Marian keyes



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CAPÍTULO 10
O jantar foi meio esquisito; estávamos todos ligeiramente desconcer­tados por causa de Adam.

Helen tinha sempre multidões de homens (embora seja mais exato chamá-los de "rapazes") apaixonados por ela. Não se passou um dia sem que o telefone tocasse, com algum jovem gaguejando do outro lado do fio, perguntando sobre suas chances de sair com Helen.

E a casa mantinha um constante fluxo de visitantes masculinos. O fato de serem convidados para o chá geralmente coincidia com a que­bra do aparelho de som de Helen, ou com o desejo de Helen de man­dar pintar seu quarto, ou, no caso em pauta, com a necessidade de Helen ter um trabalho escrito e sua ausência de intenção de fazer isso ela própria.

E o prometido chá raramente se materializava depois de comple­tada a tarefa.

Mas nenhum deles fora como Adam.

Eram, em geral, um pouco mais como Jim.

Pobre Jim, para lhe dar seu título completo.

Ele era desengonçado e magricela, e circulava em toda parte ves­tindo preto o tempo inteiro e o ano todo. Mesmo no auge do verão, usava um sobretudo preto, quilômetros maior do que ele, e grandes botas negras. Seu cabelo cheio era pintado de preto e ele jamais me olhava nos olhos. Não falava muito e, quando o fazia, era geralmen­te para discutir métodos de suicídio. Ou para falar de cantores de bandas obscuras que haviam se matado.

Uma vez ele me disse "olá" e me deu uma espécie de sorrisinho simpático, e eu pensei que o julgara mal, porém mais tarde descobri que ele estava bêbado de cair.

Sempre carregava um decrépito exemplar de Fear and Loathing in Las Vegas ou de American Psycho no forro rasgado do seu sobre­tudo preto. Queria entrar para uma banda e matar-se, quando com­pletasse 18 anos.

Mas acabei concluindo que ele adiara o prazo final para o suicí­dio, porque completou 18 anos no Natal anterior e eu ainda não ouvira falar de sua morte, mas estou certa de que ouviria.

Helen definitivamente o detestava.

Ele lhe telefonava sempre e, todas as vezes que o fazia, mamãe falava com ele e mentia loucamente sobre o paradeiro de Helen. Dizia alguma coisa como: "Não, Helen está fora, supõe-se que bêbada", enquanto Helen estava sentada no saguão, olhando para mamãe, aba­nando os braços freneticamente e dizendo por mímica labial: "Diga a ele que morri."

Depois que mamãe desligava o telefone, gritava com Helen.

- Não vou mais mentir por você. Estou colocando em perigo minha alma imortal. E por que não fala com ele? É um rapaz simpático.

- É um babaca - respondia Helen.

- Ele é apenas tímido - dizia mamãe, em sua defesa.

- É um babaca - sustentava Helen, desta vez com voz mais alta.

Em ocasiões como o Dia dos Namorados ou no aniversário de Helen, pelo menos um buquê de rosas negras seria entregue, da parte dele. Cartões feitos à mão chegavam pelo correio, com desenhos muito vividos de corações partidos e sangue, ou então uma única lágrima vermelha. Terrivelmente simbólico.

Houve um tempo em que não se podia entrar em nossa cozinha sem encontrar Jim lá dentro, ainda usando o comprido casaco preto e conversando com mamãe. Mamãe se tornara sua melhor amiga. Sua única aliada na luta para conquistar o coração de Helen.

A maioria dos candidatos a namorado de Helen passava muito mais tempo com mamãe do que jamais passara com Helen.

Papai o detestava. Possivelmente ainda mais do que Helen.

Acho que se desapontou com Jim.

Porque papai era tão ávido por companhia masculina que espe­rara estabelecer alguns laços viris com Jim, já que tinha o rapaz como um elemento mais ou menos permanente na cozinha, junta­mente com a máquina de lavar ou a cesta de pão.

