De descartes



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pontes de entrada circunscritos no cérebro, os chamados cortices senso 

riais iniciais* da visäo, da audiçäo, das sensaçöes somáticas, do paladar e

do olfacto.


Early no original inglês. (N. da T.)

O ELABORAR DE UMA EXPLICAÇAO 107


Imagine os como uma espécie de porto seguro onde os sinais podem

chegar. Cada regiäo sensorial inicial (os cortices visuais iniciais, os córti 

ces auditivos iniciais, etc.) é um conjunto de áreas diversas, existindo uma

intensa sinalizaçäo cruzada dentro desses agregados em cada conjunto

sensorial inicial, como se pode observar na Figura 5. 1. Mais à frente, neste

capitulo, irei sugerir que este@ sectores intimamente correlacionados

constituera a base das representaçöes organizadas topograficamente e a

fonte de imagens mentais.

OLHO

Figura 5.1   Diagrama simplificado de algumas intercotiexöes existentes entre os

«cortices visuais iiiiciais» (V,, V2, @,, V,, V,) e três estrtittiras stibcorticais vistialmente

relacionadas: o núcleo geniciilato lateral (aGL); o ptilvinar (PUL) e o coiiculo superior

(coll). V, é também conhecida como o córtex vistial «priniário» e corresponde à área 1 7 de

Brodmann. Repare seqtiea maioria das componentes nestesistc.;ia estäo interligadas por

prol . ecçöes de neiirénios que silo estabelecidas nos dois sentidos (setas). O sinal visual de

entrada para o sistema dá se através do olho via o NGL e o colictilo. Os sinais de saida des 

te sistema surgem a partir de muitas das componentes, eni paralelo (e.g., de V4, V., etc.),

em direcçäo a alvos corticais e stibcorticais.


O organisme, por sua vez, actua no ambiente por meio de movimen 

tos resultantes de todo o corpo, dos membros e do aparelho vocal, os quais

säo controlados pelos cortices Mll M2 e M3 (os cortices em que também

surgem movimentos dirigidos ao corpo), com o auxilio de vários núcleos
108 O ERRO DE DESCARTES
motores subcorticais. Existera assim sectores cerebrais onde chegam

continuamente sinais vindos do corpo propriamente dito ou dos órgäos

sensoriais do corpo. Estes sectores cerebrais de «entrada» estäo anato 

micamente separados e näo comunicam directamente entre si. Existera

também sectores cerebrais de onde surgem sinais motores e quimicos;

encontram se entre estes sectores de «saida» os núcleos hipotálamicos e

do tronco cerebral e os cortices motores.

Um aparte sobre a arquitectura

de sistemas nervosas

Imagine que está a desenhar o cérebro humano e que tem já

esboçados todos os portos para os quais transportaria os vários

sinais sensoriais. Näo gostaria de misturar os sinais vindos de

diferentes fontes sensoriais, por exemplo, da visäo e da audiçäo,

täo cedo quanto possivel, para que o cérebro pudesse gerar «re 

presentaçöes integradas» de coisas simultaneamente vistas e

ouvidos? Näo desejaria associer essas representaçöes a contro 

los motores de modo a que o cérebro pudesse responder lhes de

forma eficaz? A sua resposta seria um sim, sem hesitaçäo, mas

näo tem sido essa a resposta da natureza. Como foi demonstra 

,do há algumas décodas num importante estudo de conexöes

neuronais realizado por E. G. jones e T. P. S. Powell, a natureza

näo permite que os portos sensoriais falem directamente uns com

os outros e também näo consente que eles falem directaine@ite

com os controlos motores'. Por exemplo, ao nivel do córtex cere 

bral, cada conjunto de áreas sensoriais iniciais tem de falar

primeiro com uma série de regiöes interpostas, as quais falam

com regiöes ainda mais distantes, e assim por diante. A con 

versa é levada a efeito por axónios que se projectam nessa di 

recçäo, ou projecçöes directas, os quais convergera para regiöes

situadas num outro plano do processamento neural, regiöes es 

sas que, por sua vez, convergera para outras regiöes.

