História Revisada pelas Revisoras da Romances Sobrenaturais



Yüklə 0,85 Mb.
səhifə10/17
tarix06.09.2018
ölçüsü0,85 Mb.
#77766
1   ...   6   7   8   9   10   11   12   13   ...   17

Eu fiz certo, Allegra? — O menino de cinco anos sentou-se na terra, enquanto a mulher a seu lado virou-se para examinar seu trabalho.

— Oh, sim. Você tem certeza de que nunca trabalhou numa horta ou jardim antes?

Hamish avistou o pai e levantou-se, o rosto corado em seu entusiasmo.

— Veja! Allegra está me deixando ajudá-la a plantar suas ervas.

— Estou vendo.

Ela se levantou, sacudindo as saias, evitando os olhos dele.

— Achei que, depois que eu partir, uma horta de ervas seria útil ao castelo.

Partir. A palavra teve um efeito estranho sobre o coração de Merrick. Recusou-se a se permitir a pensar no inevitável.

— Allegra está me ensinando o nome de todas as plantas e para que servem. — Hamish sacudiu distraidamente a sujeira de suas mãos. — Já plantamos alfavaca, tomilho, estragão e... e rosmaninhos. Tão logo consigamos encontrar mudas adequadas, ela disse que acrescentaremos arruda, camomila e hortelã. Ah, e também uma planta que disse que é muito importante. Mand...Mand... — Ele franziu o cenho, enquanto tentava se lembrar do nome.

— Mandrágora — auxiliou-o Allegra, com um sorriso.

Merrick virou-se para fitá-la, esforçando-se para não deixar transparecer nenhuma emoção em sua voz.

— E como pretende impedir que os bichos da floresta comam suas tenras plantas?

— Quando tivermos terminado de plantar as mudas, farei uma cerca trançada com gravetos e galhos de árvore verdes — explicou ela. — Isso deverá manter os bichos afastados.

Merrick não pôde deixar de lhe admirar o lado eficiente e prático.

— Parece que você pensou em tudo.

Ficou fascinado por um vestígio de terra no rosto dela. Perguntou-se como Allegra reagiria caso se inclinasse para removê-lo com a ponta de seus dedos. Por outro lado, a verdade era que não confiava na pópria capacidade de se conter caso a tocasse. Daquele modo, cerrou os punhos ao longo do corpo.

— Por que não pediu a ajuda de alguns criados?

Allegra sacudiu a cabeça.

— Isso não teria sido justo para com a sra. MacDonald. Ela precisa da ajuda de todos no castelo. Além do mais, gosto de trabalhar a terra e achei que seria bom para Hamish aprender a cuidar de suas próprias necessidades.

— Você soa como meu primeiro instrutor. Quando Mordred, Desmond e eu estávamos sendo treinados, fomos ensinados que um guerreiro deve ser capaz de não apenas prover suas próprias necessidade, mas também as dos homens que lidera. E, desse modo, cada um de nós foi levado para uma parte da floresta e recebeu instruções para caçar para comer, preparar a caça para o consumo e encontrar um lugar seguro para dormir, só retornando dali a quinze dias, ou como líderes, ou como seguidores.

— O que você fez, pai? — perguntou Hamish, interessado.

Merrick abriu um sorriso para o filho.

— Eu cavei um buraco e fiz uma fogueira e, depois, saí à procura de caça, matando um cervo com minha faca. Enquanto ele assava sobre o fogo, fui pocurar Desmond, temendo que ele fosse ingênuo demais para sobreviver. Encontrei-o encolhido nos galhos de uma árvore e levei-o para o meu acampamento. No dia seguinte, Mordred apareceu, depois de ter vagado pela floresta, com frio e faminto.

Allegra lançou-lhe um olhar.

— Quantos anos você tinha?

— Nove anos.

Allegra não teve tempo para esboçar reação, pois logo em seguida Hamish apanhou a mão do pai e conduziu-o ao longo das carreiras.

— Veja, pai. — Começou a recitar o nome de mais plantas e as muitas doenças que podiam curar.

Allegra seguiu-os absorta em pensamentos. Que vidas estranhamente divergentes ambos tinham levado. Enquanto ela estivera segura e complacente em seu Reino Místico, aquele homem estivera aprendendo as tarefas de um guerreiro quando ainda era um garoto. Não houvera tempo para prazeres da infância, tais como pescar num riacho, ou nadar num lago. Em vez daquilo, apendera a colocar sua vida em risco por aqueles que amava.

