Meu mundo por Você Sara Howard



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Capítulo 9
Emma abriu os olhos e pestanejou com a claridade da manhã. Não queria despertar da noite que fora como um longo e ado­rável sonho, especialmente quando o amanhecer significaria sair da cama, onde podia sentir o calor do corpo quente e poderoso de Cal pressionado contra suas costas como uma segunda pele.

— Bom dia — ouviu-o murmurar com voz sonolenta.

Ela se voltou e suspendeu a respiração ao ver o brilho de um sorriso nos olhos castanhos.

— Voltarei em um minuto. Não se mova— ele disse, deslizando para fora da cama.

Emma abraçou o travesseiro, observando-o no caminhar para o corredor com a graça de uma pantera.

O corpo nu, de músculos perfeitos, parecia ter sido esculpido em pedra. Ela sorriu ao pensar que na noite anterior, enquanto faziam amor sobre a mesa da co­zinha, estivera ocupada demais para observá-lo.

Ele era simplesmente perfeito! Concluiu ao vê-lo voltar e deitar-se a seu lado. A pele morena com um bronzeado uniforme contrastava com os lençóis brancos em uma combinação irresistível.

Ele estava olhando para ela com um sorriso que a fez desman­char, os olhos castanhos cheios de curiosidade.

— Desculpe-me, Doutor Worth, mas ainda não acabei minha pes­quisa — ela disse em tom provocante, percorrendo a mão pelo peito largo.

— Humm. Fique à vontade.

E ela correu os dedos pelos cabelos fartos enquanto beijava cada detalhe do rosto de traços perfeitos, para então explorar o corpo másculo que tanto a fascinava.

— O que foi isso? — indagou, acariciando uma cicatriz no ombro largo.

— Eu me machuquei ao atravessar uma cerca de arame farpado.

Ela beijou gentilmente a pequena marca e prosseguiu, sem dei­xar que nada escapasse ao seu exame.

— Eu estava pensando. Hoje é sexta-feira. Você tem de ligar para seu chefe e dizer que... — Cal se calou de súbito, sem conter um gemido — Você está chegando a um território perigoso, Senhorita.

Emma levantou os olhos para ele sem interromper as carícias.

— Onde conseguiu isso? — E ela tocou uma cicatriz na coxa musculosa.

— Oh, isso? Foi o resultado de minha tentativa de conduzir um touro para o estábulo.

Ela sorriu, pondo-se a imaginar como fora a vida de Cal. Ele crescera naquela casa maravilhosa, tivera um lar feliz e escolhera uma profissão onde seu maior compromisso era dedicar-se a cuidar das pessoas.

Aquele homem era especial, e a simples idéia de que em breve iria perdê-lo começava a assustá-la.

— Isso só pode ser um sonho!

Emma corou, olhando para si mesma no espelho do banheiro duas horas mais tarde.


Cal saíra para ir ao consultório muito mais tarde do que havia planejado. Ele havia saído com relutância depois de tomar um rápido banho e dedicar-se a uma interminável sessão de beijos.

— O trabalho está a sua espera, doutor caubói — ela dissera em tom de provocação, empurrando-o para fora da cama — Apos­to que sua sala de espera estará repleta de pacientes doentes de pura curiosidade por saber o que aconteceu nesses dias em que estou aqui.

— É bem provável — Ele sorrira e a beijara mais uma vez — Voltarei logo.

Ela ficara na cama por mais uma hora, sentindo a fragrância máscula impregnada nos travesseiros. Emma sentia-se como uma adolescente apaixonada, revivendo cada momento, cada sensação da maravilhosa noite que haviam passado juntos. Por fim, levan­tara-se e fora para o banheiro, determinada a tomar um banho e pensar friamente sobre tudo o que estava acontecendo.

Refletir sobre seu relacionamento com Cal era mais difícil do que ela imaginava. Ele era gentil, atencioso, divertido, sólido e forte, sem mencionar que era homem mais sexy do planeta! Fazer amor com ele havia provocado mais dúvidas do que soluções. Como poderia antecipar qualquer futuro quando sua vida era em Nova York, a quilômetros de Amity?

E o pior era que precisava marcar a passagem de volta para Nova York, e não conseguia encontrar coragem para dizer a Cal que estava de partida.

Emma saiu do chuveiro e se enrolou numa toalha. Depois de vestir uma confortável calça jeans e uma camiseta, secou os cabe­los e seguiu para a cozinha. Ao se deparar com a bagunça que haviam feito na noite anterior, Emma não conteve um sorriso triste. Gostaria de poder voltar no tempo para reviver eternamente a noite maravilhosa que haviam passado.

Reunindo todas as forças que pode encontrar, ela telefonou para o aeroporto e agendou a passagem de volta para dali a dois dias. Depois de desligar, a realidade caiu sobre ela com o peso de sé­culos, e Emma deu vazão ao pranto convulsivo até que as lágrimas se esgotassem.

Apanhou o telefone sem fio e discou o número de Caroline enquanto começava a lavar os pratos com o aparelho preso ao ombro. Precisava desabafar, e não havia ninguém melhor do que sua mais nova amiga para ouvi-la. Depois de chamar inúmeras vezes, ela estava quase desistindo da ligação quando ouviu Caro­line atender do outro lado da linha, quase sem fôlego.

— Alô?


— Caroline? Você está bem?

— Sim. Eu estava no quintal e corri para atender ao telefone.

— Estou interrompendo alguma coisa? Se quiser, posso ligar mais tarde.