Pode parecer que estes fluxos múltiplos, paralelos e con 

vergentes terminam em alguns vértices, como o córtex mais

próximo do hipocampo (o córtex entorinal) ou alguns sectores

do córtex pré frontal (o dorsolateral ou ventromediano). Mas

isto näo é completamente correcto visto eles nunca @

O ELABORAR DE UMA EXPLICAÇAO 109


narem» enquanto tal, porque, a partir da vizinhança de cada

ponto para o qual eles se projectam, existe sempre uma pro 

jecçäoreciprocanosentidoinverso. Écorrectoafirmarqueossi 

nais no fluxo se movem tanto para a frente como para três. Em

vez de um fluxo que se move para frente, vamos encontrar cir 

cuites* de projecçöes directas e inversas, os quais podem criar

uma periodicidade perpétue.

Outra razäo pela qual os fluxos näo «terminam» é a de que,

para fora de algumas das suas estaçöes, em especial daquelas

que estäo colocadas à frente, saem projecçöes directas para os

controlos motores.

Assim, a comunicaçäo dos sectores de entrada entre si e dos

sectores de entrada com os de salda näo é directa, mas antes me 

diada através da utilizaçäo de uma arquitectura complexe de

agregados de neuronios interligados. Ao nivel do córtex cere 

bral, estes agregados säo regiöes corticais localizadas dentro de

diversos côrtices de associaçäo. No entanto, a comunicaçäo me 

diada ocorre também através dos grandes núcleos subcorticais,

como os que existera no tálamo e nos gänglios basais, e através

de núcleos pequenos, como os do tronco cerebral.


Em suma, o número de estruturas cerebrais que se encontram localiza 

das entre os sectores de entrada e os de saida é grande, e a complexidade

dos seus padröes de conexäo é enorme. A questäo que mais natur@en 

te ocorre é: o que é que acontece em todas essas estruturas «interpostas»,

de que nos serve toda esta complexidade? A resposta é: a actividade ali

existente, juntamente com a actividade das áreas de entrada e de saida,

constrói momentaneamente e manipula furtivamente as imagens da nos 

sa mente. Com base nessas imagens, acerca das quais me debruçarei nas

páginas seguintes, podemos interpretar os sinais apresentados aos córti 

ces sensoriais iniciais de modo a podermos organizá los sob a forma de

concertos e a podermos classificá los. Podemos adquirir estratégias para

raciocinar e tomar decisöes; e podemos seleccionar uma resposta motora

a partir do elenco disponível no nosso cérebro ou formular uma resposta

motora nova, que é uma composiçäo desejada e deliberada de acçöes que

pode ir desde uma expressäo de cólera ao abraçar de uma criança, desde

escrever uma carta para o editor ao tocar de uma sonata de Mozart no

piano.

Entre os cinco principais sectores sensoriais de entrada e os três princi 



pais sectores de saida do cérebro, encontram se os córtices de associaçäo,
Loops no original. (N. da T.)

110 O ERRO DE DESCARTES


os gänglios basais, o tálamo, os cortices do sistema limbico e os núcleos

Iímbicos, o troncocerebraleocerebelo. Noseu todo,este «órgäo» de infor 

maçäo e regência, este grande conjunto de sistemas, detém tanto o conhe 

cimento inato como o adquirido sobre o corpo propriamente dito, sobre

o mundo exterior e sobre o próprio cérebro à medida que este interage

com o corpo propriamente dito e com o mundo externo. Este conheci 

mento é utilizado para desdobrar e manipular sinais de saida motores e

sinais de saida mentais, que säo as imagens que constituera os nossas

pensamentos. Julgo que este depósito de factos e de estratégias para a sua

manipulaçäo é armazenado, em estado de dormência e em suspense, sob

a forma de «representaçöes disposicionais» «

viar) nos sectores cerebrais intermédios. A regulaçäo biológica, a memó 

ria de estudos prévios e a planificaçäo de acçöes futuras resultam duma

actividade cooperativa que se desenrola näo sá nos cortices sensoriais ini 

ciais e nos cortices motores mas também nos sectores intermédios.

