Levantei-me.
Então ele se levantou e fez com que, imediatamente, eu me sentisse minúscula.
Ficamos os dois em pé, sem saber o que dizer. Eu só sabia que não queria despedir-me.
- Você é uma mulher muito especial - ele disse. Puxou-me para si e me deu um abraço apertado. E, tola que eu era, deixei que fizesse isso. Grande erro. Imenso, colossal, enorme erro.
Eu não estava muito mal, até termos contato físico. Mas, no minuto em que fiquei em seus braços, senti um caos de emoções. Nostalgia, ânsia, desejo (sim, ainda mais!), perda e uma cálida sensação de tontura. Estar em seus braços lembrava-me de como ele me fizera sentir. Pensei que esquecera como era maravilhoso estar com ele. Mas tudo voltou depressa.
Minha cabeça estava enterrada em seu peito. Podia sentir seu coração batendo, através do tecido fino da camiseta. O mesmo delicioso cheiro de sabonete e pele masculina quente de que eu lembrava.
Queria ficar ali para sempre, segura, pressionada contra seu belo corpo musculoso, seus braços ternamente em torno de mim.
Afastei-me dele.
- Você também não é tão mau assim - respondi.
Juro que não entendia por que tinha lágrimas em meus olhos.
Seja feliz - ele disse.
Você também - respondi.
Fui saindo dos seus braços, com esforço.
Bem, adeus - funguei.
Por que adeus? - ele perguntou, sorrindo.
Porque vou voltar para Londres no domingo, então provavelmente não tornarei a vê-lo nunca mais - eu disse.
Sentia-me como se fosse explodir em prantos. E imaginei do que diabo estaria ele sorrindo. Quem lhe dera o direito de parecer tão presunçoso e feliz? Será que ele não tinha senso de oportunidade? Não era questão para provocar riso! Ao contrário.
Eu desejava que ele simplesmente fosse embora!
Você nunca mais vai sair de novo? - ele perguntou. - Não pode conseguir uma babá?
Claro que posso - eu disse, triste. - Mas, mesmo assim, não poderei ver você. A não ser que você viaje de avião para Londres, de vez em quando, para sair uma noite. E não consigo imaginar você fazendo isso.
Não - disse ele, pensativo. - Você tem razão. Não adianta ria ir de avião para Londres para uma saída à noite, quando já esta rei lá.
Durante um momento, pensei que o entendera mal. Mas olhei-o, vi seu rosto sorridente e percebi que não.
A esperança percorreu meu corpo, uma tamanha sensação de algo maravilhoso que pensei que poderia explodir.
Do que está falando? - perguntei, quase sem poder respirar. Tive de me sentar.
Hã, vou me mudar para Londres - disse ele, tranqüilamente. Sentou-se ao meu lado, na cama. Tentava parecer muito sério,
mas de vez em quando sorria involuntariamente.
- É mesmo? - gritei. - Mas por quê? E então um pensamento me veio.
- Não, não me diga. Você não tem lugar nenhum para ficar e estava imaginando, apenas imaginando, se poderia dormir no meu assoalho. Apenas por algumas noites, um ano no máximo. É isso? - perguntei, amarga.
Ele explodiu em risadas.
Claire, você é tão engraçada! - disse ele.
Por quê? - perguntei, aborrecida. - Do que está rindo?
Que coisa! - disse ele, ainda às gargalhadas. - Tenho um lugar para ficar. Não sou tão estúpido a ponto de ser gentil com você apenas para lhe perguntar se posso ficar em sua casa. Acha que quero morrer? Sei que você me mataria.
- Que bom - disse eu, levemente apaziguada. Pelo menos ele tinha um pouquinho de respeito.
É por isso que pensa que vim até aqui conversar com você? - perguntou ele, muito mais sério. - Talvez eu seja o estúpido aqui, mas pensei ter deixado claro o quanto gosto de você e a aprecio. Não acredita em mim?
Ora, você não pode culpar-me por ser desconfiada - disse eu, amuada.
Não - ele suspirou. - Teremos de trabalhar para convencê-la de que você é maravilhosa e que não tenho motivos ocultos para procurar sua companhia. Não quero você por causa de sua filha. Não quero você por causa do seu apartamento. Apenas quero você por você mesma.
Você me quer? - sussurrei, sentindo-me de repente muito viva e sensual.
Tão poderosa, tão consciente de que eu era uma mulher e ele era um homem. E aquela inevitável atração física pulsou entre nós. Os olhos dele se escureceram, o azul quase se tornou negro e ele assumiu um aspecto e um tom de voz muito sérios.
- Desejo muito você - ele disse.
O quarto de repente ficou silencioso e quieto. Mesmo Kate não fazia nenhum som. Podia-se cortar a tensão sexual com uma faca.
