Marian keyes



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CAPÍTULO 16
O dia seguinte trouxe-me a percepção clara e definida (não que eu já não tivesse notado) de como minha vida se alterara para sempre, por ter tido Kate.

Principalmente uma das áreas mais importantes da minha vida.

Falo, claro, da área das compras.

Minha antiga vida de consumidora fora-se para sempre, como o orvalho matinal ao sol do meio-dia.

Fim daquela história de entrar correndo numa loja de roupas, escolher nos cabides mais ou menos trinta peças e depois, calmamen­te, passar seis horas ou mais experimentando tudo na cabina, admirando-me.

Nada disso!

Você ficaria de queixo caído com a diferença que faz ter uma criança amarrada à sua frente.

A facilidade de movimentos fica bastante reduzida.

Para não mencionar o medo terrível que eu tinha de que alguém esbarrasse em Kate e a machucasse.

Ou, pior ainda, a acordasse.

Não fora tão ruim naquele dia no supermercado, onde mães civi­lizadas e serenas deslizavam através dos espaçosos corredores. Confiava que elas não me dariam encontrões nem esbarrariam em Kate.

Mas agora tratava-se de um sábado à tarde, numa loja de rou­pas, pelo amor de Deus!

Aquelas moças que estavam ali comprando com certeza eram mercenárias de folga do serviço de derramamento de sangue e tumul­to, em algum lugar como a antiga Iugoslávia.

Barra pesada, sabe. Uma loucura.

Eu não podia relaxar e simplesmente procurar alguma coisa para usar.

Tinha tanto medo de que Kate levasse uma pancada na cabeça, ou uma cutucada em suas frágeis costelinhas, de algum demônio de compradora tentando, por todos os meios possíveis, alcançar um vestido.

De qualquer jeito, eu mal sabia o que procurava, já que perdera tão inteiramente minha identidade.

Fiquei em pé à porta de uma loja, um pouquinho aturdida, desviando-me e me abaixando repentinamente diante das clientes que passavam, imaginando se eu fazia o tipo jovem, de jeans e suéter, ou adulto, o tipo de saia até o tornozelo e colete.

Quero dizer, quem era eu, agora?

Fazia tanto tempo que não comprava roupas de verdade.

Que não fossem macacões de gravidez, quero dizer.

Ou que não tivessem cinturas extensíveis e ajustáveis, de velcro. Ou quilômetros e quilômetros de tecido.

De fato, fazia apenas uma semana desde que eu voltara a usar calcinhas normais.

Deixe-me explicar.

Talvez você não saiba, mas não se volta à vida normal e, o que é mais importante, às roupas normais, no momento em que se dá à luz.

Não, de jeito nenhum!

Demora muito tempo, antes que cessem certos processos corpo­rais. Não quero usar um tom desnecessariamente sangrento aqui, mas basta dizer que Lady Macbeth é pinto.

Não venha falar comigo de sangue em toda parte, dona!

E, por causa disso, precisei usar aquelas engraçadas calcinhas tipo malha de papel. Eram horríveis e imensas.

Com prendedores nas axilas.

Mas estou feliz de anunciar que, semana passada, voltei às calci­nhas normais. É isso aí, repito: voltei às calcinhas normais.

E o resto das minhas roupas?

Eu não era mais uma mulher grávida.

Era apenas uma mulher.

Então, o que usaria?

Tinha tão pouca coisa para me definir, agora.

Demoraria séculos até eu voltar ao emprego, então não precisa­va comprar roupas para trabalhar.

Não tinha sequer isso para me guiar.

Fazia compras apenas para mim mesma.

Quem quer que eu fosse.

Peguei alguns vestidinhos num cabideiro e fui empurrando as hordas de pessoas para chegar ao provador, praticamente curvada por cima de Kate, para protegê-la.

Um novo choque me aguardava.

Onde, pelo amor de Deus, poria Kate?

Ela não era exatamente uma sacola de academia, que você ape­nas atira no chão e não se incomoda se alguém ficar em cima dela.

Uma rápida meia-volta e retornei para o lugar de onde havia saído, abrindo caminho através da massa com a cabeça abaixada e investindo para a frente, de maneira que parecia um pouquinho com um touro.

Comprei uma porção de coisas, de qualquer jeito, mesmo sem ter experimentado nada. Eu precisava comprar alguma coisa.

Afinal, tinha uma reputação a manter.

Houve um tempo em que meu nome era uma lenda entre as Mulheres Que Compram.