Quando chegaram ao fim de uma carreira, Merrick ajoelhou-se, de modo a se colocar aproximadamente na altura do filho.

— Você não acha esse trabalho entediante?

— Isso é trabalho? — Hamish pareceu genuinamente surpreso. — Allegra me disse que era divertido.

— E você acreditou nela, garoto?

— Sim. Isso foi tão divertido quanto subir em árvores.

Merrick estreitou os olhos enquanto experimentava uma ponta de culpa.

— Você sente falta de subir em árvores?

— Sim.

— E você realmente deseja subir em uma novamente?



— Sim, pai. Quando eu estiver mais forte e você me der seu consentimento.

Merrick baixou a cabeça, refletindo a respeito.

— Então eu prometo pensar sobre isso. — Sem se permitir tempo para acabar mudando de ideia, acrescentou: — Agora, o que me diz de levarmos a curandeira até o viarejo?

O menino bateu palmas empolgado.

— Na carroça?

— Se você quiser.

— Oh, sim. — Hamish olhou para si mesmo e, depois para o vestido sujo de terra de Allegra. — Mas teremos de nos lavar.

— Com certeza. Não creio que iriam querer que o vilarejo inteiro vissem vocês dois parecendo mendigos.

— Venha Allegra! — Hamish apanhou a mão dela. — Vamos depressa nos lavar para que eu possa mostrar a você o vilarejo de Berkshire.

Enquanto Allegra caminhava depressa ao lado do menino, podia sentir Merrick observando e ficou surpresa com o arrepio que percorreu sua espinha. Imediatamente, afastou a sensação. Não era causada pelo homem. Afinal, desde aquela noite que ele ordenara que se retirasse de sua presença, Merrick se mantivera praticamente isolado em seus aposentos, recusando-se a se reunir a eles até para as refeições.

Não, não era o homem que lhe causava aquela súbita euforia. Era apenas a ideia de que teria chance de conhecer algo do mundo dele antes de retornar para o seu.

— Bem, vocês certamente parecem melhor do que quando os vi pela última vez. — Merrick sorriu quando o filho desceu alegremente os degraus do castelo em direção à carroça que já estava à espera. Talvez tivesse sido um erro preocupar-se com o menino. Parecia bem disposto, saudável e havia uma boa cor em suas faces.

— Venha sentar-se aqui — disse, enquanto erguia Hamish até o banco de madeira.

Virou-se para Allegra, que estava ocupada colocando um xale em torno dos ombros. Antes que ela pudesse levantar os olhos, ele a segurou em seus braços, erguendo-a até o assento.

Vendo-lhe o rubor no rosto bonito, não pôde resistir e inclinou-se para lhe sussurar no ouvido:

— Você é leve como uma pluma, milady. E embora eu deteste admitir, é boa a sensação de segurá-la em meus braços.

Aquela atitude tranquila, quase descontraída era tão atípica nele que Allegra não conseguiu encontrar resposta. Estava se acomodando no banco de madeira quando Merrick sentou-se a seu lado.

Hamish sorriu contente.

— Você mesmo vai guiar a carroça, pai, em vez de seguir no seu cavalo ao lado?

— Sim. Que necessidade temos de um lacaio? — Merrick aceitou as rédeas das mãos de um jovem cavalariço e sacudiu-as. O cavalo começou a andar, conduzindo a carroça pelo caminho sinuoso que levava ao vilarejo.

Hamish virou-se para Allegra.

Meu pai disse que, quando eu for maior, ele me deixará segurar as rédeas.

— Não será ótimo? — Ela passou o braço em torno do menino. — Mas não será o bastante. Tão logo você tenha idade suficiente para isso, vai querer ser ainda maior para poder fazer mais coisas de adultos.

— Sim. Como aprender a usar uma espada e ir lutar contra os invasores.

Diante das palavras, Merrick lançou um olhar velado ao menino, seu tom contrariado:

— Não tenha tanta pressa em crescer, garoto.

— Você não teve, pai?

Ele meneou a cabeça.

— Sim, tive. Mas os tempos eram outros. Depois de ter perdido meu pai numa batalha, eu quis mais do que nunca ser capaz de defender minha mãe. Eu teria dado a minha vida de bom grado para mantê-la a salvo.

