Marian keyes



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CAPÍTULO 14
Eu planejara telefonar para o Sr. Adiu, o advogado cujo nome Laura me dera, logo que ele chegasse ao escritório, às nove horas da manhã seguinte.

Mas não consegui forçar-me a fazer isso.

Alimentei Kate.

Brinquei com Kate.

Preocupei-me com o que usaria para ir à ginástica.

Preocupei-me com o que aconteceria, se Helen descobrisse que eu ia fazer ginástica com Adam.

Preocupei-me com a possibilidade de estar negligenciando Kate.

Preocupei-me com a possibilidade de mamãe se negar a tomar conta dela, sob a alegação de que assim se tornaria cúmplice de meus encontros com Adam.

Preocupei-me com tudo, menos com a coisa mais importante.

Sabia que tinha de telefonar para meu banco. Praticamente não tinha dinheiro nenhum.

Mas estava muito mais preocupada com o aspecto do meu bum­bum na malha e nas leggings que descobrira no quarto de Rachel.

Minha filha crescia sem um pai, mas, em vez de pegar o telefone e ligar para um advogado da vara de família e tentar resolver alguma coisa, fiquei em pé na frente de um espelho, contraindo meu estôma­go, verificando meu perfil e, finalmente, embora os anos tivessem pas­sado, como se ainda tivesse quinze anos, torcendo minha cabeça para trás, tentando ver qual era o aspecto do meu bumbum no espelho.

Mamãe ficou altamente desconfiada, quando lhe perguntei se ela tomaria conta de Kate para mim, de tarde.

Novamente? - perguntou ela.

Sim, mas apenas por algumas horas - murmurei.

Por quê? - perguntou ela. - O que você está aprontando?

Nada, mamãe. Apenas quero ir à academia e começar a ficar em forma novamente - disse-lhe eu. Não queria mentir para ela. Mas também não era lá muito confortável dizer-lhe toda a verdade.

Ah, a academia - disse ela, com um tom de voz que revelava bastante satisfação. - Ah, isso é bom. Preocupe-se apenas em, você sabe, não repuxar nenhum... você sabe... não causar nenhuma lesão em si mesma. Não faz tanto tempo assim que você teve Kate, não se esqueça.

Obrigada, mamãe - disse eu, divertida com sua discrição. - Mas acho que minhas entranhas estão em ótimas condições. Ansiosas para ir, para ser inteiramente honesta com você.

Não devia ter dito isso.

Tornou-a novamente desconfiada.

Sei que ela me encorajara a ter um caso com Adam, mas me sen­tia tão culpada de me encontrar com ele que não queria que ninguém soubesse.

Então lá fui eu dirigindo para a cidade, sentindo-me doente de culpa e de medo de ser apanhada, além do medo de que alguma coisa acontecesse com Kate.

Mais ou menos no meio do caminho, decidi que não era talhada para essa vida de engano, intriga e abandono de filho, e que daria a volta e iria para casa.

Mas o trânsito estava tão ruim que, quando tive a oportunidade de virar o carro, estava me sentindo culpada apenas por deixar Adam lá plantado. Então, decidi que entraria, me encontraria com ele, lhe diria que não podia encontrá-lo, se estão acompanhando meu pensamento, e voltaria diretamente para casa.

Infelizmente, não pude encontrar uma vaga para o carro. Prati­camente tive de tomar um ônibus do ponto onde estacionara o carro até onde tinha de me encontrar com Adam.

Então cheguei atrasadíssima ao encontro. Corria pela rua, quando o vi em pé em frente à loja onde havíamos combinado nos encontrar. Olhava a rua de um lado e de outro, com uma expressão ansiosa no rosto, totalmente alheio a todos os olhares de admiração que recebia das mulheres de passagem.

Cada vez que o via, levava um choque.

Esquecera o quanto ele era bonito. Aquele homem alto e belo, com suas longas pernas musculosas, está esperando por mim, pensei, sentindo-me um pouco sufocada.

Por quê?


Claire! - exclamou ele, olhando-me, encantado de me ver. - Pensei que não viesse.

Não venho - gaguejei.

Então, simplesmente mandou um holograma de si mesma ou o quê? - perguntou ele, sorrindo.

Não, quero dizer, Adam... veja, não tenho certeza se isso é uma boa idéia - gaguejei. - É por que... - minha voz falhava de infelicidade.

O que não é uma boa idéia? - ele perguntou, com doçura, enquanto eu me desviava de pedestres que se aproximavam.

