História Revisada pelas Revisoras da Romances Sobrenaturais



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— Está resolvido, então. — Ele se virou para a governanta. — Providencie para que a lareira seja acesa prontamente.

Quando ele e Allegra entraram em seus aposentos, meia dúzia de criados já se encontravam atarefados ali dentro. Uma mesa estava sendo colocada diante do fogo crepitante na lareira. Um canapé coberto de mantas de peles fora colocado por perto. Foi ali que Merrick sentou o filho e o cobriu com uma manta para, depois, passar-lhe às mãos a caneca de leite quente de cabra, providenciado por uma criada.

— Tome, filho. Isto irá aquecê-lo.

Ofereceu, então, um cálice de vinho quente a Allegra, que o aceitou de bom grado.

Enquanto ela se aproximava do fogo, Merrick estudou-a, notando-lhe a palidez. Manteve a voz baixa o bastante para que o menino não o ouvisse.

— Perdoe-me, Allegra. Em meu temor pelo meu filho, eu me esqueci do que isso causa a você. Talvez você prefira se recolher a seus aposentos.

Ela sacudiu a cabeça.

— Estou apenas um pouco gelada. O fogo e o vinho quente logo farão sua mágia.

— É você quem possui a magia, milady. — Merrick estudou-a por sobre o cálice de vinho. — Não suporto pensar no que poderia ter sido de Hamish sem você.

— Não deve pensar nisso, milorde. — Num impulso, ela tocou-lhe o braço e ficou atônita com o calor que percorreu suas veias.

Enquanto começava a se afastar, Merrick deteve-a, segurando-lhe a mão com gentileza. Os olhos azuis fitavam-na com uma intensidade tão cativante que a impediu de desviar os seus.

— Você sente isso também, não é mesmo?

— Não sei do que está falando.

— Não mesmo? — Ele estreitou os olhos. Inclinou-se para a frente, o hálito quente acariciando o rosto delicado. — Você não pode negar o calor que se alastra entre nós sempre que nos tocamos.

— Eu não sei...

— O jantar está servido, milorde. — A sra. MacDonald adentrou o quarto, seguida pelas criadas que carregavam em bandejas um pequeno banquete digno de um rei.

Merrick levantou a cabeça depressa e viu-se obrigado a dar um passo para o lado, observando com impaciência, enquanto a comida era disposta num aparador

Quando tudo estava pronto, as criadas mantiveram-se recuadas, enquanto Merrick, Allegra e o pequeno Hamish ocupavam seus lugares á mesa. Enfim, as criadas, sob a supervisão da sra. MacDonald, começaram a preencher pratos e canecas, antes de serem dispensadas, deixando apenas a governanta para servi-los.

Determinada a deixar a sempre atarefada mulher mais a vontade, Allegra comentou:

— Terei de me lembrar de perguntar à cozinheira o que faz para deixar o carneiro tão macio.

— Ela ficará contente em lhe dizer, milady. Isso é um motivo de orgulho para a nossa cozinheira.

— Como deve mesmo ser. Minha mãe e minha avó ficarão contentes em saber que adquiri um interesse por cozinhar, uma vez que têm se desesperado diante da possibilidade de isso nunca acontecer.

A governanta lançou-lhe um olhar velado.

— A maioria das jovens só acaba se interessando por cozinhar depois que aparece um rapaz para conquistar seus corações. Então, elas ficam pensando em maneiras de agradá-lo. Poderia ser que há algum bonito rapaz em sua mente, milady?

Enquanto Merrick se virava para estudá-la, Allegra sentiu que corava até a raiz dos cabelos. Por um momento, ele apenas apreciou-lhe o rubor nas faces e, então, sussurrou-lhe para que apenas ela ouvisse:

— Espero muito que seja aguém que eu conheo.

Aquilo só fez o rubor se acentuar.

Para poupá-la de maior embaraço, ele comeu um pedacinho de pão fresco e virou-se para a sra. MacDonald, tirando Allegra dos centro das atenções.

— Creio que a cozinheira tenha se superado. Transmita-lhe meus agadecimentos.

A mulher mais velha meneou a cabeça.

— Sim, milorde.

Se ficou intrigada com o atípico comportamento absorto do seu amo, não deu indicação. Ocorreu-lhe que todos no Castelo de Berkshire tinham passado por algumas mudanças desde a chegada da jovem curandeira.

