Marian keyes



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CAPÍTULO 38
Os homens.

Ah, sim, os homens. Acho que a questão estava destinada a vir à baila mais cedo ou mais tarde.

Mas escute aqui, quero deixar uma coisa clara. Não me interessei por esse cara, Andrew. Apenas gostei de ele ter dito coisas simpáticas (exceto aquilo sobre chicotear maus inquilinos em público). E eu era outra vez, oficialmente, uma mulher solteira, e havia alguns padrões de pensamento que simplesmente voltaram a funcionar. Não conse­guia deixar de fazer isso! Era obviamente genético. Ou hormonal.

De qualquer forma, estava apenas curiosa. Não fazia mal nenhum cogitar sobre essas coisas. Eu não planejava tomar nenhu­ma iniciativa.

E aquilo não significava que eu ia pular na cama do primeiro homem que me fizesse um sinal.

Quero dizer, se eu estava tão desesperada por um homem, não ficaria com James?

Embora perceba que, depois da maneira como me comportei com Adam, há uma boa chance de que você não acredite em mim.

O.K., ótimo, você não precisa acreditar em mim, mas Adam foi uma exceção.

Adam era especial.

Então você ouviu que Adam tinha uma namorada e um bebê. O que acha disso? Sensacional, não?

Acho que fazia sentido. Havia sempre uma sugestão de que havia mais coisas nele do que se podia enxergar apenas olhando-o. Porém, eu mais ou menos esperava que esse Terrível Segredo fosse algo como o hábito de consumir drogas, uma sentença criminal sem im­portância ou algo com um pouquinho de notoriedade, até mesmo glamour. Sem dúvida, não estava preparada para a notícia de que Adam era um Pai de Família.

Foi um choque. Eu chegaria a dizer que foi um choque desagra­dável. Mas, quando Helen me deu bruscamente a notícia, não fui capaz de reagir com toda a minha atenção e indignação. Distraiu-me um pouco o fato de estar a caminho de pegar um avião para Londres a fim de terminar meu casamento. Não, definitivamente não era uma boa notícia, mas eu estava preocupada demais para olhá-la de fren­te e pensar em como de fato me sentia.

Ora, eu tinha uma quantidade enorme de coisas para resolver e não podia permitir-me desperdiçar tempo devaneando. E Adam e eu, da forma como as coisas aconteceram, terminamos antes mesmo de eu descobrir que ele tinha esse bebê, de modo que não havia nada a ganhar pensando nele. Adam era o passado.

De qualquer jeito, para ser perfeitamente franca, eu não gostava de pensar em Adam. Não me deixava feliz. Era doloroso. Se ele, aci­dentalmente, ia parar em minha cabeça, não ficava nem cinco segun­dos, quase como um marinheiro que caísse de bordo nas águas geladas da Antártida. Alarmes soariam e uma dupla de troncudos seguranças seria enviada para tirá-lo dali imediatamente.

Se ele nem sequer cruzasse minha mente, eu teria a grande sorte de dispor de algum tipo de documento legal incrivelmente complica­do e tedioso para me absorver.

E Helen não me dava nenhuma chance. Estudava para seus exa­mes e causava um sem-fim de perturbações, queixando-se amarga­mente, fazendo perguntas e falando sobre fazer sexo com todos os seus professores para ter chance de passar. Assim, ela desviou meu pensamento de Adam. Desviou meu pensamento de tudo, menos das fantasias em câmera lenta de assassinatos brutais.

Mas era o mês de junho, e o tempo de repente ficara muito boni­to e quente. E algumas vezes, quando eu estava sozinha com Kate no quintal, meio adormecida, com o sol em meu rosto, sentindo-me tão descontraída, quando talvez devesse estar pensando em James, em vez disso, meus pensamentos flutuavam acidentalmente na direção de Adam, e eu me lembrava de como ele fora doce e como me fizera sentir maravilhosa.

E, em ocasiões como essa, quando eu baixava a guarda, permitia-me sentir saudade e tristeza por ele não estar ali. Mas ape­nas por um momento. Eu não gostava de sentir saudade dele. Eu realmente não gostava de pensar nele, de forma alguma.