Um tempo em que não havia coisas como escolher entre o par preto e o par verde. Não existiam coisas como ficar em pé, angustia­da, com o indicador pressionado contra meu rosto, a testa franzida, numa consternação infantil.

Nada disso, eu comprava os dois pares.

E, além da questão de manter minha reputação, eu não tinha absolutamente nada para usar. E precisava impressionar um homem.

Paguei tudo com o cartão de crédito.

Ou suponho que deveria dizer que James pagou.

Fiquei inteiramente pasma porque o alarme não disparou, quan­do a funcionária me entregou os pacotes, passando os sobre o bal­cão, nem policiais e cães enormes entraram correndo na loja e me arrastaram para fora.

Porque tinha certeza de que gastara quilômetros acima do limite.

Depois da minha compra um tanto desanimada, embora prolife­ra, saí para me encontrar com Adam, que era, afinal, meu verdadei­ro motivo para vir à cidade.

Para ser perfeitamente honesta, as compras foram apenas um pretexto.

Uma astuta manobra.

Fui seguindo com dificuldade pela rua, os braços protetoramen­te em torno de Kate.

Ondas sucessivas de transeuntes vinham em minha direção.

Toquem em minha filha e mato vocês, pensei ferozmente, olhan­do com raiva para todos.

Que, em sua inocência, pareciam muito surpresos e assustados.

Além da ansiedade quanto à possibilidade de Kate se machucar, tomei consciência de outra sensação engraçada em meu estômago.

Indigestão?

Com um curioso choque, percebi que a sensação engraçada era de borboletas.

Borboletas que dançavam uma quadrilha em minhas entranhas. Obviamente, tinham empurrado para trás as mesas e cadeiras e faziam tudo em grande estilo. Dando os braços, rodopiando, levan­tando as pernas para o alto, soltando gritos de alegria e trocando de par, revivendo, em suma, uma euforia de antigamente.

Ah, meu Deus, pensei, com a percepção tornando-se clara, então é oficial.

Estou interessada em Adam.

Ou deveria dizer: ESTOU INTERESSADA EM ADAM!!!!!!!!!

Será que as trombetas celestiais deveriam ter tocado? Deveria eu ver o mundo, de repente, cor-de-rosa? Deveria eu ter de caminhar ou na ver­dade correr pelo resto do caminho e, no final, encontrá-lo em câmera lenta? E ser lentamente abraçada por ele, nós dois girando interminavelmente e sorrindo como alegres idiotas?

Mas não: sendo eu, tinha de marchar direto para a preocupação.

Relutante, arrastei os pés pelo resto do caminho, com a cabeça tra­balhando em alta velocidade.

Por que tinha de sentir essa paixonite por ele?

Que tipo de pessoa era eu?

Eu amava James e fazia apenas seis semanas, bem, quase sete, desde que tínhamos rompido, então não deveria eu ainda me manter fiel a ele?

Eu me sentia muito desleal.

Mas por que diabo deveria me sentir?

James divertia-se; por que eu não deveria fazer o mesmo?

Mas não era assim tão simples.

Nunca consegui fazer sexo sem me envolver emocionalmente.

Mas, novamente, quem falou alguma coisa sobre fazer sexo?

Ah, meu Deus!

Estava tão perturbada.

Não conseguia entender tantos sentimentos diferentes.

Tão confusa.

Estava, sim, atraída por Adam. Mas me sentia muito culpada a respeito, porque isso, a meu ver, me tornava uma pessoa muito fútil, quando se supunha que eu continuasse apaixonada por James.

Mas estaria eu apaixonada por James?

Tinha medo de pensar nisso. Era um assunto sério demais para minha cabeça naquele momento.

E então me senti zangada com James. Por que eu não podia fler­tar com Adam e me divertir um pouco?

Mas, então, sentia-me novamente culpada, porque Adam era uma pessoa, uma boa pessoa, e merecia coisa melhor do que ser tra­tado por mim como uma espécie de bálsamo para o ego.

Um pouco como ir ao cabeleireiro.

Ou depilar as pernas.

E, depois, fiquei novamente zangada, porque não pensava em Adam dessa maneira. Sentia uma emoção verdadeira ao conversar com ele e estar em sua companhia. Embora só o conhecesse há poucos dias.

O que me levava claramente de volta à pergunta de como eu po­deria estar com uma paixonite por alguém que só conhecia há pou­cos dias, quando ainda amava James.