Contudo ela ainda não pudera concluir se as mudanças eram para melhor ou para pior.

— A cozinheira assou biscoitos com mel para o menino. E para milorde, bolo com recheio e cobertura de groselha. — A governanta serviu-lhe uma grande fatia de bolo com um creme denso, a qual ele devorou em poucos minutos.

Ela, então, recuou, apreciando a maneira como o lorde e seu filho encontravam prazer similar em suas guloseimas.

Quanto a Allegra, saboreou com vagar uma fatia fina do bolo de groselha e sorriu com ar de aprovação.

— A cozinheira, de fato, superou qualquer expectativa que eu pudesse ter tido. Espero que lhe transmita meus agadecimentos também.

— Farei isso, milady — prontificou-se a governanta com seu jeito reservado.

Depois que terminaram a sobremesa, Merrick levou o filho de volta ao canapé. Cobrindo-lhe com uma manta de pele, e voltou à mesa, pedindo mais cerveja. De imediato, a sra. MacDonald preencheu-lhe a grande caneca e chamou os criados de volta.

Depois que a mesa foi retirada e os criados saíram, a governanta ainda permaneceu.

— Gostaria de algo mais, milorde?

— Não, sra. MacDonald. Eu lhe agadeço por seu prestimoso serviço.

A mulher piscou, como se estivesse incerta, perguntando-se se deveria ou não acreditar no que estava ouvindo. O lorde havia realmente tido a humildade de agradecê-la?

Fez-lhe uma leve mesura.

— É um prazer servi-lo, milorde. — Virou-se para Allegra. — Direi boa noite agora, milady.

Quando ficaram a sós, Allegra lançou um olhar a Hamish a tempo de vê-lo contendo um bocejo.

— Quer que eu leve você até seus aposentos?

O menino sacudiu a cabeça.

— Espere só mais uns minutos, por favor.

Ela virou-se para Merrick, que assentiu.

Hamish deu um tapinha no canapé, indicando um lugar a seu lado.

— Gostaria de se sentar aqui, Allegra, e me contar mais sobre o seu lar?

— Claro. — Ela sentou-se ao lado de Hamish, dobrando as pernas e colocando os pés sobre as mantas de pele. — O que você gostaria de saber

— Voce tem seu próprio cavalo?

— Sim. — Ela sorriu diante da lembrança evocada. — Raio de Sol. Ele é um lindo cavalo alado de pêlo dourado e uma farta crina um pouco mais escura.

— Cavalo alado? — O garoto mostrou-se pasmo. — Você quer dizer que ele voa?

— Sim. Eu ainda me lembro da primeira vez em que montei em seu dorso. Ele voou tão alto que temi que estivéssemos indo em direção ao sol. Mais Raio de Sol apenas sobrevoou nosso reino encantado e, então, pousou exatamente no ponto de onde tínhamos partido. Foi uma experiência incrível, e que desfrutei muitas vezes desde então.

O garoto ouvia, interessado, os olhos arregalados diante da maravilha descrita.

— Raio de Sol pode levar você até lugares distantes também? — perguntou, os traços de sono tendo se dissipado por completo de seu rosto.

Allegra sacudiu a cabeça.

— Ele não pode deixar o Reino Místico. Se saísse, por certo haveria caçadores tentando capturá-lo para obterem lucro a sua custa.

— Se um dia eu visitasse o seu reino —começou Hamish, hesitante e, ao mesmo, tempo empolgado diante da simples ideia —Raio de Sol me levaria para voar em seu dorso?

— Não vejo por que não. Desde que seu pai não fizesse objeção.

— Você faria, pai?

Merrick ouvira a tudo aquilo em absoluto silêncio. As palavras só haviam confirmado aquilo que suspeitara ter visto. E, por outro lado, tudo parecia tão improvável que se perguntou como uma história fantástica daquelas seria encarada por outras pessoas. Exceto para as crianças, que tinham imaginação bastante fértil, e para os poucos como ele que realmente haviam visitado o Reino Místico, parecia algo saído de um sonho aos demais. Mais não era um sonho. Ele vira aqueles cavalos alados, embora na ocasião tivesse questionado sua própia sanidade.

Sorveu um gole de cerveja.

— Acho que seria divertido atravessar o céu montado num cavalo alado.

— Você me deixaria montar Raio de So?