—Não, você interrompeu apenas uma sessão de fofocas, e você era o tópico da conversa.

— O quê?

— Ruth, minha vizinha, tinha uma consulta com Cal duas horas atrás. Ela disse que ele chegou atrasado e estava rindo de orelha a orelha. Além disso, ele se despediu com um beijo quando ela foi embora — Ela riu com vontade antes de prosseguir — Infeliz­mente, Jerry e Marylin também estavam lá, e eles são os maiores fofoqueiros da cidade. E, é claro, eles associaram a felicidade de Cal à sua estada na casa dele. Meu telefone não parou de tocar a manhã toda!

— Oh, meu Deus!

Emma ficou tão aflita que deixou que um prato escorregasse de suas mãos e caísse, espatifando-se no chão. Ela ignorou o acidente e sentou-se no chão, apoiando o rosto com as mãos molhadas.

— O que posso fazer Caroline? Quero dizer, eu nunca...

— Ora, Emma, isso não é nada demais! Claro, não deve ser agradável ser o centro das fofocas, mas ninguém faz isso por mal. Todos adoram Cal em Amity, e você foi esperada como uma ce­lebridade. É natural que a população inteira esteja muito excitada com possibilidade de formarem um casal. Emma, você está aí? Emma?

— Estou ouvindo — ela balbuciou, aterrorizada.

— Ótimo. Ouça querida, esqueça as fofocas. Não se trata de nenhum escândalo. Todos estão muito felizes com as novidades — Ela fez uma pausa para respirar — E você? Também está feliz?

— Estaria se não estivesse tão preocupada. Cal é maravilhoso, e eu nunca imaginei encontrar alguém assim. Ele parece ter sido feito para mim — Ela se levantou do chão e sentou-se em uma cadeira — Mas o problema é que eu moro em Nova York, e Cal é praticamente um patrimônio de Amity. Oh, Caroline, não sei o que vai acontecer.

—Humm. Então, os boatos sobre você e Cal têm fundamento?

— Sim. O que está acontecendo entre nós é a coisa mais ver­dadeira que eu já senti.

— Oh, isso é ótimo!

— Ótimo? — ecoou ela, exasperada — Mas o que acontecerá? Eu só não voltei para casa antes de ontem porque tive de me re­cuperar do acidente de carro, mas acabo de marcar a passagem de volta para domingo. Não poderei ficar aqui para sempre! E mesmo que seja despedida, tenho meu apartamento e.

— Querida, não fique tão apreensiva — Caroline tentou tran­qüilizá-la — Se vocês estão apaixonados, não será a distância que irá separá-los. Uma grande paixão é capaz de vencer qualquer obstáculo.

— Acontece que não tenho certeza se Cal está realmente apai­xonado.

— Querida, eu o conheço muito bem, e arriscaria dizer que ele está louco por você!

— Se ele realmente estivesse apaixonado, você não acha que pediria para que eu ficasse?

— Não sei. Cal não é o tipo de homem que faz declarações de amor. Ele sempre foi muito fechado e nunca gostou de expor os sentimentos.

— Oh, Caroline, estou tão insegura. Se ao menos ele me desse uma pista! — Emma suspirou, aflita — O pior é que não tenho coragem de dizer a ele que vou embora.

— Por que você não fica mais alguns dias?

— Não posso. O projeto depende de uma locação, e como não consegui encontrar o que eu esperava, terei de recomeçar a pes­quisa o quanto antes.

— Oh, eu sinto muito. Gostaria que você ficasse.

— E eu gostaria que Cal dissesse o mesmo que você! — Emma confessou com um suspiro.

— O que você faria se ele pedisse para ficar? — Caroline indagou.

Emma refletiu por alguns segundos. Por mais que seu trabalho e sua independência significassem muito para ela, seria capaz de abrir mão de tudo para ficar ao lado dele. Porém, se Cal realmente a amasse, ele também seria capaz de fazer o mesmo, e aquela era a prova de amor de que ela precisava.

— Eu não sei — disse por fim.

Depois de desligar, Emma permaneceu sentada por um longo tempo, refletindo sobre o que fazer. Seu destino estava nas mãos de Cal, e qualquer atitude que pudesse tomar dependia da certeza de que ele realmente a amava.

Não podia simplesmente abandonar tudo que conquistara em nome de uma paixão sem ter a certeza de que era correspondida.

De súbito, ela tomou uma decisão. Cal teria dois dias para provar que a amava, e se ele conseguisse convencê-la, abandonaria tudo para ficar com ele.

Cal voltou para casa pouco depois do meio-dia e encontrou Emma acabando a limpeza da cozinha.

— Se eu soubesse que você viria para casa, teria preparado o almoço — disse ela depois de beijá-lo.

— Na verdade, passei por aqui apenas para vê-la — Ele abriu o refrigerador e apanhou um iogurte — Tenho de ir ao hospital em Power visitar um paciente, mas estarei em casa antes das seis horas da tarde. Que tal se saíssemos para jantar e fossemos ao cinema?

— Seria ótimo!

— Para dizer a verdade, isso era o que eu estava planejando para ontem à noite, antes de você me manter prisioneiro nesta casa.

—Como? Vamos esclarecer melhor quem foi a prisioneira nes­sa história, caubói! — provocou ela.

— Não tenho tempo para discutir — Cal replicou com um sor­riso, e beijou-a de leve antes de sair.