Vamos encarar os fatos: eu não gostei do que Helen me contou. Não era uma novidade que me alegrasse o coração. Ou qualquer outro dos meus órgãos internos. Não é que eu sentisse que ele me traí­ra. Eu não estava numa posição que me permitisse protestar, mesmo porque era casada. E, do que eu conseguira juntar, ouvindo a narrati­va truncada de Helen, tinha bastante certeza de que ele estava brigado com sua namorada enquanto tivera sua pequena aventura comigo.

Se é que se pode chamar a experiência de aventura.

Se não achasse tão desagradável, provavelmente chamaria aqui­lo de uma transa, que é o que obviamente foi.

Acho que me sinto um pouco, ah, não sei, fácil demais, creio eu. Tola que fui, fiquei lisonjeada com toda a atenção que Adam me deu. Era maravilhoso sentir-me tão desejada e admirada. Principalmente depois do que acontecera com James.

E, agora, eu sentia que ele só me desejara por causa de Kate. Não que ele quisesse Kate, ou algo doentio desse tipo. Mas ele me deseja­va porque eu era mãe. Provavelmente fazia com que ele lembrasse sua namorada. Não sabia qual era o caso entre Adam e sua namora­da, mas, se ela fugira com a criança, devia ter sido realmente duro para ele e, talvez, eu fosse algum tipo de substituto.

Eu me sentia, eu me sentia... um tanto mortificada, eu acho. Ficara encantada por Adam me escolher. Mas não fora realmente eu que ele escolhera. Foram minhas circunstâncias.

Estava magoada.

E me senti tola por pensar que alguém tão lindo quanto ele podia estar seriamente interessado em alguém tão comum quanto eu. O que é que eu tinha na cabeça?

A única coisa que poderia dizer em minha defesa era que eu esta­va fora de mim. Passara por muita coisa e minha sanidade ficara abalada.

Mas, enquanto tratamos do assunto Adam, devo admitir que estava zangada com ele.

Não muito. Mas um pouquinho. Estava chateada com ele por brincar com meus sentimentos. Por me fazer sentir especial, quando não era. E, depois, por fazer aquele discurso hipócrita sobre minha volta para James. Ele não tinha nada que fazer aquilo, se não gosta­va de mim. As pessoas têm de ganhar o direito de me fazer sentir cul­pada. Era algo que eu realmente deveria tentar não conceder com tanta facilidade, como costumava fazer.

Mas, à medida que o tempo corria e eu passava mais horas cochilando no jardim ensolarado, meus sentimentos começaram a mudar. Comecei a ver o outro lado da moeda. Na verdade, comecei a me sentir inteiramente metafísica a respeito do assunto. Não era algo para o qual eu tivesse normalmente uma tendência.

Talvez fosse o excesso de sol.

Talvez Adam me fosse enviado por um motivo, pensei. Adam me fez sentir tão bem a respeito de mim mesma e restabeleceu tanto minha confiança, que tudo isso, provavelmente, deu-me forças para enfrentar James. Talvez o discurso sentencioso de Adam tivesse sido útil para me ajudar a tomar a decisão certa sobre James.

Teria sido bom pensar que Kate e eu ajudamos Adam a lidar com a dor de estar separado de sua filha e de sua namorada. Talvez nós o tivéssemos ajudado a perceber o quanto elas eram importantes para ele, independentemente de quem deixara quem.

Era tão maravilhoso sentir a amargura me abandonar. Comecei a me sentir feliz por ter conhecido Adam. Senti que Adam e eu nos havíamos encontrado por um curto espaço de tempo por um motivo especial. Tinha de ser curto. E eu gostava de pensar que ambos nos havíamos beneficiado com aquilo.

Isso talvez não passasse de tolice mística e supersticiosa. Mas eu, normalmente, não era o tipo de pessoa que vê nos acontecimentos sinais, presságios, motivos e explicações. Ao contrário. Como disse antes, estava sempre debochando das pessoas que afirmam que tudo acontece por um motivo. Claro que eu não era tão pouco generosa quanto Helen, mas, ao mesmo tempo, estava longe de ser indulgente. Existencialismo, teu nome é Claire.

Minha abordagem habitual do fato seria dizer algo como: "Adam e eu fizemos sexo porque ambos desejávamos uma trepada Apenas isso." Mas não conseguia ser cínica e dura como gostaria.

Dava para preocupar, claro, mas o que fazer?