—Acho que sim desde que Allegra me assegurasse de que ele não lhe causaria nenhum mal.

— É um animal bastante doce.

Doce. Merrick estudou a jovem reclinada ao lado de seu filho. Nada naquele mundo poderia ser mais doce, mais enternecedor do que aquela visão diante dos seus olhos. E, naquele momento desejou poder tomá-la em seus braços e provar de sua incrível doçura.

Sentiu o coração batendo mais depressa e baixou o olhar para sua cerveja a fim de encobrir seus pensamentos.

— Suas irmãs também montam Raio de Sol? — Hamish tinha dezenas de perguntas fervilhando em sua mente, o rosto cheio de vivacidade.

Allegra sacudiu a cabeça.

— Elas têm seus próprios cavalos alados — explicou.

— E quanto a sua mãe e sua avó?

Ela abriu um sorriso misterioso.

— Ambas não precisam de tais coisas, pois conseguem voar sozinhas —revelou.

Merrick levantou a cabeça depressa. Incrédulo, estreitou os olhos azuis.

Hamish pareceu eufórico.

— Você já as viu voando?

—Sim, querido.

— Elas têm asas?

— Não. — Allegra apressou-se em explicar: — As duas não precisam de asas porque não voam exatamente. Elas apenas...aparecem.

— Como? — O menino estava visivelmente encantado

— Eu não sei como. Porque é um dos dons que eu e minhas irmãs não possuímos.

— Não importa. — O menino deu-lhe um tapinha gentil na mão. — É o bastante que você tenha um cavalo alado que a leve até o céu. — Ele fechou os olhos, tentando imaginar algo tão magnífico. — Espero poder visitar seu reino algum dia e montar em Raio de Sol.

— Eu adoraria mostrá-lo a você. — Ela afastou-lhe os cabelos loiros da fronte com carinho e encostou sua face na do menino. —Você iria adorar meu lar e minha família, com certeza.

Como Hamish não respondesse, ergueu a cabeça e observou-o. Tinha os olhos fechados, a respiração regular, serena.

Ela desceu do canapé e chamou Merrick.

— Ele adormeceu.

— Eu o carregarei até o quarto. — Merrick deixou de lado a caneca e aproximou-se para erguer o filho nos braços.

Com Allegra acompanhando-o, carregou Hamish pelo corredor até o quarto. Tão logo o deitou na cama, ela o cobriu com uma manta de peles e beijou-lhe a face, como se tivesse feito aquilo a vida inteira.

Merrick tornou a ficar enternecido ao observá-los.

Quando deixaram o quarto do menino, caminharam juntos pelo corredor até que chegaram à porta do quarto dela.

Antes de deixá-la entrar, Merrick tocou-lhe o braço com gentileza. Sentindo a imediata onda de calor, baixou depressa a mão, mantendo-a ao longo do corpo.

— Obrigado, milady.

Ela o fitou com hesitantes olhos verdes.

— Pelo que?

—Por tudo o que você faz para confortar meu filho. — Ele sacudiu a cabeça, a expressão grave antes de se virar. — Você jamais saberá como fiquei assustado, vendo-lhe o pequeno corpo contorcendo-se de dor daquela maneira.

Sem pensar, Allegra tocou-lhe as costas.

— Não deve ficar pensando nisso, milorde.

O toque o fez estremecer de leve, e ela afastou a mão depressa. Naquele momento, Merrick tornou a se virar e pegou-lhe a pequena mãos, mantendo-a entre as suas. O calor despertado apenas momentos antes tornou-se abrasador agora, de maneira que nenhum dos dois pôde ignorá-lo

Allegra tentou recuar, mas Merrick segurou-a pelos ombros em seguida, detendo-a. Fitando-lhe os intensos olhos azuis, ela tentou avaliar-lhes a expressão intensa, quase desesperada. Era quase como se ele pudesse devorá-la com um olhar.

Ambos levantaram os olhos quando Mordred e Desmond apareceram no alto da escada.

— Aí está você, primo. — O elegante Modred sorria amplamente, enquanto o corpulento Desmond mantinha sua típica atitude acanhada. — Ficamos a sua espera no salão.

— E bebendo grandes quantidades de cerveja, ao que parece. — Merrick, furioso com aquela mais recente interrupção, esteitou os olhos na direção dos primos. O castelo inteiro estaria conspirando contra ele, afinal?

