De descartes



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anterior é assinalada à amigdala e ao cingulo anterior. As

disposiçöes nestas últimas regiöes respondem (a) activando

os núcleos do sistema nervoso autónomo e enviando os

sinais ao corpo através dos nervos periféricos, com o resultado

de que as visceras säo colocadas no estado mais tipicamente

associado ao tipo de situaçäo desencadeadora; (b) enviando

sinais ao sistema motor de modo a que a musculatura esque 

lética complete o quadro externo de uma emoçäo através de

expressöes faciais e posturas corporais; (c) activando os sis 

temas endócrino e peptídico, cujas acçöes quimicas resultam

em mudanças nos estado do corpo e do cérebro; e, por

último, (d) activando, com padröes especiais, os núcleos

neurotransmissores näo especificos no tronco cerebral e pro 

sencéfalo basal, os quais libertam entäo as suas mensagens

quimicas em diversas regiöes do telencéfalo (e. g., gänglios

basais e córtex cerebral). Esta colecçäo aparentemente

exaustiva de acçöes é uma resposta massiva com múltiplos

aspectos. Destina se a todo o organisme e, numa pessoa sau 

dável, é um prodígio de coordenaçäo.


As mudanças causados por (a), (b) e (c) afectam o organisme, causam

um «estado emocional do corpo» e säo posteriormente repi esentadas nos

sistemas limbico e somatossensorial. As mudanças causados por (d), que

näo ocorrem no corpo propriamente dito, mas antes num grupo de estru 

turas do tronco cerebral relacionado com a regulaçäo do corpo, têm um

impacte muito importante no estilo e eficiência dos processos cognitivos

e constituera uma via paralela para a resposta emocional. Os diferentes

efeitos de (a), (b) e (c), por um lado, e de (d), por outro, tornar se äo mais

claros quando abordarmos os sentimentos (ver mais adiante).

Deve ser já evidente que o processamento emocional que se encontra

diminuido em doentes com lesöes pré frontais é do tipo secundário. Es 

tes doentes näo conseguem gerar emoçöes relativas às imagens evocadas


EMOÇOES E SENTIMENTOS 153


por determinados categorias de situaçöes e estimulos, nâ@odendo, por

isso, ter o subsequente sentimento. A confirma lo estäo as observaçöes

clinicas e os testes especiais descritos no Capitulo Nove. No entanto, es 

ses mesmos doentes pré írontais podem sentir emoçöes primárias e, por

esse motivo, o seu lado afectivo pode, à primera vista, parecer intacto

(revelariam medo se alguem lhes gritasse inesperadamente ou se as suas

casas abanassem durante um tremor de terra). Ao invés, os doentes com

lesöes no sistema limbico, na amigdala ou no cingulo anterior registam

habitualmente uma diminuiçäo tanto das emoçöes primárias como das

secundárias, pelo que se encontram manifestamente mais limitados na

sua afectividade.

A natureza, com o seu maneirismo remendäo económico, näo selec 

cionou mecanismos independentes para exprimir emoçöes primárias e

secundárias. Limitou se simplesmente a permitir que as emoçöes secun 

dárias se exprimissem através do veiculo já preparado para as emoçöes

primárias.

Eu vejo a essência da emoçäo como a colecçäo de mudanças no estado

do corpo que säo induzidas numa infinidade de órgäos através das ter 

minaçöes das células nervosas sob o controlo de um sistema cerebral de 

dicado, o qual responde ao conteúdo dos pensamentos relativos a uma

determinada entidade ou acontecimento. Muitas das alteraçöes do esta 

do do corpo   ao nivel da cor da pele, postura corporal e expressäo facial,

por exemplo   säo efectivamente perceptiveis para um observador

externo. (Com efeito, a etimologia da palavra sugere correctamente uma

direcçäo externa a partir do corpo: emoçäo significa literalmente @

mento para fora».) Existera outras alteraçöes do estado do corpo que so

säo perceptiveis pelo dono do corpo em que ocorrem. Mas as emoçöes vao

além da sua essência.