Encontrar você e tudo isso... você sabe, sou casada, essas coisas - disse eu, desviando meus olhos dos dele.

Depois ergui os olhos para ele e não consegui acreditar em como ele parecia magoado.

- Eu sei que você é casada - disse ele, tranqüilamente, olhan­ do bem dentro dos meus olhos. - Não ousaria fazer nenhuma suposição. Não tenho a intenção de dar em cima de você. Quero ser seu amigo.

Eu estava mortificada. Absolutamente mortificada.

Quase morri de constrangimento.

Claro que ele não estava num jogo de sedução.

Que coragem a minha, pensar que sim.

Por que eu era tão cínica?

Ou por que era tão convencida?

O que, pelo amor de Deus, me levara a dizer aquilo a ele?

Está bem, então eu me sentia culpada por encontrá-lo. Mas não seria esse um problema meu? Por que deveria atribuir quaisquer mo­tivos impróprios a ele? Apenas porque eu mesma tinha alguns?

Ah, meu Deus, eu não sabia!

- Ouça, é melhor você ir para casa - disse Adam.

Ele não estava sendo frio nem se mostrando zangado, mas foi como se não quisesse que eu o tocasse ou algo assim.

- Não! - disse eu.

Meu Deus, será que algum dia eu tomaria uma decisão?

- Não - disse eu, de modo não tão frenético. - Desculpe. Não deveria ter dito o que disse. Fui uma tola e exagerei tudo.

Estávamos atraindo todos os tipos de olhares curiosos e interes­sados de pessoas que entravam e saíam pela porta, em sua passagem a caminho das compras.

- Que maravilha - entreouvi uma jovem mulher dizer alegre­ mente ao seu companheiro. - Não há nada de que eu mais goste do que ver outras pessoas discutindo.

Sua voz chegava até mim, vinda da rua.

- Faz-me sentir que não sou a única pessoa infeliz do mundo. Ah, não se preocupe, você não é, não.

Adam olhou-me fixamente e suspirou, impaciente.

- O que você quer?

Nada - eu disse. - Será que podemos esquecer que isso aconteceu e simplesmente ir para o ginásio, como planejamos?

Está bem - ele disse. Mas não de uma maneira muito amistosa.

Ah, tenta ser legal com ela. Dá um beijo nela - gritou um ve­ lho maltrapilho, com várias garrafas de cerveja abertas projetando-se para fora do bolso do seu sobretudo rasgado, e que estivera nos es­ piando com grande interesse. - Ela já pediu desculpas. Você não está apaixonado?

Vamos - sussurrei para Adam.

Não queria que começasse a se formar uma aglomeração.

- Dá uma prensa nela - gritou o velho atrás de nós, que pare­cia de repente ter-se tornado um tanto agressivo. - É a única linguagem que elas entendem.

Seguimos apressadamente pela rua, e os gritos do velho torna­ram-se um pouco mais fracos.

- Deus do céu - disse eu, aliviada, quando dobramos uma esquina e não pudemos mais ouvir o que ele dizia.

Adam sorriu brevemente, mas as coisas ainda estavam tensas e desagradáveis.

Fomos para o ginásio e ele sucintamente me inscreveu. Afastei-me e fui para o vestiário das mulheres e, afinal, saí furtivamente, tão constrangida quanto uma noiva virgem, com minha malha e legging, agarrando-me à parede com medo de que alguém pudesse captar uma visão completa, cinematográfica, do meu bumbum.

Mas eu não precisava ter-me preocupado.

Ele mal me lançou um olhar.

- As bicicletas estão aqui - disse, apontando. - E os pesos estão naquela sala ali. O resto dos aparelhos, ali adiante.

E ele me deixou para eu fazer as coisas sozinha.

- Que maravilha - pensei, cheia de ressentimento. - Eu podia estar puxando músculos para a esquerda, a direita e o centro, que ele não ligaria a mínima.

Fiquei em pé por um momento esperando que ele voltasse e me mostrasse como fazer tudo.

Para ser honesta, acho que eu alimentara todos os tipos de belos pensamentos, embora cheia de culpa, imaginando Adam curvado so­bre mim, enquanto eu ficava deitada de costas, bem esticada na prancha de levantar pesos, para ajustá-los ou algo parecido. E, de re­pente, perceberíamos que estávamos suficientemente próximos para um beijo.

Esse tipo de tolice romântica.

Adam ignorou-me por completo e, então, a contragosto, decidi que podia perfeitamente conter minha imaginação desenfreada e fazer um pouco de exercício.