— Oh, acho que bebemos bastante, sim. — Mordred alternou um olhar entre Merrick e Allegra. — Parece que interrompemos o lorde, Desmond. — Tocou o braço do primo. — Você se reunirá a nós no salão?

Merrick apertava os lábios com mal contida fúria.

— Sim. — Continuou olhando para Allegra. — Podem descer. Estarei lá num minuto.

Pôde sentir os dois homens observando-o antes de girarem nos calcanhares e descerem a escadaria, rindo juntos.

Depois que os primos se foram, Merrick deu um passo atrás.

— Agora, eu a aviso, milady, como fiz na outra noite. Feche sua porta e coloque a tranca.

— Eu não entendo.

Merrick virou-se, determinado a colocar o máximo de distância entre ambos.

— Há ocasiões em que não precisa entender. É o bastante que faça o que lhe ordeno, pois sou o senhor deste castelo. — Seu tom soou brusco, zangado. — Agora, tranque sua porta antes que a cerveja enfraqueça minha mente e me faça invadir o seu quarto mais tarde.

Sem mais uma palavra, ele se afastou, descendo as escadas depressa feito um homem torturado.

Embora a ideia de partilhar uma caneca de cerveja com seus primos não lhe parecesse das mais animadoras, parecia algo mais prudente do que aquilo que passara por sua mente inicialmente.

CAPÍTULO 13


Allegra entrou em seu quarto e colocou a tranca na porta. Cruzou, então, os braços sobre o peito e andou de lá para cá em frente à lareira, profundamente preocupada.

Por que Merick parecia sempre tão zangado a cada vez que se tocavam? Aquela reação era o exato oposto da dela. Quando Merrick a tocava, sentia seu corpo vibrando. Seu sangue se aquecia. O coração tansbordava com sentimentos novos e estranhos que não conseguia colocar em palavras.

E quando ele a beijava... o simples pensamento a deixava com a mente rodopiando. Quando a beijava, ela queria que o beijo prosseguisse interminavelmente. Embora a envergonhasse admitir, queria que Merrick a tocasse por inteiro. . Havia algo de incrível no toque dele. Em princípio, aquilo a assustara. Mas agora, só em pensar em Merrick tocando-a, beijando-a, sentia uma deliciosa onda de calor envolvendo-a.

Com um simples toque, o homem era capaz de enfraquecê-la, de fazê-la render-se a sua vontade. Bastava um beijo e sua capacidade de pensar, de enxergar a razão, desvanecia-se.

Ela levou as mãos ao rosto, sentindo-se tão sozinha. Se ao menos sua mãe estivesse ali. Ou a avó. Aquelas mulheres sábias teriam-na ajudado a ordenar seus pensamentos tão inquietantes.

Ela saiu para o balcão e olhou para as estrelas que cintilavam no céu. Lentamente, foi tomada pela sensação de que não estava sozinha. Embora sua família estivesse bem distante,ela a ouvia e compreenderia.

— Oh, mamãe. — Ergueu a cabeça e viu uma estrela brilhando mais do que as outras. — O que devo fazer quanto a esses sentimentos? Seria errado de minha parte ceder a eles? A ideia de me deitar com Merick MacAndrew, de me entregar a esse homem, é quase irresistível. Mas se eu fizer isso, perderei meus poderes?

Como se fosse em resposta, a estrela começou a brilhar ainda mais no céu. Esfregando os olhos, Allegra ajoelhou-se no balcão e esperou para ouvir a voz da mãe. Em vez daquilo, tudo o que ouviu foi o silêncio da noite. Apoderou-se dela, acalentando, acalmando até que, exausta, Allegra adormeceu.

Seu sono foi repleto de sonhos vívidos. Sua mãe, jovem e sorridente, correndo por um campo de urzes na direção de um homem bonito, que a aguardava de braços abertos. Ele a segurou bem e ergueu no alto, então girou-a até que ela pendeu a cabeça para trás, rindo a valer. Ela, então, abraçou-o e ambos se beijaram apaixonadamente. Ainda abraçados, ele baixou-a até a relva, deitando-a com gentileza. Em princípio, ela estava insegura. Mas com palavras suaves e beijos ternos, ele abrandou-lhe os medos, até que ela entregou-se com abandono ao amor que partilhavam.