Em conclusäo, a emoçäo é a combinaçäo de um processo avaliatôrio men 

tal, simples ou complexe, com respostas disposicionais a esseprocesso, na sua

maioria dirigidos ao corpopropriame.nte dito, resultandonum estado emocio 

nal do corpo, mas também dirigidos ao prôprio cérebro (núcleos neuro 

transmissores no tronco cerebral), resultando em alteraçöes mentais

adicionais. Repare que, de momento, estou a deixar de fora da emoçäo a

percepçäo de todas as mudanças que constituera a resposta emocional.

Como irá descobrir em breve, reservo o termo sentimento para a experiên 

cia dessas mudanças.

154 O ERRO DE DESCARTES


A especificidade do mecanismo

neural subjacente às emoçöes

A especificidade dos sistemas neurais dedicados à emoçäo

tem sido estabelecida a partir de estudos sobre lesöes cerebrais

especificas. Na minha perspective, as lesöes do sistema limbico

lirnitam o processamento das emoçöes primarlas; as lesöes nos

cortices pré frontais limitam o processamento das emoçöes se 

cundárias. Roger Sperry e os seus colaboradores, entre os quais

se destacam Joseph Bogen, Michael Gazzaniga, Jerre Levy e

Eran Zaidel, estabeleceram uma intrigante correlaçäo neural

para as emoçöes humanas: as estruturas no hemisíério cerebral

direito registam um envolvimento preferencial no processa 

mento básico da emoçäo". Outros investigadores, designada 

mente Howard Garáner, Kenneth Heilrnan,joan Borod, Richard

Davidson e Guido Gainotti, aduziram novas provas significati 

vas a favor da dominäncia do hemisfério direito na emoçäoll. A

investigaçäo em curso no meu labqratório sustenta normal 

mente a ideia da assúnetria no processo e. notivo, mas refere

também que as assimetrias näo se reportam de igual modo a

todas as emoçöes.

O grau de especificidade neural dos sistemas dedicados à

emoçäo pode ser avaliado através das limitaçöes da sua expres 

säo em casos neurológicos. Quando urn acidente vascular cere 

bral destrói o córtex motor no hemisfério esquerdo do cérebro

e, consequentemente, o doente sofre uma paralisia facial direita,

os músculos näo funcionam e a boca tende a ser puxada para o

lado que se move. Se pedirmos ao doente que abra a boca e mos 

tre os dentes, isso apenas aumentará a assimetria. No entanto,

quando o doente sorri ou solta uma gargalhada espontanea 

mente em reacçäo a um comentário jocoso, o que sucede é bem

diferente: o sorriso é normal, ambos os lados do rosto se movem

correctamente e a expressäo é natural, nada diferente do sorriso

habitual desse individus antes da paralisia. Isto ilustra o facto

de o controlo motor de uma sequência de movimentos rela 

cionados com a emoçäo näo se situar no mesmo local que o con 

trolo de um acto voluntário. O movimento relacionado com a

emoçäo é desencadeado noutra zona do cérebro, ainda que o

palco do movimento, o rosto e a sua musculatura, seja o mesmo

(Ver Figura 7.3).

Se estudarmos um doente em que um acidente vascular


EMOÇOESESENTIMENTOS 155


cerebral afectou O cingulo anterior no hen iisfério esquerdo,

veremos precisamente o contrário. Em repouso ou em movi 

mentos relacionados com a emoçäo, o rosto é assimétrico, com

menor mobilidade do lado direito do que do lado esquerdo.

Mas se o doente tentar contrair intencionalrnente os músculos

faciais, os movimentos säo normais e a simetria regressa. O mo 

vimento relacionado com a emoçäo é, pois, controlada a partir

da regiäo do cingulo anterior, de outros cortices limbicos (na fa 

ce intema do lóbulo temporal) e dos gänglios basais, regiöes em

que lesäo ou disfunçäo däo origem à chamada paralisia facial

inversa ou emocioiial.