UMA MENTE INTEGRADA RESULTANTE

DE UMA ACTIVIDADE FRAGMENTADA

Uma intuiçäo comum, que é partilhada por muitos dos que gostam de

cogitar sobre a forma como o cérebro funciona, é a de que as múltiplas li 

nhas de processamento sensorial experienciadas na mente   imagens e

sons, sabor e aroma, textura superficiel e forma   «ocorrem» todas nu 

ma única estrutura cerebral. Em certa medida, é razoável pensar que o que

está em conjunto na mente está em conjunto num dado local do cérebro,

onde diferentes aspectos sensoriais se combinariam. A metáfora usual

tem um pouco a ver com um grande ecrä de Cinemascope equipado para

um glorioso Techiiicolor, com som estereofónico e odorante. Daniel Den 

nett tem discutida este concerto, a que deu o titulo de «teatro cartesiano»,

e argumentou de forma persuasive, em termos de funçöes cognitivas, que

o teatro cartesiano näo pode existir'. Também eu defendo que, no plano

da neurociência, o teatro cartesiano é uma intuiçäo falsa.

Vou resumir aqui as minhas razöes, as quais tenho discutida por 

menorizadamente noutros locaisl. O meu argumento principal contra a

noçäo de um local cerebral integrativo assenta na inexistência de uma

única regiäo no cérebro humano equipada para processar simultaneamen 

te representaçöes de todas as modalidades sensoriais que estäo activas

O ELABORAR DE UMA EXPLICAÇAO


quando nôs experienciamos em simultäneo, por exemplo, o som, o movi 

mento, a forma e a cor, num registo temporal e espacial perfeito.

Começamos agora a perceber onde é que a construçäo de imagens para

cada diferente modalidade tem a probabilidade de ocorrer, mas em sitio

algum iremos encontrar uma única área para a qual todos esses produtos

separados seriam projectados com exactidäo de registo.

É verdade que existera algumas regiöes do cérebro onde os sinais

vindos de muitas regiöes sensoriais iniciais diferentes podem convergir.

Algumas dessas regiöes de convergência recebem, de facto, uma vasta va 

riedade de sinais polirnodais, como por exemplo os cortices entorinal e

peririnal. Mas é improvável que o tipo de integraçäo que essas regiöes

podem produzir ao utilizarem tais sinais seja o que forma a base para o

estabelecimento duma mente integrada. Isto porque a danificaçäo dessas

reglöes de convergência do mais alto nivel, mesmo quando ocorre em am 

bos os hemisíérios, näo impede de todo a integraçäo «mental», ainda que

provoque outras consequências neuropsicológicas detectáveis, como por

exemplo limitaçöes na aprendizagem.

Talvez seja mais proveitoso pensar que o nosso forte sentido de in 

tegraçäo mental é criado a partir da acçäo concertada dos sistemas de

grande escala, através da sincronizaçäo de conjuntos de actividade neural

em regiöes cerebrais separados   na verdade, um truque de sincroni 

zaçäo. Se a actividade ocorre em regiöes cerebrais anatomicamente se 

parades, mas se a mesma decorre dentro de aproximadamente a mesma

«janela temporal»*, é ainda possivel ligar as partes escondidas, criando

assim a impressäo de que tudo ocorre no mesmo local.

Repare que isto näo é, de maneira alguma, uma explicaçäo sobre a

forma como o tempo faz a ligaçäo, mas antes uma sugestäo de que a sin 

cronizaçäo** constitui uma parte importante do mecanismo.

A ideia da integraçäo pelo tempo tem emergido ao longo da última

década e aparece agora de forma proeminente no trabalho de vários teo 

rizadoreS4.

