. Acesso em: 25 mar. 2016.
Texto 2
www.estadao.com.br/noticias/vidae,cai-n-de-leitores-no-pais-e-metade-nao-le,854673,0.htm
Cai número de leitores no país e metade não lê
Parcela da população que se diz leitora passou de 55% em 2007 para 50% em 2011
Maria Fernanda Rodrigues
A terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a ser apresentada hoje na Câmara, revelou que a população leitora diminuiu no país. Enquanto em 2007 55% dos brasileiros se diziam leitores, hoje esse percentual caiu para 50%.
São considerados leitores aqueles que leram pelo menos um livro nos três meses anteriores à pesquisa. Diminuiu também, de 4,7 para 4, o número de livros lidos por ano. Entraram nessa estatística os livros iniciados, mas não acabados. Na conta final, o brasileiro leu 2,1 livros inteiros e desistiu da leitura de 2.
A pesquisa foi feita pelo Ibope Inteligência por encomenda do Instituto Pró-Livro (IPL), entidade criada em 2006 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sindicato Nacional de Editores e Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares. “É no mínimo triste a gente não poder comemorar um crescimento”, disse Karine Pansa, que acumula a direção do IPL e da CBL. Ontem, o Estado mostrou que 75% dos brasileiros nunca pisaram em uma biblioteca.
Participaram da apresentação representantes de entidades livreiras e do poder público, entre eles a ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Ela destacou a importância do estudo para o direcionamento das políticas públicas do Minc e do Ministério da Educação. “Temos de ter um olhar da cultura que vai além do ensino e que abra os olhos para outras dimensões. O livro é que vai permitir a formação da cidadania”, disse a ministra.
O levantamento foi realizado entre junho e julho de 2011, com 5 012 pessoas de 315 municípios, com 5 anos ou mais, em suas próprias casas. Todas as regiões do país foram incluídas e a margem de erro é de 1,4%.
Questões diversas
Para compor o mapa da leitura, questões diversas foram analisadas. Os principais motivos que mantêm leitores longe de livros são falta de tempo (53%) e desinteresse (30%). O livro digital, novidade deste ano, já é de conhecimento de 30% dos brasileiros e 18% deles já o usaram. A metade disse que voltaria a ler nesse formato.
A mãe não é mais a maior incentivadora da leitura, como aparecia na pesquisa passada. Para 45% dos entrevistados, o lugar é ocupado agora pelo professor. A biblioteca é o lugar escolhido para a leitura de um livro por apenas 12% dos brasileiros — 93% dos que leem o fazem em casa. Ter mais opções de livros novos foi apontado por 20% dos entrevistados como motivo para frequentar uma biblioteca. Porém, para 33% dos brasileiros, nada os convenceria a entrar em uma.
Entre o passatempo preferido, ler livros, periódicos e textos na internet ocupa a sexta posição (28%). Na pesquisa anterior, o índice era de 36%. Assistir à televisão segue na primeira posição (85%) — em 2007, era a distração de 77% dos entrevistados.
Dos 197 escritores citados, os mais lembrados foram Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho, Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade. Já os títulos mais mencionados foram a Bíblia, A cabana, Ágape, O Sítio do Picapau Amarelo — que não é exatamente título de nenhum livro de Lobato — e O pequeno príncipe. Best-sellers como Crepúsculo, Harry Potter e O monge e o executivo também aparecem.
©Shutterstock/Tom Wang
Adultos podem estimular o interesse das crianças pela leitura.
O Estado de S. Paulo. São Paulo, 28 mar. 2012. Disponível em:
vidae,cai-n-de-leitores-no-pais-e-metade-nao-le,854673,0.htm>. Acesso em: 25 mar. 2016.
1º momento — Dividam-se em grupos
1. Pense sobre as seguintes questões e discuta com seus colegas:
▸ Se toda a população lê pouco, seria razoável esperar que os jovens fossem grandes leitores?
▸ O que poderia ser feito para incentivar os brasileiros a ler mais?
2. Antes de concluir, leia o próximo texto. Trata-se de uma entrevista com o escritor João Anzanello Carrascoza que fala do prazer que a literatura pode nos proporcionar. Reflita sobre esse assunto, pensando em suas próprias experiências de leitura.
Na opinião de vocês, a leitura prazerosa pode também despertar a consciência crítica?