Figura 7.3   O inecaiiistiio neural para o controlo da ilitiscillatlirafacial izo «z@erda 

deiro» sorriso duma sittiaçäo emocional (painéis superiores) é diferente do mecanisillo pa 

ra o controlo voluntário (näo emocional) da mesma mtisciilattira (painéis itiferiores). O

sorriso verdadeiro é controlada a partir dos cortices limbicos e iitiliza provavelmente os

gänglios basais na sua expressio.


O meu mentor, Norman Geschwind, o neurologista de Har 

vard cujo trabalho estabeleceu a ponte entre as épocas clássica

e moderna da investigaçäo do cérebro e da mente dos seres

humanos, gostava muito de referir que a razäo da nossa dificul 

dade em sorrirmos naturalmente para os fotógrafos (a situaçäo

156 O ERRO DE DESCARTES


do «olha o passarinho!») reside no facto de nos pedirem para

controlarmos voluntariamente OS mûsculos faciais usando o

córtex motor e o seu feixe piramidal. (O feixe piramidal é O con 

junto massive de axónios que começa no córtex motor primário,

área 4 de Brodmann, e leva impulsos nervosas aos núcleos do

tronco cerebral e da espinal medula que controlam o movi 

mento voluntário através dos nervos periféricos.) Produzúnos

entäo, como Geschwind gostava de lhe chamar, um «sorriso pi 

ramidal». Näo é fácil imitarmos aquilo que o cingulo anterior

consegue sem qualquer esforço; näo possuimos nenhuma via

anatómica que exerça facilmente o controlo volitivo sobre o

cingulo anterior. Para conseguir o sorriso «natura» temos duas

opçöes: aprender a representar ou pedir que nos contem uma

boa anedota. A carrera dos actores e dos politicos depende

deste arranjo irritante e incómodo da neurofisiologia.

Há muito que os actores profissionais conhecem este pro 

blema e têm desenvolvido diferentes técnicas de representaçäo.

Algumas dessas técnicas, bem exemplificadas por Laurence

Olivier, assentam na criaçäo habilidosa, sob controlo volitivo,

de um conjunto de movimentos que sugerem emoçäo de uma

forma credivel. A partir do conhecimento pormenorizado de

como as emoçöes (as suas expressöes) säo vistas por um obser 

vador externo e da recordaçäo do que normalmente se sente

quando têm lugar essas alteraçöes exteriores, os grandes acto 

res dessa tradiçäo simulam na com grande determinaçäo. O

facto de poucos conseguirem triunfar é um sinal dos obstáculos

que a fisiologia do cérebro lhes coloca.

Uma outra técnica, exemplificada através do «Método» de

representaçäo de Lee Strasberg Elia Kazan (inspirado na obra

de Konstantin Stanislavsky), baseia se na criaçäo real das emo 

çöes por parte dos actores, dando origem a uma situaçäo real em

vez da sua simulaçäo. Isto poderá afiguram se mais convincente

e cativante, mas requer talento e maturidade especiais para re 

frear os processos automatizados desencadeados pela emoçäo

verdadeira.
A diferença entre as expressöes faciais das emoçöes autênti 

cas e das emoçöes simuladas foi notada pela primera vez por

Chartes Darwin em A Expressäo das Emoçi5es no Homem e nos

Animais, publicado em 1872". Darwin tinha conhecimento das

observaçöes efectuadas na década anterior por Guillaume Ben 

jarnin Duchenne sobre a musculatura interveniente no sorriso e


EMOÇOES E SENTIMENTOS 157


sobre o tipo de controlo necessário à movimentaçäo dessa mus 

culatura". Duchenne tinha estabelecida que o sorriso de alegria

verdadeira requeria a contracçäo involuntária e conjugada de

dois músculos, o grande zigomato e o orbicularis oculi (Ver

Figura 7.4). Tinha também descoberto que este último músculo

sá se podia mover involuntariamente; era impossivel activa lo

propositadamente. Os activadores involuntários do músculo

orbicularis oculi, como explicou Duchenne, eram «as doces

emoçöes da alma». Quanto ao grande zigomato, este pode ser

activado tanto involuntariamente como por nossa vontade, e

constitui deste modo o caminho indicado para os sorrisos de

cortesia.

