AS ELEIÇÕES DE 2022
O QUE FAZ A OPINIÃO PÚBLICA SE MOVER EM RELAÇÃO EM RELAÇÃO À EXECUÇÃO DE
ALGUNS COMPORTAMENTOS? É POSSÍVEL QUE SEJA MUDADA POR FATORES EXTERNOS?
Essa têm sido duas das principais perguntas que me propus a responder por cerca de
dez anos. E entre boas e más leituras, escrita de artigos, prática, estudo epistemológico, criação
de métodos de coleta de dados; há algumas conclusões que cheguei. O “efeito perverso” de fato
existe no comportamento social. Popper e Boudon você eram gênios. Efeito perverso são
“repercussões sociais não-intencionais de ações humanas intencionais”.
Quando as pessoas querem muito algo, apelam para qualquer coisa para se valer da sua
vontade. O emocional ultrapassa o racional, e quando isso toma o aspecto de coletividade, de
fato o conceito do Olavo de Carvalho de “imbecil coletivo” faz todo o sentido. Dentro outros
aspectos, são pessoas de inteligência razoável que quando se unem em torno de uma opinião
para a integração e aceitação de um grupo, tendem a abrir mão da inteligência individual e
passam a pensar coletivamente.
[Sim, eu leio Olavo de Carvalho e o considero um bom filósofo na escrita. Não gostou? Morde as costas.
Estuda um pouco de história da filosofia para ver o comportamento de outros filósofos, do Rousseau, por exemplo.]
E toda essa introdução para falar agora dos efeitos que as atuais ondas irão gerar nas
eleições de 2022. O momento que a gente vive é muito complicado, infelizmente muita gente
perdendo a vida, algo realmente muito triste, por uma série de decisões mal tomadas em
cascata. E o jogo eleitoral força a barra para o ditado americano se valer: “nunca desperdice
uma crise”. Como sempre aparece o culpado e o salvador. E infelizmente eles provavelmente
irão disputar a vaga da presidência em segundo turno. A não ser que algo muito excepcional
aconteça, é Lula e Bolsonaro.
A maior parte da população, e eu me coloco muito nisso, não se importa tanto com o
que um presidente fala. O que ele faz é outra coisa. Particularmente eu acho que há três motivos
para acompanhar muito o que um presidente diz: 1. Você não sabe definir o que é prioridade na
sua vida; 2. Você tem muito tempo sobrando e desperdiça ele fazendo isso; 3. Você tem
interesses diretos e o que ele fala está envolvido com seu trabalho (outros políticos, jornalistas,
comentaristas etc.). O que um presidente fala e o que ele faz tem um gap muito grande.
O problema é que esse jogo de discursos e narrativas (palavra da moda) afeta as
minorias radicais, aqueles que de fato ganham as eleições e que ficam falando e enchendo o
saco dos outros, tipo o meu. Então o Bolsonaro tem que ser o “genocida”. Na boa, essa ideia só
pega em quem é convertido. Se a pessoa não tem interesse em política, o termo nem faz sentido;
genocídio tem a ver com a intensão de extermínio de uma cultura inteira. Tem muita coisa que
explica essa reprodução: ser aprovado por um grupo, radicalização de discurso acumulado,
atalho de virtude, querer colocar a culpa em alguém do comportamento de outras pessoas, falta
de conhecimento da nossa língua. Aí fica o outro lado, os apoiadores do Bolsonaro chamando o
Lula de ladrão, dizendo que o melhor para o país é o Bolsonaro por que ele é honesto, e que a
culpa do agravamento da pandemia não é dele. Sério?!
E ficam insistentemente pedindo para se você se posicionar em uma das narrativas. E
eu me posiciono, da seguinte forma: o mundo tem mais problemas que essa guerra de discursos,
e eu tenho prioridades muito mais importantes do que me imbecilizar voluntariamente.
Democracia tem a ver com isso, e eu não preciso demonstrar esse tipo de opinião para ser
melhor aceito por alguém. “Sérgio, me ofendi, esse texto é para mim? É. A intenção é atingir
outro público, mas é pra você também.”
CIRO GOMES
Tem muita gente aqui no meu LinkedIN que trabalha com política. E pode ser que isso
chegue até o grupo que trabalha com o Ciro, vai que... Ciro, se você quer ganhar mesmo? Não
fica no meio disso. Terceira via só tem sentido quando a ideia é diferente das outras duas.
Atualmente você é um claro apoiador do discurso do Lula, não dele em si, mas da narrativa dele.
Se continuar assim, infelizmente vai servir de escada para ele chegar no segundo turno.