Allegra acordou sentindo-se estranhamente confortada pelo sonho. Sua mãe amara um homem. Amara-o de todo o coração. Apesar do amor dos dois, seus poderes não haviam diminuído, mas, em vez daquilo, tinham ficado cada vez mais fortes com o nascimento das três filhas de ambos.

Allegra olhou ao redor, perguntando-se quanto tempo ficara ali deitada no balcão frio. Quando entrou, o fogo ainda ardia na lareira. Tinha sido apenas poucos minutos?

Ficou imóvel de repente, perguntando-se realmente sonhara aquilo, ou se sua mãe, sentindo-lhe a inquietação, enviara-lhe imagens para tranquilizar-lhe a mente.

— Oh, mamãe. — Ela passou os braços em torno de si e olhou fixamente para o fogo. — Obrigada por ter-me dado uma mostra de como foram as coisas entre papai e você. Estou feliz em saber que não sou a única a ser tomada por estas incertezas. Não são apenas minhas, mas vividas por todos aqueles que amam. — Baixou a cabeça para estudar a ponta da sapatilha de couro, perguntando-se o que deveria fazer com aquele recém descoberto conhecimento.

Odiava aquela ignorância. Ela, que sabia tanto sobre cultivar ervas e plantas da floresta, sobre trabalhar o solo e curar corpos e mente, não tinha um pingo de conhecimento sobre homens e mulheres e como lidavam com suas emoções. Deveria ir até Merrick e confessar seus sentimentos? Ou era melhor deixar aquelas coisas bem guardadas dentro de seu coração?

Fechou os olhos e esforçou-se para chegar até a mãe e a avó em pensamento, sabendo que elas teriam as respostas para todas aquelas perguntas.

Merrick estava sentado com ar pensativo numa cadeira perto do fogo, uma caneca de cerveja nas mãos. A seus pés, os cães do castelo dormiam.

Mordred estava parado por perto, a mão repousando sobre o aparador acima da lareira.

— E então, Merrick, por quanto tempo mais você pretende manter a feiticeira aqui?

— O que isso importa a você? — Ele esvaziou a caneca e Mordred apressou-se a enchê-la novamente.

— Os homens começaram a comentar.

— Sobre o que?

— Sobre o fato de que você mudou desde que a feiticeira chegou aqui. Houve um tempo em que você era o guerreiro mais forte de toda a região das Terras Altas. Agora, você parece satisfeito em preencher seus dias com caminhadas pelo jardim e visitas ao mercado.

Num segundo, Merrick deixara a cadeira e agarrara o primo pela frente da túnica, fitando-o nos olhos com ar furioso.

— Você ousa me dizer tais coisas?

Mordred desvencilhou-se e deu um passo atrás.

— Alguém tem que lhe dizer o que está sendo falado pelas suas costas.

Merrick virou-se para o corpulento Desmond.

— E você? Diz tais coisas também?

O calado gigante limitou-se a dar de ombros.

Modred deixou de lado sua caneca.

— Nós dois ouvimos os sussurros.

— Sussurros?

Mordred lançou um olhar ao irmão com um sorriso malicioso antes de menear a cabeça.

— Alguns dizem que você baixou a guarda. Que foi... enfeitiçado.

— É o que você acha?

— Acho que você está preocupado com seu filho, como qualquer homem estaria. — Ele levantou os olhos e tocou o braço de Merrick. — Mas você é o senhor de toda essa gente. Não pode permitir que seus temores em relação a seu filho deixem que suas fronteiras sejam transpostas por invasores.

A voz de Merrick endureceu.

— Não vejo invasores avançando por nossas terras. Como ousa sugerir que estou negligenciando meu povo?

Mordred ergeu a cabeça.

— Pense nisto, então. Talvez você tenha que se resignar ao fato que o menino sofreu algum dano irreversível na queda que continuará a causar esses... ataques. Ou que isso que o anda acometendo às vezes seja algo... inevitável. E se for o caso, então o melhor que tem a fazer é mandar a feiticeira de volta agora, antes que ela encha a mente dele e a sua com tolices. — Aguardou um pouco antes de acrescentar: — A menos, é claro que haja alguma outra razão para você se recusar a mandá-la de volta para casa.

— Que outra razão?