Uma noite, ele chegou em casa do trabalho, como de costume, e encontrou Jim sentado na cozinha com mamãe. Helen foi direto para o quarto, logo que soube que Jim estava nas imediações. Papai sen­tou-se à mesa da cozinha, tentando conversar com ele.

Disse: "Você viu a partida?"

Jim limitou-se a olhar para papai com uma expressão inteira­mente vazia. A única partida da qual Jim parecia saber alguma coisa era a de um suicida.

Então, este foi o fim da história.

Agora, papai também pensava que Jim era um caso perdido.

Disse que Jim devia calar a boca, parar de só falar em se matar, e, em vez disso, partir para o fato concreto.

Mamãe disse que Jim era realmente uma gracinha de pessoa, quando a gente o conhecia melhor.

E que era pecado encorajar alguém a acabar com a própria vida.

Minha impressão era de que Jim estava sempre ali. Todas as vezes que eu chegava em casa, vinda de Londres, ele parecia ter despencado em cima da mesa da cozinha, com uma pequena nuvem negra em cima de sua cabeça, carregando por toda parte seu ar de tragédia, como quem carrega uma pasta de documentos.

Mas eu sempre lhe dizia "Olá, Jim". Pelo menos era cortês.

Embora ele me ignorasse inteiramente.

Depois descobri o motivo.

Em meu segundo dia em casa, vinda de Londres, a campainha da porta tocou, atendi e descobri, em pé no degrau da entrada, um corte de cabelo usando um grande e comprido casaco negro.

Não tinha certeza se ele viera ver Helen ou mamãe, mas mamãe tinha saído, então chamei Helen.

- Helen, Jim está à porta.

Helen desceu a escada, parecendo confusa.

- Ah, olá, Conor - disse ela para o sombrio jovem no degrau. Virou-se para mim.

- Onde está Jim? - perguntou.

- Bem... este aqui... não é ele? - perguntei, um pouco surpresa, apontando para o rapaz que usava o comprido casaco preto.

- Esse não é Jim, esse é Conor. Há mais ou menos um ano que não vejo Jim. Acho melhor você entrar, Conor - disse ela, de má vontade. - Ah, sim, esta é minha irmã, Claire. Está em casa, vinda de Londres, porque seu marido a deixou.

- Muito obrigada, Claire - rosnou ela para mim, zangada, enquanto levava Conor para a sala de estar. - Há um mês que estou evitando esse sujeito.

Não há dúvida de que ela arderá nas fogueiras do inferno.

Pelo menos isso explicava por que Jim me ignorava todas as vezes que eu dizia: "Olá, Jim."

Não era Jim, de jeito nenhum.

Mas era a cara de Jim.

E depois, todas as vezes que eu via Jim, dizia: "Olá, Conor."

Só que continuava errada.

O nome do sujeito agora era William.

Mas era igualzinho a Jim e Conor.

Adam era uma proposta inteiramente diferente de Jim e dos seus clones.

Bonito, parecendo medianamente inteligente, apresentável... sabem, normal! Ele tinha algumas habilidades sociais, não parecia prestes a se desmanchar em poeira, se fosse apanhado diretamente por um raio de sol, e era capaz de fazer mais do que apenas ficar ba­bando e olhando para Helen com os olhos vidrados.

Após apertar as mãos de todos nós, ele disse a mamãe, educada­mente:

- Posso ajudar a senhora a pôr a mesa?

Mamãe ficou muito desconcertada. Não apenas pelo ofereci­mento de ajuda. Que já era notável por si mesmo.

Mas, pura e simplesmente, pela sugestão de que puséssemos a mesa.

Você percebe, as pessoas, em nossa casa, tendem a se virar sozi­nhas na hora das refeições e a comer seu jantar diante da televisão, vendo "Neighbours", em vez de se sentar à mesa da cozinha.

- Ah, não é preciso; obrigada, Adam, eu mesma farei isso.

