A voz do passado



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A riqueza dessa evidência, tanto em relação a cidades britâ-nicas quanto norte-americanas, passaria a ser disputada por uns poucos historiadores urbanos. De fato, a grande summa em dois volumes, The Victorian City, de Michael Wolff e H. J. Dyos, com capítulo de retratos de quatro cidades britânicas extraídos entrevistas que fiz para The Edwardians, significativamente do "Voices from Within". Essa evidência foi utilizada de a particularmente eficaz por Steve Humphries na série Making of Modern London", como ilustração e por vezes contrapeso da evidência documental: desse modo, os lon-drinos passam a ser vistos como muito mais apavorados com a Blitz que se supunha. Não obstante, a passagem da ilustração análise tem provado ser mais difícil. Isso se deve em parte de a história urbana se haver concentrado nas grandes e aí os estudos de comunidade fazem menos sentido, esmo quando um bairro pode ser identificado por fron-127

teiras bem definidas, as pessoas que nele moram invariavelmente buscam, para além dele, trabalho, serviços e definições da posi-ção que ocupam na estrutura social da cidade. Tomar uma única quadra ou rua, e acompanhar os movimentos de todos os seus moradores para dentro e para fora dela, foi uma solução adotada por Jeny White com êxito notável em dois livros, Rothschild Buildings e The Worst Street in North London, um deles sobre um prédio de apartamentos de judeus no East London, o outro sobre uma rua de biscateiros e pequenos ladrões, famílias muito pobres e cortiços. Ele possui um senso de espaço físico e social raro entre historiadores, que garante uma sólida fundamentação para cada livro; e mediante a moldura da economia, da atividade política, da assistência social e da cultura locais, compõe habil-mente as vidas dos indivíduos e das famílias de cada um desses pequenos recantos da cidade grande. O resultado é um micro-cosmo da metrópole: um novo modelo irresistível para a história urbana. Uma abordagem alternativa, porém mais ilustrativa, é o retrato de um bairro, de que o exemplo mais convincente é o clássico de Studs Terkel, dentro da tradição sociológica de Chi-cago, Division Street: America. Esse estudo foi concebido em torno da meninice do próprio autor na zona meio-Norte de Chi-cago, onde sua mãe dirigia uma pensão para homens solteiros. Mas ele achou que sua busca de uma "seção transversal da men-talidade urbana" não podia ficar limitada a um único bairro e ela evoluiu para uma caça por toda a cidade: "com a dispersão da espécie, ela tinha que ter a natureza do jornalismo de guerrilha". As pessoas que entrevistou falam sobre seu passado e sobre o presente; família, ambições, trabalho, política; e são homens e mulheres de toda idade: donos de casa e empregados domésticos negros e brancos, do lavador de janelas ao aristocrata; arquitetos e publicitários, artífices, o vendedor de cachorro-quente, as garo-tas de revistas masculinas, o motorista de táxi dirigente do diretó-rio republicano, as donas de bar e a polícia; e os migrantes - os apalaches, o guarda-noturno porto-riquenho, o grego dono da confeitaria, Jesus Lopez, o metalúrgico. Division Street, palpi-128

tante da variedade cultural, racial e de classe daquela cidade em luta, é sem dúvida uma das obras-primas da história oral.
As grandes cidades têm atraído a atenção, quando menos porque seus problemas sociais têm sido os mais agudos: mas a maioria das pessoas continua a morar nas cidades menores. Em-bora estas sejam sujeitos muito mais manipuláveis para estudos de comunidade, os sociólogos e os historiadores sociais têm, até agora, manifestado pequeno interesse por elas. Os mais brilhan-tes insights têm ocorrido como subprodutos casuais: a descrição