Fiz meus exercícios de aquecimento e alongamento.

E, antes mesmo de pensar no assunto, percebi que me divertia.

"Não estou de fato feliz", garanti a mim mesma. "É a satisfação artificial que as pessoas obtêm do exercício. Feromônios ou algo parecido. Não, são endorfinas, não?"

Meu Deus, eu estava virando Helen.

Relancei um olhar furtivo para Adam.

(Upa! Isso foi bem coisa de Romance Água-com-Açúcar. Os olhares sempre são "furtivos" nesse gênero.)

Está bem, não furtei nada.

Não fui culpada de nenhum tipo de apropriação indébita.

Embora eu conhecesse um sujeito num pub que tiraria das minhas mãos, por um preço decente, uma caixa de olhares. Não me faça nenhuma pergunta.

Mas na verdade eu olhava para Adam, quando ele não percebia que eu estava fazendo isso.

Ele empurrou e ergueu uma grande quantidade de pesos.

Sua aparência era maravilhosa.

Muito austero, sério e bonito.

Um homem que levava seu corpo a sério.

E por bons motivos.

Embora estivesse usando apenas calças de ginástica e uma cami­seta, sua aparência era espetacular.

Lindos braços fortes, com um brilho de suor.

E um bumbum realmente perfeito.

Desculpem. Eu não devia ter dito isso.

Mas ele tinha, mesmo.

Depois de mais ou menos uma hora, decidi que já era o bastante para mim.

- O.K. - Ele sorriu. - Vá tomar um banho de chuveiro e encontrarei com você no café.

Ele estava realmente sentado no café, quando apareci, depois de gastar tempo demais fazendo minha maquilagem.

O cabelo dele estava todo molhado e brilhante, e ele tinha dian­te de si uns vinte copinhos de papelão, de leite.

Finalmente - disse ele, quando me viu. - Bem, você gostou?

Foi ótimo - eu disse.

Está satisfeita de ter vindo? - perguntou ele, com uma falsa expressão de seriedade.

Estou- disse eu, olhando-o bem nos olhos.

- Que bom - e começou a rir. Eu também.

Graças a Deus! Eu estava tão aliviada por ele não parecer mais aborrecido comigo.

Peguei para mim uma xícara de café e me sentei com ele.

Éramos as duas únicas pessoas na cafeteria.

Era um fim de tarde de sexta-feira, e acho que a maioria das pes­soas sensatas tinha coisas melhores para fazer.

Como, por exemplo, ir para o pub embriagar-se, eu estava con­victa.

De repente, as coisas estavam novamente muito simpáticas com Adam. A tensão desaparecera.

Não falamos sobre nada desagradável nem sério.

Eu não lhe perguntei se Helen era sua namorada, e ele retribuiu o favor não me perguntando nada sobre James.

Eu não lhe perguntei sobre suas aulas, e ele muito decentemente também retribuiu a gentileza não me perguntando sobre meu emprego. '

Ele me perguntou qual era meu animal favorito.

E eu lhe perguntei qual era sua primeira lembrança.

Ele falou sobre o tempo em que íamos às discotecas, aos 15 anos.

E discutimos que habilidade escolheríamos, se pudéssemos esco­lher uma.

Gostaria de ser capaz de voar - ele disse.

Bem, por que não aprende? - perguntei-lhe.

Não, desejaria poder eu próprio voar - respondeu ele, rindo.

- Sem avião, sem nada. E você, do que gostaria?

- Algumas vezes gostaria de poder ver o futuro - disse-lhe eu.

- Não tudo, não anos adiante, nada disso. Apenas algumas horas adiante.

- Isso seria ótimo - disse Adam. - Pense em todo o dinheiro que você poderia ganhar com os cavalos.

Ri.

- Ou desejaria poder ficar invisível. Isso seria muito divertido. Aposto que você pode descobrir mais sobre uma pessoa quando ela não sabe que você está ali.



- Tem razão - ele disse. Houve uma pequena pausa.

Gostaria de ser capaz de viajar no tempo - ele disse, após alguns instantes.

Ah, isso seria ótimo - disse eu, entusiasmada. - Imagine ir ao futuro. Ou imagine voltar para tempos fascinantes, como os do Antigo Egito. Embora, com a sorte que eu tenho, fosse terminar co­ mo algum velho gladiador.

Não tenho muita certeza de que havia gladiadores no Antigo Egito - disse ele. Mas de forma simpática.

