Marian keyes



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CAPÍTULO 18
O tempo fora ficando mais lento, até parar, enquanto eu fora a Mãe Alcoólatra do Inferno (e a Filha Alcoólatra do Inferno e a Irmã Al­coólatra do Inferno, para ser perfeitamente exata). Mas, agora que eu começava novamente a viver, o tempo também começou a trotar de­pressa e entrou em plena disparada, antes mesmo que eu percebesse.

Os dias agora passavam voando, como acontece nos filmes em que o diretor quer transmitir a idéia de uma passagem rápida do tempo, por exemplo, com as páginas de um calendário sendo viradas rapidamente por um vento forte. Então elas se soltam e são sopradas para longe. Folhas marrons são sopradas junto com as páginas, indi­cando os dias do outono, e depois entra com o vento um pouco de neve, mostrando a chegada do inverno.

O fim de semana terminou antes que eu percebesse.

Não, claro, que conceitos como a diferença entre o fim de sema­na e a semana de trabalho fizessem a mínima diferença para uma pessoa ociosa como eu.

Todo dia era feriado.

Mas de repente era segunda-feira de manhã. James teria voltado do Caribe. Ou de Mustique. Ou de uma ilha pequena, de proprieda­de particular, bem próxima da Costa do Céu. Ou para onde quer que aquele infiel filho-da-puta tivesse ido.

Então, eu tinha de telefonar para ele.

Mas me sentia perfeitamente calma a respeito. O que deve ser feito, deve ser feito.

Claro que era muito fácil para mim estar calma com relação a James, quando estava doente de preocupação em relação a Adam.

Seria difícil estar perturbada ao mesmo tempo pelos dois.

Transferência afetiva etc, uma salva de palmas para o Dr. Freud.

Mas, antes de chegar a telefonar para James, eu tinha outra ma­ravilha reservada para mim, na manhã de segunda-feira.

Meu check-up pós-natal das seis semanas, com o médico.

Os divertimentos pareciam não cessar jamais em minha vida.

Esse era um acontecimento simbólico, como um divisor de águas.

Era uma forma de reconhecimento de que o parto fora um suces­so. Como uma festa de lançamento dada quando um novo filme é lan­çado. A diferença é que, na festa de lançamento do filme, os partici­pantes do elenco e a equipe não têm de sair colocando seus pés em estribos, enquanto homens estranhos examinam suas partes íntimas.

A não ser que realmente queiram, claro.

Kate também tinha hora marcada na Clínica para Bebês.

E lá fomos as duas no carro.

Eu estava orgulhosa de mim mesma. Todo dia em que conseguia me arrancar da cama e funcionar ainda era um pequeno milagre.

A vida, com todos os seus deveres e responsabilidades a serem cumpridos, começava novamente a ser agradável.

Kate já fora levada à clínica algumas vezes.

Não era nenhuma novidade para ela. Mas eu não estava real­mente preparada para a cacofonia de choros que nos saudou na che­gada. Parecia haver ali vários milhares de bebês berrando, com mães atormentadas e confusas na sala de espera.

Na verdade, algumas mães choravam mais alto que seus filhos.

- Se, pelo menos, ele parasse de chorar - disse uma mulher, com voz lamurienta, sem se dirigir a ninguém em particular. - Só cinco minutos.

Meu Deus, pensei, horrorizada. Percebi, de repente, como tinha sorte.

Não apenas Kate parecia ser um bebê anormalmente plácido, mas eu tinha mamãe e papai e, acho, Helen e Anna, para partilhar o encargo de cuidar dela.

Mamãe e papai levaram-na a suas consultas de rotina, quando eu me comportava como um demônio.

Meu Deus, não consigo nem dizer a você como me senti envergo­nhada, naquele momento.

Como podia ter negligenciado minha linda filha de maneira tão terrível?

Jamais aconteceria de novo.

E nenhum homem jamais tornaria a me arrasar da maneira como deixei que James fizesse.

Senti-me doente só com o pensamento de que não cuidara de Kate da maneira correta, porque sofria por causa de um homem.

Kate teve sua consulta antes de mim.

Eu a carreguei em seu berço portátil até a sala de exames.

A enfermeira era uma jovem e glamourosa ruiva do condado de Galway.

Por que as enfermeiras são sempre bonitas e sensuais?

Tenho certeza de que existe alguma antiga lenda que explica isso.

Há muito, muito tempo, havia uma tribo de mulheres belas em excesso.

Os homens ficavam enlouquecidos de desejo por elas e todas as outras mulheres sentiam-se inferiorizadas e horrendas.