Ele voltou às seis horas em ponto e encontrou Emma pronta para sair. Seguiram para o vilarejo conversando sobre banalidades, e ela ignorou a voz em sua consciência avisando que a mágica estava chegando ao fim. A decisão que tomara naquela tarde mar­telava em sua cabeça enquanto jantavam.

Talvez ela não passasse de uma inocente diversão para ele, pen­sou com amargura ao vê-lo conversar com Jolene. Se ele realmente a amasse, não estaria tão feliz sabendo que ela deveria ir embora em breve.

Emma mal conseguiu tocar em seu prato, atormentada pelo con­flito que a sufocava. Então, ela se lembrou das palavras de seu pai, que sempre dizia que um sorriso era a melhor arma contra a tristeza. Decidida a superar a melancolia, ela respirou fundo se dedicou ao delicioso bolo de chocolate que Jolene colocara a sua frente. Afinal, teria apenas dois dias para usufruir a companhia do homem mais interessante que já conhecera, e não valia a pena desperdiçar nem um minuto.

Depois do jantar foram ao cinema assistir a um filme que ela já havia visto seis meses atrás em Nova York. Mesmo assim, Emma adorou o passeio. Ao voltarem para casa, ela sorriu com prazer quando Cal fechou a porta da frente atrás de si, antevendo o prazer e a magia da noite que a esperava.

— Suas mãos são mágicas — Emma murmurou na manhã se­guinte — Isso é um pré-requisito para se tornar Médico?

— Bem, não costumo usá-las desta forma nos meus pacientes — ele disse com um sorriso provocante — Na verdade, você é a primeira pessoa que me diz isso.

— É mesmo? — Ela sorriu, sem deixar que ele notasse uma ponta de satisfação ao ouvi-lo.

— Eu gostaria de descobrir uma forma de guardar seu perfume em um frasco para poder levá-lo sempre comigo — ele sussurrou, mergulhando o rosto nos cabelos perfumados.

— Você é louco! — ela disse, com uma risada.

— Sim, sou louco por você! — Ele apoiou-se no cotovelo e a fitou profundamente.

— Louco a ponto de abandonar tudo para ficar comigo? — indagou assustada com sua própria coragem em perguntar.

Ela prendeu a respiração ao vê-lo arregalar os olhos como se tivesse levado um choque.

— Emma, você sabe o que esta cidade significa para mim.

Ela percebeu que se esquecera de respirar. Subitamente, sentiu que sua vida estava em jogo naquele momento.

— Por que você não abandona tudo para ficar comigo? — con­tinuou ele, alheio ao turbilhão de emoções que a assaltara — Seria perfeito se você se mudasse para esta casa. Aqui, você poderá ter um lar de verdade.

— Um lar de verdade — Emma repetiu, tentando esconder o tremor na voz.

Cal fez menção de abraçá-la, mas ela o repeliu.

— Acontece que não sou uma pobre órfã desamparada que precisa de um lar!

— Emma, eu não quis dizer isso! — Cal franziu o cenho, sem entender a fúria crescente que iluminava os olhos verdes.

— Para você, meu emprego, meu apartamento, minha vida não significam nada! Você imagina que seja fácil abandonar tudo, co­mo se nada do que eu faço tenha valor!

— Ei, espere um pouco! Você não acha que está exagerando?

— Não, Doutor Worth, não estou! E a minha vida que está em jogo! O que o faz pensar que, só porque não encontrei a locação, sim­plesmente serei despedida e ficarei eternamente grata por você me oferecer um teto para me abrigar?

— Emma.

Chocado, ele sentou-se na cama e a fitou em silêncio. Queria dizer que a amava e que jamais seria feliz se não estivesse ao lado dela. Porém, seu cérebro parecia ter se congelado, e não encontrou palavras que pudessem expressar o sentimento que transbordava em seu coração.



— Eu não trabalho apenas para pagar minhas contas — ela disse com voz firme — Tenho uma carreira, um sonho, a única coisa que eu realmente gosto de fazer. Em todos esses anos em que acompanhei meu pai de cidade em cidade, o único lugar em que eu me sentia segura era quando ia ao cinema e me imaginava fazendo parte da história. Enquanto estava lá, eu conseguia esque­cer a frustração de não ter amigos, de não ter uma casa, de não ter um lar.

Emma se interrompeu para respirar, contendo as lágrimas que insistiam em brotar de seus olhos.

— O cinema era como mágica para mim, Cal, e eu sempre quis ser parte disso.

Ela não pode prosseguir, entregando-se ao pranto que sufocou suas palavras.

— Eu sei o que seu trabalho representa para você, e jamais ousaria atrapalhar seus projetos. Eu sei que fui um tanto rude a princípio, mas eu não a conhecia e não sentia a menor vontade de participar de um filme estúpido.

Ele se deteve e prendeu a respiração ao perceber o que acabara de dizer.

— Um filme estúpido? — Emma fuzilou-o com o olhar — Bem, sei que esse filme não vai salvar vidas e nem acabar com as guerras do planeta, mas é isso o que faço, Cal. E sempre deixei muito claro o que vim fazer aqui.

— Emma, eu não quis dizer isso — Ele sentou-se na beirada da cama e tomou as mãos dela — Você é ótima profissional e sei o quanto ama seu trabalho, mas quem sabe se você ainda terá seu emprego quando voltar?

— E nós dois sabemos o quanto você se empenhou para que eu perdesse meu emprego, não é?—ela disse com ironia, repelindo as mãos dele.

— Meu Deus, isso é ridículo! Vamos conversar como duas pessoas civilizadas.