Acho que ele estava acostumado a corrigir Helen.

- De qualquer jeito - continuou ele -, tenho certeza de que você seria uma princesa. Talvez não Cleópatra. Sua cor é clara demais - disse ele, tocando de leve em meu cabelo. - Mas certa­ mente seria uma princesa.

- Ah, é mesmo? - murmurei. Espirituosa e graciosa, assim sou eu.

Sou a Genialidade e a Resposta Pronta em pessoa.

Que época você gostaria de visitar? - perguntei-lhe, ansiosa para a conversa voltar a um tom menos íntimo, a fim de que minha respiração se normalizasse.

Bem - ele disse -, algumas vezes eu gostaria de poder voltar ao meu próprio passado. Você sabe, voltar para um tempo em que eu era realmente feliz. Ou voltar e mudar as coisas. Endireitar as coisas erradas que fiz. Ou fazer coisas que deveria ter feito.

Fiquei extremamente intrigada.

O que se passara em sua vida que parecia tão traumático? Mas, antes de poder sondar alguma coisa, notei de repente a hora.

Eram sete e dez.

- Meu Deus! - exclamei, dando um pulo, alarmada, numa agitação completa. - Veja a hora. Pensei que fossem cinco horas.

Peguei minha bolsa e me dirigi para a porta.

Tenho de ir. Obrigada por me trazer. Até logo.

Espere - ele disse. - Vou acompanhar você até seu carro.

- Não, não é preciso - disse-lhe eu. E saí correndo.

Estava em pânico total.

Como não notara o tempo passar?

Como podia ter negligenciado Kate daquela maneira?

Deus me castigaria. Alguma coisa com certeza devia ter aconte­cido com ela.

Dirigi para casa em alta velocidade, as estradas sem o trânsito da hora do rush, porque já era tão tarde.

Mamãe estava com os lábios apertados e cheia de suspeitas, quando cheguei.

Que horas você acha que são? - perguntou ela.

Desculpe - arquejei. - Perdi a noção do tempo.

- Dei a comida da Kate - ela me disse.

(Graças a Deus! Isso deve significar que ela ainda está viva.)

Obrigada, mamãe.

Cinco vezes.

Obrigada, mamãe.

E troquei as fraldas dela.

Obrigada, mamãe.

Três vezes.

Obrigada, mamãe.

Espero que esteja agradecida.

Estou, sim, mamãe.

Ela não é minha filha, você sabe.

Eu sei, mamãe.

Meu tempo de criar filhos já passou.

Eu sei, mamãe.

Então ela ficou realmente desconfiada. Por que eu me mostrava tão boazinha? Imediatamente, ergui minha voz para ela.

- Ela também é seu sangue, você sabe - disse-lhe eu. Mas foi um esforço sem grande valia.

Eu, simplesmente, não conseguia me concentrar o bastante para ficar aborrecida com ela. Pensava comigo mesma: "Meu Deus, ela está sendo particularmente irritante", mas, justo quando começava a botar fumacinhas pelo nariz, meu pensamento deslizava na direção de Adam e de repente eu me sentia feliz.

Bem, mais ou menos feliz.

Minha cabeça estava sem rumo. Comportava-se de forma total­mente fora do comum.

Um grande batalhão de pensamentos marchava determinado a caminho do Aborrecimento, mas se distraía, dobrava a esquina erra­da na direção de Adam e descobria, para sua surpresa, que havia ter­minado no local, inteiramente diferente, do Contentamento Sonhador.

O que provocava uma confusão e consternação sem fim entre meus pensamentos, garanto a você.

Uma porção de pensamentos desconcertados, andando de um lado para o outro, com seus casacos de operários, procurando seu líder sindical, na esperança de que ele lançasse um pouco de luz sobre a situação.

"Rapazes, que diabo estão fazendo aqui?", "Quem está pilotando?", "Estamos perdidos!" "Isto não fazia parte do nosso tipo de trabalho", "Demarcação!" e várias outras queixas.

Subi correndo a escada para ver Kate.

Ela estava em seu berço, alimentada, de fraldas trocadas e dor­mindo.

Nada a incomodava.

Que anjinho.

Fungava toda contente em seu sono, movimentando as gordas perninhas cor-de-rosa.

Com um choque, percebi como eu tinha sorte.

Aquela linda miniatura de ser humano era minha filha.

Eu a parira

Ela era minha filha.

Pela primeira vez, percebi, realmente percebi, que meu casamen­to não havia sido um fracasso.