Houve tumultos e rebeliões violentas de todos os tipos.

Lares eram destruídos, quando homens, anteriormente bem casados, apaixonavam-se por essas garotas.

Houve mulheres feias, de outras tribos, que se suicidaram, por­que não poderiam nunca competir com aquelas sereias.

Algo precisava ser feito.

Então Deus decretou que todas as mulheres bonitas tinham de se tornar enfermeiras e usar sapatos de cadarço, verdadeiramente hor­rorosos, além de medonhos uniformes que se alargavam na direção da bainha, fazendo seus bumbuns parecerem imensos, de modo que, com isso, o poder de atração delas diminuía bastante.

E assim, até os tempos atuais, as mulheres bonitas têm de se tor­nar enfermeiras, para que os perigos de sua beleza sejam diluídos pelos uniformes horrendos.

Só não sei explicar como é que essa minha pequena fábula se ajusta às top models e suas roupas reveladoras e lindas.

Ora, deixe pra lá.

A enfermeira fechou a porta com firmeza. Mas o barulho das crianças que rugiam na sala de espera ainda era perfeitamente audí­vel, entremeado, vez por outra, com gemidos de: "Apenas cinco minutos; é tudo que eu peço."

- O barulho não a deixa louca? - perguntei-lhe, com curiosi­dade.

- Absolutamente - respondeu ela. - Nem o ouço mais. Começou a examinar Kate.

Kate era tão boazinha. Ela sequer chorou.

Estava muito orgulhosa da minha filhinha.

Tive vontade de abrir a porta e dizer, com um jeito de professora de escola elementar, para todas as crianças ali fora: "Vejam, é assim que vocês deveriam se comportar. Observem esse modelo de criança, aqui dentro, e imitem o que ela faz."

Observei a enfermeira, enquanto examinava Kate e seus sinais vitais.

Seria bem feito para mim, se houvesse alguma coisa terrivelmen­te errada com ela, pensei, com o terror tomando conta de mim.

Mas não, tudo estava ótimo.

A parte culpada de mim estava quase desapontada.

Ela está engordando bastante - disse a enfermeira. - Obrigada - disse eu, exultante e orgulhosa.

É um bebê perfeitamente saudável - sorriu a enfermeira.

Obrigada - tornei a dizer.

Abri a porta para ir embora e uma nova onda de gritos agudos me deixou tonta.

Abrimos com dificuldade o caminho de volta, em meio à multi­dão de crianças com rostos vermelhos de tanto berrar.

Pelo que pude entender, um grupo delas tomava vacinas BCG, e isso contribuía para a perturbação geral.

Segui meu caminho com cuidado, através da aglomeração ensur­decedora, carregando Kate em seu berço portátil.

Quando, dando graças a Deus, fechei a porta sobre a algazarra atrás de mim, a última coisa que ouvi foi aquela pobre mulher ge­mendo: "Mesmo três minutos. Eu me conformaria com três."

Então, tivemos de esperar um instante até chegar minha vez de ser atendida pelo médico.

Li um exemplar de Woman's Own que datava de algum momen­to na virada do século (crinolinas estão definitivamente out este outono). Kate dormiu um pouquinho.

Que gracinha de menina.

O médico era um velhote simpático. Terno cinzento, cabelos gri­salhos, maneiras vagamente gentis.

- Olá, ah, sim, Claire, sim, Claire e bebê, ahn, Catherine - disse ele, lendo as anotações em sua escrivaninha. - Entre e sente-se.

Após um momento, ergueu os olhos para a cadeira diante de si e, como eu não estivesse lá, seu olhar percorreu ansiosamente a sala, imaginando para onde eu fora.

Eu colocara o berço de Kate no chão e estava por cima dele, na mesa de exames, após tirar as calcinhas e colocar meus pés nos estribos, tudo com uma velocidade que fez a cabeça do médico girar,

Velhos hábitos custam a ser abandonados.

Da próxima vez em que eu fosse ao médico, não importa quais os sintomas, fosse dor de ouvido ou uma luxação no pulso, teria de fazer um esforço para me conter, não arrancar as calcinhas e subir na mesa.

O médico fez o que costumava fazer, fosse o que fosse, envolven­do aquela velha amiga minha: a luva lubrificada.

Lamento se estou sendo repugnante.

Realmente, tenho toda solidariedade pela maneira como você se sente.

Houve um tempo em que eu me sentia prestes a desmaiar só com a idéia de fazer um exame preventivo.

Agora, após ter engravidado e dado à luz, acho que poderia submeter-me a uma histerectomia apenas com anestesia local e ainda ficar sentada, alegremente conversando com o cirurgião sobre o que vira na televisão, na noite da véspera.