E, com um ar ligeiramente estupidificado, ela fez exatamente isso.

- Você merece ganhar um petisco, esta noite - disse a Adam, com um tom infantil.

Honestamente, foi tão embaraçoso. Uma mulher adulta se com­portando como uma adolescente apaixonada.

- Claire fez o jantar para nós.

- Sim, ouvi dizer que Claire é uma grande cozinheira - ele sor­riu para mim, lançando-me numa agradável confusão. Ele realmente não deveria sorrir para mim daquele jeito, enquanto eu estava escor­rendo a massa, pensei, enquanto cuidava da minha mão escaldada.

Fiquei imaginando quem lhe dissera que sou uma grande cozi­nheira, porque tinha certeza de que certamente não fora Helen. Talvez ele simplesmente estivesse sendo simpático. Mas, ora, o que há de errado nisso?

- Muito bem, senhoras e senhores, por favor tomem seus assen­tos para o espetáculo desta noite - chamei, indicando que o jantar estava pronto.

Adam riu.

Fiquei pateticamente satisfeita.

Houve um arrastar geral de pés e ruído de cadeiras sendo movi­mentadas, e todos se sentaram.

Adam pareceu totalmente incongruente quando se sentou à mesa, tornando a cadeira uma anã, com aquela sua ridícula beleza, de maxilar quadrado.

Era um pouco como ter o Super Homem na cozinha ou Mel Gibson aparecendo para tomar uma xícara de chá.

Tirei meu chapéu para Helen; daquela vez ela pescara um bonitão.

A boa aparência integral de Adam era uma mudança agradável, diante da magra infelicidade de Jim/Conor/William.

Dentro de mais alguns anos ele seria inteiramente devastador.

Coloquei no centro da mesa a salada que havia preparado. Depois, coloquei a massa e o molho em pratos e trouxe-os para os convivas.

A chegada da comida lançou mamãe, papai e Helen numa espé­cie de dilema. O fato de que fora feita em casa deixou papai e Helen desconfiados.

Com toda a razão.

Deus sabe que eles tinham todos os motivos do mundo para esta­rem assim, após tudo que haviam passado. Acho que aquilo fazia lembrar demais todos os desastres de mamãe.

E, naturalmente, mamãe adorava fomentar problemas. Se ela os encorajasse a se recusarem de imediato a comer aquilo, significaria que eu não prepararia mais nenhum jantar, e a antiga ordem seria restabelecida, deixando-a assim em liberdade.

Quando o prato de Helen foi colocado diante dela, a moça fez ruídos como se fosse vomitar.

- Uuuughhhh! - disse, olhando fixamente o prato, com repugnância. - Que diabo é isso?

- Apenas massa e molho - respondi, calmamente.

- Molho? - gritou ela, em um tom estridente. - Mas é verde.

- Isso mesmo - confirmei, nem por um segundo negando que o molho fosse verde. - E verde. Molho pode ser verde, sabe?

Então Adam veio em meu socorro. Estava empanturrando-se de massa, com grande prazer.

Quem sabe ele era um desses estudantes sem um tostão que po­dem passar meses sem fazer uma refeição completa e que comeriam praticamente qualquer coisa?

Mas ele agia como se estivesse apreciando a comida. E isso para mim bastava.

- É uma delícia - disse, interrompendo de modo encantador as gracinhas de Helen. - Você devia experimentar, Helen.

Helen fulminou-o com o olhar.

- Não vou tocar nisso. O aspecto é repulsivo.

Papai, mamãe e Helen olhavam fixamente para Adam, enquanto ele engolia a comida, e prendiam o fôlego, os rostos gelados de hor­ror, obviamente esperando que morresse.

E quando, após cerca de cinco minutos, ele ainda estava vivo e não rolando de um lado para o outro no chão, como uma vítima dos Bórgias, gritando para que pusessem fim à sua dor, papai aventurou-se a experimentar a massa.

