homero ter mencionado o eclipse mostra o imenso efeito que o fenômeno exercia. O terror que despertou ficou gravado na memória coletiva, passado oralmente de geração em geração, até chegar aos ouvidos do poeta, que o usou magistralmente para realçar o clima da vingança de Ulisses, quando mata aqueles que cobiçavam a mão (e o corpo) de sua Penélope.
Existe aqui uma bela complementaridade entre ciência e arte. Ao mesmo tempo que o poeta usa alegoricamente um fenômeno celeste em seu texto para tornar mágico um momento extremamente dramático em sua história, a regularidade dos céus, descrita pelas leis da gravitação de Newton, permite que o passado celeste seja reconstruído em detalhe. Homero sabia bem que, quanto mais realista a ficção, maior o seu impacto.
clemência: misericórdia, magnanimidade.
bardo: poeta.
alegoricamente: de forma alegórica, isto é, usando um objeto para simbolizar outro.
No tempo de Homero, determinados fenômenos celestes, hoje explicados pela ciência, eram profundamente temidos. Foto do céu tirada por telescópio em 2012.
Eclipses solares eram um sinal do fim do mundo, no tempo de Homero. Eclipse solar observado na Polônia em 2011.
Folha de S.Paulo. São Paulo, 6 jul. 2008. Disponível em:
. Acesso em: 15 mar. 2016.
©Dreamstime.com/William Attard Mccarthy
©Dreamstime.com/Tomasinski73
O autor
Marcelo Gleiser (1959-), físico, astrônomo, professor e escritor, do Rio de Janeiro (RJ). Tornou-se conhecido do grande público ao colaborar como colunista de um jornal de circulação nacional e por sua participação em programas de televisão. Seu primeiro livro, A dança do Universo, publicado em 1997, recebeu o prêmio Jabuti. Fotografia de 2014.
Fotoarena/Flavio Moraes
Interpretação do texto
1. Releia o início do texto de Marcelo Gleiser, prestando atenção na sua organização e nas palavras selecionadas pelo autor.
“Houve uma época em que os homens viviam bem mais próximos do céu. E o céu dos homens. Imagine um mundo sem luz elétrica, esparsamente povoado, um mundo praticamente sem tecnologia, fora os arados dos campos e os metais das ferramentas e das espadas. Nesse mundo, os céus tinham um significado muito diferente do que têm hoje. A sobrevivência das pessoas dependia de sua regularidade e clemência.”
Agora, compare-o com o trecho a seguir, que é a introdução de uma tese acadêmica, isto é, um artigo escrito para ser exposto para outros cientistas da mesma área que compõem uma banca de examinadores, e para outras pessoas interessadas nas descobertas advindas dessa pesquisa. Preste atenção também na organização do texto e nas palavras selecionadas pelo autor.
http://www.inpe.br/pos_graduacao/cursos/ast/arquivos/teses/tese_leonardo_almeida.pdf
Desde a descoberta do primeiro sistema planetário ao redor de um pulsar (WOLSZCZAN; FRAIL,1992) e do primeiro exoplaneta ao redor de uma estrela da sequência principal (MAYOR; QUELOZ,1995), a busca por planetas fora do Sistema Solar se tornou um dos campos em Astrofísica que mais cresceu. Buscar e caracterizar esses objetos nos mais variados ambientes permite avançar no sentido de se obter respostas para questões fundamentais sobre a formação e a evolução de sistemas planetários.
NASA Ames/JPL-Caltech/T
exoplaneta: planeta que orbita fora do Sistema Solar.
Representação artística do exoplaneta Kepler-452b, descoberto pela agência estadunidense Nasa (National Aeronautics and Space Administration, Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço) em julho de 2015.
ALMEIDA, Leonardo Andrade de. Variações nos instantes de eclipse de sistemas binários no contexto de exoplanetas. São José dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2012. Tese de doutoramento. Disponível em:
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