— Conversar sobre o quê? — ela balbuciou com as palavras entrecortadas pelos soluços — Nós nos conhecemos há uma se­mana, e você estava pronto para me matar até dois dias atrás, quan­do fizemos amor. Tudo está acontecendo muito rápido!

— Sim, e fizemos amor como se tivéssemos nascido um para o outro. Isso não é o bastante?

— Não, Cal. Isso não é o bastante!

Ela se levantou e foi para o banheiro, deixando-o mergulhado em um abismo de solidão.

Cal ignorou o chamado insistente do interfone e permaneceu paralisado, com o olhar perdido na paisagem que avistava através da janela. Ele instruíra Suzanne para que não passasse nenhuma chamada e cancelasse seus pacientes, e fuzilou-a com o olhar quan­do ela abriu a porta do consultório e entrou.

— Doutor? Sei que disse para não perturbá-lo, mas seu tio está aqui, e... bem, ele se recusa a ir embora.

— Diga para voltar mais tarde.

— Cal? O que está acontecendo, filho? — Frank irrompeu pelo consultório, ignorando a expressão mal humorada do sobrinho — Suzanne disse que você cancelou suas consultas.

— Eu cancelo meus pacientes quando acho necessário.

— Certo você sabe o que faz. Mas não vim aqui para discutir­mos. Vim convidá-lo para a festa que estamos planejando para hoje à noite, em minha casa.

— E qual é o motivo para festejar?

— A despedida de Emma. Não tenho idéia do que vocês dois andaram fazendo nos últimos dias, mas você deveria ter me con­tado que ela agendou a passagem de volta para amanhã.

— Ela... O quê? — Cal olhou para o tio como se estivesse vendo um fantasma.

— Você não sabia? Ontem à tarde, ela me ligou para agradecer por tudo e me disse que sentia muito por não ter conseguido en­contrar a locação perfeita em Amity. Perguntei quando ela ia em­bora, e ela me disse que ficaria em Amity apenas mais dois dias.

— Entendo.

Ela ligara para o aeroporto antes que ele voltasse do consultório, antes que saíssem, antes de se divertirem como dois adolescentes... E antes de fazerem amor!

— Cal? — Frank se ergueu e acenou com a mão diante do rosto dele — Cal, o que houve?

— Nada, tio Frank.

Ele simplesmente não podia acreditar que ela planejava partir desde o dia anterior e nem se dera ao trabalho de comunicar-lhe. Mas havia muitas coisas que não podia acreditar, inclusive a dis­cussão daquela manhã. Aquela deveria ter sido a razão pela qual ela ficara tão irritada quando ele pedira para ela ficar. Emma já planejava ir embora.

Emma discou o último número do telefone de seu escritório, embora estivesse relutante em enfrentar as conseqüências.

— Searchlight Filmes, em que posso ajudá-la?

— Olá, Angie. É Emma.

— Olá! Que voz é essa?

— Não é nada. Apenas estou cansada.

—Como você está? Soubemos que sofreu um acidente de carro. Doutor Worth ligou para cá e disse que você não poderia vir embora antes de se recuperar — Angie abaixou a voz, em tom de confi­dencia — Quem é ele, Em? Se for tão sexy quanto a voz.

— Não importa, Angie — ela interrompeu irritada — Posso falar com Rusty?

— Certo, vou transferir para ele.

Emma esperou até ouvir a voz do outro lado da linha.

— Como está nossa intrépida pesquisadora esta manhã?

— Bem, um pouco melhor fisicamente — Emma disse tentando manter o bom humor — Vou para Nova York no domingo e estarei no escritório segunda-feira pela manhã.

— Parece que você não trará boas notícias com você. O que aconteceu?

— Na verdade encontrei uma magnífica locação, mas o dono está relutante em dispor da propriedade. Se tivermos de fazer uma série, uma locação temporária não vai funcionar.

— Não se preocupe, vamos discutir isso quando você voltar.

Emma desligou o telefone um pouco mais aliviada. Ao menos, Rusty não ficara furioso. Talvez o fato de ter sofrido um acidente enquanto pesquisava locações o tivesse sensibilizado, pensou ela. Ainda havia uma ponta de esperança de que sua vida não estivesse completamente destruída, disse para si mesma, acomodando-se no sofá da sala.

Emma olhou para o relógio na parede.

Cal passara o dia todo fora de casa, e se pôs a imaginar como seria quando ele voltasse.

Ela se ergueu e subiu as escadas com relutância. Teria de en­frentar uma festa de despedida em poucas horas, e seu humor es­tava mais compatível com um velório, pensou desolada. Porém, ela sabia a razão por estar tão deprimida.

Não podia mais viver a fantasia de que poderia haver um futuro para o relacionamento entre ela e Cal.

A discussão daquela manhã havia destruído qual­quer esperança de que ele a amasse, e por mais que sua estada em Amity fosse um sonho maravilhoso, havia chegado a hora de en­frentar a realidade e de se dedicar ao único sonho que a mantinha viva, seu trabalho.

Capítulo 10
— Está pronta?

Emma meneou a cabeça, evitando os olhos de Cal.

Ele permanecia parado à porta de entrada, com as chaves do carro na mão.

Ela suspirou e o seguiu em silêncio, apertando a bolsa de en­contro ao peito como se aquele gesto pudesse protegê-la. Tudo o que tinha a fazer era enfrentar a festa de despedida na casa de Frank e, dentro de poucas horas, seguir para Nova York e se es­quecer de Amity para sempre.