Ah, mas que droga, pensei, desesperada.

Tinha de esvaziar minha cabeça desses pensamentos inquietantes. Não poderia lidar com eles, naquele momento. Estava prestes a me encontrar com o homem pelo qual me sentia atraída, portanto tinha de me preocupar com coisas inteiramente diferentes.

Como, por exemplo: será que estava com boa aparência?

Ou será que ele se sentia atraído por mim?

E o que faria eu, a fim de levá-lo para a cama?

Coisas importantes.

Endireitei os ombros e me preparei para Adam.

Vi-o em pé na frente da cafeteria onde eu deveria encontrá-lo.

Meu estômago deu um pequeno salto.

Ele estava tão bonito.

- Olá - ele sorriu. - Você está apenas quinze minutos atrasa­ da. Obviamente, está desenvolvendo uma tendência para isso.

- Cale a boca - sorri. - Desculpe. Era maravilhoso estar com ele.

- Alô, anjo - disse ele, olhando para Kate, acomodada na pequena mochila a que, por motivos óbvios, chamam "canguru".

Embora eu preferisse pensar que ele apenas usava isso como des­culpa para olhar meus peitos.

Kate não disse nada.

E entramos para tomar café, abrindo caminho a cotoveladas através das hordas de gente agitada.

Era sábado à tarde e a loucura estava à solta.

Era como se as pessoas sofressem de algum tipo de doença mental.

A síndrome das compras ou algo parecido.

Tenho certeza de que existe um complicado nome médico para isso.

Suponho que deva ser algo parecido com o Mistral que desce de vez em quando sobre as vilas de... será da Itália? Todos os homens batem em suas mulheres, os cães uivam, as galinhas não põem ovos e as mulheres gritam e choram (bem, muito justo - afinal, estão sendo espancadas pelos maridos) e se recusam a fazer qualquer trabalho doméstico.

Como se toda a vila de repente sofresse de TPM e um estranho veneno destruísse as colheitas.

A loucura do Mistral é café pequeno, em comparação com o alvoroço daquela particular tarde de sábado.

Certa vez, li que as compras surtem um imenso efeito sobre os níveis de adrenalina.

Fazem subir o nível da pressão e provocam oxidação excessiva do sangue, os olhos das pessoas se projetam para fora, além de todos os tipos de outros efeitos.

Fazia completo sentido para mim - toda aquela excitação!

Aparentemente, os níveis de açúcar no sangue também são afe­tados.

É por isso que todos precisam de um chá forte e doce ou café e um Club Milk (ou coisa parecida) depois ou até mesmo durante a orgia de compras.

Um pouco como o cigarro depois do sexo, eu acho.

Como resultado das compras excessivas, Dublin estava cheia de loucos com excesso de oxidação no sangue, olhos projetados para fora, faces vermelhas (em conseqüência da alta pressão sangüínea), com centenas de sacolas de compras presas às mãos e punhos, e car­teiras cheias de cartões de crédito, assanhados e irrequietos depois de tanta atividade.

Então, se é uma xícara de café que você está procurando, como Adam, Kate e eu estávamos, espere sentado. Ficamos no meio do apinhado café, enquanto lamentáveis criaturas de olhos fundos perambulavam de um lado para o outro carregando bandejas com café e rosquinhas. Obviamente estavam ali há várias semanas e ainda não tinham conseguido uma cadeira.

Mas Adam, sendo Adam, encontrou a única mesa que fora deso­cupada nas últimas três semanas aproximadamente. Era uma das muitas vantagens de ter por perto um homem alto.

E, depois de se certificar de que Kate e eu estávamos confortavelmente sentadas, saiu para pegar o café.

Que herói!

Voltou em tempo recorde, com uma bandeja superlotada de pãezinhos doces.

- Não sabia de que tipo você gostava - explicou. - Então peguei um de cada.

- Ah, Adam - disse eu. - Você não devia ter feito isso! Você é um estudante pobre.

Estava tão comovida que me sentia à beira das lágrimas. Ele provavelmente gastara, em pãezinhos para mim, sua bolsa de estudos para o período de verão inteiro.

E jamais conseguiria comer todos - menti.

-Bem, não se preocupe com isso - disse ele, sorrindo, e com uma aparência realmente linda. - Tenho certeza de que comerei tudo que você deixar.

Depois, sentou-se e voltou toda a sua atenção para mim.

-Como vai você? - perguntou. E conseguiu fazer a pergunta soar como se ele estivesse realmente interessado.

