Marian keyes



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CAPÍTULO 35
Não consigo realmente lembrar muita coisa sobre a viagem de Metrô até Heathrow.

Estava inteiramente atordoada.

Sabia que fizera a coisa certa. Pelo menos pensava ter feito. Mas acontece que aquilo era a vida real, e nenhuma decisão era inteira­mente clara. Não é como virar no lugar certo e conseguir a felicida­de para sempre ou virar no lugar errado e sua vida se transformar num desastre. Na vida real, muitas vezes é quase impossível dizer qual a decisão que se deve tomar, porque o que se ganha e o que se perde muitas vezes são equivalentes.

Como eu poderia saber se fizera a coisa certa? Queria que alguém se aproximasse de mim com uma taça ou uma medalha de ouro, apertasse minha mão, desse palmadas em minhas costas e me parabenizasse por tomar a decisão certa.

Queria que minha vida fosse como um jogo de computador. Se tomar a decisão errada, perco uma vida. Se tomar a decisão certa, ganho pontos. Só queria saber. Só queria ter certeza.

Não parava de fazer listas com os motivos pelos quais não podia haver futuro para meu casamento com James. Ele queria que eu fosse alguém que eu não era. Não se sentia feliz comigo do jeito que eu era. E eu não me sentiria feliz, se mudasse para James ser feliz. E eu não era feliz com o complexo de santo de James. Se eu o recebesse de volta, James seria feliz porque, nesse caso, pensaria que eu perdoava tudo que ele fizera. Da maneira como já perdoava, ele próprio, tudo o que tinha feito. Provavelmente significaria que, na primeira briga que eu tivesse com James, em nosso novo casamento melhorado, a separação se repetiria. James era pomposo e hipócrita e achava que eu era frívola e imatura. Estava convicta de que era melhor o casamento realmente estar terminado. Só que sempre restava espaço para um pouquinho de dúvida.

Você sabe, eu imaginava se, caso fosse mais simpática, mais forte, mais gentil, mais enérgica, mais paciente, mais doce, mais generosa, mais desagradável, mais cruel, se tivesse ditado mais regras e calado mais a boca, salvaria meu casamento.

Torturava a mim mesma com essas conjecturas.

Porque, no final, fora eu quem tomara a decisão. Fora eu quem dissera que o casamento não podia mais funcionar. Eu sabia que James não me dera muita opção, muita escolha, mas, mesmo assim, fora eu quem puxara o gatilho, por assim dizer.

Sentia-me tão culpada.

E, depois, disse a mim mesma para não ser tão tola. O que James me oferecia não valia nada. Era apenas um relacionamento falso, seria inteiramente nos termos dele e não duraria uma semana. Se durasse, seria ao preço da minha felicidade. Seria apenas uma vitória da obstinação.

Meus pensamentos giravam sem parar, enquanto eu me balançava suavemente no Metrô, com as cenas se repetindo em minha cabeça.

Meu Deus! Eu detestava aquela história de ser adulta. Detestava tomar decisões quando não sabia o que haveria escondido por trás da situação. Desejava um mundo onde as coisas boas e más tivessem rótulos claros. Onde música sinistra começasse a tocar no instante em que o vilão aparece na tela, de modo a não se poder confundi-lo com o mocinho.

Onde o que lhe pedem é para escolher entre brincar com a linda princesa, no jardim perfumado, ou ser devorado pelo monstro hor­roroso, no fosso fedorento. Nada de muito difícil, entende? Nada que force a pessoa a se angustiar a respeito nem que lhe tire o sono a noite inteira.

Ser uma vítima não é uma coisa lá muito boa, mas, que diabo, tira um bocado da confusão das coisas. Pelo menos você sabe que está certa.

E acho que eu estava desapontada. Muito desapontada. Antigamente, amara James. Não sabia se continuava a amá-lo. Se continuasse, não era da mesma maneira. Mas uma reconciliação seria melhor do que nenhuma reconciliação, se percebe o que quero dizer, ou seja, uma reconciliação que funcionasse. Não um tipo de compromisso inútil.

Estava triste. Depois, senti-me zangada. E, em seguida, culpada. Depois, veio novamente a tristeza. Era um maldito pesadelo.

Uma coisa evitou que eu perdesse inteiramente a cabeça. Percebi que não havia nada que me impedisse de voltar para James. Exatamente naquele momento, naquele minuto, eu podia sair do trem, atravessar a plataforma, voltar diretamente para o apartamen­to e dizer-lhe que estava errada e que devíamos tentar de novo.

Mas não fiz isso.

E, por mais obtusa que estivesse, confusa, perplexa, atrapalhada, fora de mim, o fato me revelou alguma coisa.

Se eu realmente o amasse, se quisesse ficar com ele, teria voltado.

Então, estava fazendo a coisa certa, pensei.

E voltei a pensar em tudo de novo.

Heathrow acalmara-se bastante. Estava bem mais tranqüilo. Como o primeiro dia das liquidações de janeiro. Estava maravilhoso.

Peguei um avião praticamente vazio de volta para Dublin.

Dispunha de uma fila inteira de poltronas só para mim, de modo que podia fungar e chorar em discreto conforto, se a necessidade me forçasse a isso.

As aeromoças estavam intrigadas.

Eu não parava de surpreender pequenos grupos delas observando-me, com ar preocupado.

Provavelmente achavam que eu acabara de fazer um aborto.

Quando cheguei a Dublin, chovia. A pista de pouso estava escorre­gadia e brilhante, na escuridão. E o salão de desembarque, deserto. Passei pelas esteiras rolantes silenciosas, com meus sensuais sapatos altos ecoando no piso de azulejos.

Eu não dissera a ninguém que voltaria, então não havia ninguém à minha espera.

Não parecia haver qualquer pessoa ali esperando por alguém.

Localizei um carregador solitário. Ele estava ocupado explican­do a um homem perplexo que perder um vôo era falta de sorte, mas perder dois era descuido.

Fui batendo os saltos enquanto passava pelas lojas fechadas, as casas de câmbio escuras, os balcões desertos de aluguel de automó­veis. Finalmente, cheguei à entrada encharcada de chuva.

Havia um único táxi esperando em frente, na noite molhada. O motorista lia um jornal.

Parecia estar ali há vários dias.

Levou-me para casa num silêncio inesperado. Os únicos sons eram o silvo dos limpadores de pára-brisa e o ruído da chuva tamborilando em cima do carro.

Seguimos através dos subúrbios adormecidos e ele, finalmente, depositou-me diante da minha casa. Estava tudo mergulhado em escu­ridão. Educadamente, agradeci-lhe pela corrida. E ele, também educa­do, agradeceu-me pelo dinheiro que lhe entreguei. Despedimo-nos.

Era uma hora e dez minutos.

Entrei silenciosamente. Não queria acordar ninguém.

Temo que não por consideração para com eles, e sim porque não queria responder a nenhuma das inevitáveis perguntas.

Estava ansiosa para ver Kate, mas ela não estava em meu quarto.

Mamãe devia ter pensado que eu não estaria em casa e levou o berço para o quarto dela e de papai.

Mas eu estava louca para vê-la. Sentia tanta falta dela.

Entrei na ponta dos pés no quarto deles para pegar Kate, espe­rando não acordar mamãe.

Tive sucesso no roubo da criança. E, depois, caí na cama, exaus­ta. Dormi com Kate em meus braços.




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