Mas isto significava que ficar deitada no quintal era muito mais agradável, agora. Todas as vezes que pensava em Adam não sen­tia como se uma faca fosse retorcida nas minhas entranhas. Algum tipo de paz instalou-se sorrateiramente em mim. Eu não precisava sentir-me abandonada, vítima de mentiras, humilhada ou tola. Fora um prazer conhecê-lo, durante o curto espaço de tempo em que o conhecera. Talvez fosse melhor assim.

Sabem como é. Às vezes, você conhece uma pessoa maravilhosa, mas apenas por um rápido instante. Talvez em férias, num trem ou até numa fila de ônibus. E essa pessoa toca sua vida por um momen­to, mas de uma maneira especial. E, em vez de lamentar o fato de ela não poder ficar com você por mais tempo ou por você não ter a oportunidade de conhecê-la melhor, não é mais sensato ficar satisfei­to por ter chegado a conhecê-la um dia?

Havia uma sensação muito perceptível de que um capítulo se encer­rara em minha vida. Comecei a me preparar, tanto do ponto de vista emocional quanto prático, para a volta a Londres.

Comecei a colocar roupas na mala. Ampliei o raio de minhas buscas, visitando todos os armários da casa, especialmente o de Helen, e não deixando nenhuma gaveta sem abrir, nenhum cabide sem examinar.

Embora continuasse a brigar com todo mundo da família, sabia que deixá-los seria terrível. Seria especialmente duro deixar minha mãe. Não apenas porque ela era muito útil cuidando de Kate. Não, de fato, eu pensava mesmo seriamente a respeito, sabia que sentiria uma falta terrível dela. Seria como repetir a saída de casa. Pior, na verdade, porque ao sair pela primeira vez, sete anos antes, estava encantada de ir, e toda pressa parecia pouca para aproveitar minha iminente liberdade.

Agora era diferente. Eu estava sete anos mais velha e mais cansa­da. Sabia que não havia novidade em passar minhas próprias rou­pas, pagar minhas próprias contas.

Mas tinha de voltar para Londres.

Afinal, meu emprego estava lá. E eu não notara ninguém em

Dublin fazendo muita força para me oferecer trabalho. Embora, para ser justa, eu não tivesse me candidatado a nada.

E, o que era mais importante, o pai de Kate estava em Londres. Queria que ela o visse muito, para saber que tinha um pai que a amava (bem, tinha certeza de que ele a amaria, quando a conhecesse melhor), e para crescer com um homem em sua vida. Porque, se ela fosse espe­rar por mim para lhe proporcionar uma figura paterna, eu não tinha certeza de poder atendê-la. Talvez conhecesse outro homem, algum dia, mas não tinha lá muita esperança.

E, ao pensar nisso, acabei trazendo à baila toda uma nova série de preocupações. E se Kate não gostasse do novo homem? E se ficas­se cheia de ciúmes, tivesse acessos de mau gênio e fugisse de casa? Ah, meu Deus!

Ora, eu não me preocuparia ainda com isso. Seria dar um salto grande demais, quando eu ainda estava inteiramente preocupada com a possibilidade de jamais tornar a encontrar outro homem.

Na verdade, não pensava nisso a sério. Não estava angustiada com a idéia de nunca mais tornar a ter um homem.

Apenas levemente preocupada.

Decidi voltar para Londres no dia 15 de julho. Poderia mudar-me para meu novo apartamento e dar a mim mesma e a Kate algumas semanas para nos instalar e encontrar uma babá, antes de eu voltar para o trabalho.

Então, à moda de antigamente, descobri toda uma nova série de preocupações. Como tomaria conta de Kate, inteiramente sozinha? Eu me tornara muito dependente da presença de minha mãe para sugerir motivos por que Kate não queria parar de chorar, não queria comer, pelos quais vomitava, ou fosse lá o que fosse.

Você pode telefonar para mim a hora que quiser - tranqüilizou-me mamãe.

Obrigada - disse eu, com voz chorosa.

E tenho certeza de que você ficará muito bem - confirmou ela.

Tem mesmo? - perguntei, com ar patético.

Embora eu já tivesse quase 30 anos, às vezes comportava-me como uma criança quando estava perto da minha mãe.

Ah, sim - disse ela. - Ninguém sabe o quanto é forte, até precisar ser.