Quebrei esse estado de espírito antes que um de nós ou ambos entrasse em combustão espontânea.
-Deixe-me entender bem isso - pedi, tentando falar num tom de quem trata de negócios. - Você vai para Londres. Para quê? Por quê?
-Tenho um emprego lá - ele disse, como se fosse a explicação mais razoável do mundo.
-Mas, e a universidade? - perguntei, confusa. - Você vai desistir de tudo?
-Não - disse ele. - Mas agora será diferente. Vou estudar à noite.
-Por quê? - perguntei de novo, ainda sem entender. - Por que está fazendo tudo isso?
-Porque tenho de trabalhar, agora que tenho uma filha para sustentar. E não há empregos em Dublin. E meu pai conseguiu uma colocação para mim numa firma bancária. Mesmo assim, ainda poderei completar meus estudos. Só que vai demorar mais.
-Mas, e seu bebê? - gemi. - Você precisa conhecê-la e agora terá de deixá-la novamente. Isso é terrível.
Agora, foi sua vez de ficar confuso.
-Mas Molly vai comigo - disse ele, com um tom de voz um tanto perplexo. - Levarei Molly para Londres.
-Meu Deus - disse eu, estupefata. - Não me diga que vai raptá-la. Ouvi falar de pais que fazem isso.
-Não! - disse ele, exasperado. - Hannah quer que eu a leve. Hannah quer dar a volta ao mundo, está cansada de ser responsável, quer um tempo livre. Acho que não é coincidência o fato de que foi de repente dominada pelo remorso de não me deixar ver Molly. Aconteceu quando ela percebeu que precisava de uma babá por um ano.
-Meu Deus - eu disse. - Não parece exatamente uma coisa ideal. E a pobre Molly? E por que os pais de Hannah não insistiram em cuidar da menina?
-Ah, Hannah teve uma séria briga com eles, quando decidiu que tiraria férias por um ano - explicou Adam. - E Molly ficará ótima, espero. Vou colocá-la numa terapia, logo que puder falar. Quando viu meu rosto horrorizado, disse: - Só estou brincando. Sei que não é a criação ideal para ela. Ser desenraizada do seu lar, ver sua mãe escapar por um ano, passar para as mãos de um pai que nem a conhece. Mas tudo o que posso fazer é me esforçar ao máximo.
-E quando Hannah voltar e quiser trazer Molly novamente para a Irlanda? - perguntei, atormentada pela preocupação.
-Ah, Claire - disse ele, carinhoso, tomando minha mão na sua. - Quer relaxar, por favor? Quem sabe o que vai acontecer dentro de um ano? Vou me preocupar com isso quando a ocasião chegar. Não podemos viver no presente por algum tempo?
Eu não disse nada.
Estava pensando.
Ele tinha vazão, decidi.
Quando a felicidade faz uma aparição como convidada especial na vida da pessoa, é importante aproveitá-la ao máximo. Pode não ficar por perto muito tempo e, quando for embora, não será terrível pensar que todo o período no qual se poderia ser feliz foi desperdiçado com preocupações sobre quando isso aconteceria?
- Então, se me permite chegar ao ponto principal da minha visita - continuou ele, de repente muito rápido -, posso pedir-lhe uma coisa?
- Claro - sorri.
- Se estiver sendo ousado demais, por favor, me interrompa - disse ele, com uma humildade encantadora. - Acha que seria possível nos encontrarmos em Londres? Quem sabe poderíamos partilhar uma babá? E, claro, a qualquer momento em que você precisar de alguém para tomar conta de sua filha, ficarei felicíssimo de desempenhar esse papel.
- Obrigada, Adam - disse eu, educadamente. - Adorarei ver você em Londres. E, claro, se você também precisar de uma babá, por favor não hesite em pedir.
- Falo sério - disse ele, e sua voz baixou várias oitavas. - Isso é muito importante para mim. Poderemos mesmo nos ver em Londres?
- Claro - eu disse, rindo. - Adorarei ver você.
Ergui os olhos e nossos olhares se encontraram. Quando vi a expressão do rosto dele - de admiração, ou algo parecido, quase certamente de desejo; na verdade, podia até ser de amor - o sorriso congelou em meu rosto.
- Ah, Claire - ele suspirou, ao se curvar para me beijar. - Senti muito sua falta.
Foi a essa altura que Kate decidiu que já bastava de ser ignorada e começou a chorar como uma sirene de polícia.
Ao mesmo tempo, Helen irrompeu pela porta e parou bruscamente quando nos viu. Viu o par que formávamos, sentados na cama, Adam segurando minha mão, minha cabeça erguida para o beijo dele, e então disse, lentamente:
- Mas que diabo, não acredito. Preparei-me interiormente para o ataque. A retaliação seria rápida e terrível.
Olhei para meus pés e fiquei horrorizada de ouvi-la chorar.