Agora, eu adoraria poder contar a vocês que, um a um, todos os membros de minha família pegaram um garfo e, apesar de seu pre­conceito anterior, foram conquistados por minha culinária sofistica­da. E que todos nos abraçamos, com sorrisos amarelos e acenos de cabeça auto depreciativos, admitindo francamente como estávamos errados. Mais ou menos como numa comédia americana.

Mas não posso fazer isso.

Helen, com grandes tremores e rosto contorcido, recusou-se ostensivamente a tocar na comida, embora o belo Adam lhe houves­se conferido seu zelo de aprovação.

Fez para si mesma algumas torradas.



Déjà vu, ou sei lá o quê.

Papai comeu um pouquinho e declarou que, sem dúvida, era maravilhoso, mas que seus gostos eram humildes. Que ele não tinha possibilidade de apreciar uma comida tão exótica e sofisticada. Como disse:

- Sou um homem simples. Só provei torta de limão com suspi­ro aos 35 anos.

Mamãe também comeu um pouquinho, mas com um ar de mar­tírio. Deixou muito claro que desperdiçar comida era pecado.

Mesmo comida horrível.

Assim sendo, comeu-a. Sua atitude parecia ser a de que fomos postos nesta terra para sofrer e que aquele jantar fora enviado para ela como alguma espécie de castigo. Mas que, dada a escolha entre escalar Croagh Patrick com uma perna quebrada ou terminar seu prato de massa, ela preferiria começar, qualquer dia da semana, a amarrar os cordões de suas botas de alpinismo.

Mas, ao mesmo tempo, tinha de esforçar-se para conter sua ale­gria pelo fato de papai e Helen recusarem-se a comer.

De vez em quando, captava meu olhar e obviamente era com dificuldade que mantinha o rosto impassível.

Embora preferisse morrer a admitir isso, estava exultante.

E então Anna chegou em casa.

Entrou perambulando pela cozinha, muito bonita, com uma espé­cie de beleza um tanto étnica, etérea, arrastando lenços e uma saia comprida de crochê, transparente, além de bijuterias coloridas. Obviamente já conhecia Adam.

- Ah, olá, Adam - disse, ofegante, obviamente encantada, corando de prazer.

Será que ele sempre faz corarem todas as mulheres com quem en­tra em contato?, imaginei.

Ou seria apenas nossa família?

De alguma forma, suspeitei que não.

Que esperança poderia haver para um homem tão jovem que já provocava um efeito tão intenso sobre as mulheres? Só poderia aca­bar se transformando num completo filho-da-puta.

Esperando que as mulheres chorassem, desmaiassem, gritassem e se apaixonassem por ele tão facilmente como respiravam.

O fato de ser bonito demais não era bom para ele.

Um ou dois desfiguramentos não lhe fariam mal, de jeito nenhum.

É de pequenino que se torce o pepino.

- Olá, Anna - sorriu-lhe ele. - Que bom vê-la novamente.

- Ah, sim - ela murmurou, corando ainda mais e derrubando uma xícara. A parte de dentro de suas pálpebras estava provavel­mente vermelho - vivo, neste estágio.

Solidarizei-me com ela. Provavelmente, eu não tinha mais um só vaso sangüíneo intacto em meu rosto, depois do rubor provocado anteriormente por Adam. Todos os capilares de minhas faces explodi­ram como bolhas que afloram à superfície de uma taça de champanha.

À mesa do jantar, a conversa não foi exatamente brilhante. Helen, que nunca fazia o papel de anfitriã, mesmo nas melhores oca­siões (jamais dispensava a característica grosseria), pegara uma re­vista (era, na verdade, um exemplar da Hello - como foi que essa passou pelo pente fino?, imaginei eu) e a leu durante todo o jantar.

- Helen, guarde essa revista - disse-lhe papai com dureza, obvia­ mente constrangido.