uma fábrica, como Amoskeag, também nos oferece uma cidade norte-americana que vive em torno de uma empresa, e a vida de uma pessoa, como The Dillen, o submundo de Stratford-Avon. Porém, a série pioneira de estudos sociológicos dos na década de 1920, sobre a middletown norte-americana e, bem depois, Tradition and Change: A Stud of Banbury, de Mar-Stacey, tiveram poucos seguidores; e embora existam histó-rias de pequenas cidades que recorrem à evidência da entrevista, muito recentemente poucas delas mereciam menção. Só isso um marco importante a Speak for England, história oral de Wigton, na Cúmbria, de Melvyn Bragg. A mudança social nessa cidade meio agrícola, meio industrial, é mostrada por meio dos depoimentos de um corte transversal de seu povo: mineiros e fa-zendeiros, criadores de cães e de pombos, vereadores, professores , donas-de-casa e lojistas. Há seções de miscelânea sobre de-períodos: a época edwardiana, dominada, do alto da colina , pela Casa Grande com seus pavões; os jovens que foram na Primeira Guerra Mundial sob as ordens de coronéis que o chamavam de "refugo", e que voltaram para a desilusão e o desemprego desnorteantes da década de 1920; o início de melho-res para muita gente comum no final da década de 1930 e, posteriormente, depois da Segunda Guerra Mundial, o avanço

maior conforto, segurança e lazer. Uma outra seção focaliza fábrica de Wigton, desde seus primeiros pioneiros entusiasmados até a atualidade, quando o capataz se transformou rente de pessoal e o desiludido trabalhador comum vocifera

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contra a "raça de traidores" dos "fura-greves", enquanto um apren-diz promovido descobre o jeito de contornar os problemas de comer sua primeira lagosta como gerente. Há também um con-junto de oito vidas individuais mais completas. Entre elas, figu-ras como Dickie Lowther, um ex-camareiro de aristocratas, alei-jado, criador de cães griffon, chefe de escoteiros e ritualista. Porém, de maneira signifrcativamente diferente da história oral da cidade grande, as tendências de Wigton são em geral menos espetaculares. O avanço discreto dos membros da classe operária rumo a uma melhora de situação, por elas documentado, talvez seja, pois, a coisa mais significativa para o historiador urbano.
Algumas das seções mais vigorosas de Speak for England dizem respeito à história social da cultura - religião, educação e lazer. Esta é uma outra área em que a utilização da evidência oral já teve um impacto considerável. Referimo-nos antes a trabalhos sobre a história social da religião. Na história da educação, as contribuições mais importantes têm sido dadas até agora pelos. sociólogos, tais como Brian Jackson e Dennis Marsden, em seu clássico Education and the Working Class, baseado em entrevis-tas de histórias de vida em sua cidade de Huddersfield. Os estu-dos orais lingüísticos relacionados com a educação também têm ajudado a preencher as lacunas deixadas, até pouco tempo atrás, pelos estudos de dialetos, que freqüentemente coletam material de valor histórico considerável, mas que se concentram em co-munidades rurais. Mais recentemente, particularmente nos Esta-dos Unidos, há um interesse crescente pela linguagem e pelas modalidades orais urbanas. Em conseqüência, estudos sobre len-das populares e folclore urbanos e até mesmo sobre pregação religiosa popular têm se somado às já inúmeras publicações rela-tivas a superstições, lendas e oficios rurais. Desses estudos rurais, The Leaping Hare, de George Ewart Evans e George Thomson, apresenta uma mescla de história social, folclore e antropologia particularmente convincente e imaginativa. Um clássico mais an-tigo, também muito peculiar, é The Lore and Language of School Children, de lona e Peter Opie, que revelou uma surpreendente