— Acho que você sabe muito bem, primo. — Mordred tornou a apanhar a caneca de cerveja e esvaziou-a, enxugando os lábios com a manga da túnica. — A jovem é bonita. Por que simplesmente não se deita com ela e acaba logo com isso?

— Essa é sua maneira de agir, não a minha. — Merrick apertou os lábios por um instante, o olhar zangado. — Desde que nós éramos garotos você tem se vangloriado de dormir com cada jovem no vilarejo.

— E tenho dormido, eu lhe asseguro. — Em vez da esperada negação, Mordred parecia peculiarmente satisfeito consigo mesmo. — E há também as garotas que conheci em vilarejos vizinhos. Não conseguem resistir ao meu charme também, ao que parece, pois tenho plantado minha semente desde a montanha até o vale. E você poderia fazer o mesmo, primo, se desistisse daquela maldita ideia da honra de um guerreiro.

— Você acha honrado deitar-se com mulheres por mera divesão?

— Pode pensar numa coisa melhor? — O altivo e jovem guerreiro lançou ao primo um sorriso diabólico. — Por que não se deita logo com a feiticeira se você se sente atraído por ela? Depois mande-a de volta para casa e retome a sua incumbência de liderar o nosso povo. A menos, é claro, que você prefira envelhecer em seu jardim e deixar outro ser o senhor de sua gente.

Em vez de dar uma resposta, Merrick pousou a caneca com força numa mesa e virou-se, deixando abruptamente o salão principal.

Mordred observou-o e, então, olhou para Desmond com uma expressão pensativa no rosto.

— É pior do que pensamos. Ele não apenas deseja a curandeira. Acredito que tenha perdido o coração para ela. — Jogou a cabeça loira para trás e riu. — Tolo. A mulher é uma feiticeira e, antes de ter acabado com ele, já o terá deixado tão cego de amor que ele não verá o inimigo em seus próprios portões. Mas, afinal isso é uma vantagem para nós, caro irmão. Se nosso primo está embevecido demais por ela para não enxergar, seus inimigos finalmente terão a merecida recompensa.

Merrick adentrou em seus aposentos, fechando a porta com força. Enquanto se adiantava na direção do fogo, despiu a túnica com impaciência e atirou-a a um canto. Praguejando por entre dentes descalçou as botas e jogou-as de encontro à parede.

Estava prestes a despir as calças quando notou um ligeiro movimento junto ao balcão. Com rápidas passadas atravessou o quarto, atirando um vulto de encontro à parede de pedra, enquanto a faca em sua mão era posicionada de encontro ao pescoço de alguém.

— Allegra. — A fúria ainda estava ali, intensa demais para controlar. Perceber que estivera muito perto de cortar a garganta dela o fez estremecer. — Por tudo que é sagrado, mulher, o que é que você está fazendo nos meus aposentos?

— Milorde. — A palavra saiu na forma de um grito estrangulado.

Quando ele baixou as mãos, ela afastou-se depressa, encolhendo-se de encontro à pedra fria do balcão. Jamais vira uma ira tão desenfreada numa pessoa antes e não sabia como se defender.

— Eu lhe pergunto outra vez. — Merrick estreitou os olhos—. Por que você está aqui?

— Preciso saber que magia você possui, milorde.

Ele pareceu atônito.

— Magia? Que eu possuo?

— Sim. — Allegra engoliu em seco, esforçando-se para aquietar o descompasso em seu coração. — A cada vez que você me toca, eu o sinto. Um incrível calor. E uma fraqueza que me domina por inteiro. Até minha mente é afetada. Quando você chega perto demais, não consigo pensar.

Ele soltou um riso incrédulo.

— E o tempo todo eu achando que era a sua magia que estava agindo aqui.

Ela sacudiu a cabeça.

— Não possuo magia que se compare à sua. Diga-me o que é.

Merrick olhou para a faca em sua mão antes de deixá-la de lado sobre um baú de cedro. A mão ainda tremia. Flexionou os dedos e, então, cerrou o punho para dissipar aquela sensação.

— É apenas a atração entre um homem e uma mulher. Desejo.

— Não. Eu conheço essas palavras. Isto é algo muito mais profundo do que atração. Qualquer que seja a magia, tomou conta do meu coração e eu não sei como me libertar. Eu me vejo... — Allegra respirou fundo para reunir coragem. — Eu me vejo querendo me deitar com você Merrick. Me entregar a você por completo.


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