- Cale a boca, papai - disse Helen, com um tom monótono, sem sequer levantar os olhos.

Mas, de vez em quando, ela olhava para Adam e lhe dava um sorrisinho de feiticeira. Ele também a olhava, totalmente encantado, e, depois de sustentar seu olhar por alguns momentos, retribuía-lhe o sorriso.

A tensão sexual era tão densa que podia ser cortada com uma faca de pão.

Anna, que nunca se mostrava brilhante, mesmo em ocasiões melhores, agora parecia inteiramente abestalhada diante de Adam, tal a sua reverência.

Todas as vezes que ele lhe dirigia uma pergunta, ela exibia um sorriso tolo e, depois, soltava umas risadinhas e baixava a cabeça, agindo como o idiota da aldeia.

Era muito aborrecido, para ser honesta com você.

Ele era apenas um homem, e, na verdade, muito jovem, pelo amor de Deus. Não algum tipo de deus.

Mamãe e papai remexiam sua comida, nervosamente. Também não falavam muito.

Papai fez uma rápida investida, tentando conversar com Adam.

- Rúgbi? - murmurou para ele, como se estivesse numa sociedade secreta e tentasse descobrir se Adam também era membro.

- Como? - perguntou Adam, olhando confuso para papai, numa desesperada tentativa de entender o que ele tentava dizer-lhe.

- Rúgbi? Na escola, talvez?

- Ah, desculpe, mas o que o senhor quer dizer?

- Rúgbi? Você joga? - Papai decidiu pôr suas cartas na mesa.

- Não.


- Ah - papai suspirou, como um balão que murcha.

- Mas gosto de ver - disse Adam, corajosamente.

- Ora, bah! - disse papai, praticamente virando as costas para ele, expressando seu desapontamento com uma ondulação depreciativa do braço.

E isso, suponho, foi o fim daquela incipiente amizade.

Por algum motivo, senti que era minha responsabilidade conver­sar com nosso visitante. Talvez fosse porque eu me acostumara a estar na sociedade civilizada, onde os convidados eram tratados como convidados. Onde, se alguém convida você para jantar, não o atira no meio de um grupo de estranhos, ignorando-o por completo.

Talvez já tenha dito, ou devo ter dito, aliás, mil vezes, que não entendia como Helen livrava a cara, comportando-se do jeito como se comportava.

- Então, você está na turma de Helen, na universidade? - per­guntei a ele com uma falsa animação, tentando, em desespero de causa, iniciar algum tipo de conversa.

- Sim - respondeu ele. - Estou na mesma turma de Antro­pologia que ela.

E isso pareceu encerrar o assunto. Ele continuou a comer. Continuou a viver. Papai continuou a se maravilhar.

Era um prazer observar Adam. Havia algo de tão saudável nele. Tinha um apetite enorme e era tão grato.

- A comida está realmente maravilhosa - disse, sorrindo para mim. - Será que posso me servir de um pouquinho mais?

- Claro - disse mamãe com um ar coquete, quase derrubando sua cadeira, na pressa de servi-lo. - Vou pegar para você. Gostaria de tomar outro copo de leite?

- Muito obrigado, Sra.Walsh - disse ele, educadamente.

Era tão simpático. E não digo isso apenas porque ele foi o único que comeu o jantar preparado por mim.

Tinha um jeito de menino, de uma forma bem masculina.

Ou talvez fosse tão viril, com uma espécie de jeito de menino.

Bem, fosse lá o que fosse, era muito atraente.

Mas, apesar de sua alarmante boa aparência, senti-me muito descontraída com ele porque sabia que devia ter mais ou menos seus 18 anos. Embora seu aspecto e comportamento revelassem muito mais maturidade do que isso.

Para ser honesta, quase senti um pouco de inveja de Helen, por conseguir aquele pedaço de homem.

Lembrei-me vagamente do que era ser jovem e estar apaixonado.