Que diabo, por que me preocupar com a anestesia?

Mas esqueço que os outros não tiveram as mesmas experiências sofridas que eu tive.

-Você se recuperou maravilhosamente - disse-me ele, como se isso fosse uma grande realização.

-Obrigada - eu disse, satisfeita, sorrindo-lhe por entre minhas pernas.

Sentia-me como se tivesse cinco anos e todas as minhas contas de somar estivessem certas, na escola.

-Sim, nenhuma complicação aí, absolutamente - ele conti­nuou. - O sangramento já parou?

(Desculpem, não vou continuar muito tempo falando disso.)

- Sim, parou há cerca de uma semana - disse-lhe eu.

-E os pontos cicatrizaram perfeitamente - disse ele, continuando a examinar e cutucar.

-Obrigada - sorri novamente.

-Muito bem, pode descer agora - disse-me ele.

-Então, todo o resto está bem? - perguntou, enquanto eu me vestia.

-Ótimo - disse eu. - Ótimo.

-Ahn, quando posso tornar a fazer sexo? - deixei escapar de repente.

(Ora, por que perguntei isso?)

- Bem, suas seis semanas passaram, então a qualquer momento que quiser - disse ele, cordialmente. - Poderia começar agora mesmo.

Atirou a cabeça para trás e gargalhou alto, depois parou abrup­tamente, enquanto visões do Conselho de Medicina e moções para que ele fosse cassado passavam pelo seu pensamento.

Há uma linha divisória muito fina entre um comportamento aceitável por parte do médico para com sua paciente e uma insinua­ção obscena.

Talvez o Dr. Keating ainda não tivesse captado inteiramente a diferença.

Hum, hum - disse ele, acalmando-se. - Sim, a qualquer momento que quiser.

-Vai doer? - perguntei, ansiosa.

-A sensação, de início, pode ser um pouquinho desconfortável, mas não deve causar propriamente dor. Peça a seu marido para ser especialmente cuidadoso com você.

- Meu marido? - perguntei ao médico, surpresa. Eu nem sequer pensara em meu marido.

-Sim, seu marido - disse ele, com igual surpresa na voz. - A senhora é casada, não, Sra. ah, Sra. Webster? - perguntou ele, con­sultando suas anotações.

-Sim, claro, sou - disse eu, corando. - Mas estava, ah, sabe, apenas fazendo perguntas de ordem geral. Não planejava, de fato, ter relações sexuais com ninguém.

Pensei que, se dissesse a expressão "relações sexuais", em vez da palavra "sexo", isto poderia ajudar a neutralizar aquela embaraçosa e constrangedora atmosfera que parecia de repente ter-se criado.

- Ah - disse ele, com esforço.

Silêncio. A perplexidade do Dr. Keating pairava pesada no ar.

É hora de ir embora, pensei.

Vamos, Kate.

Fomos para casa.

- Como foi? - perguntou mamãe, quando abriu a porta para nós.

-Tudo ótimo - eu disse. - Ótimo. A enfermeira disse que Kate está ganhando um bocado de peso.

-E como vai você? - ela perguntou.

-Aparentemente, não poderia estar melhor - eu disse. - Estou em condições de primeira ordem. Tenho uma vagina de causar orgulho.

Mamãe me lançou um olhar de desagrado.

-Não precisa ser vulgar - repreendeu-me.

-Não estou sendo vulgar - protestei.

Meu Deus, se era vulgar, ela tinha muita prática no assunto.

-Venha tomar uma xícara de chá comigo, antes de começar a "Neighbours" - disse mamãe.

-Hã, alguém me ligou enquanto eu estava fora? - perguntei- lhe, hã, muito casualmente, enquanto caminhava atrás dela até a cozinha.

-Não.


-Ah.

-Por quê? Quem você estava esperando que ligasse? - perguntou ela, olhando-me atentamente.

-Ninguém - disse eu, pondo o berço de Kate sobre a mesa da cozinha.

-Então por que perguntou? - insistiu ela, com um tom de voz que me lembrou que, embora agisse como tal, não era nenhuma tola.

- E tire a criança de cima da mesa! - disse ela, batendo com força em meu braço com um pano de prato. - A gente tem de comer aí em cima.

- Ela está limpinha! - protestei, ultrajada. Como ela ousava?

Eu estava sempre lavando Kate.

Ela era inteiramente asséptica.

Não se conseguiria encontrar nela uma só bactéria.

Minha filha era uma zona livre de germes.

Então, Adam não me telefonara, refleti, enquanto bebia meu chá. Fiquei imaginando se ele ainda estava aborrecido comigo.