James e eu podíamos não estar juntos, mas havíamos criado aquela maravilhosa pessoazinha.

Aquele milagre vivo.

Eu não estava amaldiçoada.

Não estava perdida na escuridão.

Tinha muita, muita sorte.

CAPÍTULO 15
Passei a noite de sexta-feira vendo televisão com mamãe. Senti que tinha badalado um bocado nos últimos dias. E estava totalmente exausta. Tomar conta de um bebê é uma tarefa extenuante. Mas como é que você sabe?, ouço você perguntar.

Está bem, está bem, admito que tive muita ajuda dos meus pais, mas mesmo assim me sinto exausta.

Como enfrentaria uma volta ao trabalho eu nem conseguia ima­ginar.

Como é que as pessoas conseguem?

Isso me fazia sentir tão deficiente.

Especialmente quando pensava em mulheres na... será na China? Você sabe, elas estão lá cavando os campos com suas mãos nuas e, de repente, dizem: "Ah, desculpem um momento", como se fossem ao toalete numa recepção elegante, e então levantam a saia e cai um bebê recém-nascido num sulco lavrado ou em cima de um saco de sementes ou seja o que for.

"Ah, que alívio", elas diriam.

E continuam cultivando e arando, a arrancar pelas raízes, com uma mão, enormes carvalhos, o filho recém-nascido preso aos seus seios.

E, ao crepúsculo, estão grávidas outra vez.

A criança recém-nascida recebe uma muda de roupas e é posta para trabalhar dirigindo um trator.

Enquanto eu via televisão com mamãe, meus pensamentos não cessavam de se desviar para Adam. E, como uma adolescente de ver­dade, eu tinha um pequeno formigamento todas as vezes que pensava nele.

Passara momentos tão maravilhosos em sua companhia.

E ele era tão simpático.

Tão jovem, ansioso, interessante e interessado.

Era por ser tão destituído de cinismo que eu gostava tanto dele.

Fazia-me lembrar de como era pensar positivamente.

O fato de ser tão lindo tornava ainda mais agradável sua admi­ração indisfarçável.

Quase não há nada pior do que uma admiração indisfarçável por parte de um bofe atroz.

Eu preferiria passar inteiramente sem a admiração indisfarçável.

Mas esqueçam o fato de que Adam era lindo.

Não era por isso que eu gostava de estar com ele.

Se não tivesse amado James, poderia me sentir atraída por Adam.

Não quero dizer que não houvesse em mim atração por ele.

Porque ele era muito atraente.

E eu tinha um par de olhos.

Você sabe, sou apenas humana.

Hipoteticamente falando, é possível estar amando um homem, no meu caso, James, e ter uma paixonite por outro, e aqui me refiro a Adam.

Não significava que uma paixonite fizesse mal.

Não significava que eu fosse uma pessoa volúvel.

Era bom para mim.

Porque eu não precisava permitir que essa paixonite tivesse con­seqüências.

E mesmo que, Deus me perdoe, tivesse de fato, não seria o fim do mundo, seria?

Sim, se Helen descobrisse, podia muito bem ser o fim do mundo.

Mas isso era supor que Adam estivesse atraído por mim.

Eu achava que ele estava.

Será que era muita presunção minha?

Talvez ele usasse esse truque com todas as mulheres.

Você sabe, chegando assim, cheio de sinceridade, vulnerável, en­cantador, de modo que as mulheres pensassem que ele era o melhor homem que haviam conhecido em suas vidas, alguém realmente dife­rente.

E, num piscar de olhos, estariam na cama de Adam, com suas calcinhas atiradas para um dos quatro cantos do quarto, e Adam estaria por cima delas, declarando, simplesmente: "Quando lhe disse, esta manhã, que a respeitaria, menti."

E, exatamente três dias depois, ele lhes telefonaria e diria: "Sabe, a camisinha estourou. E você disse que estava ovulado, não foi?"

Sim, pensei, zangada, aposto que ele é um completo filho-da-puta que simplesmente sai por aí aproveitando-se de pobres mulhe­res abandonadas como eu. Está bem, não sou uma mulher abando­nada, mas estou numa posição muito vulnerável.

Como ousava ele? Fazer sentir-me bela e especial. Mas que cara-de-pau!

Bem, se ele pensa que agora vou transar com ele, então lamento, mas tenho notícias muito ruins para dar.

Adam, querido, mudei de idéia!

Levei alguns segundos para perceber que falava comigo mesma como se tivesse um caso completo com Adam, apaixonando-me por ele, sendo rejeitada e ficando furiosa.