Mas disse a mim mesma que não fosse tão tola. Eu ajeitaria as coi­sas com James. Ou então encontraria outra pessoa igualmente boa.

(Boa?!?, pensei, alarmada. Dissera eu, exatamente, boa? Não era bem a palavra certa para descrever James, naquele momento.)

Mas Adam, o herói, salvou a conversa.

Mamãe perguntou-lhe onde ele morava.

Isto faz parte de um questionário de rotina: é a primeira pergun­ta de um conjunto de duas que mamãe infalivelmente faz aos visitan­tes do sexo masculino.

A segunda pergunta é para descobrir o que o pai do rapaz faz para ganhar a vida.

E assim avalia as condições financeiras da família, para o caso de Helen, eventualmente, passar a pertencer a ela, por meio de um casa­mento. E também para mamãe ter uma idéia aproximada de quanto se esperaria que ela gastasse no vestido de "mãe da noiva".

Mas Adam conseguiu driblar mamãe e evitar o pedido para apresentar uma cópia recente do contracheque do seu pai, divertindo-nos a todos com trechos isolados da história de sua vida.

Segundo disse, vinha da América. Seus pais tinham voltado re­centemente para Nova York, e então ele morava num apartamento em Rathmines.

Embora seus pais fossem irlandeses e ele tivesse vivido na Irlanda desde os 12 anos de idade, ainda parecia americano.

Deve ser alguma coisa no ar da América, pensei. Fluoreto, ou algo parecido, que os faz ficarem assim tão grandes e fornidos.

Era definitivamente um grande balde de água fria na multidão dos que dizem que a genética tem precedência sobre o meio ambiente.

Se ele tivesse passado os primeiros doze anos de sua vida em Dublin, em vez de Nova York, teria apenas um metro e sessenta, em vez de quase noventa. Teria pele branca e sardenta, em vez de ser moreno-claro. Teria um cabelo fino cor de rato, em vez de cabelos negros e lisos. Seu maxilar seria fraco e indefinido, em vez de ser quadrado, de granito.

Aquilo era obviamente o resultado de um estilo de vida que incluía comer carne de vaca com centeio, rosquinhas com creme de queijo e salmão defumado, beber soda e cerveja, assistir futebol americano, chamar todo mundo de "Mac", mesmo quando não é esse seu nome, e ter portas de proteção contra tempestades e um con­vés em casa.

Adam divertiu todos nós com histórias sobre a sua vida logo que se mudou de Nova York para Dublin. Disse que as crianças irlan­desas o receberam chamando-o de "fascista imperialista ianque" e agiram como se ele fosse pessoalmente responsável pela invasão americana a Granada. Elas desprezavam e zombavam de seu sotaque e seu vocabulário. Enquanto, como disse o pobre Adam: "Eu nem sabia que falava do jeito errado."

Já os outros rapazes diziam coisas que ele não entendia.

Motivo para furiosas gargalhadas.

E, quando ele tentou defender-se surrando algumas crianças, passou a ser chamado de brutamontes, porque era muito maior do que os outros meninos.

Todos sacudimos a cabeça, solidariamente, sentados ao seu redor, com nossos cotovelos na mesa da cozinha, olhando para Adam, nossos corações partidos pelo pobre e solitário menino de doze anos, que não conseguia fazer nada certo. O silêncio era tumular. Nosso estado de espírito de repente passara de leve para sombrio.

Até papai parecia à beira das lágrimas.

Obviamente, pensava: "Ele pode não jogar rúgbi, mas essa não é a maneira correta de tratar o rapaz."

Depois, Adam voltou toda a força de sua atenção para mim.

Virou-se em sua cadeira e fixou em mim um olhar intenso.

De uma maneira engraçada, fez-me sentir como se eu fosse a única pessoa na sala.

Era ansioso e entusiasmado a respeito de tudo. Como um filhotinho de cachorro. Bem, na verdade, como um filhotão de cachorro.

Parecia não haver nele nenhum cinismo.

