Meus pais. I know he is a son of a bitch



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Finnegan agora sonhava com escorpiões porque não gos­tava de sonhar com Consuelo nem com mulheres. Mas os es­corpiões tinham desaparecido e a enfermaria só era visitada pelas formigas vermelhas, que davam ferroadas dolorosas e pareciam indestrutíveis. Ele estava deitado em sua cama, nu da cintura para cima, olhos fechados, ouvindo o movimento dos enfermeiros que terminavam suas tarefas antes de dormirem. Embora não fosse mais aquele médico ávido, mantinha a en­fermaria perfeitamente limpa, os lençóis sempre bem lavados e os relatórios bem organizados e redigidos, ainda que inteira­mente mentirosos. A ausência dos alemães não trouxera a paz. Os barbadianos, em menor número, estavam agora mais agres­sivos e não suportavam a presença dos hindus. Praticamente todos os dias algum trabalhador hindu chegava ferido ou morto na enfermaria. Finnegan não sabia a razão daquele ódio mas andava ocupado demais em não fazer nada para se preocupar em descobrir o motivo. Collier também não saberia explicar, ele tinha certeza. O engenheiro gostava dos barbadianos e não apreciava os trabalhadores hindus. Era uma repulsa antiga, dos tempos em que vivera na índia e acostumara-se a ver nos hin­dus uma massa de miseráveis que esperavam sentados em camas de pregos que a fome viesse matá-los, enquanto meia dúzia de marajás se locupletava de toda a riqueza, vivendo em palácios magníficos cheios de merda de elefante, concubinas fedorentas de fumaça e pedras preciosas embrulhadas em papel velho. Por isso o engenheiro não tinha nenhuma atitude mais drástica que coibisse as constantes brigas entre barbadianos e hindus, de onde invariavelmente um hindu saía-se mal.

Naquela noite, Finnegan abriu os.olhos cheios de sono ao ouvir três disparos. Levantou-se rápido da cama, apanhou a sua arma, pois também aprendera a andar armado, e saiu da enfermaria sem mesmo vestir a camisa. Havia uma correria para o lado da tenda de Collier. Finnegan estremeceu com a idéia de que alguma coisa ruim tivesse acontecido ao maldito enge­nheiro. Correu para a tenda e abriu passagem por entre os guardas de segurança. Collier ainda segurava o revólver e no chão estava o corpo de um homem, despido, sujo, derramando sangue de três buracos perfeitamente redondos no tórax.

Collier sentiu-se aliviado ao ver o médico.

— Estava rondando a tenda — disse o engenheiro bas­tante excitado.

Finnegan empurrou Collier para que ele sentasse na cama. Ele não gostou.

— Não venha com merdas para cima de mim. Estou bem. Finnegan sentou-se ao lado do engenheiro.

— Eu estava examinando as plantas e ouvi um ruído. Senti que rondavam a tenda e levantei da cadeira com cuidado, tirando o revólver que estava aqui em cima da cama.

— Quem é ele? — perguntou Finnegan.

— Não sei, não conheço.

O chefe da segurança, com o seu grande bigode, informou:

— Não trabalha para a Companhia, senhor.

Finnegan ajoelhou-se sobre o corpo, as balas tinham penetrado pelo tórax e certamente varado os pulmões e o coração, tivera morte quase instantânea.

— Eu vi que faziam pressão contra a parede da tenda, sabia que era um homem — continuava o engenheiro. — Se­rrando o revólver, resolvi sair da tenda. Foi quando ele apa­receu na porta e eu atirei. Parecia um desses hindus e pensei que estivesse louco.

— Realmente, à primeira vista parece um hindu — con­firmou o médico.

— É um índio caripuna — disse Collier, secamente.

— Estava desarmado — comentou Finnegan.

Collier não viu qualquer sinal de recriminação nas palavras de Finnegan, mas o fato do índio estar desarmado o cons­trangeu.

— É, estava desarmado, mas levou chumbo. O mundo não suportaria outro índio pianista.


Sob protestos da Igreja Positivista Brasileira e com a re­cusa de Rondon a comparecer ao evento, Joe Caripuna deu o seu primeiro e único concerto no Rio de Janeiro.

Farquhar planejara três concertos na Capital Federal. Um no Catete e dois outros na sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro. O concerto no Catete, frente à hostilidade de Rondon, não pôde ser realizado, e um só concerto foi progra­mado na Associação Comercial, com uma platéia expressiva, incluindo vários ministros, jornalistas, renomados intelectuais e o marechal presidente.