-Ótima - disse eu, sorrindo com timidez e me sentindo intei­ramente tola e infantil.

-O que era aquilo?

No momento em que a gente percebe que está com uma paixonite por alguém, logo se transforma numa completa idiota. Bem, pelo menos isso acontece comigo.

-Quer que eu segure Kate para você um pouquinho? - perguntou ele.

-Se quiser - eu disse, tirando-a do canguru e passando-a para os braços carinhosos de Adam.

Cachorrinha de sorte!

Que pena que ela ainda não pode falar, lamentei. Se falasse, eu poderia, depois, interrogá-la detalhadamente sobre como era, exata­mente, estar nos braços de Adam.

Ficamos ali sentados, conversando ociosamente, enquanto as marés de humanidade, com seus níveis flutuantes de açúcar, remoinhavam, fluíam, enchiam e vazavam em torno de nós. Adam, Kate e eu éra­mos um oásis de calma no caos de Dublin.

Como se nós três estivéssemos em nosso pequeno mundo.

Na verdade, não falamos muito. Apenas ficamos sentados num silêncio descontraído, bebendo café, comendo os pãezinhos, minhas compras espalhadas por toda parte em torno de nós.

Adam estava ocupado brincando com Kate, admirando-a, exa­minando seus minúsculos dedinhos e tocando seu rostinho bonito.

Ele tinha no rosto uma expressão de deslumbramento tão inten­so, quase de ânsia, que fiquei ligeiramente alarmada.

Que Laura, que nada, pensei, quem assedia crianças é Adam!

- Você já se deu conta - disse ele, pensativo, falando comigo, mas ainda olhando para Kate - de que, se as pessoas não soubes­ sem, pensariam que sou o pai da Kate? Sabe, somos exatamente uma família nuclear típica, como dizem meus compêndios de antropologia, fazendo compras numa tarde de sábado.

Ergueu os olhos para mim e sorriu.

E, embora eu própria estivesse pensando quase a mesma coisa, senti-me um pouco, não sei, estranha, sim, estranha e triste, por Adam dizer isso.

Desleal, foi como me senti.

Estava satisfeita porque Adam parecia gostar muito de Kate.

Mas Adam não era o pai de Kate.

James sim.

E James não estava ali.

Era tudo tão curioso, confuso, estranho e triste.

Por que Adam não poderia ser o pai dela?

Ou por que o pai dela não poderia dar atenção à filha?

- Gostaria de ter filhos? - perguntei a Adam. - Não quero dizer agora, mas, você sabe, algum dia.

Ele parou o que estava fazendo e ficou sentado, imóvel, por um minuto. Depois, virou-se e olhou para mim.

Havia uma expressão tão estranha em seu rosto.

Parecia triste. Quase desnorteado.

Mas, antes que ele me respondesse, fomos interrompidos por vozes de moças.

"Ei, vejam só, é Adam." "Que ótimo, onde?" "Adam, como vai você?" "Ah, oi, Adam, onde você se meteu a noite passada?"

Três belas jovens, obviamente colegas de classe de Adam, haviam chegado à mesa e se aglomeravam em torno dele.

Como as mulheres costumavam fazer.

Eram como belos pássaros exóticos.

Muito coloridos e barulhentos.

Soltaram altos "ohs!" e ahs! para Kate e depois perderam com­pletamente o interesse por ela, quando descobriram que não era filha de Adam.

Mas por que deveria ser?, me perguntei. Adam nos apresentou a todas.

- Esta é Kate - disse ele, levantando sua pequena mão cor-de-rosa e fazendo-a acenar para as moças.

Era uma coisa tão linda, minha menininha e aquele belo homem, que pensei que meu coração fosse partir-se.

Por que James não poderia estar aqui para fazer isso?, pensei.

Mesmo quando estou feliz, a tristeza fica apenas a um segundo de distância.

E esta é Claire - ele continuou.

Oi - sorri corajosamente para as moças, com sua pele jovem e translúcida e suas roupas avançadas, tentando não me sentir uma velha bruxa.

E essas são...

E ele disse três nomes que poderiam ter sido Alethia, Koo e Freddie. Ou talvez Alexia, Sooz e Charlie.

Ou, quem sabe, Atlanta, Jools e Micki.

Nomes estranhos. Nomes maneiros.

E eu juraria que eram inventados.

Nomes que traziam uma porção de kk, quando deveriam trazer cc, zz ou ss.

