História Revisada pelas Revisoras da Romances Sobrenaturais



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Allegra pensou em todos os tesouros que cresciam nos campos e nas florestas. Para cada um que curava, havia outro que, nas mãos erradas, podia causar grande dor. Uma curandeira que trilhasse os caminhos do mal em vez do bem poderia causar grandes danos com seu conhecimento.

— O que seu pai fez?

— Ele foi atrás dela e ordenou-lhe que entrasse no castelo imediatamente. E quando minha mãe o fez, trancou-se em seus aposentos e recusou-se a sair por vários dias.

O tom de Allegra suavizou-se.

— Deve ter sido um grande sofrimento para você e seu pai ver essas mudanças em sua bonita mãe. O que você fazia?

— Eu me escondia — respondeu Hamish num sussurro. — Eu costumava me esconder muito.

— E onde você se escondia?

— No meu lugar secreto.

— Você poderia me contar onde é?

Ele levou um momento antes de assentir.

— Eu encontrei uma pequena passagem oculta numa parede nos meus aposentos. Descobri que, se eu ficasse bem quieto, ninguém conseguiria me encontrar. Como se só então tivesse se lembrado, acrescentou: — Enquanto eu estava lá, conseguia ouvir tudo que era dito nos aposentos de minha mãe.

O coração de Allegra disparou.

— O que você descobriu enquanto estava em seu esconderijo?

O menino ficou em silêncio, observando o vôo de uma borboleta. Quando, enfim,virou-se para fitá-la, havia uma expressão vaga em seus olhos.

Gentilmente, ela repetiu sua pergunta, o tempo todo observando-lhe os olhos.

— O que você ouviu enquanto estava escondido?

Ele sacudiu a cabeça.

— Não consigo me lembrar.

Ela podia dizer, pela maneira como os olhos dele permaneciam vazios, que dizia a verdade. o que quer que tivesse ouvido, era algo agora enterrado bem no fundo de sua mente. Mas por que? Porque o que quer que tenha acontecido à mãe dele em sua última noite de vida era terrível demais para recordar? Ou porque a verdade talvez condenasse o pai que adorava?

Allegra simplesmente se recusava a aceitar a segunda hipótese. Mas sabia, no fundo de seu coração, que seu amor por Merrick MacAndrew poderia estar cegando-a para a possibilidade de o homem ter alguma responsabiidade no que acontecera.

Por mais dolorosa que a verdade pudesse ser, ela tinha o direito de sabê-la. Assim como também as demais pessoas.

Conseguira conquistar a confiança de Hamish. Agora, precisava desvendar os segredos adormecidos em algum pequeno canto de sua mente, não importando quem pudesse acabar sendo prejudicado com tais revelações.

CAPÍTULO 16


— Sra. MacDonald. — Allegra notou a expressão de perplexidade que surgiu nos olhos da mulher mais velha.

— O que você está fazendo na cozinha? — A governanta recuou. — Você não deveria estar aqui. Este não é um lugar adequado para alguém como você.

— Alguém como eu? O que isso quer dizer?

— Apenas... — A sra. MacDonald olhou ao redor com nervosismo, para se assegurar de que ambas estavam sozinhas. — Agora que você é tão especial para milorde, não deveria ser vista na cozinha.

— Sou a mesma pessoa que era ontem.

— Se você pensa assim, menina, é uma tola. A dama de milorde não se mistura com os criados. — Olhos perscrutadores fitaram-na. — Por que desceu até aqui?

— Para lhe fazer uma pergunta.

— Faça-a, então. Tenho que cuidar dos meus afazeres.

— Há quanto tempo Mara tem sido criada aqui no Castelo de Berkshire?

— Mara? — A mulher pensou por um momento. — Há quatro anos. Desde que Lady Catherine compadeceu-se da jovem e quis torná-la sua criada pessoal, pedindo a milorde para convidá-la para viver aqui no castelo, como ele já permitira a tantas pessoas sem lar. Esse sempre foi o jeito solidário de lorde MacAndrew.

Alegra meneou a cabea.

— Diga-me, Mara cresceu no vilarejo?

— Sim.


— Ela costuma retornar lá, para passar alguns dias visitando amigas, ou algo assim?

A governanta sacudiu a cabeça.

— Não que eu saiba. Ela prefere a vida aqui no castelo.