A reação dos positivistas foi violenta e deixou Farquhar irritado. Como um bom americano, ele gostava de novidades, lembrava da impressão que lhe causara, ainda menino, a apre­sentação dos Irmãos Siameses, Chang e Eng, no Platt's New Music Hall, na Califórnia. Mas os brasileiros não pareciam in­clinados a esses tipos de fenômenos. Em manifesto divulgado pela imprensa, os positivistas acusavam Farquhar de ridiculari­zar um "verdadeiro brasileiro, transformando o jovem índio caripuna em animal de feira". O que mais irritava Farquhar é que pela primeira vez estava ameaçado de ter prejuízo num negócio, pois a viagem do índio e de sua instrutora, mais des­pesas de acomodação na Capital Federal, estava levando muito dinheiro.

O concerto na Associação Comercial passou quase desper­cebido e a grande atração do show biz carioca continuava sendo a passagem de Victória Perez, da Companhia de Vaudevilles de Lisboa, cantando maxixes e recitando poemas lascivos de forte tendência simbolista. No folheto que mandou imprimir, Farquhar reproduzia quase que literalmente as palavras de Lovelace quando da primeira apresentação de Joe em Porto Velho, mas nem isto comoveu os brasileiros. Hermes, após o concerto, mostrou-se cansado e observou que o índio havia engolido vá­rios compassos da protofonia de O guarani. Um cronista que se escondia sob o pseudônimo de Malagueta fez um versinho num jornal chamando o índio de "pianista canhestro que só os ianques não viam que metia os pés pelas mãos".

Mas Farquhar logo se recuperaria do frustrante aconteci­mento. Alguns dias após o malogrado concerto, foi procurado por um simpático compatriota, o Sr. Lawrence Halle, exporta­dor de Nova York, que desejava lhe propor um negócio.

Lawrence era amigo pessoal do gerente do Museu Ameri­cano de Barnum, a renomada organização fundada por P. T. Barnum e especializada em espetáculos com criaturas exóticas. Como costumava fazer regulares viagens por muitos países, o gerente sempre lhe recomendava que contrataria qualquer atra­ção que Lawrence encontrasse e trouxesse para ele. O índio pianista podia ser uma atração.

Farquhar conversou muito tempo com Lawrence e juntos recordaram todas as maravilhas já apresentadas no Museu Ame­ricano de Barnum. Finalmente, Joe Caripuna e sua instrutora, Consuelo, foram entregues ao comerciante, sob contrato, onde Farquhar ganharia trinta por cento de todos os rendimentos da atração, além do ressarcimento das despesas com a vinda dos dois de Porto Velho para o Rio.

Consuelo e Joe embarcaram para os Estados Unidos e che­garam em Nova York em dezembro de 1911. Fazia muito frio e havia neve nas agitadas ruas da metrópole. Joe adoeceu e teve de ficar internado durante dois meses num hospital. Mas quando recebeu alta, voltou a treinar intensamente, fazendo sua estréia na primavera de 1912, apresentando atrativo programa. Além de dedilhar agilmente o Hino nacional americano, o índio tocava, para deleite da platéia, a Valsa do minuto, de Chopin, em trinta segundos. Consuelo entrava em cena e executava a valsa de acordo com o andamento de Chopin, depois, Joe, se­guido por um imenso cronômetro que descia em cena, dedilhava o piano acompanhado por uma platéia ruidosa e interessada.

Joe Caripuna morreu de sífilis em 1927.
No dia 7 de setembro de 1912, à revelia do governo bra­sileiro, foi inaugurada a estrada de ferro Madeira—Mamoré.

Em 1912, a borracha da Amazônia tinha perdido o mo­nopólio internacional para as plantações inglesas na Ásia.

Em 1912, a estrada de ferro Madeira—Mamoré, aparen­temente, começava a deixar de ter sentido.

Em 1916, o governo brasileiro pagou ao grupo Farquhar a importância de 62.194:374$366, embora os empreiteiros exi­gissem um total de 100.223:281$372.

No contrato original o governo brasileiro tinha se com­prometido a pagar, conforme as medições, 47.682:058$402.