Nomes que, eu tinha total certeza, não constavam de suas certi­dões de nascimento.

Sabia que seus nomes verdadeiros eram algo como Mairead, Dymphna e Mary. Vocês sabem, nomes simpáticos e comuns.

Nomes saudáveis.

Mas, com o risco de ofender Maireads, Dymphnas e Marys, nomes não muito glamourosos.

Aquelas belas moças que haviam caído em cima de Adam pare­ciam precisar de nomes glamourosos para combinar com suas gla­mourosas aparências.

As três, de certa forma, pareciam a mesma pessoa.

Todas tinham cabelos curtos.

E quero dizer cabelos muito curtos mesmo.

Sooz/Koo/Jools era quase totalmente careca.

E Atlanta/Alexia/Alethia parecia um patinho nada feio, com seu pequeno boné de cabelos louros e fofos.

Para ser honesta, ela se parecia um pouco com Kate.

O que significa que Adam, o suspeito pedófilo, é provavelmente louco por ela, pensei, amarga.

Eu sentia um pouco de ciúme.

E tanto ele quanto elas falavam de uma festa qualquer onde haviam estado na noite da véspera.

Desejei que elas fossem embora para poder ter Adam novamen­te todo para mim e Kate.

Tentei ser crescida e adulta com relação àquelas três lindas jovens reivindicando a atenção de Adam.

Meu rosto doía, de tanto eu tentar fingir que também me diver­tia com aquilo, que não me importava de ser ignorada, enquanto elas conversavam e riam com simpatia e naturalidade.

Parecia que as três se instalavam para uma longa estadia.

Meu coração afundou até minhas (novas) botas, quando todas as três puxaram cadeiras e se reuniram em torno de nossa minúscu­la mesa, cada uma praticamente sentando-se no joelho de Adam.

Elas sequer tinham trazido uma xícara de chá para tomar.

Mas, realmente, eu não estava julgando ninguém.

Sabia como era ser um estudante pobre.

Eles precisam economizar seu dinheiro para a cerveja e as drogas.

Claro que eu entendia.

Mas, quando Freddie/Charlie/ Micki começou a comer um dos pãezinhos, um dos meus pãezinhos, quase explodi em prantos.

Queria bater o pé e gritar histericamente, como uma criança num acesso de mau gênio: "Este pãozinho é meu. Adam comprou-o para mim."

Engoli em seco, com raiva.

Eu estava totalmente deslocada ali.

Era tolice pensar que alguém como eu poderia ter qualquer lugar na vida de uma pessoa como Adam.

Ele era jovem e bonito e tinha uma vida plena e feliz.

Senti-me cansada, velha, tola e idiota.

Enquanto Adam continuava a conversar animadamente com as moças, levantei-me e tornei a colocar em seu lugar o canguru onde carregava Kate.

Depois, inclinei-me e tirei-a um tanto bruscamente dos braços de

Adam (Quero minha filha de volta!), interrompendo uma animada conversa sobre alguém chamada Olivia Burke que, aparentemente, fizera sexo oral em Malcolm Travis na festa da noite anterior, bem diante dos convidados.

Apesar da minha compaixão por mim mesma e da minha infeli­cidade, fiquei satisfeita de ouvir que Adam não condenava o com­portamento de Olivia Burke. Reservou sua censura para Malcolm, porque este, segundo parecia, tinha uma namorada firme, chamada Alison. E Olivia não sabia de sua existência.

- Aquele sujeito é tão baixo - disse Adam. - Está desrespei­tando as duas mulheres ao mesmo tempo, comportando-se dessa maneira.

É isso aí, cara!

Kate começou a chorar, quando a tomei dos braços de Adam. Não tirei sua razão.

Adam virou-se e me olhou com uma expressão de surpresa no rosto.

Você não vai embora, vai?

Sim, acho que vou - eu disse, tentando falar com um tom casual. - Kate está cansada e logo precisará trocar a fralda.

Virei-me para as lindas moças.

- Tchau. - Fiz um aceno com a cabeça. - Prazer em conhecer vocês.

Pelo menos, eu não poderia jamais ser acusada de grosseira, pen­sei, hipocritamente.

- Tchau - disseram elas, em coro. - Tchau, Kate. Depois, senti-me envergonhada.

Eram moças boazinhas. Eu era a única com o problema.

Ciumenta e insegura.

Infantil, hipersensível e mimada.