Então, isso que é ser jovem, pensei.

- Então, Claire, me fale do seu trabalho - pediu ele. - Helen contou que você tinha um emprego realmente importante, traba­lhando para uma instituição de caridade.

Floresci sob o calor do seu interesse, como uma flor ao sol, e ia começar a falar a respeito.

Mas, antes que pudesse, Helen me interrompeu:

Não disse que era importante - falou, com um tom azedo. - Disse apenas que era um emprego. E, de qualquer jeito, ela precisou se afastar, quando teve o bebê.

Ah, o bebê - disse ele. - Posso vê-lo?

Claro - disse eu, encantada, mas me perguntando por que Helen se mostrava tão maldosa.

Por que estava ainda mais maldosa do que de costume, quero dizer.

- Kate está dormindo, no momento, mas acordará em cerca de meia hora, e então você poderá vê-la.

- Ótimo - disse ele, olhando para mim. Honestamente, ele era maravilhoso. Seus olhos eram de um tipo

de azul marinho. E ele tinha o corpo mais bonito do mundo.

Pensei isso de um ponto de vista puramente racional.

Ele é o namorado da minha irmã, então está certo que eu admi­re sua beleza, mas de um ponto de vista estético, por assim dizer.

Eu me sentia um pouco como uma sábia mulher velha admirando os belos jovens. Percebendo como eram lindos, enquanto reco­nhecia que meu tempo de namoro com eles há muito se fora.

Ele era tão alto e tinha um aspecto tão sensual, mesmo usando apenas um par de jeans desbotados e um suéter cinzento.

Para sobremesa, eu trouxe a mousse de chocolate, que foi recebi­da com muito mais entusiasmo do que o jantar. O acotovelamento e o tumulto que irromperam entre Anna, Helen e papai, na luta pelo maior pedaço, foram quase vergonhosos - e nós com um visitante em casa.

Mas Adam apenas riu, com bom humor.

Depois de algum tempo, levei-o para ver Kate.

Entramos no quarto na ponta dos pés.

Posso segurá-la? - perguntou ele, reverente.

Claro - sorri, tocada com seu respeito.

Pensei que fora a coisa mais doce que eu já ouvira, o fato de um homem tão grande e durão querer ver meu bebê.

Como um imenso e corpulento motorista de caminhão chorando ao ouvir canções country e western. Incongruente e tocante.

Entreguei-lhe gentilmente Kate, que ele pegou e segurou cuida­dosamente.

Ela nem mesmo acordou.

A idiota!

Que tipo de filha eu estava criando?

Sendo carregada, pela primeira vez, por um belo homem, e dor­mindo o tempo todo.

Era um quadro lindo. O imenso rapaz segurando o perfeito bebezinho.

De que cor são os olhos dela? - ele perguntou.

Azuis - eu disse. - Mas todos os bebês primeiro têm olhos azuis e depois, em geral, mudam para outra cor.

Ele continuou a olhá-la atentamente, com uma expressão de des­lumbramento em seu rosto.

- Sabe, se eu e você tivéssemos um bebê, seus olhos sem dúvida seriam azuis - disse, em tom sonhador, falando quase como para si mesmo.

Dei um pulo, com o choque.

Mal podia acreditar em meus ouvidos!

Será que ele estava flertando comigo?

Senti um impulso de raiva.

Pensara que era tão inocente e simpático. Um doce rapaz.

Mas que coragem a dele!

E não apenas eu tinha idade para ser sua mãe - bem, quase isso -, como ele estava ali com minha irmã e causava uma impres­são muito boa como seu namorado.

Será que ele não tinha nenhum respeito?

Nenhum senso de decência?

Mas eu estava errada. Olhei para ele e seus olhos se fecharam com força, por um minuto. Pude perceber que ele estava, de fato, mortalmente constrangido.

Definitivamente, sabia que dera um passo em falso.

Parecia tão jovem e assustado.