Caso o cérebro utilize o tempo para integrar processos separados em

combinaçöes significativas, esta seria uma soluçäo sensata e económica,

más näo seria uma soluçäo desprovida de riscos e problemas. O principal

risco seria a dessincronizaçäo***.

Qualquer disfunçäo do mecanismo de regulaçäo do tempo criaria

provavelmente uma integraçäo adulterada ou uma desintegraçäo. Talvez

* Teniporal ivitidozo no original. (N. da T.)

** Timing no original. (N. da T.)

*** Mistiniiiig no original. (N. da T.)


112 O ERRO DE DESCARTES


seja isto que, de facto, acontece em estudos de confusäo causados por trau 

matismos cerebrais ou em alguns sintomas de esquizofrenia e outras

doenças mentais. O problema fundamental criado pela ligaçäo pelo

tempo (time binding) tem a ver com a necessidade de manutençäo de uma

actividade intensa em diferentes locais durante o intervalo de tempo que

for necessário, para a elaboraçäo de combinaçöes signiíicativas e para o

processo do raciocinio e da tomada de decisöes. Por outras palavras, a

ligaçäo pelo tempo requer mecanismos de atençäo e de memória de traba 

lho poderosos e efectivos, e a natureza parece ter acedido em fornecê los.

Cada sistema sensorial aparece equipado de modo a providenciar os

seus próprios mecanismos locais de atenç' äo e de memória de trabalho.

Mas, quando se trata dos processos de atençäo global e de memória de tra 

balho, estudos em seres humanos, assim como experiências em animais,

sugerem que os cortices pré frontais e algumas estruturas do sistema lim 

bico (o cingulo) säo essenciaisi. A misteriosa conexäo entre os processos

e os sistemas cerebrais discutida no principio deste capitulo pode ficar

agora mais clara.

IMAGENS DO AGORA, IMAGENS DO PASSADO

E IMAGENS DO FUTURO

O conheci inento factual que é necessário para o raciocinio e para a

tomada de decisöes chega à mente sob a forma de imagens. Debmcemo 

 nos, agora, sobre o possivel substrato neural dessas imagens.

Se olhar pela janela para uma paisagem de Outono, se ouvir a música

de fundo que está a tocar, se deslizar os seus dedos por uma superficie de

metal lisa ou ainda se ler estas palavras, linha apôs linha, até ao fim da pá 

gina, estará a formar imagens de modalidades sensoriais diversas. As

imagens assim formadas chamam se imagens perceptivas.

Mas pode agora parar de prestar atençäo à paisagem, à música, à su 

perficie metálica ou ao texto, e desviar os seus pensamentos para outra

coisa qualquer. Talvez esteja agora a pensar na sua tia Maria, na Torre Eif 

fel, na voz do Placide Domingo ou naquilo que acabei de dizer acerca de

imagens. Qualquer desses pensamentos é também constituida por

imagens, independentemente de serem compostas principalmente por

formas, cores, movimentos, sons ou palavras faladas ou omitidas. Essas

imagens, que väo ocorrendo à medida que evocamos uma recordaçäo de

coisas do passada säo conhecidos como imagens evocadas, para poderem

ser distinguidas das imagens de tipo perceptivo.

O ELA50RAR DE UMA EXPLICAÇAÇ) 113


Ao utilizarmos imagens evocadas,,podemos recuperar um determi 

nado tipo, de imagem do,passado, a qual,foi formada quando planeámos

qual ,@quer coisa que ainda näo aconteceu mas que esperamos que venha a

acontecer, como, por exemplo, reorganiz@r a nossa biblioteca no proximo

íim de semana. Enquant@ o processo de planificaçäo se desenrolou,

estiv@mos a formar,únagç@s de objectes e de movimentos e a consolidar

,a merporizaçäo dessa flcçäo,n,a,nossa mente. A natureza das imagens de

?i,lgp que ainda näo açonteceu, e que pode de facto nunca vir a acontecer,

nao é diferente da natureza das imagens acerca de al go que ja acon teceu

e que retemos. Elas constituera a memória de um futuro possivel e näo do

passaçio que já foi.