Allegra sentiu uma onda de ternura pelo homem sentado a seu lado.

— Quando eu tinha nove anos de idade minha vida era tão serena. Minha maior preocupação era se minha horta sobreviveria a uma tempestade.

Merrick lançou-lhe um olhar.

— E sobreviveu?

Ela sentiu uma onda de calor por causa daquele olhar interessado e ficou ciente da coxa forte em contato com a sua sobre o assento. Embora mantivesse os ombros tensos, os dele roçavam nos seus quando manuseava as rédeas. Com cada toque podia sentir o calor que passava entre ambos.

— Sim minha horta floresceu, e meus dias mantiveram-se simples e despreocupados.

— Então talvez sua mãe tenha agido com sabedoria quando levou você e suas irmãs para o Reino Místico. Pois nossas vidas aqui nas Terras Altas têm sido marcadas por guerras.

— Você me faz sentir culpada por minha vida de paz, milorde.

Ele cobriu-lhe a mão com a sua.

— Jamais é minha intenção fazer você se sentir culpada do que quer que seja, Allegra.

Talvez fosse o toque de Merrick, ou o tom de sua voz. Talvez fosse o fato de tê-la chamado pelo primeiro nome. Qualquer que fosse a razão, ela sentiu o coração descompassado, o ar parecendo quase lhe faltar de repente.

— É o tipo de vida que quero para Hamish também. É o que todo pai deseja para seu filho. O que todo homem deseja para as pessoas a quem ama.

Havia um tom tão passional na voz dele. Allegra pôde entender por que seu povo o escolhera como seu lorde. Não tinha dúvida de que Merrick MacAndrew arriscaria de bom grado sua vida pelas pessoas que estavam sob sua proteção.

Enquanto seguiam pela trilha, avistaram Modred e Desmond na distância, as espadas reluzindo sob o sol.

Allegra ergueu a mão para proteger os olhos da claridade.

— Os dois estão lutando?

Merrick soltou um riso.

— Estão apenas praticando, apefeiçoando ainda mais suas habilidades como guerreiros.

— Mas por que? Não têm o suficiente disso quando travam batalhas?

— A maioria dos guerreiros, sim. Mas é diferente quando se perde um pai para os os invasores. Nesse caso, um homem sente que deve estar sempre pronto para enfrentar o inimigo.

— Você se sente assim?

Ele deu de ombros.

— Talvez não tanto quanto meus primos. Ambos perderam não apenas o pai e a mãe, mas seu lar também.

— Mas você colocou o seu lar à disposição deles.

— Como eu poderia não tê-lo feito? O pai de ambos era irmão do meu. Eles sabem que sempe terão um lugar ao meu lado e dos meus.

Allegra continuou observando o brilho das espadas dos irmãos até que ambos saíram deseu raio de visão. Novamente, sentiu um calafrio, como se uma sombra tivesse encoberto o sol.

Ficou aliviada quando fizeram uma curva na trilha e encontraram o vilarejo de Berkshire. Adiante, podia ver grupos de pessoas na praça.

— Há tanta gente aqui.

— Sim. É dia de mercado. Quando menino, esse era sempre o meu dia favorito.

— Assim como era o meu. — Allegra abriu um sorriso cheio de reminicências. — É uma de minhas mais antigas lembranças da época anterior a nossa partida para o Reino Místico.

Merrick puxou as rédeas do cavalo, parando a carroça, e ajudou Hamish e Allegra a descerem do assento. Enquanto ela alisava as saias, um velho se aproximou para segurar-lhe a mão.

Com uma multidão de observadores olhando curiosamente uma distância segura, ele disse:

— Milady, eu tomei o chá feito com tomilho como sugeriu e minha garganta, que estivera doendo muito por mais de uma semana, foi instantaneamente curada.

Um sorriso desabrochou nos lábios rosados de Allegra.

— Fico feliz em poder ter sido de alguma ajuda ao senhor.

— Foi mais do que simples ajuda. — A voz reverente do velho atraiu o olhar de ainda mais pessoas. — Eu disse a minha esposa que é um milagre. — Curvou-se respeitosamente sobre a mão dela, a qual levou em seguida até os lábios. — Eu lhe agradeço de todo o coração, milady.

As palavras fizeram a multidão se aproximar mais, observando em silêncio.