Acho que você tem razão - admiti.

Tenho - disse ela, firmemente. - Veja seu caso. Você não se saiu tão mal assim, apesar de tudo pelo que passou.

É, acho que sim - disse eu, em tom de dúvida.

É verdade - insistiu. - Lembre-se, o que não mata, fortalece.

Estou mais forte? - perguntei, com minha voz mais infantil.

Meu Deus - disse ela -, quando você usa essa voz, eu real­ mente duvido.

Ah - disse eu, aborrecida.

Queria que ela fosse boazinha comigo e me dissesse que eu era maravilhosa e podia enfrentar qualquer coisa.

Claire - disse ela -, não adianta me perguntar se está mais forte. Quem sabe a resposta é você mesma.

Ora, então estou - disse eu, em tom agressivo.

Ótimo - ela sorriu. - E lembre-se: foi você mesma quem disse. Não fui eu.

Na quarta-feira anterior àquela em que eu deveria voltar, Anna, Kate e eu estávamos no jardim. O tempo ainda estava lindo. Anna, hã, como posso expressar isso, estava entre dois empregos, então nós duas tínhamos passado a semana anterior perambulando pelo jar­dim, vestidas com uma variedade de sutiãs, de biquínis e shorts cor­tados bem curtos, tentando bronzear-nos.

Eu estava ganhando.

Bronzeava-me com facilidade, e Anna não. Mas, em compensa­ção, Anna era minúscula e delicada, e ficava linda de biquíni, enquanto eu, ao lado dela, sentia-me uma imensa novilha. Não esta­va mais gorda. Mas ela era tão pequena e frágil que me fazia sentir imensa, por comparação. Eu gostava de ser alta. Só não gostava de me sentir como uma atleta da Alemanha Oriental.

Então, se eu estava ganhando na guerra do bronzeado, era uma coisa bastante justa e correta.

Quando os genes foram distribuídos, ela ficou com o corpinho gracioso, enquanto eu fiquei com a pele macia e dourada.

Ela tinha pernas esguias. Eu não. Eu tinha seios. Ela não. Meio a meio.

Nossa atenção foi atraída para a janela da cozinha. Mamãe erguera a cortina e estava gesticulando e batendo.

O que ela quer? - perguntou Anna, sonolenta.

Acho que ela está dizendo "olá" - respondi, erguendo sem pressa a cabeça da espreguiçadeira para olhá-la.

Olá - ambas dissemos, languidamente, e acenamos com os braços moles. Mamãe continuou a bater. Os gestos que ela fazia me pareceram muito mais frenéticos e vulgares.

Vá você - disse eu a Anna.

Não posso - recusou ela. - Você é que vai.

Estou com sono demais - reclamei eu. - Você terá de ir.

- Não, vá você - insistiu ela, fechando os olhos. Mamãe aproximou-se, vindo pelo jardim.

- Claire! Telefone! - rugiu ela. - E, da próxima vez em que eu bater na janela, faça o favor de vir. Não faz bem à minha saúde, você sabe.

- Desculpe, mamãe.

Fique de olho em Kate - disse eu a Anna, enquanto corria para dentro da casa.

Hummm - resmungou ela.

E ponha mais um pouco de filtro solar nela - gritei por cima do meu ombro.

Tropecei na cozinha, quase cega por entrar na casa escura depois da ardente luz do sol no jardim. Peguei o telefone.

Alô - falei.

Claire - disse James.

Ah, alô, James - disse eu, imaginando o que diabo ele que­ ria. Só se me telefonara para dizer que vendera nosso apartamento. Eu não queria falar com ele.

Como vai você, Claire? - perguntou ele.

Estou ótima - eu disse, brevemente, desejando que ele acabasse com aquilo.

Claire - disse ele, com grande solenidade -, tenho algo para lhe dizer.

Está bem, vá em frente - incentivei, de maneira bem cordial.

Claire, espero que você não se importe, mas encontrei outra pessoa.

Ah - disse eu. - Ora, o que você quer que eu diga? Parabéns?

Não - disse ele. - Não há necessidade disso. Mas pensei que seria melhor lhe contar, já que você teve uma reação tão violenta, da última vez.

Com um auto controle monumental, não desliguei o telefone.