Como um menino atrevido.

O quarto ficou coberto por uma atmosfera cheia de tensão e constrangimento.

- Bem, é melhor eu voltar para Helen e o trabalho dela - disse, às pressas, praticamente atirando Kate de volta na direção do seu berço e saindo às carreiras do quarto, sem olhar para trás.

Sentei-me na cama, sentindo-me meio esquisita.

Será que eu me achava uma tola pela reação exagerada?

Ou me sentia triste com meu cinismo, por partir precipitadamen­te para a conclusão errada?

Será que eu me sentia... Deus me livre... desapontada?

Não, decidi. Definitivamente, desapontada, não. Mas, sem dúvi­da, um pouco tola.

Você está afastada do contato com homens há muito tempo, disse a mim mesma severamente. É melhor voltar a circular. Assim, da próxima vez em que encontrar um homem atraente, não chegará na mesma hora a nenhuma conclusão ridícula.

Mas, ao mesmo tempo, devo admitir que fiquei ligeiramente espicaçada pela maneira como ele reagiu à sugestão de que tivésse­mos um bebê. Não havia necessidade de que parecesse tão horrori­zado.

Meu Deus, mas era típico.

Numa velha e honrada tradição feminina, eu passara da fúria pe­la possibilidade de que ele estivesse debochando de mim para a fúria de que ele não estivesse debochando de mim, tudo em cerca de trin­ta segundos.

A racionalidade nunca foi o meu forte.

Quero dizer, eu podia ser uma "mulher mais velha", mas não era exatamente A Noiva de Drácula. Faria com que ele soubesse que muitos homens me achavam atraente.

Bem, eu tinha certeza de que deveria haver alguns, em alguma parte, que achavam, sim. Há três bilhões de pessoas neste planeta. Nessa massa, tinha certeza de que poderia encontrar alguns poucos e pobres infelizes que gostassem da minha aparência.

A audácia daquele sujeito. Só porque por acaso era extremamen­te bem-apessoado, não tinha nenhum direito de me fazer sentir um horror.

Talvez eu não fosse tão bonita quanto Helen.

Na verdade, eu não era, sequer remotamente, tão bonita quanto Helen.

Mas sou uma boa pessoa.

Embora, na verdade, ninguém jamais queira transar com alguém pelo fato de ser uma boa pessoa.

Se fosse esse o caso, Madre Teresa teria tido de afugentar seus admiradores com um cajado.

E no entanto...

Alimentei Kate e coloquei-a de volta na cama.

Depois, fui para o andar de baixo procurar mamãe.

A caminho, passei pelo quarto de Helen, cuja porta estava firme­mente fechada.

Aquele par estava obviamente bem escondido ali dentro.

Mas que trabalho para a universidade, que nada!

Mamãe e papai podiam ter engolido aquela história, mas eu mesma a usara vezes suficientes para saber o que de fato significava.

Mas, ao mesmo tempo, se estivessem fazendo sexo, era muito silenciosamente.

Não, claro, que eu ficasse escutando à porta, ou algo parecido.

E não, claro, que tivesse algo a ver comigo, pelo amor de Deus.

Helen podia trepar com quem quisesse.

Da mesma forma que Adam.

Nada, como digo, a ver comigo, absolutamente.

Com grande determinação, fiquei vendo televisão com mamãe.

Muito mais tarde, ouvimos Helen e Adam na cozinha.

Depois, ouvimos quando os dois estavam se despedindo.

Ele enfiou sua cabeça pela porta e nos agradeceu pelo jantar maravilhoso, dizendo que esperava ver-nos novamente em breve.

Mamãe e eu nos despedimos dele com sorrisos.

- Rapaz maravilhoso, tão educado - disse mamãe com satis­fação.

Não lhe dei resposta. Estava observando que ele não parecia muito desgrenhado para alguém que acabara de fazer sexo. E fiquei imaginando por que eu me importava com isso.



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