Texto 3
http://rascunho.com.br/joao-anzanello-carrascoza
João Anzanello Carrascoza
No dia 3 de setembro, o projeto Paiol Literário — promovido pelo Rascunho, em parceria com o Sesi Paraná — recebeu o escritor JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA. Nascido em Cravinhos (SP), em 1962, Carrascoza é autor dos contos de Hotel solidão (1994), Duas tardes (2002) e Dias raros (2004), entre outros, e de obras para o público infanto-juvenil, como Aquela água toda (2012). Dos prêmios que recebeu, destacam-se o Guimarães Rosa/Radio France Internationale e o Jabuti. Seus contos foram traduzidos para o inglês, francês, italiano, sueco e espanhol. Na conversa com o escritor e editor Rogério Pereira no Sesc Paço da Liberdade, em Curitiba (PR), Carrascoza falou sobre o potencial da literatura de organização da experiência, sobre a construção da voz do escritor, seu interesse em retratar sentimentos mais do que questões sociais, o desafio de renovação e seu primeiro romance, o recém-lançado Aos 7 e aos 40.
Aproximação
A literatura é a construção de mundos possíveis. É uma forma de a gente sonhar. Antonio Candido disse, num ensaio dos anos 1950, que não há quem consiga viver sem sonhar, e que a literatura seria o sonho acordado da civilização. Eu penso nessa direção: a gente precisa sonhar, sair um pouco da agressão do real, reconstruir outros mundos, mundos possíveis, sublimados, em que se possa entrar em comunhão com o outro. A leitura — e não só a leitura da palavra, mas do mundo, que você pode fazer com o seu corpo, com o seu olhar, com os seus sentidos — tem um valor e uma motivação: é justamente buscar entrar em conjunção com os outros. Ou em disjunção. De qualquer maneira, é um ato, uma ação — não é contemplação. É uma oportunidade de decifrar a si e ao mundo. Ler permite acariciar a sua dor, acalmar a sua condição, que é a condição humana: breve, precária e ao mesmo tempo maravilhosa. É também se iluminar, ou se escurecer. Ler é buscar a sua própria compreensão de mundo, de si mesmo e, num segundo instante, buscar essa conexão com o outro. A leitura só tem sentido nesse caminho. Cada um de nós é o texto, um texto que se faz e se refaz o tempo todo, e que é para ser lido pelos outros também. À medida que o está escrevendo, é preciso que você o leia, revise, reescreva, interprete em função do contexto do qual ele vai fluir. Há pessoas que não têm muita necessidade da literatura em si, mas o têm da narrativa. Porque a narrativa não está restrita ao livro, mas [diz respeito à] necessidade de sonhar. É como se diz: só viver não basta. Há outras vidas que se pode encontrar. E por que você busca vivê-las? Justamente para se colocar no lugar do outro. Tolstói, naquele famoso artigo “O que é arte?”, dizia que a arte constrói um sentido de sentimento e o leitor consegue atualizar aquele sentimento ou não em função da geração de empatia. Então, a leitura é uma forma de empatia, de aproximação. Pode ser de distanciamento também, mas tenho a esperança de que seja de aproximação.
Compaixão
Quando lê, você se entrega a si mesmo, à medida que vai buscando decifrar o que aqueles códigos vão construindo de efeitos de sentido. Não tem nenhuma grandeza fazer isso só por conta de si, mas sim para também descobrir o outro. Antes de ser um escritor, sou um leitor de mundo. E sou também o meu primeiro leitor. Enquanto escritor, sinto-me como que declarando amor ao outro, entendendo ou buscando entender a minha realidade, dividi-la, compartilhá-la. A minha escrita é uma entrega: é usar do meu tempo para de alguma maneira buscar uma conexão com o outro. Ou seja, ao fim — pelo menos da maneira como escrevo —, imagino que mais do que uma comunhão, a leitura — e assim o ato de escrever — propõe a aproximação de um sentimento de compaixão. Por que você lê alguém? Porque você segue com ele. Compaixão: eu sigo com paixão.
Sensibilidades
O que me encanta não é apenas o tipo de literatura de que gosto, mas a que mexe comigo pela surpresa, por me causar por vezes estranhamento, que então gera aproximação. É ter pluralidade, poder ler todo o tipo de literatura [...]. O que gosto na literatura é não ficar sempre provando das mesmas coisas, porque o que te propõe a surpresa é justamente a oportunidade de encontrar essa diversidade. Como cada um de nós: ninguém é igual, no sentido de que tem a mesma história, a mesma escritura. Cada um de nós escreveu a sua história, que é para ser lida pelos demais e por si mesmo. [...] O tempo todo nós estamos olhando frente a frente as pessoas, estamos nos alimentando, acordando, dormindo, ficando em solidão, em apreensão, em dúvida. E o transporte para a literatura dessa maneira de sentir e de pensar é algo que me encanta. [...]
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