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profundidade histórica da tradição oral que sobrevive nos pátios de recreio das escolas contemporâneas.
Há também um ramo acadêmico bem desenvolvido no es-tudo da música e da canção folclórica. Neste caso, especialmente graças ao trabalho de Edward Ives na Nova Inglaterra, dispomos agora não só de estudos sobre a canção tradicional e seu contexto histórico geral, mas também de biografias sociais e musicais de cantores. Ao mesmo tempo, tem havido grande empenho em favor da utilização tanto da música folclórica, quanto de sua su-cessora nos auditórios urbanos, para a compreensão da ideologia da classe operária como, por exemplo, em atitudes em relação ao casamento, ao sexo ou à classe. Vem ocorrendo também um afas-tamento da preocupação, outrora avassaladora, com o elemento "tradicional" na cultura da classe operária. Também neste caso, os sociólogos tiveram muita influência, com seus estudos sobre as formas de lazer da classe operária como, por exemplo, as ban-das industriais do Norte descritas por Brian Jackson e Dennis Marsden em Working Class Community. Uma vez que essas ati-vidades de lazer raramente deixam muitos registros, só podem ser seriamente estudadas com o uso da evidência oral. Estudos recentes de história oral vêm se realizando sobre determinadas formas de lazer, como bandas de jazz, bandas de kazoo, feiras e beisebol, e também sobre o papel, de maior amplitude em suas ramificações históricas, do botequim.
O lazer, quer como um recurso dos solteiros para namorar, is ou dos casados para fugir de casa para o botequim, leva na dire-i- ção da história da família. Nesta área da história social, o im-pacto da evidência oral é especialmente importante, pois permite que o historiador examine questões críticas que anteriormente eram restritas. Os exemplos recentes mais notáveis foram dados pelo antropólogo Oscar Lewis, cujas descrições profundamente

comoventes de famílias mexicanas, como The Children of San-chez (1961), são muito justamente famosas. Porém, muitos dos mais notáveis estudos de comunidade têm muito a ver com a família, como demonstram títulos como Family and Community

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in Ireland, Family and Kinship in East London, ou The and Social Change: a Study of Family and Kinship in a Wales Town; e esses estudos, assim como a sociologia da família dos relatos de Lee Rainwater sobre o casamento na classe ria norte-americana, em And the Poor Get Children, também pendem da farta evidência das histórias de vida.


A ausência quase completa de testemunhos antigos espécie relativos à gente comum é que permitiram que eminentes historiadores da família propagassem a idéia de que o amor pais e filhos, ou entre casais, foi um desenvolvimento novo, demo", dos últimos dois séculos. Dispomos de uma visão das intimidades da vida familiar quotidiana na Idade Média, construídas por Le Roy Ladurie em Montaillou (1975), a da evidência de famílias dedicadas ao pastoreio nesse dos Pirineus, que estavam sendo investigadas por heresia: depois

desse trabalho, quem poderia ainda sustentar aquelas suposições? De maneira semelhante, em sua tentativa questionada de desenredar as causas do tamanho decrescente famílias de classe média nos fins do século XIX, na Grã-Bretanha - Prosperity and Parenthood (1954) -, J. A. Banks podia mencionar as opiniões de médicos especialistas, romancistas e outros escritores, mas, a despeito da evidência por eles oferecida, continuou sem "idéia alguma" sobre se ela podia aceita como "especificamente representativa das ações e palavras" de grupos sociais mais amplos, ou "como a maioria membros das classes médias (...) teriam começado a pensa"6 Não havia, em relação à Inglaterra, evidência oral acessível, como a de que se utilizaram K. H. Connell e Segalen para estudar a sexualidade e o casamento na Irlanda e França. Mas a recente obra de Diana Gittins, Married Life Birth Control between the Wars, mostrou ser possível, com vistas, descobrir por que os pais decidem ter ou não ter filhos, de que modo ficam sabendo dos métodos contraceptivos que utilizaram; e ela demonstra que a teoria da difusão, segundo a se sustentou que a limitação de filhos havia se disseminado para

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as classes trabalhadoras por influência da classe média, é seria-mente equivocada.