Allegra começou a se virar para a porta, mas, então, algo lhe ocorreu e tornou a fitar a outra mulher.

— Os pais dela fora mortos pelos invasores?

A sra. MacDonald mordeu o lábio inferior.

— Se bem me lembro, ambos morreram em suas camas. Alguns disseram que foram amaldiçoados. Outros acharam que haviam comido carne estragada. Qualquer que tenha sido a razão, os dois recolheram-se a suas camas numa noite e foram encontrados mortos na manhã seguinte. É por esse motivo que tolero a garota preguiçosa e resmungona, pois eu sei que não tem família.

— E quanto a Mara? Ela comeu a mesma coisa que os pais? Ficou doente? Ou como escapou da maldição?

A governanta deu de ombros.

— Eu não me lembro. Mas você pode perguntar à própria Mara.

— Sim. Obrigada, sra. MacDonald. Farei isso.

Enquanto Allegra fazia menção de se retirar, a mulher mais velha limpou a garganta.

— Milady. Espere um momento.

Ela virou-se, e o tom da mulher tornou-se mais suave.

— Alergra o meu coração ver que você e milorde encontraram... alento um no outro. Ele tem estado sozinho há tempo demais. E embora você não seja como nós, vejo bondade em você, sinceridade. Trouxe riso e contentamento para a vida de Hamish. E amor para a vida de milorde—. Ela baixou os olhos para as mãos, como se tivesse se dado conta de que ultrapassara os limites e dissera demais. — Vá agora. Tenho trabalho a fazer.

— Sim. Eu lhe agadeço. — Allegra sorriu-lhe e se retirou pensando que poderia ter abraçado a bondosa mulher por aquelas palavras. Soubera, porém, que se o tivesse feito causaria constrangimento à governanta.

O coração batia descompassado no peito enquanto subia depressa até o quarto de Hamish, determinada a não deixá-lo sozinho novamente. Embora tivesse encontrado uma amiga na governanta sabia em seu coração que a criada Mara era uma adversária perigosa.

Enquanto passava pela soleira da porta do menino, viu Mara retirando-se depressa. A criada lançou-lhe um olhar sombrio antes de se encaminhar pelo corredor na direção das escadas.

— Hamish. — Allegra atravessou o quarto depressa. — Mara lhe deu alguma coisa para comer?

Ele evantou os olhos com um sorriso.

— Mara disse que você tinha me mandado um chá. Eu lhe respondi que não o tomaria das mãos dela. Mara falou que iria contar ao meu pai que eu fui desrespeitoso. Acho que ela não gosta do nosso jogo, milady.

Allegra deu-lhe um abraço rápido e forte.

— Talvez não. Mas fico feliz que você tenha se lembrado das regras. Agora... — Fez uma pausa, olhando ao redor—. Enquanto não há ninguém por aqui, por que não me mostra o seu esconderijo?

Com um sorriso contente, Hamish conduziu-a até um trecho ao lado da lareira, onde tocou uma pedra na parede. De imediato, abriu-se um vão na parede, revelando uma passagem estreita.

Quando ambos entraram, ele tocou outra pedra, fazendo com que o vão se fechasse. Allegra teve de se abaixar a fim de não bater a cabeça. À sua frente, o pequeno Hamish prosseguia, até que apontou para um ponto de luz adiante. Não demorou para que a claridade se intensificasse e ela pôde ver que havia chegado até o quarto de Catherine.

Não havia porta daquele lado. Apenas um vão estreito na pedra que permitia uma visão limitada do espaço entre a cama e uma pequena mesa. Enquanto ambos se agacharam juntos, viram Mara entrando nos aposentos. Com um olhar furtivo ao redor, a criada começou a desfazer a cama, carregando as mantas de peles até o balcão para sacudi-las antes de tornar a colocá-las no lugar.



Mas por que?, — perguntou-se Alegra. Aqueles aposentos estavam vazios havia mais de um ano. O que a criada podia esperar encobrir àquela altura?

A cada vez que Mara passava entre a cama e a mesa, Allegra conseguia vê-la apenas de relance antes que tornasse a desaparecer outra vez. Cada som, porém, podia ser ouvido com clareza. Os ruídos dos lençóis da cama quando os sacudira junto com as mantas de peles no balcão. O som de suas botas no assoalho de madeira. O som da água sendo despejada de um jarro numa bacia. E, finalmente, a porta sendo fechada enquanto, satisfeita com o fato de o quarto ter sido limpo, a criada se retirou.