Allegra passou o braço em torno dos ombros de Hamish enquanto seguia Merrick na direção das tendas de mercadorias, repletas de galinhas e gansos ruidosos, cordeiros, toalhas de renda e bordados, além de mesas cheias de biscoitos, doces e outras guloseimas.

Ela se aproximou de uma pequena mesa junto à qual uma velha estava sentada. Encolhida em seu xale de lã, as agulhas em sua mão moviam-se ritmadamente enquanto acabava de tricotar uma bonita túnica de criança.

A velha ergueu acabeça abruptamente.

— Você é aquela que chamam de curandeira?

Allegra parou antes de chegar à mesa, ciente de que a multidão ficara em completo silêncio.

— Sim. Sou.

— Ouvi falar sobre os seus feitos. —As mãos engelhadas cessaram seu trabalho.

Allegra aproximou-se mais, notando-lhe os olhos embaçados. Sua voz se abrandou com ternura.

— Há quanto tempo a senhora não enxerga?

— Durante minha vida inteira.

Allegra segurou as mãos engelhadas nas suas.

— É o meu maior desejo neste instante que eu pudesse realizar milagres, mas não tenho esse poder. Tudo que posso fazer é curar aquilo que está ferido, doente.

A velha cega ergueu os braços, correndo as pontas dos dedos pelo rosto de Allegra, fazendo uma pausa junto às sobrancelhas finas e arqueadas, depois movendo-se sobre as maçãs do rosto salientes até a curva do maxilar, delineando-lhe o contorno dos lábios cheios.

— Não tenho necessidade de cura, milady. Passei minha vida inteira na escuridão. Com certeza, a luz me causaria bastante dor, depois de todos esses anos.

Àquela altura, a multidão se aproximara, ávida por ouvir tudo, pois a velha era conhecida como uma sábia vidente.

A voz dela elevou-se e cortou o silêncio.

— Mas mesmo sem poder enxergar, eu sinto em você um coração que é puro, bom e intocado pelos males deste mundo.

Diante das palvras, os aldeões começaram a murmurar entre si. Pasmos, observaram a velha passando os braços em torno dos ombros de Allegra e, aproximando-a mais de si, viram que lhe sussurrou algo ao ouvido, apenas para que a jovem ouvisse.

Quando Allegra se virou, havia lágrimas em seus olhos.

Alarmado, Merrick tocou-lhe o braço.

— O que foi, milady? O que foi que essa velha encarquilhada lhe disse para causar dor?

Allegra sacudiu a cabeça.

— Não foi nada. Apenas a bondade de uma estranha. — Respirou fundo para se recompor antes de acescentar: — Acredito que essa túnica é do tamanho perfeito para Hamish. O que diz, milorde?

Merrick colocou um saco de moedas nas mãos da velha. Enquanto se inclinava para pegar a túnica, ela sussurrou-lhe:

— Milorde, a jovem é uma dádiva especial que você deve estimar. Seja cuidadoso. Procure guardá-la com grande cautela.

Depois de agradecê-la, ele se afastou um pouco, observando a maneira como agora a multidão envolvia tanto Allegra quanto o pequeno Hamish. Enquanto ambos iam de tenda em tenda, provando doces, admirando os trabalhos dos artesãos e parando para observar os gansos em seus cercados, as pessoas os rodeavam amistosamentes, trocando amenidades com ela e até ousando tocá-la enquanto passava.

A multidão foi crescendo, e Merrick avistou sua própria cozinheira e vários dos criados do castelo visitando as tendas. Numa delas, enquanto várias pessoas se reuniam em torno de Allegra, a criada Mara, sempre tão fechada, sorria enquanto entregava um doce a Hamish. O menino devorou-o de uma só vez.

Embora Merrick se obrigasse a entrar no clima festivo do dia, desfrutando-o com o filho e Allegra, cumprimentando amigos e vizinhos e até partilhando de uma caneca de cerveja com os homens do vilarejo, não conseguia tirar as palavras da velha de sua mente.

Ela o estivera incentivando a valorizar e desfrutar a dádiva, tomando cuidado para não perdê-la? A partilhar da doçura da curandeira para seu próprio prazer? Ou as palavras tinham sido um sério aviso do perigo que o rondava?

Merrick se esforçou para afastar a inquietação. Aquela velha sempre falara em forma de enigmas. Ele não dispunha de tempo, nem de paciência para desvendar o mais recente.