Suas conclusões apareceram de início numa edição especial sobre história da família da Oral History, que incluía também artigos sobre a criação de filhos e sobre os jovens. Depois disso, ambos esses aspectos da história da família têm sido desenvolvi-dos mais amplamente, como no relato de John Gillis sobre as cerimônias de namoro e de casamento e na instigante explicação de Steve Humphries sobre a delinqüência da classe operária como uma forma de ajuda familiar em Hooligans or Rebels?. Porém, o impacto da nova evidência talvez seja mais vigoroso do que os demais em dois livros: o de Elizabeth Roberts, a respeito de três pequenas cidades de Lancashire, e o de Tamara Hareven, sobre a outra Manchester, Nova Inglaterra, ambos investigando o ciclo completo da família, da infância á velhice. A exposição que Elizabeth Roberts faz sobre o cuidado da família com os velhos refuta definitivamente indicações sociológicas anteriores de que o intercâmbio de ajuda possa ser explicado como uma reação interesseira. Uma outra suposição sociológica ainda mais disse-minada, a de que a família nuclear corresponde às necessidades das economias industrializadas, é destruída por Tamara Hareven, quando mostra a permanente eficácia da família extensa, tanto corno instrumento para a migração, como para o suprimento de mão-de-obra a longa distância, e corno um amortecedor em pe-ríodos de crise. Mas ela elabora outras teorias para explicar o modo complexo como interagem família e economia, e de que modo a relação entre a estrutura familiar, as tensões entre gera-ções e a consciência de classe é continuamente refeita pelo mo-mento do ciclo de expansão e de colapso econômicos em que cada geração se inicia no trabalho remunerado: pela intersecção entre Family lime and Industrial lime. Seu livro constitui um marco conceitual. E a influência recíproca entre família e economia é um tema que tem sido proposto por outros historiadores quando estudam a criação de filhos, o casamento, e também o trabalho fe-minino. Isso nos leva diretamente á história das mulheres.

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Também neste caso é enorme o potencial da evidência oral, e suas possibilidades mal começam a ser exploradas. Até bem pouco tempo, a história das mulheres foi ignorada pelos historia-dores, em parte porque a vida delas, ligada ao lar ou ao trabalho desorganizado ou temporário, muito freqüentemente transcorreu sem ser documentada. As primeiras contribuições mais notáveis foram, pois, tipicamente biográficas ou documentais, como From Parlor to Prison, de Sherna Gluck, sobre as vidas das sufragistas norte-americanas, Fenwomen, de Mary Chamberlain, ou a coletâ-nea menos bem amarrada em Dutiful Daughters, de Sheila Row-botham e Jean McCrindle. Mas têm havido também importantes pesquisas na Grã-Bretanha sobre a liderança e as militantes do movimento feminista no início do século XX, bem como sobro mulheres na política trabalhista e socialista e no movimento pacifista, especialmente as de Jill Liddington; e de ambos os lados do Atlântico, toda uma série de estudos sobre as mulheres no trabalho - no campo, nas fábricas, no serviço doméstico, na guerra, na fronteira - e também, ainda que com menos freqüência, em casa e na família. O descaso total por esse campo faz com que entrar nele cause a emoção de uma viagem de descoberta. Mas como demonstram certos ensaios como Our Work, Our Lives

Our Words, ou os textos de Anna Bravo sobre a solidariedade e solidão entre mulheres camponesas, essa nova história também põe em xeque pressupostos básicos sobre estrutura social e desigualdade, a "natureza" de homens e mulheres, as raízes do entre eles, e a modelação da consciência tanto pelo lar como trabalho. Certamente, muito mais está por vir.
As 1imitações da documentação escrita aplicam-se igualmente a outros grupos sociais ~ margem do poder. Isso evdente em relação subculturas desviantes, que os sociólogos estudaram durante muito tempo por meio da coleta de história de vida. O trabalho norte americano mais recente nessa área ampliou-se para abranger os viciados em drogas e os travestis sexuais,. enquanto, na Grã-Bretanha_Tony Parker passou, de modo semelhante, do ladrão profissional de The Courage of His Con134

viction para o incompetente ex-soldado incapacitado de The Unknown Citizen e os agressores sexuais de the Twisting Lane. E os insights históricos e se pode conseguir por meio .dessa abordagem estão agora demonstrados vivamente pelo extraordinário registro feito por Raphael Samuel sobre a_infância na favela e a idade adulta violenta e criminosa de Arthur Harding, em East End Underworld.