Quando Allegra se virou para fitar Hamish, viu que seu rosto ficara desprovido de toda a cor.

— O que foi, querido? Do que você está se lembrando?

— Mara. — A voz dele quase não passou de um sussurro.

— Prossiga. — Allegra ajoelhou-se no chão da passagem e o aproximou mais de si. — O que há em relação a Mara?

— Como criada de mamãe, ela estava sempre em seus aposentos. Naquela noite... — Hamish engoiu em seco. — Na noite em que minha mãe morreu, Mara trouxe-lhe sopa. Mamãe não queria tomá-la, e levou a colher até os lábios dela, forçando-a a comer.

Allegra fechou os olhos por um momento.

— Foi como eu pensei. Venha. Tão logo seu pai retorne do vilarejo, temos de lhe contar o que você se lembra.

Começou a sair lentamente da passagem secreta. Depois que Hamish tocou a pedra, fazendo com que o espaço se abrisse, ambos estavam de volta a seu quarto.

Allegra endireitou as costas. Sentindo um caláfrio percorrendo-a, virou-se e foi tomada de uma onda de apreensão quando avistou Mordred e Desmond parados na entrada do quarto, de costas para a porta fechada. Nos rostos, havia expressões idênticas de algo sombrio que não pôde definir exatamente.

— O que foi? — perguntou, começando a se aproximar deles. — Alguma coisa aconteceu com Merrick?

— Ainda não. — Mordred deu um passo à frente. — Mas muito em breve acontecerá, eu espero.

Diante das palavras estranhas, Allegra recuou, protegendo Hamish com seu corpo.

— O que quer dizer? E o que vocês querem aqui?

Mordred cruzou os braços sobre o peito e observou-a com um sorriso sardônico.

— É uma sorte que você não tenha pensado em colocar a tranca na porta do menino, como tem feito com a sua.

— Era você do lado de fora do meu quarto. — E o tempo todo ela achara que havia sido Mara.

Mordred lançou um olhar ao irmão.

— Havíamos esperado assustar você o bastante para fazê-la sair correndo daqui no meio da noite. E teríamos conseguido se você não tivesse bloqueado nosso caminho.

— Foi isso o que fizeram com a esposa de Merrick?

— Acabar com ela foi algo tão mais simples. Uma tola que confiava demais nos outros. Com Merrick distraído por invasões nos limites de nossas terras, tivemos poucos problemas com lady Catherine. Especialmente porque sua criada pessoal tinha sido escolhida por ela e... — Ele soltou um riso cruel. — e treinada por nós. — Lançou um olhar ao menino, espiando por detrás das saias de Allegra. — O garoto teria sido um empecilho facil de nos livrarmos também, se você não tivesse sido trazida até aqui.

— As poções de Mara. — Allegra pousou a mão no ombro de Hamish. — A sua natureza expansiva e alegre estava sendo lentamente sendo arruínada, como também sua mente. — Tornou a virar-se para Mordred. — Por que? — Estudou aqueles dois homens, que poderiam ter sido tomados equivocadamente por dois corajosos guerreiros das Terras Altas, mas, ao que tudo indicava, não passavam de biltres. — Por que queriam fazer mal a uma mulher indefesa e seu filho?

— Foi algo que não teve nada a ver com eles. Foram apenas os meios para se chegar a um fim.

Allegra podia sentir o mal a toda sua vota. Intenso. Pulsando com vida própria. Enquanto fitava aqueles dois homens, viu-o em seus olhos. E, subitamente, compreendeu.

— Isso tem a ver com Merrick. Vocês o odeiam. Não apenas por ele ser um lorde poderoso, mas por causa de sua bondade.

— Bondade — desdenhou Mordred. — É essa bondade que causará seu declínio.

— Eu não compreendo. — Allegra alternou um olhar inconformado entre os dois irmãos.

Mordred abriu um sorriso malicioso.

— Nosso primo pensa que, porque nos deu um teto e comida, somos seus súditos leais. Afinal, temos lutado do seu lado. E até lhe demos nosso apoio, enquanto sofria a perda de sua amada Catherine.

Allegra colocou o braço para trás, pegando a mão trêmula de Hamish na sua.

— E o tempo todo vocês conspiravam, faziam planos contra ele.