Nunca vivera momentos tão difíceis em toda sua vida, concluiu ela enquanto se acomodava no Mustang.

Cal chegara em casa por volta das sete horas e estava na cozinha quando a porta da frente se abriu. Porém, a excitação por vê-lo transformou-se em apreensão quando ele a fitou com uma expres­são séria e grave no rosto.

— Você não se esqueceu de mencionar nada esta manhã? — dissera ele, sem nem mesmo cumprimentá-la.

Fora então que percebera que tudo estava definitivamente per­dido. Como pudera ser tola a ponto de imaginar que ele não ficaria sabendo sobre a reserva da passagem para Nova York? Sem con­seguir encontrar um argumento racional e convincente, ela o se­guira para o carro em silêncio, enquanto Cal mantinha os olhos fixos na estrada a caminho da casa de Frank.

Ela relanceou o olhar para o perfil bem feito e sentiu uma onda de emoção a invadir. Um misto de nostalgia, frustração e culpa fizeram com que seus olhos se enchessem de lágrimas. Como fazê-lo entender que não comentara sobre sua partida para ouvi-lo pedir que ficasse? Como revelar que seria capaz de abandonar tudo se ele dissesse que a amava?

— Você nunca me disse qual é seu grau de parentesco com Frank — comentou sem conseguir suportar o pesado silêncio.

— Ele é irmão de minha mãe.

— Oh.


O silêncio que se seguiu indicava que aquele assunto estava encerrado. Começando a entrar em pânico, Emma pensou desesperadamente em algo para dizer.

— A casa dele é muito longe?

— Não, estamos quase chegando.

Mais uma vez, o silêncio tenso caiu sobre eles.

— O rancho de Frank é parecido com o seu? — insistiu ela, determinada a romper a tensão entre eles.

— Todos os ranchos de Amity são parecidos.

Cal olhou-a de soslaio e, percebendo o esforço dela, prosseguiu,

— Você vai gostar de lá. É o rancho onde ele e mamãe nasceram e, mesmo que não seja mais para uma terra produtiva, ainda conserva a his­tória da família.

— Oh.

Por que não conseguia pensar em algo mais inteligente para dizer? Desesperou-se ela.



— A esposa de Frank morreu há muito tempo? Você mencionou uma prima certa vez. Betsy, se não me engano.

— Tia Meg morreu de câncer de mama quando eu tinha quinze anos. Frank não se casou novamente — A sombra de um sorriso curvou os lábios sensuais — Ele age como um grande urso soli­tário e é incapaz de encontrar as palavras certas para dizer quando necessário, mas ele a amava mais do que tudo.

As últimas palavras pareceram ressoar no silêncio. Emma re­cusou-se a ler as entrelinhas do que ele dissera. Era tarde demais para isso. Permaneceu calada, observando os campos mergulhados na escuridão e as luzes que indicavam a proximidade do vilarejo.

— Aqui estamos — Cal anunciou, enveredando o carro por um caminho de pedregulhos.

Ele desceu e abriu a porta de passageiros, tomando-a pelo braço para subirem a escada que levava à varanda. A porta da frente estava aberta e Frank foi ao encontro deles.

— Vocês estão atrasados!

— A culpa é minha — Emma falou rapidamente — Eu estava arrumando minha bagagem e me atrasei.

— Bem, isso não importa. Você está linda, não é mesmo, Cal?

— Sim, como sempre — ele comentou enquanto passava por eles e seguia para a cozinha.

— Não posso dizer que estou feliz por você ir embora, Emma, mas é uma ótima desculpa para uma festa — Frank tomou-a pelo braço e a conduziu para o interior da casa — Você já conhece todos os convidados e temos comida e bebida à vontade. Entre sirva-se de um drinque.

Ela olhou ao redor e sorriu. Não conhecia pessoas mais amáveis e festivas, e decidiu se divertir. Afinal, aquela seria sua última noite em Amity.

— Olá, Emma! — Caroline se aproximou e beijou-a no rosto — Oh, não posso acreditar que você vai embora! Vamos agir como duas adolescentes e escapar de todo mundo para conversarmos?

— Ótima idéia! — Emma sorriu e seguiu-a para a varanda.

— É uma pena não fumarmos, não é? — comentou com uma risada — Adolescentes sempre fazem isso quando se escon­dem para trocar confidencias. Sente-se, querida, e me conte por que você está tão abatida. O que aconteceu?

— Cal e eu discutimos — ela disse sem rodeios — Eu fiz um drama porque ele pediu que eu ficasse.

— Oh, ele pediu isso? — Caroline arregalou os olhos, surpresa — Meu Deus, isso é ótimo!

— Não, não é ótimo! — Emma suspirou — Se você visse a forma como ele falou, concordaria comigo! Ele fez parecer que estava oferecendo abrigo para uma pobre órfã desamparada!

— Entendo. Ele não pediu para que você ficasse porque a ama — Caroline resumiu com simplicidade.

— Exatamente!

Emma fitou-a e se sentiu inundar de ternura. Como alguém que a conhecia há apenas uma semana poderia entendê-la tão bem?

— Emma? Bertie chamou, interrompendo-as — Caroline, que idéia! Não é justo levar a convidada de honra para longe da festa! Entrem meninas.

Elas se trocaram um olhar de cumplicidade e começaram a rir, seguindo para o interior da sala.

Emma se sentou no braço do sofá e se pôs a conversar com Caroline e Betsy, sem perceber que Cal a observava de longe en­quanto fingia ouvir John Hansen.