apenas controlo

näo consciente

músculos

orbicularis


músculo

zigomato


controlo consciente

e näo consciente

Figura 7.4   O controlo consciente e näo consciente da musctilaturafacial.

SENTIMENTOS

O que é um sentimento? O que me leva a näo usar indistintamente os

termos «emoçäo» e «sentimento»? Uma das razöes encontra se no facto

de, apesar de alguns sentimentos estarem relacionados com as emoçöes,

existera muitas que näo estäo: todas as emoçöes originam sentimentos, se

se estiver desperto e atento, mas nem todos os sentimentos provêm de

emoçöes. Chamo sentimento de fundo (background) a estes últimos que

n~ao têm origem nas emoçöes e de que falarei mais adiante.

158 O ERRO DE DESCARTES


Vou começar por considerar os sentimen tos de emoçöes e para isso tenho

de retomar o exemplo anterior de estado emocional. Todas as alteraçöes

que um observador externo pode identificar, e muitas outras que esse ob 

servador näo pode identificar, tal como a aceleraçäo dos batimentos car 

diacos ou uma contracçäo do intestine, foram percebidas interiormente

por si. Todas estas alteraçöes estäo constantemente a ser representadas ao

seu cérebro através das terminaçöes nervosas que lhe levam os impulsos

da pele, dos vasos sanguineos, das visceras, dos músculos volunta'rios,

das articulaçöes, etc. Em termos neurais, a etapa de regresso desta viagem

depende dos circuitos que têm origem na cabeça, pescoço, tronco e

membros, passam pela espinal medula e pelo tronco cerebral em direcçäo

à formaçäo reticular (um conjunto de núcleos do tronco cerebral in 

tervenientes, entre outras funçöes, no controlo da vigilia e do sono) e ao

tálamo, e viajam até ao hipotálamo, às estruturas limbicas e aos vários

cortices somatossensoriais colocados nas regiöes insular e parietal. Estes

últimos, em particular, recebem um relato do que está a acontecer no seu

organisme em cada momento que passa, o que significa que obtêm uma

«imagem» da paisagem do seu corpo no decurso de uma emoçäo, a qual

se encontra em incessante mutaçäo. Se recordar a imagem da cama de

água em movimento, poderá conceber essa imagem como uma sinali 

zaçäo constante das muitas alteraçöes locais na cama   os movirnentos

ascendentes e descendentes a que é submetida quando uma pessoa ca 

minha sobre ela. Nos cortices cerebrais que recebem a todo o momento

esses sinais, verifica se um padräo de actividade neural em constante

mutaçäo. Näo há nada de estático, nenhuma linha de base, nenhum

homenzinho   o homúnculo   sentado dentro do cérebro como uma es 

tátua, recebendo sinais da parte correspondente do corpo. Regista se, em

vez disso, uma mudança incessante. Alguns dos padröes estäo organiza 

dos de forma topográfica, outros näo tanto, näo constando de um único

mapa, de um só centro. Existera muitos mapas, coordenados por cone 

xöes neuronais mutuamente interactivas. (Qualquer que seja a metáfora

que se use para ilustrar este aspecto, é importante apercebermo nos de

que as representaçöes do corpo reais näo ocorrem num mapa cortical ri 

gido, como os tradicionais diagramas do cérebro hu@nano nos levaram a

supor erradamente. Manifestam se através de uma representaçäo di 

nâmica, constantemente renovada em instanciaçöes novas e de acesso

imediato (on line) do que está a suceder no corpo em cada momento. O

seu valor reside nessa actualizaçäo e acessibilidade imediata täo bem de 

monstrados na obra de Michael Merzenich anteriormente referida.)