Tivemos de fazer isso, uma vez que ele não morria em nenhuma batalha, como nos teria sido conveniente. O homem parecia indestrutível. Não importando quantas espadas enfrente, consegue sempre escapar da morte. Até mesmo o exército que enviamos para esperá-lo na fronteira do Reino Místico não conseguiu derrotá-lo.

— Então foi vocês que enviaram aqueles guerreiros?

—Sim. — Mordred tirou um adaga da cintura e avançou na direção de Allegra. — Agora, milady, você e o menino virão conosco.

— Para onde?

— Você verá.

Ela ergueu a cabeça.

— Eu irei a qualquer lugar que você diga, desde que prometa deixar Hamish aqui.

— Sim. Eu o deixarei aqui. É claro que terei de lhe cortar a garganta primeiro, para garantir seu silêncio. É o que você quer? — Ele fez menção de pegar o menino, e ela colocou-se entre ambos, impedindo-o.

— Você terá de matar primeiro.

Mordred soltou um riso cruel.

— Como desejar.

Ele desfechou um golpe com a adaga, segurando-lhe o braço enquanto Allegra recuava. Ela soltou um gemido de dor e pousou a mão sobre o corte em seu braço para conter o fluxo de sangue. Quando Mordred avançou novamente, ela desviou depressa para o lado, e a lâmina fincou-se na parede ao lado de sua cabeça

Enquanto ele se esforçava para arrancar a adaga da pedra, Allegra pegou a mão de Hamish e correu pelo quarto, esperando conseguir chegar até a porta. Antes de conseguir abri-la, Hamish foi tirado bruscamente de sua mão.

Quando se virou, viu o corpulento Desmond segurando o menino nos braços, com a lâmina da faca pressionada de encontro à pele delicada de seu pescoço.

Ela gelou.

— Agora, milady. — Mordred fez uma mesura zombeteira antes de lhe segurar o pulso. — Você fará o que lhe dissermos, ou o menino pagará.

— Você me atirará do balcão, como fez com Catherine?

Ele estreitou os olhos.

— Isso não seria sensato. Duvido que as pessoas de castelo acreditassem que você seria capaz de fazer uma coisa dessas. Poderiam ter acreditado, se Mara tivesse podido obrigá-la a tomar suas poções para atormentar sua mente, como fez com Catherine. — Lançou um olhar significativo ao irmão. — Decidi que sua morte e a do menino devem ser mais dramáticas. Vocês serão encontrados num campo, seus pobres corpos mutilados e ensanguentados pelas espadas de invasores bárbaros.

— Você parece tão seguro de si mesmo. Como pretende atrair os bárbaros para esse exato lugar?

Mordred soltou uma gargalhada, e Desmond acompanhou-o no riso.

— Neste momento, Merrick está olhando para os restos queimados de várias cabanas logo além do vilarejo, que foram atacadas e incendiadas ontem à noite por... invasores. Infelizmente, ninguém sobreviveu.

— Você e seu irmão providenciaram isso, eu suponho.

—Sim. Foi algo lamentável, uma vez que fomos obrigados a sacrificar nossa própria gente. Mas pecisávamos culpar alguém pela sua morte e a do menino. Que ideia mehor do que invasores que atacam e, depois, batem em retirada.

— Como vocês explicarão a morte de Merrick?

— Como amante e pai, é de se esperar que ele vá ao socorro de vocês, especialmente quando encontrar esta mensagem.

Mordred meteu a mão dentro da túnica e tirou dali um rolo de pergaminho.

— Quando Merrick chegar no campo, partilhará do mesmo destino que vocês nas mãos de um suposto invasor restante, que irá, é claro, escapar como seus companheiros, antes de podermos puni-lo por seu crime. — Mordred riu, satisfeito. — O povo se exaltará e se unirá atrás de mim, seu novo líder.

O sorriso se dissipou, substituído por uma expressão tão assustadora que Allegra quis se encolher diante da presença daquele homem maligno.

— Agora, mulher, vocês irão caminhar conosco até o jardim e de lá até a pradaria. Se você gritar ou chamar a atenção, meu irmão matará o menino. — Ele torceu-lhe o braço até fazê-la gemer de dor. — Você entendeu bem?

Allegra meneou a cabeça, incapaz de falar por causa do nó de pavor que lhe obstruía a garanta, pois não tinha dúvida de que aqueles dois eram capazes de fazer tudo o que haviam ameaçado.