Outras minorias são os sobreviventes de conquista, ou párias sociais tradicionais.Os índios norte-amençanos, os aboríge-nes australianos e os ciganos da Europa são minorias perseguidas, documentadas de maneira enganosa por uma maioria hostil, mas que preservaram sua própria tradição oral vigorosa .mediante a qual se torna possível uma abordagem mais compreensiva de seu passado. De modo semelhante, as fontes orais estão sendo utili-zadas para dar nova dimensão à história de comunidades chine-sas: japonesas e de outras s comunidades minoritárias norte-ameri-canas; e também para a história dos judeus , tanto europeus quanto norte-americanos.
Houve especialmente duas formas pelas quais história dos grupos minoritários foi influenciada pela evidência oral. A pri-meira é o estudo da imigração. Nesse caso, o exemplo foi propor-cionado- pelo trabalho de campo de entrevistas feito por sociólo-gos a partir da escola de Chicago em diante, mas que em geral consistia em estudar os problemas da imigração como forma de patologia social. Mais recentemente, tanto sociólogos como historiadores que utilizam fontes orais caminharam na direção de uma abordagem mais equilibrada de trabalho histórico, estu-dando a experiência comum de imigração, o processo de busca de trabalho, a ajuda de familiares e vizinhos, a criação de institui-ções comunitárias da minoria e a permanência de costumes culturais anteriores, bem como problemas de tensão discriminação racial. Ela pode também indicar particularmente comparando a evidência direta da experiência pessoal com a mensagem generalizada da própria tradição oral da comunidade - como são distorcidas algumas das explicações que comumente se sustentam

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sobre os padrões sociais de imigrantes em termos de herança ra-cial ou cultural, e não dos simples fatores de economia de classe.
A segunda forma é a história do negro: na Grã-Bretanha, talvez ainda urna ramificação da forma anterior, mas nos Estado. Unidos algo totalmente diverso. Ela apresenta um conjunto de obras notáveis com que concluiremos nosso levantamento explo-ratório sobre a contribuição da história oral. A esta altura, é opor-tuno darmos um passo atrás e indagarmos: o que há nelas que as distingue como história? O que fazem elas que não pudesse ser feito de outro modo? Três coisas. Em primeiro lugar, penetram aquilo que, de outro modo, seria inacessível. Duas delas provêm, de guetos de grandes cidades da América do Norte urbana. Watts, the Áftermath, de Paul Bullock, é o relato de um confronto popu-lar em Los Angeles; enquanto pouca coisa iguala a Autobiography of Malcolm X, de Alex Haley, na transmissão da amarga riqueza da vida citadina ou como vigoroso retrato de um líder. As comu-nidades negras rurais analfabetas também não deixaram registros para historiadores futuros. The Saga of Coe Ridge, de William Montell, é o principal exemplo norte-americano de um sério es-tudo de comunidade perfeitamente documentado por seu tema amplamente dependente da evidência oral: relato sobre uma colônia negra, instalada no alto de um morro longínquo, depois libertação dos escravos, que de início sobreviveu da agricultura de subsistência e da extração de madeira, mas que se devido a lutas mortais com os brancos da vizinhança por de mulheres e, à medida que se esgotaram os recursos naturais, foi levada ao fabrico e à venda ilegal de bebidas, até que mente foi dissolvida pelos fiscais de renda da polícia local. E segundo lugar, onde existem registros, a evidência oral oferece um corretivo fundamental a eles. Isso se dá especialmente cai relação à antiga zona rural do Sul onde a história só interessa como em nenhuma outra parte dos Estados Unidos, porque é usada para justificar ou negar os reclamos da supremacia doe brancos. Assim, não foi por mero acaso que o abundante material de entrevistas com antigos escravos das grandes fazendas e com

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seus dependentes, colhido nas décadas de 1920 e de 1930, fica-ram sem ser utilizados pelos historiadores por mais de três déca-das. Isto se corrigiu agora, não só pela publicação integral das narrativas dos escravos, em dezoito volumes organizados por George Rawick - constituindo, assim, a autobiografia coletiva mais importante até hoje publicada -, mas também pelo admirá-vel ensaio interpretativo From Sundown lo Sunup, The Making of lhe Black Community, que constitui um volume introdutório. E analogamente - para concentrar a atenção num mico estudo de caso a que deveremos voltar mais tarde -, só pela evidência oral Lawrence Goodwin teve condições de descobrir a história verda-deira, deliberadamente oculta pelos jornais e documentos da época, de como a classe alta branca usou de violência sistemática para destruir o populismo racial de uma localidade do Texas na década de 1890.
Finalmente, a evidência oral pode conseguir algo mais penetrante e mais fundamental para a história. Enquanto os historiados estudam os atores da história a distância, a caracterização