No processo judicial movido pelo Sindicato Farquhar con­tra o governo brasileiro, deram pareceres favoráveis ao Sindi­cato Farquhar os seguintes juristas brasileiros: Ruy Barbosa, Clóvis Bevilácqua, Sanchos de Barros Pimentel e Inglês de Sousa.

Em 1966, por decisão do ministro dos Transportes, Juarez Távora, a Madeira—Mamoré foi desativada e vendida como sucata a um empresário paulista. Desconhece-se a soma pela qual foi vendida.

No dia 11 de julho de 1927, um poeta vestindo terno escuro, chapéu, gravata, camisa de punhos e calças brancas, sentou sobre um trilho da Madeira—Mamoré e sorriu. Na foto, o poeta sorri. É uma fotografia cinzenta e pouco contrastada. O céu é uma pasta cinzenta e a mata um borrão horizontal. O poeta sorri porque tem uma razão muito forte para fazer isto. É um homem feliz. Na verdade, apenas parte de seu rosto é visível naquela fotografia antiga. Justamente a ponta do nariz e a boca abrindo num sorriso. Ele tem um chapéu de abas moles protegendo a cabeça do sol do meio-dia e sorri. A foto­grafia foi tirada em Porto Velho, exatamente às doze horas e trinta. Por isto, as sombras se confundem com os objetos e o poeta está sentado de banda sobre o trilho. Ao meio-dia o trilho de metal devia estar bastante quente, pegando fogo mesmo. Mas o poeta sorri porque duas borboletas amarelas entraram no campo da fotografia e volteiam em torno dele. Mas a veloci­dade do filme era baixa e transformou as borboletas em simples borrões claros, um no ombro do poeta, outro cobrindo a mão direita que ele colocou firme sobre o trilho, sustentando o corpo alguns centímetros acima do calor do metal.

Em 1927 a estrada de ferro Madeira—Mamoré estava em perfeito funcionamento. Mas não era bem um lugar que atraísse visitantes, muito menos poetas. Na fotografia há mais duas man­chas claras no canto direito da imagem. Bem podiam ser bor­boletas amarelas. Mas somente o poeta poderia esclarecer esta dúvida. Infelizmente ele já está morto. O poeta chamava-se Mário de Andrade.

Há centenas de fotos da estrada de ferro Madeira—Ma­moré. Muitas fotografias tiradas por bons profissionais, bem melhores que a foto onde sorri Mário de Andrade.

No outro dia, Mário de Andrade andou pela estrada de ferro, até Guajará-Mirim. Conheceu coisas interessantes. Um índio pacaá novo que sonhava em ser telegrafista para casar com uma mulher branca e virar civilizado. Em Guajará-Mirim entrou numa latrina onde anotou um curioso texto ensinando aos se­ringueiros o uso civilizado daquele recinto. Ali se levava muito a sério a palavra civilizado. A latrina pertencia à firma guaporé rubber Corporation. Ele viu mulheres barbadianas com seus chapéus coloridos e cheios de flores desfilarem pelas ruas do vilarejo. Durante a noite, não quis ir ao baile com Dona Olívia Penteado e as moças. Saiu ao luar.

Hoje é difícil saber o que o poeta sentiu ao luar de Gua­jará-Mirim. Talvez o poeta estivesse cheio de contradições, sus­peitando das prudentes situações romanescas que o luar parecia convidar. Quem sabe não sentia mesmo alguma coisa impiedosa na atmosfera, pois somente um homem de grande sensibilidade como ele poderia estar em Guajará-Mirim, naquela noite do ano de 1927, cheio de suspeitas e contradições. E o poeta per­guntaria mais tarde em seu diário:

— O que eu vim fazer aqui!... Qual a razão de todos esses mortos internacionais que renascem na bulha da locomo­tiva e vêm com seus olhinhos de chins, de portugueses, boli­vianos, barbadianos, italianos, árabes, gregos, vindos a troco de libra. Tudo quanto era nariz e pele diferente andou por aqui deitando com uma febrinha na boca-da-noite pra amanhecer no nunca mais.

Amanhecer no nunca mais é um diabo de expressão, poeta!

Quanta sandice. Coisas da vida.

Ah, que belo país é o nosso Brasil, onde um escritor de língua neolatina pode fazer um romance inteirinho cheio de personagens com nomes anglo-saxões.