— Ótimo. — Mordred sorriu, embora seus olhos continuassem frios, desprovidos de emoção. Apagados. O mal dentro dele sugara toda a luz de seus olhos, refetindo as trevas de sua alma.

Ele entrelaçou os braços de ambos. Junto ao corpo dela, escondida pela manga da túnica, estava a adaga pequena e afiada.

— Você e o menino serão o instrumento perfeito para ajudar na destruição final do nosso querido primo, Merrick.

Enquanto passavam por Mara, Allegra viu-a meneando a cabeça como que em silencioso entendimento. A criada estava a par do que aqueles homens perversos planejavam.

Por hora, com a vida de Hamish em perigo, Allegra não tinha como detê-los. Mas quando chegassem a seu destino, estava determinada a encontrar um meio de combatê-los. Embora a dimensão do mal de ambos a assustasse, sabia que tinha de confontá-lo.

Enquanto caminhava ao lado de Mordred, estendeu a mão até Hamish e percebeu a maneira como o menino tremia.

Compadeceu-se da pobre criança. Para alguém que se tornara inseguro e amedrontado devido à ação de poções malígnas, aquilo deveria parecer um pesadelo. Mas, por ora, havia pouco que pudesse fazer para confortá-lo, exceto tentar, com cada fibra de seu ser, transmitir-lhe seu amor e força.

— Coragem, Hamish. Não deve perder a esperança em seu coração.

Diante das palavras, Mordred soltou um riso diabólico.

— Não perca seu tempo, garoto. Seria uma tolice manter esperança num coração que vamos tirar de você e atirar para as criaturas famintas da floresta.

Inclinou-se em direção de Hamish, e Allegra viu a maneira como o garoto se encoheu dele. Qualquer bondade que tivesse demonstrado antes pelo menino, dissipara-se agora. Em seu lugar, havia seus sentimentos verdadeiros de uma crueldade inimaginável.

Determinada a poupar o menino de mais sofrimento, Allegra parou abruptamente e virou-se para encarar Mordred

— A menos que concorde em parar de atormentar Hamish, eu gritarei por socorro para que o castelo inteiro ouça, e você poderá me matar onde estou.

Mordred estreitou os olhos.

— Farei melhor do que isso. Eu avisei você, mulher. — Para o irmão, ordenou: —Corte a garganta do menino.

— Não! — Allegra segurou a mão de Desmond. — Por favor, eu lhe imploro. Se poupar o menino, irei em silêncio.

— Esta é sua última chance. — Mordred deu-lhe um empurrão enquanto saíam para o jardim. — Você caminhará mansamente até a pradaria, ou terá o sangue do menino nas suas mãos.

Ocorreu a Allegra, enquanto caminhavam num tenso silêncio pelo caminho de relva, que o dia estava bonito demais. Como o sol podia estar brilhando em tais circunstâncias? Como as flores podiam estar tão fragrantes? Até mesmo o coro dos pássaros pareciam zombar dela.

Oh, mamãe. Oh, vovó. Ajudem-me a encontrar dentro de mim a coragem necessária para enfrentar todo esse mal.

Quase imediatamente, foi tomada por uma sensação de paz.

Lançou um olhar a Hamish, sendo carregado nos braços de Desmond. O rostinho marcado pelas ágrimas. Os olhos fechados diante do iminente perigo.

Salvaria o menino, jurou a si mesma. Ou morreria tentando.

CAPÍTULO 18

Merrick fez seu cavalo galopar na direção do castelo. A violência do ataque contra seus próprios aldeões deixara-o estupefato, abalado. Os invasores tinham sido implacáveis, cruéis ao extremo, primeiro ateando fogo às cabanas e, então, matando famíias inteiras enquanto tinham fugido das chamas. Ninguém fora poupado, nem mesmo a mais nova criança nos braços da mãe.

Aparentemente, os homens tinham sido mortos depressa, derrubados por flechas de arqueiros. As mulheres e crianças tinham sofrido pior destino, tinham sido agredidas brutalmente e torturadas antes da morte.

Que tipo de bárbaros eram capazes de tais atrocidades? A primeira norma de guerra que ele aprendera quando garoto havia sido a de poupar a vida daqueles que não estavam diretamente envolvidos no conflito. Além do que, aqueles tinham sido aldeões pacíficos, adormecidos em seus lares, abatidos feito cordeiros.