Para além da «viagem neural» do seu estado emocional até ao cérebro,

o seu organisme também fez uma «viagem quirnica» paralela. As hor 

EMOÇOES E SENTIMENTOS 159


monas e os péptidos libertados no seu corpo durante a emoçäo alcançam

o cérebro através da corrente sanguinea e penetram nele activamente

através da chamada barrera sangue cérebro ou, ainda mais facilmente,

através das regiöes cerebrais destituídas dessa barrera (por exemplo, a

area postrema) ou que possuem mecanismos de comunicaçäo com diver 

sas partes do cérebro (por exemplo, o órgäo sub fornical). Näo só pode o

cérebro construir, em alguns dos seus sistemas, uma imagem neural múl 

tipla da paisagem do corpo, como a construçäo dessa imagem, bem como

a sua utilizaçäo, podem ser também influenciadas directamente pelo

corpo (pensemos na oxitocina referida no Capitulo Seis). Näo é apenas

um conjunto de sinais neurais que confere ao organisme o seu carácter

num dado momento, mas também um conjunto de sinais quimicos que

alteram o modo como os sinais neurais säo processados. Esta é, sem dú 

vida, a razäo por que determinados substänclas quimicas têm desempe 

nhado uma funçäo importante em tantas culturas. O problema da droga

que a nossa sociedade enfrenta hoje em dia   e reíiro me tanto às drogas

ilegais como às legais   näo pode ser resolvido sem a profunda com 

preensäo dos mecanismos neurais a que me estou a referir aqui.

A medida que as alteraçöes no seu corpo väo tendo lugar, fica a saber

da sua existência e pode acompanhar continuamente a sua evoluçäo.

Apercebe se de mudanças no seu estado corporal e segue o seu desenro 

lar durante segundos ou minutes. Este processo de acompanhamento

contínuo, esta experiência do que o corpo está a fazer enquanto pensamen 

tos sobre conteúdos especificos continuam a desenrolar se, é a essência

daquilo a que chamo um sentimento (Figura 7.5). Se uma emoçäo é um

conjunto das alteraçöes no estado do corpo associadas a certas imagens

mentais que activaram um sistema cerebral especiíico, a essência do sentir

de uma emoçäo é a experiência dessas alteraç(5es em justaposiçäo com as imagens

mentais que iniciaram o ciclo. Por outras palavras, um sentimento depende

da justaposiçäo de uma imagem do corpo propriamente dito com uma

iinagem de alguma outra coisa, tal como a imagem visual de um rosto ou

a imagem auditiva de uma melodia. O substrato de um sentimento com 

pleta se com as alteraçöes nos processos cognitivos que säo induzidos em

simultäneo por substäncias neuroquimicas (por exemplo, pelos neuro 

transmissores numa série de pontos neurais, em resultado da activaçäo

dos núcleos neurotransmissores que faziam parte da resposta emocional

iniciar)*.
* As definiçöes de «emoçäo» e «sentimento» aqui apresentadas näo säo orto 

doxas. Outros autores usam estas mesmas palavras indistintamente. O termo

«sentimento» pode nem sequer ser usado, ou o termo «emoçäo,@ ser dividido

numa componente e numa componente experienciada. O uso sistemático dos

termos diferentes que proponho pode ajudar o avanço da futura investigaçäo

destes fenómenos.