Lá fui eu, com dificuldade, sobrecarregada com um bebê, sacolas e imensas quantidades de sentimentos maltratados, tentando manter um aspecto digno e despreocupado, enquanto abria caminho através das multidões implacáveis.

Pude sentir os olhos de Adam em mim, mas recusei-me a olhá-lo de frente.

Ele me alcançou antes de eu ter percorrido dois metros. Para ser inteiramente honesta - nem sempre uma coisa fácil -, era exatamente o que eu queria que ele fizesse.

Claire - disse ele, num tom surpreendido. - Para onde você vai?

Para casa - murmurei.

Esperava, ansiosamente, que ele não tivesse percebido o quanto eu estava enciumada.

Ouça, desculpe - disse ele, olhando dentro dos meus olhos. - Elas irritaram você?

Não - protestei. - Não, elas eram simpáticas.

Você não precisa ser educada - disse ele, olhando-me com uma expressão preocupada. - Sei que devem ter parecido garotinhas tolas para uma mulher como você.

- Não, Adam, honestamente, elas são ótimas - insisti. Eu me sentia realmente péssima.

Não gostara de estar com Alexandria, Zoo e Gerri, ou quaisquer que fossem seus malditos nomes, porque estava com ciúme delas, não porque fosse muito madura e desdenhosa.

Ali estava Adam atribuindo-me todos os tipos de motivos nobres.

Rotulando-me de inteligente quando, na realidade, eu era uma fedelha imatura e mimada que exigia atenção da maneira mais infantil.

Honestamente, elas são uns amores - disse ele. - Eu queria ficar apenas com você e Kate, mas não sabia como impedi-las de se sentarem conosco sem ser grosseiro - explicou.

Não tem problema - insisti. - Ouça, é melhor eu ir - disse, enquanto outra pessoa com uma bandeja esbarrava em mim e dava sinais de irritação, por eu estar em pé no meio de uma passagem.

Tem certeza? - perguntou ele, muito próximo de mim.

- Tenho - garanti-lhe. Mas não me movi. Queria ficar ali, perto dele. Apenas por um momento. Queria que ele me beijasse.

Mas havia muito pouca chance de que isso acontecesse, com vários milhares de pessoas movimentando-se em torno de nós. Para não falar no fato de que Kate provavelmente sufocaria, em seu canguru, se Adam masculamente me arrebatasse em seus braços.

Quer que eu caminhe com você até seu carro? - perguntou ele.

Não, Adam, realmente não há necessidade.

Vejo você em breve - disse ele, gentilmente.

Certo - dei-lhe um pequeno sorriso. Um sorriso simpático.

Verdadeiro.

E ele colocou suas mãos em meus ombros e me puxou para si (porém, com o maior respeito pelo conforto de Kate), e deu o mais leve dos beijos em minha testa.

Fechei os olhos, rendendo-me ao momento.

E prendi a respiração, porque mal podia acreditar que aquilo estivesse acontecendo.

Sua boca era quente e firme.

Ele cheirava a sabonete, e a pele macia e quente.

Em meio ao burburinho de vozes que nos cercavam no café, ouvi alguém dizer:

Vejam, são aqueles dois novamente. Uma voz disse:

Que dois?

- Você sabe, os dois que estavam brigando em frente à Switzer, ontem.

As vozes eram das moças que tinham adorado testemunhar o pequeno diálogo entre Adam e eu, na véspera. Meu Deus, fora mesmo ainda ontem? Elas continuaram a conversar sobre nós em voz alta.

Ah, sim, eles. Bem, parece que fizeram as pazes.

Ah, mas que merda!

Abri os olhos e olhei para Adam. Ambos começamos a rir.

- Só falta agora o sujeito da cerveja - disse ele.

- Nesse caso, agora vou mesmo - disse-lhe eu. Passei pelas moças a caminho da saída.

- Tenho certeza de que ela não estava com um bebê ontem - disse uma delas.

- Você acha que é dele? - a outra queria saber. Continuei a caminhar.

Minha testa não parou de formigar até eu chegar a uns cem metros de casa.

Sim, sim, eu sei.

Um beijo na testa dificilmente pode ser classificado como sexo ardente.

Não posso citar para você riem mesmo um único filme sueco que tenha sido feito sobre um beijo na testa.

Mas aquele foi tão cheio de desejo e ternura, e, à sua casta ma­neira, tão erótico, que acabou sendo muito melhor do que sexo ardente.

Bem, acho que, pelo menos, tão bom quanto.



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