Helen? Chorando? Sem dúvida, devia haver algum erro. Era inédito!
Olhei-a, cheia de remorso e compaixão. Eu mesma quase estava em prantos.
E então percebi que ela não estava chorando.
Aquela maldita estava era rindo!
Ria sem parar.
-Você e Adam - disse ela, sacudindo a cabeça, com lágrimas provocadas pelos risos escorrendo pelo seu rosto abaixo. – (Mas que vergonha).
- Por quê? - perguntei, com todo o aborrecimento, compaixão e remorso rapidamente esquecidos. - O que há de errado comigo?
- Nada - ela riu. - Nada. Mas você é tão velha e... - Parou, incapaz de falar, pois achava tudo tão engraçado. - Que expressão no seu rosto! Você parecia aterrorizada. E eu pensava que ele estava apaixonado por mim! - exclamou, e saiu de novo. Era tudo tão hilariante que ela não podia sequer ficar em pé direito. Apoiou-se na parede e depois dobrou o corpo.
Sentei-me e olhei-a friamente, enquanto Kate rugia como um leão.
Adam parecia ligeiramente confuso.
Se havia alguma coisa engraçada, então sem dúvida eu não conseguia vê-la.
Peguei Kate, antes que ela rompesse um vaso sangüíneo, e fiz um sinal afirmativo com a cabeça para Adam.
- Converse com Helen - sugeri.
Adam se levantou e saiu do quarto, atrás de Helen.
Balancei Kate em meus braços e tentei acalmá-la. Era uma criança maravilhosa, mas, juro por Deus, algumas vezes seu senso de oportunidade não funcionava.
Eu ouvia Helen rindo o tempo inteiro, enquanto descia a escada. E, alguns instantes depois, ela voltou.
- Sua filha da puta - disse, alegremente, sentando-se na cama ao meu lado. - Você nos enganou a todos. Fingindo estar com o coração inteiramente partido por causa de James, e o tempo inteiro querendo Adam.
- Não, Helen... - protestei, debilmente. - Não foi assim. Ela me ignorou. Tinha coisas mais importantes em sua cabeça.
- Como ele é? - perguntou, aproximando-se de mim, com ar de conspiradora, e baixando sua voz vários decibéis. - O negócio dele é grande?
- Mas que pergunta é essa? - indaguei, fingindo estar horrorizada.
- Não vou contar a ninguém - ela mentiu.
- Helen! - disse eu, com minha cabeça levemente tonta. Acho que preferiria que ela estivesse furiosa comigo.
Agora eu teria de tolerar que ela fosse minha melhor amiga, para poder descobrir como Adam era na cama e poder contar a todo mundo.
- Onde está ele? - perguntei-lhe.
- Na cozinha, bajulando mamãe. Mas não se importe com isso - disse ela, entusiasmada. - Acho que ele a ama.
- Ah, Helen, vá embora - disse eu, começando a me sentir exausta.
- É sério, acho mesmo - garantiu ela.
- É verdade? - perguntei, insegura.
Eu era tão tola. Não devia ouvir nada do que ela dissesse. Em minha idade eu realmente deveria ter um pouco mais de bom senso.
- É, sim - ela respondeu, falando com uma seriedade incomum.
- Por quê? - perguntei.
- Porque o negócio dele estava inteiramente duro, enquanto ele falava com você, minutos atrás. - Ela gritou, de tanto rir. - Peguei você com a boca na botija, não?
- Agora, vá embora, quer fazer o favor? Por um dia já bastava.
- Desculpe - Helen riu. - Não, é sério. Acho que ele ama você. Acho mesmo. E, vamos encarar o assunto com franqueza, se alguém tem experiência com homens apaixonados, esse alguém sou eu. Ela tinha razão.
- Você o ama? - perguntou.
- Não sei - disse eu, sem graça. - Não o conheço bastante bem para dizer. Mas gosto muito dele. Será que basta?
- Terá de bastar - disse ela, pensativa. - Espero que vocês se amem mesmo. Espero que sejam muito felizes juntos.
- Meu Deus, obrigada, Helen - disse eu, realmente emocionada. Lágrimas me vieram aos olhos. Eu estava esmagada pelos bons votos dela.
- Pois é - disse ela, vagamente. - Fiz uma aposta com aquela vaca da Melissa Saint de que ela não sairia com ele antes do fim do verão. E estava até começando a ficar um pouco preocupada, mas isso agora é uma maravilha. Uma bênção de Deus. Ela agora não tem a menor chance, porque você o manterá bem longe do caminho dela.
E continuou, esfregando alegremente as mãos:
- Foram os cem paus mais fáceis que já ganhei. E completou, parecendo muito satisfeita:
- É isso aí. Devo dizer que as coisas saíram muito bem. Não podiam ter saído melhor.
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