que fazem de suas vidas1 opiniões e ações sempre estará sujeita a ser .descrições defeituosas projeções da experiência e da imaginação do próprio historiador: uma forma erudita de ficção. A evi-dência oral, transformando os "objetos " de estudo em "sujeitos", contribui para uma História e não só é mais rica, mais viva e mais comovente, mas também. mais verdadeira. E essa é a razão por que é justo que terminemos mencionando Ali God's Dangers,de .Theodore Rosengarten, a autobiqgrafia de Nate Shaw, um lavra-dor analfabeto do Alabama, nascido na década de 1880, baseada em 120 horas de conversas gravadas: urna das histórias de vida mais comoventes, e certamente a mais completa, de urna pessoa

"insjgnificante", conseguida a partir da história oral. Gostaríamos ..muito que o método fosse julgado por frutos como esse.

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EVIDÊNCIA
Quão fidedigna é a evidência da história oral? Essa pergunta há de ser familiar a todo historiador oral atuante. Nossa principal tarefa aqui será tomá-la em seu sentido literal e verificar como s~ sustenta a evidência oral quando "apreciada e avaliada exatamente do mesmo modo como se avaliam todos os outros tipos d evidência histórica". Porém, como veremos, a pergunta propõe uma falsa escolha. Se as fontes orais podem de fato transmiti informação "fidedigna", tratá-las simplesmente "como um documento a mais" é ignorar o valor extraordinário que possuem come testemunho subjetivo, falado.' Voltaremos a esse ponto. De início, porém, vamos tomar a pergunta como havíamos pretendido.
Podemos começar observando "O historiador em açào como o descreve Arthur Marwick em The Nature of History (1970). Primeiro, ele relaciona a "hierarquia aceita" de fontes: cartas contemporâneas, relatórios de informantes, depoimentcm relatórios parlamentares e da imprensa; investigações sociais, diários e autobiografias - estas últimas "devendo [em geral] sq tratadas com cautela ainda maior" do que as demais. Ao examinar essas fontes, o historiador deve, em primeiro lugar, assegurar- se de que o documento é autêntico: que é aquilo que parece ser, não uma falsificação posterior. A seguir, vem o problema crucial: "Como o documento passou a existir inicialmente? Quem é exatamente seu autor, ou seja, fora seu nome, que papel despenhava na sociedade, que tipo de pessoa era ele? Qual seu ob~

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tivo ao escrevê-lo? Por exemplo, o relatório de um embaixador (...) pode levar para o país a espécie de informação que ele sabe que o seu governo deseja ouvir (...) Uma declaração de imposto de renda fornece um registro correto da verdadeira riqueza, ou haverá, por parte do indivíduo, uma tendência a ocultar o mon-tante de suas posses (...)?". Ou, utilizando "um excitante relato in ioco" tirado de um escritor ou de um repórter de jornal, "como podemos ter a certeza de que, na verdade, ele deixou em algum momento seu quarto de hotel? Estas, e muitas outras, são o tipo de perguntas que os historiadores devem fazer o tempo todo sobre suas fontes primárias: fazem parte do domínio básico da area"' Note-se que a suposição é que os autores de documentos, assim como os historiadores, são do sexo masculino. O que é

importante é que muitas das perguntas que se devem fazer sobre os documentos - se podem ser falsificações, quem era seu autor e com que finalidade social foram compostos - podem ser res-pondidas com muito mais confiabilidade em relação á evidência oral do que em relação a documentos, particularmente se aquela provier de um trabalho de campo do próprio historiador. Porém, não é dada quase nenhuma indicação sobre como se poderá res-ponder a qualquer dessas perguntas, seja de identificação, seja de viés. Apenas no caso de falsificação medieval é que se menciona uma determinada forma de perícia. Quanto ao mais, os recursos do historiador são as regras gerais para o exame de evidências: buscar a consistência interna, procurar confirmação em outras fontes, e estar alerta quanto ao viés potencial.


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