O sol forte atravessara o céu e agora baixara até o horizonte, lançando a terra em sombras. A um leve toque das rédeas, a carroça saíra da trilha e seguia por uma pradaria.

Allegra se virou para Merrick.

— Por que você escolheu um caminho diferente?

Ele deu de ombros

— Pensei em mostrar-lhe o máximo que eu pudesse desta região. Logo além desta pradaria encontraremos outro caminho que nos conduzirá ao castelo.

Enquanto falava, observou os vastos campos de urzes ao redor.

— Sempre adorei este lugar. É onde eu vinha brincar quando era garoto e onde, mais tarde, recebi minhas primeiras aulas sobre a destreza de um guerreiro com a espada, adaga e arco.

Allegra notou-lhe a espada na bainha e o brilho do cabo da adaga que levava na cintura.

— Você realmente precisa dessas armas apenas para visitar o vilarejo num dia de mercado?

Ele virou-se para fitá-la com ar de surpresa.

— Você acha que os invasores dão aviso antes de atacar? Olhe ao seu redor, mulher. Essas árvores poderiam estar escondendo um exército de bárbaros. Até mesmo os campos de urzes podem esconder o inimigo, deitados em meio às flores altas, à espera do momento certo. O perigo pode atacar sem o menor aviso. Pode estar oculto numa plácida pradaria, como também numa floresta das Terras Altas. O homem sensato está sempre de sobreaviso para se proteger do inimigo invisível, desconhecido.

— Pedoe-me, milorde, eu não tive intenção de... — As palavras de Allegra morreram-lhe nos lábios no instante em que Hamish caiu de encontro a ela, como se tivesse perdido os sentidos. Instintivamente, estendeu os braços até ele para segurá-lo.

— Depressa, milorde. Pare a carroça!

Ao mesmo tempo em que gritava em tom de urgência, esforçava-se para impedir que o menino caísse do assento. Precisou de toda a sua força para segurá-lo, pois, mais uma vez, Hamish deixara tudo o que era seguro e confortador e mergulhara naquele outro mundo.

CAPÍTULO 12

Merrick parou a carroça abruptamente e saltou. Contornou-a pela frente até o outro lado e tirou o menino dos braços dela. Enquanto o deitava sobre as urzes, foi obrigado a observar com uma sensação de impotência enquanto o corpo do filho era tomado por convulsões violentas.

Levantou os olhos depressa, a voz cheia de desespero.

— Ajude-o.

— Sim—. Allegra ajoelhou-se ao lado do menino e tocou-lhe as têmporas com a ponta dos dedos. Enquanto se conectava com ele, pôde sentir uma emoção sobrepujando todas as demais. O medo lhe percorria as veias como tentáculos de gelo, deixando-o com muito frio e abalado.

— O que foi? — Merrick desviou os olhos do rosto do filho para fitá-la. — O que você sente?

Ela sacudiu a cabeça.

— Hamish está com medo.

— Do que? — Merrick tocou o cabo da espada. — Se você me mostrar a coisa que o está assustando, eu a liquidarei de bom grado.

Allegra soltou um suspiro.

— Se fosse assim tão simples, milorde. Duvido que até mesmo Hamish possa dar um nome a seu medo. Algo que ele viu, ou ouviu causou um lampejo de memória —explicou com ar preocupado. — Mas apenas um lampejo. É algo que ainda não tomou forma em sua mente. Ao menos, não uma que eu possa discernir.

— Você pode ajudá-lo? Pode trazê-lo de volta outra vez? — perguntou Merrick ansiosamente.

Ela fechou os olhos, começando a se concentrar.

— Posso tentar. — Moveu os dedos sobre as têmporas do menino, descrevendo círculos vagarosamente, partilhando com ele sua força e sua calma.

Enquanto as convulsões cessaram e o corpo de Hamish aquietou-se, ela começou a entoar as palavras antigas.

Merrick apoiou-se nos calcanhares, observando e ouvindo. As palavras, que agora pareciam-lhe mais familiares, acalmavam, embora não soubesse por quê. Tudo naquela curandeira parecia ter o poder de tranquilizar. Não apenas o dom que usava tão generosamente, em benefício dos outros, a despeito do preço que tinha que pagar. Era mais fácil a aceitação dela daquelas coisas fora de seu controle. O exato fato de que estava ali, lutando por Hamish, dava-lhe alento. Se havia alguém que podia curar o menino, física e mentalmente, era aquela mulher. Ele tinha absoluta certeza daquilo.