Talvez não me telefonasse nunca mais.

Eu não o culparia.

Com aquele comportamento meu, tão neurótico, discutindo tudo.

E eu não tinha seu número de telefone, então não podia ligar para ele.

Assim, aquilo, provavelmente, era o fim de tudo.

O caso que nunca aconteceu.

A história da paixão que não se consumou.

As almas gêmeas separadas pelas circunstâncias.

Os amantes que se amavam a distância.

Embora, pensando bem, ainda não fosse sequer a hora do almoço. Vamos dar uma chance ao cara.

Mas ele não telefonou.

Fiquei perambulando por ali a tarde inteira, sentindo-me entendida e insatisfeita.

Não queria fazer nada.

Ler, nem se fala.

E Kate lamuriava-se e chorava, e eu não me sentia lá muito paciente com ela.

De má vontade, cuidei do banho da tarde com mamãe, porque não consegui encontrar um bom motivo para apresentar a ela, a fim de não fazer isso.

Acho que preferiria sentar-me e ver vários dramas de terceira clas­se, com os mesmos atores reaparecendo em cada programa sucessivo, do que entrar em outra conversa com mamãe sobre como minha for­mação universitária provocara em mim delírios de grandeza.

E ela sabia que algo estava errado.

- Você está com um ar triste - disse.

(Embora suas palavras verdadeiras fossem: "Claire, você é como uma árvore sobre uma fonte abençoada.")

Por que diabo não deveria estar? - respondi asperamente.

Desculpe - disse ela. - Sei que não é fácil para você. Bem, ela estava inteiramente certa, não é mesmo?

Mas referia-se, obviamente, à minha situação com James. E não à minha falta de situação com Adam.

- Não, desculpe - disse-lhe eu, sentindo-me horrorosa, por deixá-la preocupada.

Eram seis horas e a chave de papai estava na porta, quando percebi, com horror, que não telefonara para James.

Droga, droga, droga.

Tivera realmente a intenção de telefonar, mas, por causa de todas as coisas que estavam acontecendo - o grande evento de ir ao médi­co e o evento principal de Adam não telefonar -, eu simplesmente esquecera por completo.

Resolvi que na manhã seguinte seria minha primeira providência.

O desastre que foi a hora do jantar afastou meus pensamentos das coisas por algum tempo.

Helen veio para casa com papai e queria comida do Mac Do­nald's.

Não, Helen! - gritou papai. - McDonald's só em feriado.

Ora, que estupidez! - ela gritou em resposta. - Outras famí­lias, famílias normais, recorrem a ele em dias comuns.

Como ela podia ser cruel.

Então, o resultado final foi que Helen acabou conseguindo o que queria, e papai saiu dirigindo como um piloto do Long Prix, com uma longa e complicada lista de pedidos para o McDonald's.

Helen rugiu atrás dele:

- Diga para não colocarem picles no Big Mac! Mas ele já partira.

Desavergonhadamente, grudei-me a Helen a noite inteira, com a esperança de que ela dissesse alguma coisa sobre Adam.

Claro, eu pegaria o touro à unha e simplesmente perguntaria o número do telefone dele, desde que ela não estivesse saindo com Adam nem nada parecido.

Mas, mesmo assim, não tive coragem de fazer isso.

Acreditara que ele não tinha nenhum interesse por ela.

Mas não estava segura, absolutamente, de como Helen se sentia quanto a ele.

Após o jantar que, a propósito, o pobre papai trouxera todo errado - picles na torta de maçã da mamãe, cheeseburgers em vez de Big Macs com queijo (o que, claro, deu lugar à acusação de "sovi­nice"), Coca Cola simples, em vez de Diet - papai mandou Helen ir para seu quarto estudar.

Pobre papai.

Ele devia estar fazendo algum tipo de curso de auto-afirmação.

O que foi bastante surpreendente, porque Helen obedeceu, com o mais superficial dos protestos.

Chamou papai de intolerável e fez alusões a uma semelhança entre o regime da casa e o da Alemanha nazista.

Mas, assim mesmo, foi para o quarto.

Quase um milagre.

Dei-lhe alguns minutos e, depois, peguei Kate e ambas subimos e batemos em sua porta.

Houve uma grande confusão. Ela parecia estar enfiando alguma coisa na lateral da cama.

- Ah, meu Deus, Claire, não faça isso! Pensei que fosse papai! - exclamou ela, com seus olhos grandes e arregalados no rosto pálido.

Recuperou uma revista chamada Crimes verdadeiros, ou algo parecido, do espaço entre sua cama e a parede.