Ele a seguia com os olhos, tentando ignorar a dor profunda que oprimia seu peito. Ela parecia estar se divertindo, como se o fato de partir no dia seguinte não tivesse conseqüência alguma. Mas não podia culpá-la, ele pensou com amargura. Em vez de se des­culpar e de tentar fazê-la entender o que guardava em seu coração, Cal ficara fora de casa o dia todo, evitando-a deliberadamente.

Enquanto a observava com a maior discrição possível, lutava con­tra o desejo de mergulhar o rosto nos cabelos perfumados e beijá-la até que ficasse sem fôlego.

— Você e Emma se desentenderam? — Greg murmurou, pa­rando ao lado dele.

— Bem, pode-se dizer que sim.

— Pois então, trate de consertar isso.

— E por que acha que sou eu quem deve consertar a situação? — indagou indignado — Quem disse que eu fui o culpado?

— Cal, sou eu, lembra-se? — Greg deu algumas palmadas ami­gáveis no ombro do amigo — Eu o conheço desde que éramos crianças, e sei que se alguém tem culpa nessa história, esse alguém é você.

— Você pode ter razão — admitiu por fim — mas isso não significa que tenho de me ajoelhar aos pés dela e implorar por perdão.

— Bem, você é quem sabe. Acho apenas que não deve deixar que ela vá embora sem fazerem as pazes — Greg sugeriu, afas­tando-se em silêncio.

Como se fosse fácil! Cal pensou.

Na verdade, sentia-se como um adolescente diante de Emma. Em matéria de amor, considera­va-se o mais completo ignorante, assim como seu tio. Nunca sa­biam o que uma mulher queria ouvir.

Emma voltou o rosto e seus olhares se cruzaram por um instante. Constrangida, ela abaixou os olhos e murmurou alguma coisa para Caroline. No momento seguinte, Cal sentiu vontade de beijar Ber­tié, quando ela bateu palmas para chamar a atenção de todos.

— Discurso! Discurso!

Os convidados se juntaram a ela, em coro, fazendo um burburinho ensurdecedor.

Emma congelou, e lançou um olhar de súplica para Cal.

— Pessoal, que tal se esperássemos para depois do jantar? — ele disse, indo prontamente em seu auxílio.

Porém, daquela vez, sua tentativa de ajudá-la não funcionou.

— Queremos um discurso de despedida, Emma! — alguém gritou no fundo da sala, e todos concordaram com aplausos entu­siasmados.

— Está bem — ela disse por fim, enchendo-se de coragem — Gostaria de agradecê-los. Todos foram muito gentis, realmente, e sinto muito por não ter conseguido encontrar a locação para o filme.

— E quem se importa? — alguém gritou, seguido de aplausos.

— Você fez muito por nós, como socorrer Francine — Bertie lembrou.

— Você fez mais do que vir até aqui para procurar a locação para o filme. Todos nós gostamos de você e estamos tristes porque vai embora — Frank completou.

Emocionada, Emma conteve as lágrimas, sem conseguir dizer mais nada.

Cal tocou-a de leve no ombro, em um gesto solidário.

— Não foi tão difícil assim, não é? — ele murmurou ao ouvido.

Emma meneou a cabeça em afirmativa e tentou sorrir, enquanto os convidados se aproximavam para se despedirem dela.

Cal permaneceu ao seu lado, sorrindo ao vê-la conversar com cada um que ia abraçá-la. Naquele momento, ele soube que não havia nada que pudesse fazer para convencê-la a ficar.

— Não tenho como agradecê-lo, Frank — ouviu-a dizer, abra­çando carinhosamente seu tio — Você foi maravilhoso, e a festa estava inesquecível.

— Ora, isso não foi nada! — Ele beijou-a testa e cochichou em seu ouvido, — Você vai voltar, não é?

— Claro que vou, Frank — mentiu ela, sabendo que não teria forças para rever Cal — Voltarei assim que for possível.

— Emma, temos de ir — Cal chamou, colocando o braço pos­sessivo sobre o ombro dela — Precisamos acordar bem cedo ama­nhã se você não quiser perder seu vôo.

— Até que não seria má idéia se você deixasse o despertador desligado, Cal — Caroline brincou, acenando da varanda.

Emma acenou em resposta, tentando ignorar o calor que invadiu seu corpo diante da proximidade de Cal. Enquanto caminhavam para o carro, ela conteve o impulso de se jogar nos braços dele e de beijá-lo bem ali, diante de toda a população de Amity.

— Vamos sair por volta das seis e meia da manhã — ele disse no caminho de volta para casa.

— Você não precisa me levar ao aeroporto.

— Você não quer que eu vá?

— Eu não disse isso — ela respondeu rapidamente — Mas amanhã é domingo, e é muito cedo. Não quero atrapalhar seus planos.

— Eu quero levá-la, se você não se importar — anunciou ele, estacionando o carro diante da varanda de sua casa.

Ela o seguiu para a varanda e, ao fazer menção de entrar, foi surpreendida quando ele a puxou para perto de si.

— Fique comigo esta noite—ele murmurou em tom de súplica.

Emma não disse nada. Não conseguiria, mesmo que quisesse.

Deixou-se envolver pelo abraço terno enquanto lágrimas quentes rolavam pelo seu rosto. Ele tomou-a nos braços e a levou para o quarto, e despediram-se em silêncio na escuridão do quarto.
Cal abriu os olhos, assustado com as batidas na porta da frente. Ajeitou-se no sofá disposto a ignorá-las. Quem quer que fosse desistiria se ele não atendesse. A menos que fosse alguém tão persistente como Caroline!