Obrigada, James - consegui dizer. - É muita consideração sua. Agora, se me dá licença, preciso ir.

Mas não quer saber tudo a respeito dela? - ele se apressou a perguntar.

Não - disse eu.

Não se importa se eu disser? - perguntou ele, ansioso.

Não - respondi.

Não se importa mesmo? - perguntou ele, ainda ansioso.

Não - ri.

Ela é muito mais jovem do que você - disse ele, em tom antipático. - Tem apenas 22 anos.

Que bom - disse eu, em tom amável.

O nome dela é Rita - disse ele.

Nome bonito - comentei.

Ela é atuária - disse ele, com a voz um tanto desesperada.

Que maravilha! - exclamei. - Vocês devem ter tanto em comum.

Que diabo está errado com você? - gritou ele.

Não sei do que está falando - protestei.

- Por que age como se não desse a menor importância? - trovejou ele. - Acabei de lhe contar que tenho uma nova namorada!

- Acho que devo estar agindo como se não desse a menor importância porque, de fato, não dou a menor importância - foi a única resposta que pude dar.

Continuei:

- Ah, e James...

Sim? - disse ele, esperançoso.

Kate está ótima - eu disse. - Tenho certeza de que é apenas um lapso o fato de você ter esquecido de perguntar. Agora, já vou. Grande notícia! Estou feliz por você. Que dure muitos anos e todas essas coisas. Adeus. - Bati o telefone.

Até que ponto uma pessoa pode tornar-se patética? O que ele esperava que eu fizesse? Que explodisse em prantos e lhe implorasse para me receber de volta? Não aprendera nada?

Voltei para o jardim. Anna se aproximara de Kate e estava sen­tada brincando com ela. Tão linda. Quero dizer, Kate. Embora Anna também fosse linda, não havia dúvida a respeito. Mas Kate era mais linda. Começara a desenvolver uma pequena personalidade toda própria. Quando se falava com ela, fazia ruídos tipo "gu, gu", algu­mas vezes ria, e se comunicava através do olhar. Era quase como conversar com ela.

Mas, no momento, ela não estava rindo muito. Seu rostinho gordo ficara de um tom rosa vivo, sob seu chapéu amarelo, e ela não parecia querer tomar mais banho de sol nenhum. "Estou com calor e aborrecida", dizia sua expressão. "E já conversei demais com essa maluca."

Quem era? - perguntou Anna.

James - respondi com desprezo, sentindo dificuldade em dizer o nome dele.

O que ele queria? - perguntou Anna.

Tem uma nova namorada - disse eu, laconicamente.

Você se importa? - perguntou ela, ansiosa.

Claro que não me importo - respondi, ultrajada.

Então, por que está agindo como se estivesse tão zangada? - perguntou Anna.

Porque ele perturbou meu banho de sol, me fez sair da espreguiçadeira e caminhar, só para me dizer isso. Nem consigo acreditar! Na verdade, não consigo. Que idiota.

Mas, vamos deixar James para lá. Eu estava preocupada com Kate.

- Será que ela está com queimaduras? - perguntei a Anna, ansiosa. - Talvez eu devesse ter usado um filtro solar mais forte.

- Talvez - concordou Arma, em tom de dúvida. - Mas não creio que fabriquem outro mais forte.

Era verdade. Eu lambuzara Kate com o filtro solar que continha o maior fator de proteção conhecido pelo ser humano. Será que eu era uma mãe superprotetora? Não conseguia deixar de ser. Preocu­pava-me com ela. Quero dizer, afinal ela era um bebê e sua pele era muito delicada. Eu não queria arriscar.

Acho que vou levá-la para dentro - disse -, só para ter certeza de que está tudo bem.

Relaxe - aconselhou Anna.

Não, é melhor levá-la para dentro - disse eu. - Ela pode tomar sol demais e se queimar.

Ah, não vá - implorou Anna. - Não terei ninguém com quem conversar.

Exatamente nesse momento ouvimos vozes na cozinha. Parecia estar ocorrendo uma pequena agitação.

Helen está em casa - disse eu a Anna. - Você pode brincar com ela.