Você estuda qualquer coisa, algum dia de sua vida? - pergun­tei-lhe, curiosa.

Nãããão... - respondeu ela, com desdém.

E se você perder o ano? - perguntei-lhe, sentando me na cama.

Vamos, deixe-me carregá-la - disse Helen, tomando Kate dos meus braços. E disse: - Não vou perder.

Como sabe?

Simplesmente sei - ela me garantiu.

Ah, meu Deus, se no meu tempo eu tivesse sua confiança.

- Então, como é a universidade? - perguntei-lhe, desejando que ela falasse sobre Adam.

- Ótima - ela disse, parecendo surpresa com meu interesse. Não disse nada, absolutamente nada, sobre Adam.

E, de fato, eu não podia, simplesmente não podia perguntar.

Então ouvi o telefone tocar.

Era a primeira vez naquele dia.

Saí da cama e desci a escada como um relâmpago lubrificado.

Graças a Deus não perguntei a Helen o número de Adam, para­benizei-me, aliviada. Eu teria aberto o jogo inteiramente, e agora não havia nenhuma necessidade!

- Alô - disse eu, tentando dar à minha voz um tom agradável, não-neurótico e de quem se desculpa, tudo ao mesmo tempo.

Desculpe, Adam, jamais tornarei a ser mesquinha com você.

- Sim, alô, posso falar com Jack Walsh? - perguntou uma voz. Meu primeiro pensamento foi: por que, pelo amor de Deus,

Adam queria falar com papai?

Mas, depois, percebi que não era Adam, absolutamente, quem estava ao telefone.

Filho-da-puta!

Como ousava?

Fazer-me praticamente quebrar meu pescoço, descendo aquela escada apenas para não ser ele, absolutamente.

- Sim, aguarde um pouco, Sr. Brennan. Vou chamá-lo para falar com o senhor - disse eu.

E subi de volta a escada, arrastando me, no auge da infelicidade.

Muito mais devagar do que descera.

Voltei para o quarto de Helen.

Com o rabo entre as pernas, como era o caso.

Ainda tinha a maior necessidade dela.

Ela brincava com Kate e não parecia inclinada a comentar meu vôo de desafio à morte pela escada abaixo.

Era uma das melhores coisas de se estar com alguém tão egoísta quanto Helen.

Era muito raro ela notar alguma coisa que não estivesse aconte­cendo consigo mesma.

Exatamente naquele momento Anna chegou e entrou no quarto, uma mistura de cabelos flutuantes, saia bate-enxuga e aspecto dis­traído.

Fiquei encantada de vê-la.

Não nos cruzávamos desde algum dia da semana anterior.

Ela caminhou pelo quarto cor-de-rosa e fofo de Helen com as botas que partiam o coração de mamãe, e sentou-se ao nosso lado na cama.

De sua bolsa (bordada, coberta de espelhos e contas), tirou cerca de cem barras de chocolate e começou eficientemente a comer tudo.

Eu nunca vira nada igual àquilo.

Só poderia supor que, de alguma maneira, tinha relação com as drogas.

- Anna, você está com... hã... "fissura"? - perguntei, sentindo-me uma velha careta e certinha.

Estava constrangida por usar uma gíria como "fissura".

Humm - ela fez um sinal afirmativo com a cabeça, emitindo o som através de uma boca entulhada o máximo possível de choco­ late com passas e biscoitos. - Hummmffff - ela gesticulou irada­ mente, quando Helen começou a rasgar os papéis das barras e prati­camente a cheirar tudo. - Consiga os seus próprios, Helen - ela conseguiu afinal dizer, quando sua boca ficou momentaneamente vazia.

Dê-me apenas este Bounty e uma barra de Mintcrisp e não vou pegar mais.

Mentia, claro.

Anna concordou.

Pobre Anna.

Passei o resto da noite atirada na cama de Helen, comendo cho­colate, ouvindo pela metade a briga bem-humorada entre Helen e Anna, esperando que Adam telefonasse.

Mas, adivinhe só o que aconteceu: ele não telefonou.

Não importa, disse a mim mesma, ele não disse que me telefonaria.

Com certeza telefonará amanhã.

Sem dúvida, telefonará dentro dos próximos dias, tentei confor­tar a mim mesma.

É óbvio que ele realmente gosta de você.

Mas, por baixo de toda a minha bravata, eu sabia que ele não me telefonaria.

Não sei como, mas simplesmente sabia.

É óbvio que minha capacidade para pressentir coisas negativas melhorara levemente desde que James me deixara.

O pouquinho de prática que eu adquirira deve ter ajudado.




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