— Cal, levante-se já! — exigiu ela, entrando na sala como um furacão.

— Ei, o que você quer? — ele disse em meio a um bocejo.

— Quero dizer que você é um grande estúpido! — Caroline deteve-se diante dele colocou as mãos na cintura.

— Isso não é nenhuma novidade.

— Ele sorriu e se levantou, seguindo para a cozinha.

— Cal, volte já aqui!

— Para sofrer mais violência? Não, obrigado!

— Oh, Cal! — Ela seguiu-o e apanhou a garrafa de cerveja que ele oferecia — Você é homem mais estúpido que conheço!

— Sei disso, mas o que fiz desta vez? — Ele sorveu um grande gole da bebida gelada — Importaria de ser mais clara?

— Está bem, eu vou tentar — Caroline tomou um gole de cerveja e o fitou — Por que você está mais carrancudo hoje do que nos outros dias? Por que está trancado em casa há três dias, como se tivesse perdido a coisa mais importante de sua vida?

— Não sei. Por quê?

Ele a fitou com desdém e sentou-se abruptamente.

— Porque você perdeu a coisa mais importante de sua vida, seu tolo! — Ela sentou-se ao lado dele e tomou-lhe as mãos — Eu o conheço desde que nasci, e o amo como a um irmão, mas tenho vontade de socá-lo! Por que você está sendo tão teimoso, Cal?

— Bem, este sou eu — Ele ergueu os ombros, desolado.

— Cal, você não é assim. Aliás, seu comportamento mudou muito. Você vive resmungando pelos cantos e está sendo ríspido com seus pacientes. Você não era assim duas semanas atrás. E o que aconteceu há duas semanas?

— Eu não conhecia Emma Darby — Cal falou com um suspiro.

— Exatamente!

Caroline o fitou com um sorriso vitorioso.

— E o que você quer que eu faça? — Ele se ergueu e caminhou para a janela, perdendo o olhar na paisagem — Ela partiu. Aliás, ela planejou partir sem sequer me comunicar. Ela...

Mas Cal não conseguiu terminar a sentença. Não sabia como dizer a Caroline que haviam passado a noite juntos antes que ela partisse e não soubera o que dizer, porque seu coração se partia a cada lágrima que rolava pelo rosto delicado. Não sabia por que ela estava chorando, e não tinha a menor idéia do que fazer. E não queria confessar a Caroline que encontrara uma camiseta de Emma sobre a máquina de lavar e dormia abraçado a ela todas as noites desde que ela se fora.

— Cal, o que você quer fazer? — Caroline interrompeu seus pensamentos.

— Quer saber a verdade, Caroline? — ele suspirou fundo e sorveu outro gole de cerveja — Quero abraçá-la, beijá-la, dizer que a amo e que não posso viver sem ela.

— E por que não faz isso?

— Por que... — Porém, ele percebeu surpreso que não sabia a resposta — Bem, eu vivo aqui, e ela mora a centenas de quilô­metros de distância.

— Oh, Cal! E se você não tivesse motivo para voltar aqui? E se você chegasse em casa e a encontrasse em chamas? E se um disco voador pousasse em Amity e nos levasse para Marte?

— Caroline.

—Estou tentando dizer que não podemos controlar o futuro, Cal, e devemos agir enquanto há tempo.

— Você é genial, Em — Rusty exclamou quando ela desligou o telefone na terça-feira à tarde.

— Não sei como não havia pensado nisso antes! — exclamou ela, exultante — Mas hoje de manhã, depois de revelar as foto­grafias, tudo ficou claro!

— O lugar é perfeito! — Rusty meneou a cabeça, analisando as fotografias — O celeiro, as imediações do rancho, a cerca.

— Oh, e Maureen e Ben são maravilhosos! Sei que isso não vem ao caso, mas fico muito feliz que tenha dado certo para todos nós.

Quando ela vira as fotografias do rancho dos O’Connor, senta­ra-se abruptamente e prendera a respiração, incapaz de acreditar que não ocorrera antes a idéia de que aquela era a locação ideal para o filme.

Maureen ficara feliz ao ouvir a voz dela ao telefone, e não contivera um grito de alegria diante da generosa oferta da Searchlight para comprar o rancho. Ela e Ben haviam concordado no mesmo instante e, naquele momento, deviam estar comprando as passagens para visitar a filha em Montreal.

— Você merece uma promoção — Rusty disse com um sorriso.

Emma prendeu a respiração. Finalmente conseguiria o posto de assistente de direção!

— Considerando sua experiência na última semana e a impres­são favorável que você parece ter deixado em todos naquela cida­de, ofereço-lhe a posição de assistente de locação!

— Assistente de locação?

—Claro, será apenas até acabarmos as filmagens. Depois disso, você estará pronta para ocupar o posto de assistente de diretor.

— Oh, Rusty, eu...

Eu não posso voltar àquela cidade e me deparar com o homem dos meus sonhos sem poder tocá-lo, ela quase completou.

— Estou lisonjeada e não sei o que dizer a não ser obrigada.

— Vá para casa, Emma. Você merece um bom descanso depois da semana dura de trabalho.

— Está bem. E obrigada mais uma vez.

Emma saiu da sala do diretor dizendo para si que a primeira coisa que faria no dia seguinte seria distribuir seu currículo e pro­curar um novo emprego.