'Estas diversas imagens   perceptivas, evocadas a partir do passada

real, e evpcadas a partirde planos para o futuro   säo construçöes do cé 

rebro do nosso, organisme. Tudo o que se pode saber ao certo é que sao

,reais para nos proprio,s e que há outros seres que constroem imagens do

mesmo tipo. Partilhamos com outros seres humanos, e até com alguns

animais, as imagens em que se apoia o nosso concerto clo mundo; existe

uma consistência notável nas construçöes,que diferentes individuos

elaboram'rel,ativas aos aspectos essenciais do ambiente (texiuras, sons,

f ormas, cores, espaço). Se os nossos organismos fossem desenhados de

maneiras diferentes, as construçöes que nós fazemos do mundo que nos

rodeia seriam igualmente diferentes. Näo sabemos, e é improvável que al 

guma vez venhamos a saber, o que é a realidade «absoluta».

Como é que conseguimos criar estas maravilhosas construçöes? Elas

parecem ser engenáradas por uma maquinaria neural complexe de per 

cepçäo, memorla e raciocinio. A construçäo é por vezes regulada pelo

mundo exterior ao cérebro, isto é, pelo mundo que está dentro do nosso

corpo ou à volta dele, com uma pequena ajuda da memória do passada.

É isto que se passa quando geramos imagens perceptivas. Outras vezes,

a construçäo é inteiramente dirigida pelo interior do nosso cérebro, pelo

nosso doce e silencioso processo de pensamento, de cima para baixo. É o

que se passa, por exemplo, quando evocamos a nossa melodia favorita ou

recordamos cenas visuais com os olhos fechados, quer as cenas sejam uma

reposiçäo de um aconteciinento real ou fruto da nossa imagmaçäo.

Porém, a actividade neural que está mais intimamente relacionada

com as imagens que experienciamos ocorre nos córtices sensoriais iniciais

e näo nas outras regiöes. A actividade nos côrtices sensoriais iniciais, quer

seja desencadeada pela percepçäo ou pela evocaçäo de recordaçöes, é um

resultado, por assim dizer, de processos complexes que operam insi 

diosamente em numerosas regiöes do córtex cerebral e dos núcleos de

neuronios que se encontram abaixo do córtex, nos gänglios basais, no
Forum d. Ciê@@cia 29   8

114 O ERRO DE DESCARTES


tronco cerebral e noutros sitios. Ern suma: as imagens säo baseadas directa 

mente nas representaçöes neurais, eapenas nessas, que ocorrem nos cortices sen 

soriais iniciais e säo topograficamente organizadas. Mas säo formadas ou

sob o controlo de receptores sensoriais que estäo orientados para o ex 

terior do cérebro (isto é, a retina) ou sob o controlo de representaçöes

disposicionais (disposiçöes) contidas no interior do cérebro, em regiöes

corticais e núcleos subcorticais.

Formaçäo de imagens perceptivas

Como é que se formam as imagens quando se apercebe de al 

go no mundo exterior, como por exemplo uma paisagem, ou no

corpo, como por exemplo uma dor no cotovelo direito? Em am 

bos os casos, existe um primeiro passo que é necessário mas näo

suficiente: os sinais emitidos pelo sector do corpo em questäo

(olho e retina, no primeiro caso; terminaçöes nervosas da arti 

culaçäo do cotovelo, no segundo) säo transportados por neu 

rónios, ao longo dos seus axónios e através de várias sinapses

electroquimicas, para o cérebro. Os sinais säo recebidos pelos

cortices sensoriais iniciais*. Para os sinais vindos da retina, a re 

cepçäo acontecerá nos cortices visuais iniciais, localizados na

parte posterior do cérebro, no lobo occipital. Para os sinais vin 

dos da articulaçäo do cotovelo, a recepçäo acontecerá nos cór 

tices somatossensoriais iniciais, nas regiöes parietal e insular,

que säo o sector cerebral que se encontra danificado na ano 

sognosia. É de salientar, novamente, que näo se trata de um cen 

tro, mas de um coiijunto de áreas. Cada uma das áreas que fazem

parte do conjunto é complexe e a rede de interconexöes forma 

da por ela é ainda mais complexe.