Opa, pensei. É uma situação muito ruim. A Insanidade Tempo­rária está de volta.

O que há de errado com você? - perguntou mamãe, desvian­ do com esforço sua atenção do Inspetor Morse. - Você parece muito aborrecida.

Nada, mamãe - disse-lhe eu, com minha cabeça girando um pouco. - Estou apenas pensando.

- Talvez você pense demais - disse-me ela. Desta vez concordei com mamãe.

Mas, antes que ela pudesse expor os males de uma formação uni­versitária e os perigos de abrir a mente da pessoa, o telefone tocou.

Vou atender - gritei e saí correndo da sala, interrompendo-a no meio da frase.

De que adianta ser intelectual? - ela me gritou, de longe. - Aposto que James Joyce não sabia consertar uma tomada.

Alô - disse eu, ao pegar o telefone.

Helen? - perguntou uma voz de homem.

Não, Helen não está aqui - eu disse. - Está desaparecida, acredita-se que bêbada.

A voz riu.

- Adam? - perguntei, vacilando um pouco.

O choque de ouvir a voz dele me desestabilizou rapidamente.

Mal podia acreditar que ele tivesse passado a tarde comigo e agora telefonasse para Helen, minha irmã.

Que tipo de doente era ele, brincando de jogar uma contra a outra?

Eu sabia.

Ele era um filho-da-puta, como todos os outros.

- Claire - disse ele. - Sim, sou eu.

O que você quer, pensei, friamente, uma maldita medalha por ser você?

Ah, é? - perguntei, gelidamente. - Bem, direi a Helen que você telefonou.

Não, espere - disse ele. - Telefonei para falar com você.

É engraçado - continuei, com grande altivez. - Porque meu nome é Claire, não Helen.

Sei disso - ele continuou, num tom de voz sensato. - Mas achei que poderia ser um tanto constrangedor, telefonando para falar com você, se Helen atendesse e eu não a reconhecesse.

Fiz uma pausa.

- Quero dizer - continuou ele, com delicadeza - que Helen também é minha amiga. Se não fosse Helen, eu nunca teria conheci­ do você.

Ainda assim, eu não disse nada.

- Está aborrecida? - ele perguntou. - Fiz alguma coisa errada? Agora, eu me sentia tola.

Histérica e mulher.

Não - eu disse, num tom muito mais suave. - Claro que não estou aborrecida.

Muito bem, então - continuou ele -, se você diz...

Pode acreditar.

Espero que não se importe por eu lhe telefonar - disse ele. - Mas você saiu correndo com tanta pressa, hoje, que não tive uma chance de lhe perguntar se, talvez... quero dizer... se você não se im­ porta... se eu poderia vê-la de novo. Você sabe, se tiver tempo.

Alívio e felicidade me percorreram toda.

Como dizem, cada minuto é diferente do outro.

Claro - respondi-lhe, sem fôlego. - Adoraria.

Passei momentos tão agradáveis - disse ele. Senti um calor de felicidade e orgulho.

Eu também - disse-lhe eu.

O que vai fazer amanhã? - perguntou ele. Amanhã, pensei eu.

Meu Deus, mas ele era rápido como um raio.

- Vou à cidade comprar algumas roupas - falei. Isso era novidade para mim.

A primeira vez em que ouvia falar do assunto.

Então, você pode se encontrar comigo para tomar café, se quiser - disse-lhe eu. - Mas terei de levar Kate.

Isso é ótimo - disse ele, entusiasmado. - Kate é linda. Por favor, não deixe de trazê-la.

O.K., então - disse eu, um tanto confusa diante do entusias­mo dele.

Então, refleti eu, um tanto maldosamente, se ele gosta tanto de Kate, talvez eu possa recrutá-lo como babá, da próxima vez em que quiser sair e me embriagar com Laura.

Mas devo admitir que a coisa mais agradável na noite em que saí e me embriaguei com Laura foi Adam estar lá.

Então combinamos nos encontrar na cidade, no dia seguinte.

Voltei para junto de mamãe.

- Quem era? - perguntou ela, olhando para meu rosto corado e feliz.

Abri a boca para contar a ela, mas lamento dizer-lhes que fui detida no salto final.

Simplesmente não consegui contar nada.

E não sabia de fato o motivo.

Ou talvez soubesse.

Talvez porque aquilo não fosse mais uma coisa inocente.

Talvez nunca tivesse sido.



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