Pareceu passar-se uma eternidade até que o ligeiro movimento sob as pálpebras fachadas do garoto anunciou um retorno daquele outro mundo. Enfim, Hamish abriu os olhos e fixou-os no pai e em Allegra com ar confuso.

— O que aconteceu? Isso foi o... desmaio de que Mordred falou?

— Não um desmaio. Foi mais como se você tivesse adormecido profundamente — explicou Allegra, sentindo que o menino precisava superar o medo do desconhecido. Um desmaio era algo mais intimidante, mas, para um menino, domir era algo normal, natural. — Você bebeu, ou comeu alguma coisa hoje que pode tê-lo enfraquecido?

— Eu tomei um pouco de leite de cabra e comi um doce ou dois com os criados.

— Consegue pensar em alguma coisa que possa tê-lo deixado com medo?

Ele sacudiu a cabeça e sentou-se com certa dificuldade.

— Não, em nada. — De repente, seu olhar foi atraído pelo grupo de ávores altas adiante. Ficou olhando fixamente para o arvoredo, como se estivesse numa espécie de transe. — Aquelas poderiam ter sido as árvores em que eu estava subindo quando caí?

Allegra arqueou uma sobrancelha e olhou na direção do arvoredo.

— Sim, poderiam. Talvez devêssemos perguntar a Mara, pedindo-lhe que nos mostrasse onde exatamente tudo aconteceu.

— E se este não for o lugar do acidente? — perguntou Merrick. — Como saberemos o que está se passando?

Allegra deu de ombros.

— Pode ter sido algo que Hamish ouviu. Uma palavra. Uma frase que desencadeou uma lembrança.

— Pense, meu filho — pediu Merrick, tocando-lhe o ombro com gentileza. — Não consegue se lembrar de absolutamente nada?

O menino parecia com medo de vasculhar demais a mente. Em vez daquilo, levantou os olhos quase suplicantes até o pai.

— Podemos ir para casa agora, por favor?

— Sim, se você estiver se sentindo forte o bastante para se sentar na carroça. —. Merrick ergueu o filho nos braços e colocou-o no assento e, então, acomodou Allegra ao lado dele.

Quando apanhou as rédeas, notou com satisfação que ela o colocara em seu colo e o aninhava junto ao coração.

Houvera outra mulher que amara o menino e o segurara carinhosamente junto a si. E agora ela estava numa sepultura.

Um calafrio percorrendo-o, Merrick tornou a se lembrar das palavras da velha cega. Fora um tolo em ignorá-las tão facilmente. Enquanto o castelo surgia no raio de sua visão, fez uma promessa solene e silenciosa a si mesmo de que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para manter a curandeira e o menino a salvo de qualquer coisa que pudesse ameaçá-los.

No pátio, Merrick entregou as rédeas do animal a um cavalariço e pegou Hamish dos braços de Allegra.

Enquanto entravam no castelo, a sra. MacDonald aproximou-se depressa. No minuto em que viu o lorde carregando o filho nos braços, levou a mão ao peito em visível consternação.

— Oh, o que aconteceu ao nosso menino? — Começou a torcer as mãos com nervosismo. — Não me diga que ele tornou a cair?

— Não, sra. MacDonald. Hamish está apenas cansado depois de um dia tão movimentado.

A velha governanta soltou um suspiro de alívio.

— A cozinheira fez biscoitos especiais com mel para quando vocês voltassem.

— Certifique-se de lhe agradecer. — Merrick começou a subir as escadas e, então, deteve-se quando uma ideia lhe ocorreu. — Em vez de nos sentarmos no salão principal para comer, nós jantaremos nos meus aposentos. — Baixou o olhar para o filho. — O que me diz garoto?

— Ficaremos sozinhos? Apenas você, Allegra e eu?

— Se você quiser.

— Sim. — O menino passou os braços em torno do pescoço do pai, sentindo-se subitamente seguro e contente. — Eu gostaria muito.


Yüklə 0,85 Mb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   6   7   8   9   10   11   12   13   ...   17




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©muhaz.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

gir | qeydiyyatdan keç
    Ana səhifə


yükləyin