O funcionamento da maquinaria perceptiva dentro desses cortices iniciais

começa agora a ser cornpreendido. Os estudos do sistema visual, acerca do qual

uma grande quantidade de dados neuroanatámicos, neurofisiológicos e psicofí 

sicos têm vindo a ser reunidos, estäo a abrir o caminho para esssa compreensäo,

mas existe ainda uma profusäo de outras novas descobertas sobre os sistemas so 

matossensorial e auditivo. Todos estes cortices iniciais formam uma aliança dinâ 

mica, e as representaçöes topograficamente organizadas que eles geram mudam

constantemente com o tipo e a quantidade de inforrnaçäo de entrada, como tem

sido demonstrado pelo trabalho de vários investigadores'.


O ELABORAR DE UMA EXPLICAÇAO 115


As representaçöes topograficamente organizadas resultam

näo de uma dessas áreas mas da sua interacçäo concertada. Näo

existe nada de frenológico nesta ideia.
Quando todos ou a maioria dos côrtices sensoriais iniciais de

uma dada modalidade sensorial säo destruidos, a capacidade

para formar imagens nessa modalidade desaparece. Os doentes

que estäo privados de côrtices visuais iniciais näo säo capazes

de ver grande coisa. (Nestes doentes algumas capacidades

sensoriais residuais säo preservadas, provavelmente porque as

estruturas corticais e subcorticais relacionadas com a modali 

dade sensorial estäo intactas. Após uma destruiçäo extensa dos

cOrtices visuais iniciais, alguns doentes conseguem apontar

para focos de luz que confessam näo verem; eles têm o que é

conhecida por «visäo cega». Os cortices parietais, os coliculos

superiores e o tálamo säo apenas algumas das estruturas pos 

sivelmente envolvidos nestes processos.) A deficiência percep 

tiva pode ser especffica. Após a lesäo de um dos subsistemas

contidos nos côrtices visuais iniciais, por exemplo, pode se per 

der a capacidade de ver cor; esta perda pode ser completa ou täo

diminufda que os doentes apercebem se das cores como se es 

tas estivessem desvanecidas. Os doentes que säo afectados por

esta anomalia vêem a forma, o movimento e a profundidade,

mas näo a cor. Neste estado, a acromatopsia, os doentes cons 

troem um universo em tons de cinzento.
Embora os côrtices sensoriais iniciais e as representaçöes

topograficamente organizadas que estes formam sejam ne 

cessários para a ocorrência de imagens na consciência, eles näo

parecem, contudo, ser suficientes. Por outras palavras, se os

nossos cérebros apenas gerassem boas representaçöes topo 

graficamente organizadas e nada mais fizessem com essas

representaçöes, duvido que alguma vez pudéssemos estar

conscientes da sua existência como imagens. Como é que sa 

berfamos que elas säo as nossas imagens? A subjectividade, o

elemento chave da consciência, estaria ausente nesse desigil do

cérebro. Há outras condiçöes que têm de se concretizar também.

Essas representaçöes neurais têm de ser correlacionadas de

forma essencial com aquelas que, de momento a momento,

constituera a base neural para a construçäo do sel@.


Self é um eu sem linguagem. Optou se por manter a palavra inglesa, a fim

de näo se confundir com 1 (eu). (N. da T.)


116 O ERRO DE DESCARTES


Voltarei a este assunto nos Capítulos Sete e Dez, mas devo

dizer, neste ponto, que o selfnäo é o mal afamado homúnculo,


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