E havia também uma locomotiva chamada Mad Mary, Marie Folie, Maria Loca, Maria Louca, Mad Maria.
Um trabalhador hindu martela o trilho no dormente num movimento vigoroso e mecânico. É um homem de aspecto repulsivo porque o nariz está deformado e os dedos corroídos pela lepra. Mais adiante, barbadianos estão assentando novos trilhos que são carregados por turmas de dez homens. Quando os barbadianos se aproximam do hindu, este pára de trabalhar e afasta-se para dar passagem aos negros. Quase sempre é assim, os trabalhadores hindus procuram se manter afastados dos bar­badianos, muitas vezes param o serviço para evitar o confronto até que os negros tenham se afastado.

O grupo de dez barbadianos atravessa lentamente, provo­cando um aglomerado de hindus que observam temerosos. Os barbadianos sempre provocam, soltam insultos que são enten­didos pelos hindus porque todos falam inglês.

Sob o vagão carregado de carvão de pedra, Harold observa o movimento dos barbadianos e não consegue ver nenhum guar­da nas proximidades. Ele sabe que dali só poderá sair alguma besteira. A locomotiva, estacionada logo depois da ponte sobre o Abunã, lança grossos rolos de fumaça escura.

Sobre a estrada que se estende para além da ponte, a ati­vidade é febril e os hindus finalizam a fixação dos trilhos nos dormentes com marteladas secas e ritmadas. Mais adiante os barbadianos vão assentando os trilhos. Finnegan vem caminhan­do com a sua equipe de enfermeiros, a camisa está suada e ele a mantém aberta mostrando o peito queimado de sol. Ele ca­minha lentamente, como se estivesse passeando, observando sem interesse o que se passa à sua volta. Consulta o relógio para ver se já podia ministrar a dose de quinino. Não está acompa­nhado por guardas e os enfermeiros agora estão armados de winchesters, além das garrafinhas de comprimidos acondiciona-das nas embalagens de arame. As horas não passam e Finnegan também não tem pressa. Pouco se importa que os barbadianos continuem provocando os hindus, fazendo com que estes inter­rompam o trabalho a todo o instante. Mas a paciência dos hin­dus também tinha um limite e o número de mortos diários comprovava isto. Um trabalhador hindu, talvez mais afoito que os outros, em certo momento, não pára o seu serviço nem se afasta quando os barbadianos se aproximam. Os barbadianos passam por ele, carregando um trilho, e praticamente o atrope­lam. O homem é pisoteado e recebe um golpe de braço. O médico não se apercebeu e continua a consultar o relógio. Ven­do o companheiro ferido, os hindus aguardam que os barbadia­nos deitem o trilho sobre os dormentes e aproximam-se. Tro­cam algumas palavras que são recebidas com gargalhadas pelos barbadianos. Um negro magro, sujo de barro, avança e esbofe-teia um hindu. Logo a coisa se transforma numa luta corpo-a-corpo. Finnegan, vendo a confusão, desperta e começa a gritar para os enfermeiros. Aproximam-se correndo do local do con­flito mas a chegada deles nem ao menos é percebida pelos homens que estão brigando feio, rolando no chão e levantando poeira. O médico procura desapartar a briga mas leva alguns empurrões e até um soco dado a esmo por um barbadiano. Finnegan vai ao chão, o rosto dolorido e uma raiva assassina crescendo. Levanta-se e saca o revólver.

— Parem de brigar! — grita.

A luta continua cada vez mais feroz.

— Parem, seus filhos da puta! Parem ou vão pagar caro! Finnegan sabe que eles não ouvirão seus gritos. Aperta seu revólver e olha para os enfermeiros que seguram suas win­chesters.

— E vocês? — grita para os enfermeiros. — Que estão fazendo aí, parados?

Os enfermeiros observam, atônitos.

— Acabem logo com isso — grita Finnegan.

Ele começa a disparar o seu revólver para o alto enquanto desfere chutes contra os homens que rolam no chão. Mas nin­guém se incomoda com os tiros ou os chutes e estão insensíveis pelo ódio, o mesmo ódio que acaba de assaltar Finnegan de maneira irracional.

— Abram fogo! — ordena Finnegan aos enfermeiros. Os rapazes apontam as winchesters sem grande convicção.

— Atirem contra esses filhos da puta!

— É para atirar neles, senhor? — pergunta um enfermei­ro sem querer acreditar no que está ouvindo.

— Exatamente, idiota. Fogo! Mandem chumbo nesses fi­lhos da puta — gritou o médico, o queixo latejando de dor.