Estava aliviado em ter pedido a Allegra que ficasse perto de Hamish. O menino acabara ficando tão frágil que temia por seu bem estar. Ele acabaria ouvindo rumores da criadagem sobre aquela barbárie. Aquilo o faria lembrar da morte cruel da própria mãe? Merrick afastou o pensamento inquietante de que se pressionasse demais, seu agora temeroso filho pudesse saltar para a morte como Catherine fizera.

Enquanto chegava ao pátio do castelo, desmontou e entregou as rédeas do animal ao cavalariço antes de se apressar a entrar.

No andar de cima, adiantou-se até o quarto do filho, precisando abraçá-lo ao menos por um momento. As imagens dos aldeões permaneceriam em sua mente por um longo tempo. Segurar Hamish junto a seu coração ajudaria a abrandar a dor.

Abrindo a porta, olhou ao redor com surpresa. Em vez de arrumada, com suas mantas cuidadosamente dobradas, a cama estava em completo desalinho, a desordem no quarto era intrigante. Havia uma abetura na parede ao lado da lareira. O que era aquilo? Depois de espiar para dentro, deu-se conta de que levava aos aposentos de sua falecida esposa. Intrigado, deu um passo atrás, perguntando-se por que Hamish nunca mencionara aquilo. Talvez só a tivesse descoberto naquele dia.

Virando-se, ele notou o rolo de pergaminho sobre a cama desarrumada do filho. Quando o leu, as palavras fizeram seu coração gelar.

Estamos com o menino e a feiticeira. Vá até a pradaria sozinho, ou os dois morrerão.

Quem estava com Allegra e Hamish? E por que? Invasores não teriam conseguido entrar naquele forte.

Enquanto se adiantava até a porta, ele notou sangue no chão.

Sangue?


Ajoelhando-se, tocou a gota de sangue e sentiu um terrível peso oprimindo-lhe o coração. A ideia de que o filho ou Allegra tivessem sido feridos o encheu de uma fúria impotente. Praguejando por entre dentes, avançou pelo corredor até os aposentos dela e viu a criada Mara usando um dos vestidos de Allegra e estudando seu reflexo no espelho.

— Mara. — Ele fanziu o cenho com ar furioso. — O que está fazendo?

A jovem deu um passo atrás, levando a mão ao peito.

— Eu... não quis causar mal. Apenas quis ver como eu ficaria usando algo tão refinado.

— Com que direito você ousa tocar nas coisas da dama? — Merrick segurou-lhe o braço com força. Por entre os dentes, disse num tom colérico, os olhos faiscantes; — Você me dirá o que, afinal, está acontecendo, ou juro que a matarei aí mesmo onde está.

— Não fui a culpada. — Lágrimas brotaram nos olhos de Mara. — Mordred me prometeu que eu seria a senhora do castelo quando ele se tornasse o lorde.

— Modred? — Merrick estreitou os olhos enquanto a soltava e dava um passo atrás. — Meu primo está por trás disso?

— Sim. — Mara esfregou o braço dolorido e ergueu a cabeça, apreciando o fato de que conseguira apanhar o senhor do castelo de surpresa. Talvez ele não fosse tão astuto quanto seu povo julgava. — Chegou tarde demais para detê-lo. A esta altura, o menino e a curandeira já estão mortos.

— Não. — Merrick virou-se abruptamente e correu pelas escadas, a espada em punho.

Quando chegou ao jardim, o medo e o choque tinham se transformado numa fúria cega, avassaladora. Embora não fizesse ideia do que exatamente estava acontecendo, uma coisa era certa. Encontraria Allegra e Hamish antes que fosse tarde demais, ou aqueles dois não viveriam para ver outro dia. Pois, se não chegasse a tempo, sua própria vida jamais tornaria a ter propósito ou significado.

Com Mordred firmemente no controle, o pequeno grupo deixara o jardim do castelo para trás e entrara numa pradaria alta, coberta de urzes. Enquanto caminhavam, Allegra tinha a mente num turbilhão de possibiidades. Se conseguisse distrair os captores, poderia tirar Hamish dos braços de Desmond e tentar escapar. Mas ali, na pradaria, não havia lugar para se esconder. Seria inútil tentar correr. Em vez daquilo, teriam de enfrentar aqueles malfeitores e lutar. Mas como? Não tinham armas para se defender, e os oponentes eram certamente muito mais fortes.


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