Ah, não - gemeu Anna. - Ela vai dizer que se matará, se não passar nos exames, e cogitará se vai ter estômago para fazer sexo com o professor Macauley, e me fará uma porção de perguntas idiotas sobre a Grécia antiga. Quero dizer, o que sei eu sobre a Grécia antiga? - perguntou ela, com um tom de voz de quem foi injustiçado. - Só porque trabalhei num bar durante seis semanas em Santorini, ela acha que eu deveria conhecer bem Zeus e todo aquele pessoal.

Suspirou e começou a juntar suas coisas.

- Acho que vou entrar com você.

Mas, antes que ela pudesse escapulir, Helen irrompeu no jardim. Usava uma pequena saia jeans e uma camiseta. Seu cabelo estava enrolado no alto da cabeça e, como de costume, estava linda.

Parou quando nos viu e ficou nos olhando fixamente, com dureza.

Olhe para elas - disse, com amargura. - Olhe só para elas, essas safadas. Como têm sorte.

Oi, Helen - disse Anna, cautelosa.

Suas vacas preguiçosas, deitadas por aí sem fazer nada, enquanto tenho de suar sem parar, só estudando - continuou, em tom ressentido.

Cobri meus olhos com a mão, a fim de olhar para Helen, para seu rostinho furioso. E só então percebi que Helen não estava sozinha.

Trouxera um convidado.

Um alto e belo convidado.

Um lindo convidado de olhos azuis, cabelos escuros, maxilar quadrado, alto, que usava jeans desbotadas e uma camiseta branca.

Que se bronzeara bastante, desde a última vez em que eu o vira.

Não pensara que ele pudesse ficar com uma aparência ainda melhor, mas parece que estava errada.

Aquele filho-da-puta!

Oi, Adam - disse eu, com vontade de explodir em prantos.

Oi, Claire - disse ele, educadamente.

Prendi a respiração e esperei que ele voltasse para casa. Então percebi, com horror, que ele não ia voltar.

"Ah, mas que merda", pensei, desesperada, "ele vem para cá".

Helen e Adam aproximaram-se do pequeno oásis de espreguiçadeiras, Coca Cola diet, loção bronzeadora, revistas femininas e batatinhas fritas, que Anna, Kate e eu havíamos criado. Adam ficou em pé por um momento e colocou-se acima de Anna e de mim, que estávamos prostradas nas espreguiçadeiras. Ele não parecia muito descontraído. Faltava aquele charme habitual, que lhe vinha natural­mente. Parecia constrangido, um tanto inamistoso.

Meu coração batia forte. Sentia-me numa situação de desvanta­gem tão terrível. Ah, meu Deus, por que Helen não podia ter-me dado algum aviso de que estava trazendo o belo Adam? Eu poderia ter posto um pouco de maquilagem e um biquíni bonito. Porque, quando disse, antes, que estava deitada no jardim usando short cor­tado e um pequeno sutiã, nem por um momento queria sugerir que estava com o aspecto de uma daquelas garotinhas sensuais de Bay-watch. Ah, meu Deus, não! O short era velho, feito de brim gasto e grosseiro, e estava cortado de uma maneira esquisita. Não ficava nada bem e fazia meu bumbum parecer enorme. E a lycra do sutiã havia afrouxado, de modo que ele estava todo caído e esgarçado.

É novamente a versão Mills e Boon contra a vida real. Na pri­meira, sempre que são apanhadas desprevenidas pelo seu homem, elas estão acabando de sair do chuveiro, cobertas com uma perfuma­da loção corporal, seus cabelos cheios de pequenas mechas úmidas que escapam por debaixo da toalha, e a aparência delas é linda, de uma maneira totalmente inocente e natural.

O bastante para fazer você vomitar.

Mas, na vida real, pode apostar que estará com a pior aparência possível, quando chega inesperadamente o homem por quem você sente simpatia/amor/tesão. Ora, essa sempre foi minha experiência. Talvez você tenha um pouco mais de sorte.

Gostaria que ele não ficasse ali em pé olhando para mim, abaixo, pensei, nervosa.

- Adam, você está tapando o sol - disse eu, tentando fazer a frase soar como uma brincadeira. - Por que não se senta?

Ele se sentou. Era surpreendente como um homem tão grande e alto pudesse transformar o ato de sentar-se numa coisa tão graciosa. Lamento, eu não devia ter notado isso. Sem dúvida, não deveria ter feito o comentário.

Ele sorriu para Anna, adiante.

Olá - disse.