Os rapazes apontam as armas e abrem fogo à queima-roupa. Barbadianos e hindus, atingidos, começam a cair mortos. O tiroteio não dura muito tempo e logo os homens param de brigar e levantam-se do chão, feridos, arranhados, rasgados, os braços colocados contra a nuca.

Finnegan, segurando o seu revólver, anda em torno do grupo de homens amedrontados, gritando.

— Podia acabar com vocês todos, filhos da puta. Collier aparece e segura Finnegan pela mão que porta o ameaçador revólver. Ele tenta se desvencilhar mas o engenheiro dá um safanão derrubando a arma.

— Chega, Finnegan. Assim você vai acabar com a minha mão-de-obra, rapaz.

Três homens se contorcem no chão, malferidos, e seis mor­reram ao receber a descarga de winchesters. O sangue escorre pela poeira, empapando a terra e sumindo para baixo dos dormentes. Finnegan passa a mão no queixo dolorido e olha para o engenheiro. Collier sacode a cabeça e Finnegan vê naquele gesto uma ponta de ironia. Pouco se importa, a ironia, o debo­che e a irreverência de Collier já não mais lhe tocavam, o que era uma pena.



Junta sua arma que caiu no chão, limpa a poeira e reco­loca-a no coldre. O suor escorre pelo pescoço e Finnegan sente-se cansado. O máximo que ele podia sentir agora era cansaço, muito cansaço, pois só os bobos podiam se importar com alguma coisa além da arte de ficar vivo.

Manaus — 1977/1980
O AUTOR E SUA OBRA


Abrindo perspectivas para uma melhor compreensão do mundo amazônico, surge uma das maiores revelações da nova literatura brasileira: Márcio Souza. Cineasta, teatrólogo e ro­mancista, ele luta por um autêntico e sólido movimento de pre­servação da cultura regional e denuncia uma Amazônia depre­dada e saqueada.

Márcio Gonçalves Rentes de Souza nasceu em Manaus, a 4 de março de 1946. Passou a infância e estudou até o fim do curso científico em uma Manaus pobre, estagnada e sem luz elé­trica. Aos catorze anos já trabalhava como crítico de cinema no jornal "O Trabalhista", colaborando mais tarde em todos os outros jornais de Manaus. Em 1967, reuniu algumas de suas críticas sobre cinema no livro "O mostrador de sombras", hoje esgotado.

Aos dezessete anos veio para São Paulo e iniciou o curso de ciências sociais na USP, não o concluindo. Na época, seu maior interesse era o cinema. Participou do movimento Boca do Lixo e acabou viajando para Nova York, onde pretendia morar. Retornou pouco tempo depois a Manaus, pois não se adaptara ao estilo de vida nova-yorquino.

Márcio Souza chegou a fazer alguns filmes, como, em 1972, "A selva", adaptação cinematográfica do romance de Ferreira de Castro, e uma série de documentários sobre a Ama­zônia.

Como teatrólogo, escreveu e dirigiu peças para o Teatro Experimental do Sesc/Amazonas, importante movimento para a manutenção dos valores culturais da região. Escreveu as se­guintes peças: "Zona Franca, meu amor", "A paixão de Ajuricaba", "Dessana, dessana", “A maravilhosa estória do sapo Tarô-Bequê", "Jurupari, a guerra dos sexos", "As folias do látex", "O pequeno teatro da felicidade", "Plácido de Castro contra o Bolivian Syndicate", e "Diroá, o elogio da preguiça".

É autor do ensaio "A expressão amazonense do co­lonialismo ao neo-colonialismo”, um estudo bem-humorado do que houve na cultura de seu Estado.

"Galvez, o imperador do Acre" (já publicado pelo Cir­culo), o romance que o consagrou perante a crítica e o público, aproxima-se muito do espírito do folhetim popular. Narra, de forma irreverente e original, as aventuras de Galvez e a con­quista do Acre.

Os anos 68/70, a repressão política, a luta armada, a re­volução, os problemas vividos pela geração pós-64 são alguns dos temas abordados em "Operação Silêncio".

Seu mais recente livro é "Mad Maria", romance sobre a construção da estrada de ferro MadeiraMamoré, passado em 1911. É a história de uma estrada que vai de lugar algum a parte nenhuma. “Mad Maria" se enquadra na linha debochada e irônica do autor ao denunciar a insensatez que a chamada civilização ocidental parece encenar na Amazônia.
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