160 O ERRO DE DESCARTES

Figura 7.5   Para

se sentir uma emoçiio é

necessário,masnäosu 

ficiente, que os sinais

neurais das visceras, dos

músculos e articzilaçöes

e dos núcleos neuro 

transmissores   todos

eles activados durante o

processo da emoçäo

atinjam determinados

núcleos subcorticais e o

córtex cerebral. Os sinais

endócrinos e outros de

natureza quimica che 

gam também ao sistema

nervoso central através

da corrente sangtti'nea,

entre outras vias.
sinais dos núcleos

 neurotransmissores


sinais sinais dos músculos

das visceras e articulaçöes


sinais endócrinos

e outros


Neste ponto, devo apresentar duas clarificaçöes. A primera diz res 

peito à noçäo de «justaposiçäo» que ocorre na definiçäo anterior. Escolhi

este termo porque penso que a imagem do corpo propriamente dito surge

apés a imagem desse «algo mais» que se formou e se manteve activo e que

estas duas imagens se mantêm separados, em termos neurais, tal conio su 

geri na secçäo sobre as imagens no Capitulo Cinco. Por outras palavras,

verifica se uma «combinaçäo» em vez de uma

adequado usar o termo sobreposiçäo em relaçäo ao que parece suceder às

imagens do corpo propriamente dito e esse tal «algo mais» na nossa ex 

periência integrada.

A ideia de que o «qualificado» (um rosto) e o «qualificador» (o estado

corporaljustaposto) se combinam mas näo misturam ajuda a explicar a ra 

zäo por que é possivel sentirmo nos deprimidos quando pensamos em

pessoas ou situaçöes que de modo algum significam tristeza ou perda, ou

nos sentimos animados sem qualquer razäo imediata que o explique. Os

estudos qualificadores podem ser súbitos e, por vezes, mesmo indesej'a' 

veis. A sua motivaçäo psicológica pode näo ser aparente e até näo existir,

surgindo o processo de uma alteraçäo fisiológica neutra em ter mos psi 

cológicos. Em termos neurobiolôgicos, porém, os qualificadores inexpli 

cáveis revelam a relativa autonomia da maquinaria neural subjacente às

emoçöes. Mas lembram nos também a existência de um vasto dominio de

EMOÇOES E SENTIMENTOS 161


processos näo conscientes, parte dos quais é susceptivel de explicaçäo psi 

cológica e outra parte näo.

A essência da tristeza ou da felicidade é a percepçäo combinada de

determinados estudos corporais e de pensamentos a que estejam justa 

postos, complementados por uma alteraçäo no estilo e na eficiência do

processo de pensamento. Em geral, e porque tanto o sinal do estado do

corpo (positive ou negativo), como o estilo e a eficiência do conhecimento

foram accionados pelo mesmo sistema, estas componentes tendem a ser

concordantes (apesarde a concordäncia entre a informaçäo sobre o estado

corporal e o estilo cognitivo poder desaparecer tanto em estudos normais

como em estudos patológicos). Em conjunçäo com os estudos corporais

negativos, a criaçäo de imagens é lenta, a sua diversidade é pequena e o

raciocinio ineficaz; em conjunçäo com os estudos corporais positivos, a

criaçäo de imagens é rápida, a sua diversidade é alargada e o raciocinio

pode ser rápido, embora näo necessariamente eficiente. Quando os

estudos corporais negativos se repetem com frequência, ou quando se

verifica um estado corporal negativo persistente, como sucede numa de 

pressäo, aumenta a proporçäo de pensamentos susceptiveis de serem as 

sociados às situaçöes negativas, e o estilo e a eficiência do raciocinio säo

afectados. A euforia persistente dos estudos maniacos produz o resultado

contrário. William Styron apresentou em Escliridäo Visivel, que é a re 

cordaçäo da sua depressäo, descriçöes muito concretas desse estado.

Fala nos da sua essência como uma sensaçäo atormentadora de dor «[ ... ]

intimamente ligada ao afogamento ou à sufocaçäo   mas mesmo estas

imagens ficam aquém duma boa descriçäo». E näo deixa de apresentar a

descriçäo do estado paralelo dos seus processos cognitivos: «O pensa 

mento racional encontrava se normalmente ausente da minha mente

nessas ocasiöes, dai o transe. Näo me ocorre uma palavra mais adequada


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