Oi, Adam - ela respondeu, com um sorriso envergonhado.

Como vai você? - Sua voz soava como se ele estivesse real­ mente interessado.

"Deixe Ana para lá! E eu?", quase gritei.

Estou ótima - disse Anna, devolvendo timidamente o sorriso.

Meu Deus - resmungou Helen, dando a Anna um olhar que significava: "Você é tão patética".

Adam e Anna continuaram a murmurar um para o outro. Depois, Helen voltou sua atenção para mim.

Saia daí - ordenou, tentando empurrar-me para fora da espreguiçadeira. - Acabei de fazer um exame. Preciso descansar.

Ótimo - disse eu, levantando me. - Eu já ia, mesmo.

Era importante para mim fazê-la saber que não me forçara a abandonar minha espreguiçadeira. Que eu ia por vontade própria. Jogos de poder. Eu era tão infantil.

- É isso aí - disse Anna, apressada, com o rosto vermelho como um tomate. - Também vou.

Ora, para onde você vai? - perguntou Helen.

Para dentro - eu disse.

Ah, mas que maravilha - disse ela. Estava realmente chateada. - Acabei de fazer um exame terrível e preciso aprender todo o curso de antropologia hoje à noite, e você se recusa a ficar aqui comigo durante cinco minutos para conversar um pouco e me ajudar a me descontrair.

Mas Kate está com calor demais - eu disse.

Então vá - disse ela, mal-humorada. - Vá. Olhou para Adam.

Começaremos dentro de dez minutos, O.K.?

O.K. - concordou ele.

O que faremos primeiro? - perguntou ela.

O que você quer fazer? - replicou ele.

Resposta correta. Ele, obviamente, tinha uma boa noção de como tratar Helen.

- Acho que podíamos fazer Famílias Desajustadas - disse Helen. - Já que você entende tanto do assunto.

Sorriu maldosamente.

Helen! - disse Anna, com uma voz chocada.

O quê!? - disse Helen, agressiva. - É apenas uma brincadeira. De qualquer jeito, ele entende mesmo. Não é verdade?

Acho que sim - disse ele, educadamente.

Era o bastante. Eu já ia embora. Peguei Kate e atravessei o gra­mado (gramado! Que piada!) com ela. Aqueles dois metros me pare­ceram quilômetros e quilômetros. Tudo em que conseguia pensar era nos olhos de Adam fixos em meu bumbum, sem nenhum atrativo por causa daquele short horroroso.

Finalmente, cheguei à segurança da cozinha.

Percebi que deixara minha revista no jardim. Ora, que ficasse por lá! Ninguém me veria aproximando me de Adam por vontade própria. Deus do céu!

Eu estava muito perturbada. Porque, nas últimas semanas, começara a suspeitar que talvez Adam não fosse tão atraente assim. Eu é que, em minha condição de mulher recém abandonada, estava com a capacidade de avaliação prejudicada. Talvez ficasse tão grata pela atenção dispensada por ele, que me convencera de que era lindo.

Mas não. Não era verdade. O filho-da-puta era lindo, mesmo. Eu não imaginara isso. Não me iludira.

E seu aspecto estava ainda melhor, assim bronzeado. E seus bra­ços estavam tão grandes e musculosos naquela camiseta.

Meu Deus! Era demais para suportar, estando eu inteiramente sozinha há cinco meses, fora aquela noite com Adam.

Na verdade, era muito mais tempo do que isso, porque James não quisera me ver nem pintada, nos últimos quatro ou cinco meses da minha gravidez.

E então, qual era o problema de Adam? Por que ele estava tão frio e pouco amável comigo? Claro que isso era desnecessário, não? Será que ele temia que eu fosse agarrá-lo? Que não fosse capaz de conter me? Será que sentia que tinha de me manter a distância?

Ora, não precisava preocupar-se, pensei. Estava seguro. Eu não tentaria interpor me entre ele e sua namorada. Não era tão idiota quanto antigamente. Reconhecia uma situação de perda quando me via diante dela.

"Não é estranho?", pensei, enquanto carregava Kate para o andar de cima. "Da última vez em que vi Adam, tinha acabado de sair de sua cama. Fomos tão íntimos quanto dois seres humanos poderiam ser. E, agora, agimos como estranhos bem-educados."




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