Claro que o posto de assistente de locação era maravilhoso e, em outras circunstâncias, estaria vibrando com a promoção. Po­rém, aquela função exigiria sua presença no set em tempo integral, e seria impossível manter a sanidade mental sabendo que estava na mesma cidade que Cal.

Depois da maravilhosa noite que passaram juntos antes de sua partida, esperava que ele pedisse para ficar. Mas o si­lêncio de Cal durante o trajeto para o aeroporto de Billings a fizera pensar que não significava nada além de uma aventura para ele.

Emma seguiu à pé para casa, refletindo sobre a súbita mudança que sua vida sofrerá em apenas uma semana. Virou a esquina no quarteirão de sua casa e apressou o passo, ansiosa por estar na quietude aconchegante de sua sala. Ao se aproximar do edifício onde morava, ela teve certeza de que perder a razão defi­nitivamente.

Havia um homem sentado nos degraus da entrada e podia jurar que ele e Cal eram idênticos. Emma estreitou os olhos, e ele se levantou ao vê-la se aproximar. Quando os olhares se encontraram, seu coração perdeu um compasso. Não havia dúvida.

Aquele era Cal!

Num impulso incontido, ela ignorou tudo que pensara minutos atrás e se precipitou para os braços dele.

— Por favor, diga que não estou sonhando — ela murmurou depois de um beijo apaixonado.

— Não posso... — sussurrou ele ao seu ouvido — Eu também não tenho certeza!

— Oh, Cal! Como você descobriu meu endereço?

— Pedi a Caroline — ele disse enquanto a cobria de beijos.

— Vamos entrar antes que sejamos presos por atentado ao pu­dor.

Emma riu e puxou-o pela mão.

Ela tremia tanto que teve dificuldade em abrir a porta do apar­tamento.

— Sei que precisamos conversar — Cal disse com voz rouca, puxando-a para si — mas antes de qualquer coisa, quero fazer amor com você até saciar meu desejo.

Emma entregou-se ao beijo apaixonado, mergulhando em um sonho do qual não queria mais acordar.

Uma hora mais tarde, com o apartamento mergulhado na pe­numbra, Emma se aconchegou ao peito largo e fechou os olhos.

— Há tantas coisas que eu gostaria de mostrar — mur­murou ela, correndo os dedos pelo torso largo.

— Como o quê, por exemplo?

— Bem, o Empire States, o Museu Metropolitano de Arte, o Soho. Mas não sei se teremos tempo — ela suspirou receosa da pergunta que a atormentava.

Ela o fitou, e o pânico fez com que seu estômago se contraísse. Não queria ouvi-lo dizer que ia embora, mas não havia como fugir da realidade.

— Quanto tempo você pretende ficar? — indagou por fim, fe­chando os olhos para o impacto da resposta.

— Se você concordar, pensei em ficar. Por toda a eternidade!

Emma arregalou os olhos e prendeu a respiração.

— O que você quer dizer? Se estiver me provocando, juro que vou bater em você!

— Quero dizer que pretendo ficar. Isto é, se você permitir, é claro.

— Mas e Amity?

— Bem, decidi que está na hora de deixar o passado para trás e me dedicar ao futuro. Pensei em arrendar as terras do rancho e deixar a casa para quando formos para lá, nas férias.

— Cal, você não pode fazer isso! E seus pacientes?

— Há um bom hospital em Power, com um excelente centro cirúrgico e Médicos competentes.

— Mas e quanto a você? Quero dizer, se você vier para cá.

— Não se preocupe, não ficarei sem emprego. Sou Médico, Emma, e sempre serei Médico onde quer que eu vá. Há muitos hospitais em Nova York, e tenho uma vasta experiência em clínica geral.

Emma se ergueu e rodopiou pelo quarto, da mesma forma que fizera quando estava perdida na estrada e encontrara Cal pela pri­meira vez.

— Oh, estou tão feliz! — disse com a respiração ofegante, sen­tando-se na cama — E para completar, você nem imagina o que aconteceu hoje!

Então, ela passou a relatar todos os acontecimentos desde que voltara, enquanto Cal ouvia atentamente. Ao explicar como tivera a idéia de usar o rancho dos O’Connor como locação para filme e a alegria de Maureen e Ben diante da generosa oferta da Searchlight, Cal abriu um largo sorriso que se transformou em uma risada que preencheu o ar.

— Você é uma mulher incrível, Emma Darby! Quando quer alguma coisa, nada e nem ninguém conseguem impedi-la!

— É verdade, eu não costumo desistir facilmente. E o mais engraçado é que, duas horas atrás, voltar para Amity parecia um pesadelo — Ela acariciou os cabelos fartos e beijou-o no rosto — E agora, o pesadelo se transformou no mais lindo sonho! Nem posso acreditar que você está aqui, Cal.

Ele suspirou profundamente e mergulhou o rosto nos cabelos perfumados.

— Agora sei que meu lar é com você, aonde quer que você esteja. Desculpe se não consegui dizer isso no momento certo, meu amor.

— Oh, Cal!

Emma não conseguiu dizer mais nada, dando vazão ao pranto emocionado que oprimia seu peito. Porém, daquela vez, as lágri­mas eram da mais pura felicidade.

Permaneceram abraçados por alguns minutos, até que a pulsa­ção vibrante do desejo os incendiasse. E então, o silêncio do quarto foi rompido por murmúrios de prazer que nem mesmo a eternidade poderia abafar.


Fim


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